História Vermelho Fluorescente - Capítulo 4 - Arranha a cara dele

A mão de Vitu chega a tremer com a oportunidade de tirar mais um homofóbico do mundo. O momento está tenso,a vida de Isack está nas mãos de Vitor agora. O ódio de Vitu estava tomando conta de seu corpo. Os gritos ao redor não faziam a menor diferença no interior do menino. Mas apesar de maluco,Vitu é bastante racional. Sabia que matar um ator de novela era motivo de tortura em seu país. Após minutos naquela posição,Vitu finalmente solta Isack,que suava frio e mostrou bastante alívio com o fim da situação. Mas Vitu,como um bom virginiano,não perdeu a oportunidade de se vingar e,em um instante,como um ninja, faz um movimento contra o rosto de Isack. O moreno abriu um corte um pouco abaixo do olho direito do loiro,que percebeu tarde demais o que aconteceu.
Isack leva um susto com o movimento e em seguida coloca a mão sobre o corte.
—Tá pensando que viado é bagunça? Seja a pessoa que for,ator,presidente,neto do Edir Macedo...Se me atacar,eu vô atacar!—diz Vitu saindo do local e sumindo nas sombras de um beco da esquina.
 Por mais que quisesse torturar Vitor de diferentes maneiras,Isack respeita bastante a atitude do menino e o deixa ir. Respirou fundo e retornou ao grupo de conhecidos,que estavam todos filmando a porrada em seus celulares. 
—Malditos,o viado ia me assassinar ali! E vocês filmando! Meu Deus!—diz Isack zangado.
Todos retornaram para o apartamento de Júlia e comeram a pizza de quatro queijos bem gordurosa em silêncio.
—Então,quem quiser dormir aqui,tem uns colchões velhos ali no canto.—diz Júlia Moreira para quebrar o silêncio—E Dandara,né? Enfim,que bom que finalmente acordou totalmente. Só me lembro de você no meio da luta do Isack e do Vitu gritando "Benimaru,bate nele!" para o Isack.
Isack,apesar de raivoso, começa a rir ao se ao comparar suas características  com as de Benimaru,o personagem loiro de topete do jogo The King of Fighters. 
—Ah,Jú!—diz Dandara como se tivesse algum pingo de intimidade—Eu já estou ferrada mesmo com a minha mãe,então relaxei. E quando fico nervosa demais me dá vários problemas,tipo dores fortes no estômago,dor de cabeça e um pouco de pânico,que juntou com minha habilidade de tropeçar em todo lugar e pronto: fiquei mais demente que o normal.
—Eu sinto que já somos bons amigos!—diz Luizinho com um sorriso cheio de pizza.
—Amigos? Sério? Por que sinto que estou sentado no meio de um monte de retardados aqui. Um mordomo viadinho,duas sapatas muito idiotas e um maconheiro energético! E eu não me misturo com esse tipinho de gente nem fodendo A única coisa boa disso aqui são as Júlias! Querem saber de uma coisa? Por que vocês não dão o fora daqui? Ou,melhor,o "homofóbico", o "crente" aqui vai. Já aturei muita coisa por hoje nessa porra. Adeus!—diz Isack empurrando a mesa antes de levantar e sair.
Júlia Moreira fervia,mas não sabia se era de ódio ou vergonha. Começou a tremer e Sr. B logo entendeu e trouxe um calmante para a mesma. Os outros presentes perderam o apetite,apesar de Dandara continuar beliscando alguns de seus pedaços e os de Catherine. Minutos depois,Júlia Moreira se recupera e diz:
—Galera,então...Perdoem meu primo. Ele é extremamente sem noção das coisas que fala quando está com ódio e ainda fica agindo como uma crinaça de sete anos. Mas peço que não odeiem ele,o que acontece é que Isack  foi criado assim. Ele vê problemas na sua ideologia,claro,mas não sabe lidar com isso e nem com quem pensa diferente...olhem, acho que já está tarde e vocês precisam decidir se vão dormir aqui ou não,pois as chaves ficarão com a Batista ali.
Dandara pensa um pouco e diz:
—Cara,são nove e meia...
—Meia nove? Oi?—interrompe Catherine.
—Quero...oi?...Enfim,acho que vou para casa. Novamente,obrigada por tudo,pessoal,minha cara ainda dói muito,mas vocês fizeram mais que muita gente já fez por mim. Sei que nos conhecemos hoje,mas já considero todos vocês pra caramba,inclusive acho que deveríamos marcar qualquer dia...sei lá. Catherine,você vem?
—Sim,vou com você. Obrigada,gente! Vou indo,pois as macumbas não se fazem sozinhas...ou se fazem?—diz Catherine,que foi a única a rir—De qualquer forna,gostei muito de vocês também. Salvaram nossa pele! Boa noite.
Dandara fez questão de dar um abraço forte e demorado em todo mundo com direito a beijinho na testa. Júlia Batista limpou o beijo,Luizinho retribuiu,Júlia Moreira a elogiou por ser simpática e Sr. B recusou,exigindo somente um aperto de mãos,que obviamente foi negado e a menina o abraçou e beijou sua testa. Catherine e Dandara foram embora de Uber,pois estavam morrendo de medo das ruas desertas. 

Isack fez os ensaios e gravou as cenas da novela durante aquela semana extremamente difícil. No dia sete,quando chegou em casa levou um belo esporro por voltar aquela hora sozinho e com um corte gigante. Escondeu a qualquer custo a verdade e disse que conseguiu aquilo salvando um gatinho encapetado de uma árvore e,por incrível que pareça,esta desculpa colou e todo mundo acreditou. Isack é uma pessoa muito intensa e explosiva quanto aos seus sentimentos. Se está feliz,está muito feliz e distribuindo flores ao seu redor. O problema começa quando até emoções ruins são sentidas e o mesmo tende a explodir e descontar em tudo e todos ao seu redor.
A semana foi difícil para ele,pois não parava de pensar naquelas pessoas que conhecera naquele dia. Não quis de jeito nenhum ofender nenhum deles dizendo aquelas coisas,por mais que pensasse daquele jeito. A homossexualidade é algo completamente proibido e incomum (até onde todos sabiam) neste mundo e Isack,com sua criação conservadora,não conseguia entender aquilo e por isto se tornou ignorante. Mas o fato de ter apanhado e ter sido desfigurado por alguém que menosprazava tanto por ser diferente martelava o tempo todo em sua cabeça. Já não sentia mais ódio do garoto,mas sim uma espécie de admiração misturada com vários outros sentimentos que não entendia. 
Pensou também,além de Vitu,em Catherine. Uma garota "da macumba",que além disso também é gay. Uma garota com um astral maravilhoso,com mensagens lindas sobre suas crenças,que são completamente diferentes das de Isack. Além dessa personalidade incrível,tem muita paciência,como demonstrou no episódio do quarto com Dandara. Não saiu do lado de Dandara nem por um segundo. Dandara,que ficou para trás só para Catherine escapar e apanhou. E mesmo faltando parafusos em sua cabeça,Dandara foi uma das pessoas que mais gostou de conhecer,mesmo sendo muito diferente por não ter crença alguma e ter cheiro de óleo diesel.
Por que Isack se sentia bloqueado para gostar destas pessoas? Por que não conseguia aceitar totalmente estas pessoas? O que faltava?
Isack foi à igreja com estas coisas na cabeça. Sentou afastado de todos os irmãos,ajoelhou em seu banco e começou uma oração. Conversou com Deus com toda a sinceridade de seu coração sobre estes assuntos e sentiu algo positivo dentro de si assim que terminou de falar. Quando abriu os olhos,pegou sua bíblia e abriu diretamente em Marcos,capítulo 12 e versículo 31.
—Amarás o próximo como a ti mesmo.Não há outro mandamento maior do que estes.
Isack deu um sorriso enorme,exibindo seu aparelho vermelho fluorescente. Sentiu-se importante,pois Deus havia falado com ele e todo ódio sumiu de dentro de si. Naquele corpo enorme e aquele topete loiro só habitava o amor. Isack sentiu que devia bolar alguma maneira de se redimir com aquelas pessoas,mas não tinha muita noção do que fazer. Pensou em marcar outra data para todo mundo se reunir,pensou em entregar chocolate na porta da casa de cada um,mas achou que recusariam por pensar que Isack os ofenderia novamente. Precisava de ajuda para bolar um encontrão e sabia que apesar de ter o insultado,o único que podia salvar sua pele nesta missão por perdão era ninguém mais que o mordomo mais classudo e misterioso que você respeita.
—Sr. B? É o Isack. Do fundo do meu coração,me desculpa por semana passada...pode me ajudar com uma coisa?

Não muito longe,mas também nem tão perto dali,estava um dos colégios militares da Zona Oeste,onde Dandara assistia a uma aula terrivelmente chata de matemática. Os machucados em seu rosto sangravam o tempo inteiro e a menina não sabia mais o que fazer. Todos ficaram sabendo do motivo de seus machucados e Dandara virou motivo de piada na escola inteira. Era o tempo todo vítima de insultos e bolas de papel arremessadas com força. Dandara sempre demonstrava uma aparência tranquila quanto a isso tudo,mas por dentro lamentava o tempo todo por viver essa situação. Sua mente estava focada em,além desse bullying todo,na Catherine. Todos os dias Dandara esperava ansiosamente que o sinal das onze horas batesse para ver sua mais nova amiga. As duas costumam sentar sozinhas na mesa esquecida de frente para a cozinha,onde esquenta e se torna insuportável. Sempre jogam restos de comida nas duas,que reclamam com os superiores que não fazem nada por elas,porque compactuam com este tipo de comportamento. 
O que fazia as duas continuarem a sorrir era a amizade,que cada vez mais ia crescendo. Assuntos variados e cantadas inesperadas vão e vem todos os dias,mas especialmente neste dia,Catherine faltou. Dandara havia feito um desenho das duas para entregar para Catherine durante a hora do almoço.Após a longa e cansativa aula de matemática,Dandara recolhe seu material e desce as escadas correndo. Senta-se sempre do lado esquerdo,pois achava que o lado direito dava azar. Esperou longos minutos e nada de Catherine aparecer. Dandara,sentimental toda a vida,já estava imaginando alguma maneira de se culpar pelo fato da menina não ter vindo. Enquanto comia um bolo de chocolate super doce feito pela sua mãe,Dandara percebe um olhar vindo de umas meninas do primeiro ano.  Uma garota alta e branca a encarava com um sorriso no rosto. Dandara não entendeu nada e achou que fosse para outra pessoa,então ignorou e começou a ler a tabela de calorias do seu refrigerante para se distrair. Enquanto viajava na preocupação com as calorias do refrigerante,a garota se senta exatamente no lugar de Catherine e uns mil anos depois Dandara nota a presença dela ali. Como pensou que era só mais alguma maneira de zombação,apenas ignorou a garota e leu os ingredientes da fórmula do refrigerante,que parecia ter coisas radioativas em sua composição.
—Ah,oi...—diz a menina.
—Olá.—diz Dandara em tom seco.
—Então...seu nome é Dandara,né?
—É,meu nome é esse daí sim.—diz Dandara sem demonstrar o menor interesse em continuar aquela conversa.
—Eu...me chamo Andressa.—diz a garota.