História Vestígios - VKook - Taekook - Meu coelhinho

Evitar Jungkook parecia ser a coisa mais difícil que Taehyung já tinha feito na vida.

Ele continuava a enviar mensagens fofas, e só com isso já fazia o castanho sentir arrepios por todo o corpo, seus hormônios numa euforia fora do normal.

Mas não queria falar com ele. Muito menos vê-lo.

Depois da última vez que se viram – e de Jungkook consegui-lo fazer gozar nas próprias calças só por terem se esfregado um no outro um pouquinho – Taehyung se sentia a pessoa mais humilhada do planeta e estava morrendo de medo daqueles sintomas estranhos e bons – definitivamente muito bons – que apareciam sem permissão sempre que Jungkook o tocava.

Sabia que teria que enfrentar seu constrangimento mais cedo ou mais tarde. Não podia – e nem se quisesse, não conseguiria – fugir do mais novo para sempre. Mas ainda não estava preparado, e afastar Jungkook parecia ser a saída mais fácil daquela situação deprimente.

Taehyung sempre procurava a saída mais fácil.

“Hm, depois a gente conversa sobre isso. Estou indo dormir, boa noite.” – Digitou rápido, enviando logo em seguida e se jogando na cama.

Como Jungkook conseguia fazer isso com ele? Estava definitivamente perdendo as estribeiras por causa desse garoto.

O que diabos é “isso”?

Capítulo 19 – Meu coelhinho

Imaginei que Taehyung fosse começar a me evitar depois daquele pequeno incidente, e infelizmente eu estava certo.

Quando eu acordei na manhã seguinte Taehyung não estava mais do meu lado, e notei que ele tinha ido tomar banho ao ouvir o barulho do chuveiro ligado. Depois de sair ele não comentou nada sobre os acontecimentos da noite anterior e disse que “nos veríamos outra hora”.

Nós continuávamos conversando e ele sempre respondia às minhas mensagens, mas evitava falar ao telefone e sempre desconversava quando eu sugeria que nos encontrássemos. Queria dar a ele o espaço e tempo necessário para se acostumar comigo e os estranhos pensamentos gays que ele provavelmente estava tendo, porque eu sabia que aquela fase era difícil. Mas eu estava ficando impaciente.

E o fato de ele estar morando com sua ex-namorada não ajudava em nada a melhorar minha insegurança.

Só fui reencontrar Taehyung uma semana mais tarde, quando recebi uma ligação atípica de Dahyun no meio da madrugada.

- Jungkook, Tae está tendo um ataque de pânico! – Ela disse uma voz desesperada e chorosa – Eu não sei o que fazer, ele não me deixa chamar uma ambulância!

- Você tem que ficar calma! – Exigi, me levantando da cama rapidamente e indo atrás de um casaco. – Se desesperar só vai piorar a situação!

- Eu não consigo! Ele tá todo suado e disse que tá morrendo! – Ouvi a voz afoita da garota enquanto saía de casa, sem me preocupar em trocar de roupa. – Ele pediu pra eu te ligar, disse que você saberia o que fazer!

- Me deixa falar com ele. – Pedi enquanto ligava o carro, e logo em seguida ouvi a respiração ofegante de Taehyung do outro lado da linha.

- Jungkook-ah...

- Tae, eu estou aqui. – Disse, tentando manter minha voz o mais calma possível. – Eu já estou indo.

Coloquei meu celular no viva-voz e apoiei o aparelho no painel do carro.

- Você está mesmo vindo?

- Claro que estou.

- Você pode cantar para mim?

- Claro que posso. – Respirei um pouco mais aliviado ao perceber que a voz de Taehyung soar mais tranquila – Prometi que cantaria sempre que quiser.

Fui cantando o caminho inteiro até finalmente chegar ao apartamento de Dahyun, tirando o celular do viva-voz e grato por não ter me envolvido em nenhum acidente, já que minha direção tinha sido bastante irresponsável.

A garota de cabelos coloridos tinha em mãos um copo d’agua ao abrir a porta.

- Tae está melhor. – Ela esticou o copo pra mim. – Isso é pra ele, você leva.

Afirmei com a cabeça, pegando o copo d’agua de suas mãos e adentrando o apartamento sem dizer nada. Ainda podia ouvir a respiração de Taehyung do outro lado da linha.

- Você está com sede? – Perguntei, parado em frente à porta de madeira do quarto que ele estava ocupando.

Respirei fundo antes de girar a maçaneta, tentando controlar meu nervosismo. Afinal, fazia uma semana que Taehyung estava me evitando e eu não sabia como ele ia reagir agora que o ataque de pânico passara. Pensei que talvez sua necessidade de me ter por perto também tivesse passado junto.

- Hã? – Sua voz soou confusa no telefone, e pude ouvi-la ao mesmo tempo através da porta. Entrei, ficando alguns segundos parado sobre o batente, tentando decifrar a expressão de seu rosto. – Você veio.

Então ele abriu um de seus sorrisos retangulares. Este, em especial, transmitia mais alívio do que qualquer outra coisa e eu me permiti sorrir aliviado também.

- E o que eu não faço por você? – Me aproximei da cama de casal onde Taehyung estava sentado com as costas apoiadas em um travesseiro e entreguei-lhe o copo d’agua. – E você sempre me dá dores de cabeça de preocupação.

Apesar do sorriso ainda estampado em seu rosto, notei que seus olhos estavam inchados e sua testa coberta de suor. Enquanto ele bebia a água toda num gole só, caminhei até o banheiro da suíte e molhei a toalha de rosto com água fria antes de retornar, e Taehyung me esperava dando tapinhas no espaço vazio ao seu lado, indicando onde eu deveria me sentar. Ao mesmo tempo que era tranquilizador vê-lo me tratando normalmente, eu ainda me sentia inseguro perto dele, como se o medo de fazer algo invasivo tivesse retornado e ele pudesse se afastar ou me mandar embora dali a qualquer momento.

Mas a preocupação e saudade no meu peito acabaram sendo mais fortes que a insegurança. Eu me sentei ao seu lado na cama de casal e limpei o suor de sua testa com a toalha úmida.

- Você tem razão. – Taehyung disse, encarando as próprias mãos – Fez um montão de coisas por mim já, e eu sou bem mal agradecido e só te dou trabalho e preocupação. Achei que você fosse estar bravo comigo.

Ergui as sobrancelhas, surpreso.

Eu, bravo com Taehyung? Como assim, ele quem estava me evitando desde a última vez que nos vimos e sempre mudava de assunto quando eu sugeria que nos encontrássemos pessoalmente, como se não quisesse me ver nunca mais!

Por que ele pensava que eu estava bravo?

- Por que eu estaria bravo? – Perguntei, descendo a toalha até seu pescoço e nuca, enquanto Taehyung tombava a cabeça para o lado, facilitando meu acesso – Você quem foi indiferente comigo a semana toda.

- Por isso mesmo. Pensei que fosse estar pelo menos chateado comigo. – Disse sem olhar para mim – Não sei nem porque você volta! Sinceramente não pensei que fosse vir mesmo, assim no meio da madrugada. Se fosse eu, provavelmente não viria.

Dei uma risada leve. Realmente, se fosse Taehyung ele provavelmente não sairia no meio da noite por alguém que estivesse evitando-o, dificilmente deixaria de lado seu ego ferido ao ponto de sair de casa.

Claro, ele iria se martirizar por isso depois e pensar que era a pior pessoa do mundo.

- Eu não estou bravo. – Sorri ao terminar de limpá-lo e coloquei a toalha no criado-mudo, para logo depois apoiar minhas costas no travesseiro ao lado de Taehyung.

- E você quer saber por que eu não queria falar ao telefone ou te ver pessoalmente?

- Não.

Taehyung levantou os olhos que ainda encaravam as próprias mãos e me olhou com uma careta de quem sentiu um cheiro ruim. Soltei uma risada ao ver a expressão em seu rosto, abismado e talvez até um pouco ofendido por eu não querer saber do motivo de seu afastamento.

Mas é óbvio que eu já sabia.

- Você é um garoto estranho, Jungkook. Pude notar nesses dois meses. – Ele pareceu pensar sobre o assunto – Esse deve ter sido o motivo que me fez gostar de você.

Kim Taehyung me chamando de estranho. Essa era nova!

Não consegui segurar o riso.

- E eu gosto de você por conseguir ser ainda mais estranho.

Ele tremeu de forma engraçada, sacodindo a cabeça e os ombros enquanto fazia uma careta.

Fofo.

- Aigoo, Jeon Jungkook! Você não pode falar essas coisas assim. – Repreendeu-me – Sinto calafrios da ponta dos pés até o topo da cabeça.

Ri sonoramente ao vê-lo falando algo tão adorável e suas bochechas coraram. Ainda continuava sendo um mistério para mim, mesmo depois de tanto tempo, como Taehyung conseguia ser aquela mistura de características opostas. Ele era excêntrico, mas quando estava sério parecia uma obra de arte. Era infantil, mas podia do nada se tornar extremamente sensual. Fazia caras e bocas muito fofas, mas também sabia ser tentador, tomando o controle da situação.

E quando ele colocava aquela língua para fora... Não posso nem pensar demais nisso.

Mas apesar de ser um caldeirão de contrastes, todas aquelas peculiaridades lhe caíam muito bem, e ele transitava entre elas com naturalidade.

Era o que fazia Taehyung, Taehyung.

E ele era perfeito assim.

- São calafrios do bem, hyung.

- Nem vem com essa de “hyung”! – Bufou – Não gosto quando me chama assim.

- Você costumava gostar. – Sorri malicioso – E tenho a impressão de que isso não mudou...

- Tá vendo porque eu não queria te ver? Ainda estou morrendo de vergonha, e você só piora.

Ele cruzou os braços, se fazendo de ofendido. Ri da forma desajeitada como ele o fazia, a tala preta impedindo que dobrasse o pulso esquerdo, e decidi que era melhor deixar o assunto pra lá. Não queria deixa-lo desconfortável e acabar com o clima descontraído e leve da nossa conversa.

- Como você está se sentindo? – Perguntei, me referindo ao recente ataque de pânico.

- Melhor. Esses ataques são bem rápidos, não duram mais de cinco minutos. – Ele deu de ombros – Na hora parece o fim do mundo e eu sinto como se fosse morrer, mas depois que passa fico me sentindo um bobo por ter feito tanto alarde... Você não precisava ter vindo.

Taehyung estava certo, talvez eu não precisasse mesmo. Mas eu queria vir. Estava doido para vê-lo.

- Eu queria te ver. – Admiti, fazendo-o ruborizar mais uma vez.

- Você disse naquele dia do Rio Han que eu gostava de me infiltrar na sua cama e te fazer de ursinho de pelúcia. – Ele disse, propositalmente mudando de assunto – Era ruim?

- Não. Era bom.

Sorri ao me lembrar de Taehyung entrando debaixo do meu edredom no meio da madrugada. Eu costumava protestar, mas no fundo não queria que ele fosse embora. Taehyung agarrava minha cintura, apoiando sua cabeça no meu peito ou nas minhas costas, e eu adorava tê-lo comigo, apesar de ele sempre me deixar completamente confuso na manhã seguinte, quando fingia que nada tinha acontecido.

Ele se deitou e envolveu os braços em torno da minha cintura, me puxando para perto, exatamente como costumava fazer na faculdade.

- Ótimo, porque me deu vontade de fazer isso. – Disse de olhos fechados – Não apague a luz.

Percebi por aquele pedido que Taehyung ainda estava com receio de ter outro ataque de pânico. Me movimentei sobre a cama, procurando uma posição confortável com um pouco de dificuldade, já que ele me segurava com força.

- Meu coelhinho.

Senti meu coração se esquentar ao ouvir aquilo que não passou de um sussurro.

Não pelo “coelhinho”.

Pelo “meu”.