História Vestígios - VKook - Taekook - Ele vai ficar bem

Vestígio:
qualquer marca; sinal de alguém que passou ou de algo que sucedeu.

Capítulo 1 – Ele vai ficar bem.

Nos meus ouvidos tudo ressoava como caos.

Enfermeiras e médicos, indo de um lado ao outro, empurrando macas. Crianças chorando enquanto as secretárias discutiam com suas mães. Passos e mais passos ecoando no chão gélido de mármore e bem ao fundo o barulho da sirene da ambulância completava a sinfonia.

Meu peito apertado subia e descia com rapidez, mas eu não ouvia minha própria respiração. Sentia apenas o suor escorrendo pelo meu pescoço, para dentro da minha camisa, e uma dor de cabeça intensa.

Jeon Jungkook, se acalme. Jeon Jungkook, se recomponha.

Respirei fundo, tentando ignorar os barulhos a minha volta.

Você precisa falar com a secretária. Você precisa descobrir onde ele está.

Olhei em volta pela sala de emergência do hospital e vi filas e filas de pessoas tão desesperadas quanto eu, procurando um jeito de falar com as pobres secretárias, que não estavam lidando tão bem com a situação.

- Eu nunca vi essa sala assim tão cheia! – Entreouvi a mais jovem delas exclamar, provavelmente era nova e ainda não tinha visto o hospital depois de um acidente tão grave.

Um ônibus. 42 passageiros, 17 mortos.

12 gravemente feridos.

Ele vai ficar bem. Ele vai ficar bem.

Então, bem no meio daquele caos me surge um rosto conhecido. Min Yoongi hyung.

Senti meu corpo todo desligar e fiquei parado ali, olhando para ele. A pele de seu rosto, geralmente branca como porcelana, estava vermelha e seus olhos inchados. Ele veio até mim e eu deixei o peso do meu corpo cair em seus braços, enquanto ele tentava me segurar com dificuldade.

- Jungkook! Jungkook, você está bem?

Ele não me aguentou por muito tempo e deslizamos os dois até o chão frio. Meus olhos encheram-se de lágrimas instantaneamente e elas começaram a escorrer pelo meu rosto sem pedir licença.

Yoongi me abraçou e eu me permiti apoiar a testa em seu ombro e chorar. Queria perguntar o que estava acontecendo, queria perguntar onde ele estava, mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Da minha boca só saíam soluços.

Ficamos alguns minutos assim, e a nossa volta aquela sinfonia de desespero e morte continuava. As pessoas correndo, as crianças chorando, as mães berrando.

- Hyung, onde... – Finalmente pude ouvir o som da minha voz, mas ela soava baixa e patética aos meus ouvidos.

- Ele está em cirurgia. – Yoongi me interrompeu, poupando-me o trabalho de ter que terminar a pergunta. – Ele vai ficar bem.

Ele vai ficar bem. Ele vai ficar bem.

Repeti o mantra em minha mente quantas vezes eu pude.

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Depois de horas esperando do lado de fora da sala de cirurgia, finalmente as portas se abriram. Uma médica bem jovem saiu, tirando as luvas de borracha e abaixando a máscara branca que cobria-lhe o rosto, enquanto andava em nossa direção.

- Sr. Jeon Jungkook?

Me levantei abruptamente da cadeira.

- Sou eu. Como ele está? – Perguntei, sentido meu coração palpitar na minha garganta. A médica deu um sorriso tranquilizador e isso pareceu trazê-lo de volta ao lugar certo.

Ao meu lado estavam Yoongi, que havia andado de um lado para o outro desde que chegamos, Namjoon e Seokjin, que mantinham-se de mãos dadas.

- A cirurgia foi um sucesso. Ele vai ficar bem.

Ele vai ficar bem.

Abaixei a cabeça e as malditas lágrimas voltaram a rolar pelo meu rosto. Senti a mão de Yoongi hyung no meu ombro, confortando-me.

- Sr. Jeon, poderia me acompanhar até meu consultório?

Limpei as lágrimas fugitivas com a manga da camisa e afirmei com a cabeça. Seguimos os dois por corredores brancos e silenciosos até entrarmos em um típico consultório médico, decorado como todos os outros. Uma estante cheia de livros, fotos em família, aparelhos, e o típico diploma emoldurado pendurado na parede.

- Eu sou a doutora Choi. – Ela apresentou-se logo depois que nos sentamos. – Fiz a cirurgia no Sr. Kim e serei responsável pela sua recuperação de agora em diante.

- É um prazer. – Foi tudo o que consegui dizer.

- Gostaria de explicar-lhe melhor a situação, tendo em vista que o Sr. está listado como responsável pelo Sr. Kim em seu plano de saúde. – confirmei com a cabeça antes que ela continuasse. - O Sr. Kim Taehyung teve múltiplas fraturas, em especial uma na cabeça. Tivemos que colocar uma placa de titânio em seu crânio, já que o inchaço no cérebro estava pressionando-o.

- Tiveram que abrir a cabeça dele?

- Se não o fizéssemos ele não teria sobrevivido.

- Entendo – Respondi, apoiando a cabeça nas duas mãos. Um turbilhão de pensamentos e dúvidas passavam pela minha cabeça, mas eu só conseguia permanecer em silêncio.

- Por sorte nenhum outro órgão interno foi afetado. Tirando algumas fraturas mais simples, como um braço quebrado, espero que ele se recupere em poucas semanas. Alguma dúvida?

- Só quero saber quando poderei leva-lo para casa.

- Ele deve demorar alguns dias para acordar, visto que a operação foi complicada. O colocamos em coma induzido para amenizar a dor. Acordá-lo agora seria pior.

Aquilo provocou uma pontada forte em meu peito e eu senti o ar faltar em meus pulmões.

- Ele vai sentir muita dor?

- Vamos fazer o nosso melhor para que o Sr. Kim fique confortável. – Ela respondeu, evitando a pergunta. – Estamos receitando uma alta dose de analgésicos intravenosos para garantir que ele sinta o mínimo de dor possível.

Concordei com a cabeça.

- Sr. Jeon, não pude deixar de notar que o senhor não tem nenhum vinculo sanguíneo com o paciente, apesar de estar listado como responsável pelo plano de saúde. Não é meu trabalho e eu não pretendo me intrometer, mas talvez fosse uma boa ideia alertar os pais do Sr. Kim.

- Eles moram na Europa. Taehyung não fala com eles há um tempo.

- Tudo bem. – Ela sorriu, enquanto abria a gaveta da escrivaninha e retirava alguns papéis – Como disse, foi só uma sugestão. Preciso que assine os documentos do plano para mim. Eles cobrem um ótimo quarto individual para o Sr. Kim ficar hospedado enquanto se recupera.

Assinei os papéis.

- Muito obrigado, doutora Choi. – Nos levantamos e apertamos as mãos.

- Qualquer dúvida, estarei aqui. Você já pode ir ver o Sr. Kim, ele já deve estar no quarto 213.

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Entrei no quarto e meu coração parecia querer saltar pela boca. Senti o gosto salgado novamente e percebi que havia voltado a chorar.

Taehyung estava irreconhecível. Seu braço esquerdo estava enfaixado e o direito repousava sobre sua barriga, uma agulha fincada em sua mão ligava-o a um saco de soro dependurado ao lado da cama. Seu rosto estava inchado, meio roxo, meio amarelado, e seu nariz estava sujo de sangue. Um cano grosso de intubação saía de sua boca e conectava-se com um aparelho para ajuda-lo a respirar. O tubo mantinha-se no mesmo lugar graças a um pedaço grande de esparadrapo branco que estendia-se de um lado ao outro do seu queixo.

A cabeça dele estava enfaixada, toda. Eu mal pude ver suas sobrancelhas. As pálpebras de seus olhos, que eu tanto adorava, estavam inchadas e vermelhas.

Ele vai ficar bem.

Segurei sua mão fria e beijei a ponta de seus dedos.