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História Vermelho Fluorescente - Capítulo 2 - Vermelho Fluorescente


Escrita por: mochileirao

Capítulo 2 - Capítulo 2 - Vermelho Fluorescente


—Tem certeza de que não quer ficar aqui?—pergunta Júlia Moreira.—Eu amei te conhecer! E sinto que já te conheço faz tempo.
—Eu preciso achar meu rumo,sabe? Preciso correr atrás pra conseguir as coisas.
—Não precisa ser assim,eu te ajudo em qualquer coisa!
—Eu insisto que você me dê pelo menos seu currículo para eu te encaixar em algum emprego na minha editora.
—Você faria isso por mim?—pergunta Júlia Batista esperançosa.
—Mas é claro! Mas sobre não ter lugar para dormir,tem certeza que não quer ficar aqui?
—Não quero te atrapalhar nem nada...eu dou meu jeito,cê vai ver. Obrigada!
Então Batista segue seu caminho pelas ruas, e acha diversos livros no lixo de uma casa. Fica fascinada e senta ao lado da lixeira e começa a ler. Perde a tarde inteira ali,até que os donos da casa chegam.
Ningém menos que o Bispo Macedo e seu sobrinho Isack Macedo,as celebridades do canal Record saíram da limousine e se depararam com a leitora em meio a vários livros.
—Que Deus tenha misericórdia desta alma!—exclama o Bispo.
Isack observa a garota,que ignora a presença dos dois ali. Aquela pele de cor indefinida,aqueles cabelos cacheados e cheios,os olhos enormes e cheios de curiosidade enquanto liam,as roupas simples e o sinal de tamanho peculiar e bastante chamativo no pescoço. Quis se aproximar da garota,mas seu tio lhe impediu.
—Não encoste nela,vamos pedir para um segurança tirá-la daqui.
—Me deixa falar com ela.—insiste Isack.
Isack abaixa e cutuca a garota,que é liberta do transe causado pela leitura. Os olhos gigantes de Júlia encontram os de Isack. Ela analisa o garoto da cabeça aos pés. A pele reluzente de tão branca do menino quase a cegou,o nariz e lábios enormes lhe interessaram e os cabelos loiros e ondulados penteados em um topete pequeno em cima da testa do garoto apaixonaram a pequena.
—Ahn,me desculpe. Você é aquele cara da novela dos 10 Mandamentos,né?—reconhece Júlia.
—O próprio.—Isack exibe seus belíssimos dentes incrivelmente brancos com um aparelho vermelho fluorescente,o que derrete mais a menina.
—Me perdoem,é que eu achei estes livros de história e ciência aqui na porta de vocês e não pude deixar de dar uma olhada. Posso pegar para mim?
—Minha filha! Ciência é coisa do demônio! E a única história verdadeira que realmente importa está aqui.—Bispo Macedo puxa de dentro de seu vestidão uma bíblia azul com detalhes prateados e entrega à menina.
Júlia faz uma careta para o homem e pensa em recusar,mas encara Isack,que dizia "aceita" silenciosamente. Então Júlia força um sorriso e aceita a bíblia,pensando em quanto ela vale no Mercado Livre.
—Que Deus esteja com você,jovenzinha! Amém! Vamos,Isack?
—Então...tchau!—diz Isack sem jeito—Até qualquer dia.
—Até...—diz Júlia observando os dois entrarem. 
Júlia então se ajeita e procura uma marquise próxima ao colégio militar da região,faz um cobertor com suas camisas,deita e dorme. Havia passado por muita coisa no seu primeiro dia como uma adulta.

Não eram nem sete da manhã,quando Júlia é acordada com uma porrada bem forte em suas costas e sente algo pesado em cima dela.
—Pariu,hein,Nilde!—resmunga Júlia.
Uma figura de tamanho médio,cabelo cacheado, bagunçado e repartido ao meio e com um arco,usando um uniforme largo do colégio militar e com um leve cheiro de óleo diesel tropeça na pobre Júlia,que estava a dormir sonhando com o atorzinho do dia anterior.
—Meu Deus,meu Deus,meu Deus,meu Deus!—diz a figura.
—Você é menino ou menina?—pergunta Júlia extremamente confusa.
—Sou menina,vem cá.
A garota então levanta Júlia e começa a examiná-la.
—Mas que porra você está fazendo,maluca?
—Eu tô vendo se tá tudo bem. Este machucado na sua cabeça não fui eu não,né?—pergunta a menina curiosa,tocando na ferida.
—Não encosta! Cheia de bactérias tocando aqui. Eu estou bem,obrigada.
—Ih,ela tá nervosa,ela.—responde em tom de deboche—Me desculpa,eu estou com pressa e acabei tropeçando em você. 
—Não estou nervosa. Sou virginiana e odeio germes. E jura que você tropeçou em mim? Nem percebi.
—Cruz credo,odeio gente desse signo. Espera! Nunca conheci ninguém que gostasse de signos! Lá na escola dizem que é coisa de hippie esquerdista,então eu fico na minha. Qual seu nome?
—Me chamo...Júlia. E seu queixo está sangrando,você caiu de cara no chão.
—Oh,Deus!—exclama a menina,que coloca a mão no queixo e vê sangue.—Ok,não entre em pânico,não entre em pânico,relaxa...
Júlia observa assustada a esta figura. "A menina mais parecia um garoto,toda desengonçada e aparentemente maluca da cabeça. E que cheiro é esse? Parece que ficou banhada em óleo diesel por sete dias." pensou.
Depois do drama todo,a garota fica mais calma.
—Então,Júlia,meu nome é Dandara Sol. Pode me chamar de Danda ou Sol ou...o que você quiser...enfim,me desculpa mesmo por...é...espera,o que houve mesmo?—Dandara se embola em seu próprio discurso.
—Você tropeçou em cima de mim! Dã!
—Isso,exatamente. Me desculpa por ter tropeçado em você,eu não costumo olhar por onde ando. Toma aqui.
Dandara vasculha sua mochila e entrega um pacote de rosquinhas para Júlia.
—Uau. Ahn,valeu...mas eu acho que não...
—Que nada,mana! Você tá precisando comer alguma coisa,olha como é magrela...enfim,vou continuar meu caminho,as matérias não vão se estudar sozinhas,né não? Tchau! Até a próxima!—diz Dandara se afastando,acenando e tropeçando novamente em seu trajeto.
—Mas que puta louca do caralho.—diz Júlia sozinha sentada,abrindo o saco de rosquinhas.
Dandara segue para seu colégio,que não fica muito longe dali. Não era uma pessoa de muitos amigos por conta de seu jeito um tanto...masculino. Em um país cada vez mais conservador,ser fora do padrão é um desafio. Sem falar que seu jeito meio alucinado também a atrapalhava bastante e isso a deixava bastante triste,já que como toda canceriana, Dandara sempre foi muito sentimental apesar de odiar admitir isso. 
Chegando na escola,encontra tudo fechado.
—Mas o que?... Ah,porra! Hoje é sete de setembro!—lembrou Dandara.
A garota correu até o centro de Campo Grande,quase morrendo,mas conseguiu chegar. Teve que ouvir um belo esporro dos militares e ficou um tanto perdida em sua posição e se juntou a uma outra menina para marchar.
—Você também está perdida?—pergunta a menina.
Dandara olha para a garota de pele branca e um lindo cabelo castanho escuro com um sinal embaixo do olho direito. Ficou alguns segundos marchando observando a menina até que toca da pergunta que lhe foi feita.
—Ahn,estou sim. Acabei me...atrasando porque...bom,é uma longa história.—responde Dandara bastante tímida.—Qual seu nome mesmo?
—Catherine. O seu é Dandara,né?
—Ahn...meu nome?? É,esse mesmo.É...Dandara o meu nome...
"Sou uma idiota da porra." pensa Dandara.
Catherine ri do jeito tímido e confuso da menina.

Após 30 minutos marchando,as pessoas do desfile se encontram com Flávio Bolsonaro e Crivella juntos comemorando a vitória de Jair Bolsonaro na presidência. Depois de muito tempo juntas,mas sem trocar muitas palavras, Catherine tem uma ideia.
—Ei,Dandara?
—Hm? Oi?—responde Dandara enquanto brisava como de costume.
—Quer sair daqui?
—Hein?
—Sair daqui,não gosto do Bolsonaro. Vamos dar um rolé,nós duas,o que acha?
—Ai,eu num sei... Tenho medo de dar merda... Tá cheio de monitores lá da escola aqui...
—Relaxa,ninguém vai ver a gente saindo. Vem!
Catherine pega na mão de Dandara e as duas saem da Praça dos Estudantes e começam a vagar sem rumo por Campo Grande. Elas não perceberam,mas Karina,a monitora mais fofoqueira estava observando as duas.
Catherine e Dandara foram se conhecendo melhor durante a caminhada. Dandara,como se apega muito fácil às pessoas,já estava imaginando quem levaria as crianças para o curso de inglês no futuro. As duas começaram a conversar sobre política e descobriram que tinham o mesmo posicionamento. Pararam para descansar,fizeram guerra de mamonas e continuaram a caminhada.
—Não imaginava que você era legal desse jeito.—diz Catherine.
—Eu também não! Então somos tipo...amigas agora?
—Ah,eu já te considero minha amiga...
—Fico feliz...
—Tenho uma pergunta pra te fazer...
—Manda.
—Você...é lésbica,né?
—...eu...eu não...eu...
Dandara não esperava por essa. Ela morria de medo de alguém desobrir sua verdadeira identidade.
—Relaxa! Olha...se isso te deixar mais confortável...eu sou.
Dandara ficou aliviada e surpresa,mas não conseguiu responder a pergunta de sua nova amiga.
—Danda. Dandara! Me responde!
Dandara continua andando,com uma leve dor de estômago por conta do nervosismo.
—Dandara Sol. Me responde agora,ou...
Catherine para bem na frente de Dandara neste momento.
—Ou o que...?—pergunta Dandara extremamente nervosa,com uma sensação de que ia morrer do coração a qualquer momento.
—Ou isso...—diz Catherine aproximando cada vez mais seu rosto ao de Dandara.
—Podem parar com isso.—diz uma voz familiar.—Agora!
As meninas olham assustadas para o dono da voz. Gustavo. O garoto mais violento da escola. E não estava sozinho.
—Gustavo,sai daqui.—pede Dandara.
—Eu e meus amigos aqui seguimos vocês até aqui só pra ver se ia ter essa palhaçada e pelo visto acertamos.
—Ótimo. Eu sou gay. Parabéns aos Sherlock Holmes aqui presentes,que descobriram o que todo mundo sempre suspeitou. Agora vai fazer o que?—pergunta Dandara em um tom corajoso,mas por dentro praticamente morto.
—Já que você quer ser homem,vamos ver se aguenta porrada igual a um. Vamos,meninos! E não se esqueçam da namoradinha dela.
Então Catherine e Dandara começaram a correr dos meninos. Dandara,como se cansa mais rápido,acabou sendo deixada para trás.
—Corre,Catherine. Não entre em pânico,vai ficar tudo bem! Agora corre!—diz Dandara ficando para trás.
—Não!! Socorro!—grita Catherine correndo o mais rápido que pode.
Os meninos,com paus e pedras atacaram a jovem,que ainda tentou lutar contra eles somente com conhecimentos de golpes que aprendeu em video games,mas não funcionou. Dandara apanhou bastante e quando estava prestes a desmaiar,eis que surge Júlia,a mendiga,que começa a atacar um por um dos agressores. Não demorou muito e uma outra figura dando um grito extremamente irritante apareceu com duas navalhas em suas mãos e se juntou com Júlia para acabar com eles. Depois de muita luta,Gustavo sai correndo e dizendo que vai ter vingança.
—Nossa senhora protetora de briocos...que sapatão mais burra essa que em pleno dia da vitória de Bolsonaro quer ser sapatão na rua. Pariu,hein,Nilde!—diz um garoto vestido de panterona.—Vi de longe elas prestes a colar velcro aqui.Eu me chamo Vitinhú do Magarça,mas pode me chamar de Vitu que eu deixo.Quem é você?
—Me chamo Júlia. Júlia Batista. Obrigada pela ajuda.
—Você conhece essa otária...digo, operária de fazenda aqui?
—Sim,ela tirou minha barriga da miséria hoje cedo. Foi meu primeiro presente de aniversário em anos,inclusive.
—Virginiana também,viado? Arrasou!—diz Vitor—Mas diz aí,mana. O que fazemos com ela?



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