História Versos de um crime - Capítulo 20

Fomos para o quarto e nos deitamos na cama em meio a beijos e carícias, Derek subiu em cima de mim e me observou por um instante antes de se inclinar e mordiscar minha orelha.

-Eu nunca trairia você.

Aquelas palavras aqueceram meu coração de formas inimagináveis, ele me beijou com vontade e estávamos quase indo mais adiante quando algo me impediu, o afastei e ele deitou ao meu lado, com um leve sorriso.

-Você não quer?-perguntou.

-Não é isso, é que eu preciso da verdade, Derek.

-Por onde você quer começar?

Me espanto com sua pergunta, não achei que iria ser tão fácil assim, já havia até preparado meu discurso caso ele se fechasse novamente, um pouco sem ar, me sento na cama e respiro fundo.

-Bom, vamos começar pelos pequenos furos que estão presentes no próprio arquivo, se você foi dado como morto, alguém teve que te substituir. Quem? E como? 

No momento em que fiz a pergunta, seu corpo fica todo tenso e ele pisca diversas vezes antes de voltar para o presente e me responder.

-O nome dele era Gabriel, eramos vizinhos e meu pai dizia que nós éramos irmãos de mães diferentes porque nos pareciamos muito, mas não tinhamos nenhum parentesco, ele estava passando pela minha casa no exato momento em que tudo aconteceu, acabei acertando sua cabeça com uma barra de ferro e ele ficou no meu lugar.

Ouvia tudo aquilo atentamente, a cena se montava em minha cabeça e parecia tudo muito real, cheguei a me arrepiar.

-Como ninguém ouviu? Não sei. Após isso, eu e minhas irmãs tivemos que fugir, fomos parar em uma casa abandonada um pouco mais ao leste, Cora tinha 6 anos na época e Laura tinha 18, o mais natural seria ela procurar emprego, mas as duas acreditavam que eu era um assassino e nunca fiz questão de dizer o contrário, então eu fui trabalhar.

Enquanto ele contava tudo isso, eu sentia a dor em seus olhos e a necessidade de ele ter construído toda essa barreira emocional, só então percebi que eu era muito egoísta por força-lo a dizer tudo isso.

-Derek, não precisa continuar.

-Se isso vai fazer você confiar em mim, eu faço.

Fiquei em silêncio, não haviam palavras que pudessem descrever aquele momento, então apenas esperei que ele continuasse.

-Como uma criança sem casa e sem nome arruma um emprego? Conheci uma mulher, Kate, no começo ela parecia legal e me dava bastante comida, depois eu acabei descobrindo que ela queria que eu trabalhasse para ela como garoto de programa. Fiquei assustado no começo, mas o que eu podia fazer? Precisava de dinheiro. Lembro até hoje que fui abusado muitas vezes e que não tinha tempo de me recuperar, sempre um cliente, tanto homens quanto mulheres, até que Jennifer apareceu, ela gostava de mim, mas era algo doentio, as vezes ela me queimava quando não fazia o que ela queria.

Eu já estava chorando, como as pessoas podiam ser tão cruéis umas com as outras? Três crianças sofridas por causa do ser humano, mas não disse nada, sequei minhas lágrimas e observei seu olhar perdido nas suas lembranças mais profundas.

-No mesmo dia em que Jennifer me queimou, eu cheguei em casa e Laura estava machucada, sua perna sangrava muito e Cora estava assustada e chorando demais. Naquele momento eu percebi que precisava mantê-las seguras, coloquei uma outra roupa em Cora e a coloquei em um cesto com um cobertor, pedi para que ela ficasse em silêncio e a deixei em uma casa onde foi acolhida. Laura era a mais teimosa, sempre foi, quando a deixei em uma casa, ela olhou em meus olhos e sua expressão era fria,e falou: "Eu te odeio, Derek."

Eu estava parecendo aquelas pessoas que choram em um filme trágico, minha cara estava toda inchada e eu queria muito abraça-lo mas respeitei seu espaço.

-Então, eu segui minha vida nesse trabalho, dois anos depois, eu encontrei Peter, ele foi onde eu trabalhava e me levou para a casa dele, onde me criou, mas nunca fez nada comigo. Fiz faculdade e me tornei o que sou hoje, mas todos os anos eu observo como elas estão e se precisam de ajuda, Cora adora quando eu a visito, mas Laura... Cora se formou em artes plásticas e Laura virou advogada.

Sem dizer nada, o abracei com força e ele retribuiu sem hesitar, queria mostrar a ele que não estava sozinho e que eu daria um jeito de consertar as coisas, percebi que ele ainda estava tenso, então o olhei com ternura e falei:

-Em algum momento você já chorou?

-Não tenho tempo para isso, Stiles.

Sem dizer nada e coloquei sua cabeça em meu colo e comecei a fazer carinho em seus cabelos, ele pareceu um pouco confuso quando perguntou:

-O que está fazendo?

-Tá matando com excesso de bondade e carinho.-sorri.

-Não me lembro de um momento desses na minha infância.

Ai meu Deus, eu só fui perceber o que estava acontecendo quando o silêncio se instalou, Derek Hale aquela fortaleza estava chorando baixinho agarrado nas minhas pernas, não me mexi um milímetro, deixei que toda essa angústia saísse de dentro do seu peito, assim que ele dormiu eu saí do quarto, também tinha muita coisa para eu processar.