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História Vermelho é a cor mais fria - Cartas para Julieta


Escrita por: UmaGataXadrez

Notas do Autor


Já dizia o poeta: "23h59 ainda não é outro dia.
"AVISO: Esse capítulo é um especial do Dia das Crianças com nossos bb favoritos: Carlinhos e Lobinho.
Essa historinha pode ou não se passar no passado de Vermelho é a cor mais fria, depende do que o coraçãozinho de vocês acha.

Capítulo 30 - Cartas para Julieta


Mais um bilhete. Todo dia era a mesma coisa: Carlos Vitor estava tranquilo brincando sozinho, recolhendo pedrinhas ou só observando como a luz ficava bonita batendo na grama do parquinho quando do nada chegava alguma criança da sua idade ou menor entregando um pedaço de papel falando “pediram pra entregar pra você”,  “um menino bravo te deu isso” ou ainda “não sei o que tá escrito, mas tem um coraçãozinho. Você tá namorando?”.

O ruivinho também não sabia o que estava escrito. Tinha cinco anos, afinal de contas e não sabia ler muita coisa além de seu próprio nome e o da sua mãe, isso se estivessem em letra de forma ou com uma letra de mão muito bonitinha e aqueles bilhetinhos vinham com uma caligrafia tão torta que ele mal encontrava as vogais.

Entretanto ele conseguia ver os desenhos e eram muito bonitos para uma criança: flores, coelhinhos, carinhas sorridentes e tantas outras  coisas fofas. E coraçõezinhos, muitos coraçõezinhos, em todos os bilhetes recebidos desde o começo que só podiam significar uma coisa: alguém gostava dele.

E isso era muito estranho. Por que se uma pessoa gostava dele, Carlos teria que se casar com ela e ele não achava que existiam ternos de seu tamanho. Oh, Deus! O que ele poderia fazer?

Nesse momento de desespero o menino pensou em duas coisas: a primeira era que a pessoa também era um menino, uma menina que entregou um dos bilhetes afirmou uma vez. Sua vovó já haviam dito que, assim como ele só tinha uma mamãe, muitas crianças tinham só papai ou papai e mamãe e algumas tinham duas mamães ou dois papais e todas essas famílias amavam tanto seus filhos como ele era amado. Então sabia que não tinha problema se a pessoa que mandava os bilhetinhos fosse uma menina, um menino, um pouco dos dois ou nenhum (sua vovó tentou explicar esses últimos, mas ele não entendeu direito), mas, se fosse um menino também, quem ia usar vestido no casamento?

A segunda coisa que ele pensou e provavelmente a mais importante foi sobre quem mandava aqueles bilhetes. Será que a pessoa o confundiu com alguém, porque, bem, ninguém gostava dele depois de ter empurrado aquela menina das presilhas…

Mistério resolvido! Era só não aceitar mais nenhum recado que parariam de mandar.

Como que cronometrado apareceu um menino loiro da sua sala com um cartão diferente de todos os outros nas mãos, era colorido e em formato de coração.

—Não, obrigado. - Carlos disse simplesmente e o menino pareceu muito chocado. —Não quero o bilhetinho.

—Mas… o moço falou que era pra você aceitar.

—Mas eu não quero, fala pra ele que ele é um cocozento! - Carlos começou a ficar nervoso porque o menino insistia em entregar o bilhete, balançando na frente de seu rosto.

—Tá, tá, não precisa falar palavras feias. - ele parecia assustado. —Você não quer mesmo o bilhetinho?

—Não! - respondeu firme e o menino praticamente fugiu.

Problema resolvido, não precisava mais lidar com bilhetes que ele não conseguia ler, pensava quando outro menino chegou perto dele.

Carlos era mais baixo até do que as meninas da sua idade, então quando um menino de sete anos se aproximou ele tremeu.

Não só por ele ser muito mais alto, mas por vários outros fatores. O menino (quase um moço) tinha uma cara de bravo, as sobrancelhas grossas e olhos castanhos grandes e flamejantes. O cabelo cortado estilo militar, o rosto quadrado e o uniforme bem alinhado o deixavam com cara de ainda mais velho.

O menino chegou ainda mais perto e Carlos percebeu o quão mais alto ele era. Engoliu em seco e sentiu a necessidade de desviar o olhar, notando só naquele momento que o bilhete de coração estava na mão dele.

O mais velho segurou sua mãozinha e deixou o papel lá, saindo correndo.

—Hey! Volta aqui! - Carlos gritou e o outro parou no mesmo momento, o ruivinho foi até onde ele estava, em um canto mais afastado do parquinho.

—É… -ele começou com cuidado. —Eu não quero o… bilhetinho. Acho que não é pra mim.

Os ombros do outro caíram e ele fez uma cara de cachorrinho que caiu da mudança, Carlos pensou por um segundo que ele não dava tanto medo.

—D-des-desculpa. E-eu n-não sa-sa-sabia c-como f-falar c-com vo-vo-você. É-é p-pra v-você s-sim!

—Por que você fala esquisito?

—N-não s-sei. M-mas v-vo-você é b-boni-nitinho. - Carlos ignorou a mudança de assunto porque suas bochechas coraram com o elogio.

—É… obrigado. Você parece um… lobo. - sabia que tinha que devolver o elogio de alguma forma, por isso falou a primeira coisa legal que pensou, mesmo que isso tornasse a conversa meio desconexa.

—L-lobo? - o menino parecia confuso.

—É, lobos são legais. São fortes e grandes e têm olhos bonitos.

Mesmo que o garoto tivesse a pele mais escura que a sua dava pra ver que corava intensamente.

—O-obrigado. - ele estava visivelmente sem graça.

—Por que você mandou os bilhetinhos? - Carlos queria saber de uma vez por todas. —Você gosta de mim?

—S-SIM! V-você t-tem c-ca-be-belos c-cor de de fogo-go e sar-sarnas no r-rosto e é-é bo-bonito! E-eu gos-gosto de v-você!

O mais baixo levou alguns segundos para processar aquilo. O outro menino gostava dele e o achava bonito? Aquilo sim deveria ser um engano.

—O certo é “ruivo”… e os pontinhos são “sardas”, sarnas são quando um cachorro fica dodói.

—E-eu n-não s-sabia.

—O que tá escrito? - Carlos perguntou depois de alguns segundos de silêncio.

—V-você n-não l-leu? - o menino pareceu decepcionado.

—Na verdade, eu não sei ler. Só vejo os desenhos que você fez e são bonitos - explicou com um sorriso.

O mais velho segurou o papel perto do rosto do ruivo e começou a ler em voz alta enquanto passava um dedo devagar sob as letras.

“Carlos, te amo, casa comigo”

Oh. Okay.

—A gente não pode casar agora, só adulto pode casar - o outro menino fez um bico —Mas a gente pode namorar… eu acho. Sim! Podemos ser namorado e namorado.

No mesmo instante que Carlos disse isso o outro menino segurou seu rosto e o puxou em sua direção, fazendo com que ficasse na ponta dos pés.

Os lábios não se tocaram por mais do que um milésimo porque Carlos deu um pisão no pé do mais velho que choramingou e soltou seu rosto.

—Você é um boboca! Criança não pode beijar ninguém! Beijo na boca é coisa de gente grande!

—D-des-desculpa! O-o q-que c-criança p-pode-de f-fazer e-então?

—Abaixa. - Carlos pediu depois de pensar um pouco. Quando o mais velho ficou na sua altura, ele estalou um beijo em sua bochecha. —Criança pode beijar na bochecha e segurar na mão. Disse e agarrou a mão muito maior que a sua, começando a andar, puxando o menino para algum lugar incerto.

—O-o q-que vo-você t-tá f-fa-fazendo? O-Onde a ge-gente t-tá indo-do?

—Não sei, mas namorados têm que andar de mãos dadas. - respondeu como se fosse a coisa mais simples do mundo.

E poderia ter sido se tivessem ouvido o sinal que indicava a hora de ir embora e percebessem que andaram até perto da saída.

Parado no portão havia um casal que Carlos poderia ignorar se não fosse o fato do outro menino parar do nada e encarar assustado o casal.

A mulher parecia muito cansada e triste e lembrava a Pocahontas, assim como o menino que ainda segurava sua mão… talvez fosse sua mamãe?

O homem usava óculos grosso, tinha uma barba bem aparada, cabelo dividido ao meio e usava terno mesmo no calor insuportável daquele dia. Não parecia nada feliz e não disse nada quando agarrou o braço do filho e separou as mãos unidas bruscamente, puxando o menino para longe e fazendo Carlos se desequilibrar e cair no chão.

A senhora parecia uma boneca, mas piscou quando o menino começou a chorar alto.

Carlos só percebeu que seu joelho estava ralado quando o carro do homem mau já estava longe. Não entendera o que causara aquela reação, mas de alguma forma sabia que ele podia ser chamado assim.

O menino nunca mais falou com ele, nem segurou sua mão. Sempre que o via pela escola, ele dava um olhar triste e corria para o outro lado.

Um dia o ruivo acabou esquecendo da existência do menino.

Um dia perdeu os bilhetinhos, bem na época em que estava aprendendo a ler e poderia finalmente descobrir o nome do menino… por que não perguntou quando conversaram?

Luís Otávio por outro lado adotou “Lobo” como apelido, mesmo que em algum momento os abraços de Amanda tivessem curado seu primeiro coração partido e o feito esquecer o que o causou.

 


Notas Finais


Agradecimentos especiais à priminha de uma de nós que contou a saga de um amigo dela que mandava bilhetinhos todos os dias pra uma menina e ela se fazia difícil (essa última parte a gente ignora rs).


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