História Vestígios - VKook - Taekook - Amnésia

Já faziam cinco dias desde o acidente quando Min Yoongi chegou até a porta do quarto 213 e pôde ver Jungkook conversando com a enfermeira através do vidro. Logo que ela saiu pela porta, Yoongi interceptou-a.

- Ele fica aí todos os dias?

- Sim. - Ela sorriu – Só sai para tomar banho e se trocar.

- E o que ele fica fazendo lá o dia inteiro? – Perguntou, não conseguindo conter sua curiosidade.

- Ele canta.

- Canta?

- O Sr. Jeon tem cantado para ele todos os dias.

CAPÍTULO 2 – Amnésia.

- Quem é você? – Taehyung perguntou quando finalmente colocou os olhos em mim.

Ele havia acordado nessa manhã. Parecia ainda muito dopado pelos analgésicos para conseguir formular alguma frase. Eu era a única pessoa no quarto e assim que ele abriu os olhos eu chamei a doutora Choi, que ficou no quarto fazendo alguns exames de rotina e finalmente livrando-o do tubo que o ajudava a respirar.

Nesse tempo eu liguei para nossos amigos mais próximos. Quando a doutora Choi saiu do quarto já estavam lá Yoongi, Jimin e Hoseok. Abri a porta e deixei-os entrar, ficando aliviado ao ver Taehyung recebe-los com um sorriso caloroso, que iluminava seu rosto.

Yoongi e Jimin se sentaram no sofá ao lado da cama, eu na poltrona do lado oposto – onde passava a maior parte das últimas semanas - e Hoseok ficou de pé ao meu lado. Hoseok e Jimin começaram a conversar com ele, perguntar como ele estava.

- Eu estou bem, galera. – Ele sorria, parecendo não entender muito bem o que havia acontecido – Uau, parece que ganhei muitos presentes! – Exclamou enquanto olhava em volta pelo quarto cheio de flores coloridas e caixas de chocolates.

Quando ele se virou para mim eu instantaneamente soube que ele não se lembrava de nada. Não era o olhar que eu tão bem conhecera nos últimos dois anos. Era um olhar inquisitor, aéreo.

- Quem é você? – Ele finalmente perguntou depois de me encarar por alguns segundos.

A sala inteira ficou em absoluto silêncio. Ninguém parecia saber o que dizer, muito menos eu. O sorriso de todos apagou-se.

Yoongi finalmente quebrou o silêncio, bem ao seu estilo.

- Ih. Merda.

Jimin repreendeu-o com o olhar.

- É o Jungkook, Tae. – Hoseok interrompeu, tentando amenizar o clima com seu sorriso brando. – Seu namorado. Cê esqueceu, foi?

- Meu NAMORADO? – Ele exclamou alto e eu fitei meus joelhos, sem conseguir olhar para ele. – Como assim? Cadê a Dahyun?

Meus joelhos pareciam cada vez mais interessantes.

- Fudeu de vez. – Comentou Yoongi, e mesmo olhando para baixo pude imaginar Jimin repreendendo-o mais uma vez.

O quarto ficou em um silêncio desconfortável novamente. Eu levantei a cabeça e finalmente abri a minha boca.

- A Dahyun? Ela tá vindo pra cá.

Taehyung encarou-me mais uma vez. Seu olhar de estranhamento fez meu coração despedaçar-se em mil partes.

- Mas eu namoro com você ou com ela, afinal? – Ele perguntou, aborrecido. Cada palavra sua parecia espetar-me o estômago e eu me mantive em silêncio.

- Com o Jungkook, porra. – Respondeu Yoongi. – Vocês terminaram tem uns três anos!

- Yoongi, será que você poderia ter um pouquinho mais de tato, hein? – Jimin reclamou mais uma vez, dando-lhe um tapa no ombro, e Yoongi revirou os olhos.

- Tae, a Dahyun é sua melhor amiga. – Hoseok tentou explicar – Você não se lembra?

Taehyung olhou-nos como se tivéssemos saído de outro planeta, enquanto apalpava levemente as ataduras em sua em sua cabeça.

- Meu senhor! – Ele exclamou, e uma pontinha de esperança acendeu em meu coração, mas fora em vão. – EU TÔ CARECA?

Era com isso que ele se preocupava? Taehyung estava parecendo muito aéreo, bem além do seu normal. Tive medo de que o acidente trouxesse sequelas permanentes no seu cérebro. Meu coração estava apertado e eu tentava evitar a todo custo começar a chorar na frente dele.

Antes que pudéssemos responder a sua pergunta, a porta do quarto se abriu e alguém entrou correndo e gritando.

- AI MEU DEUS, KIM TAEHYUNG! COMÉ QUE CÊ ME DÁ UMA DESSAS?

- Aí, chegou. – Comentou Yoongi, olhando para uma Dahyun descabelada – A doida.

- Dahyun! – Tae exclamou, olhando-a como se ela fosse a única pessoa sã naquele quarto. – A gente não namora mais?

- O que? – Ela não disfarçou uma careta inquisidora enquanto encarava Taehyung e a mim, virando a cabeça várias vezes para observar Tae com um semblante curioso e eu, com um olhar triste. – Não! – Ela finalmente respondeu. – Tá maluco? Você é tipo meu melhor amigo no mundo todo.

- O que é estranho, tendo em vista que vocês dois já transaram né? – Interrompeu Yoongi hyung, mais uma vez com seus comentários fora de hora.

- Cala a boca Min Yoongi! – Jimin xingou mais uma vez, quase gritando.

- Ai meu cu. – Dahyun levou uma mão à testa.

- Ai seu cu mesmo!

- Gente, cês me dão licença. – Jimin levantou-se do sofá, parecendo ter chegado ao ápice dos nervos com o último comentário desnecessário do colega. – Mas eu vou levar o Yoongi daqui porque ele não tá ajudando.

Taehyung olhou para os dois como se não fizesse a menor ideia do que estava acontecendo quando Jimin pegou um Yoongi mal humorado pelo braço e levou-o para fora do quarto.

Fiquei observando Dahyun, que olhava para o Tae com os olhos arregalados, como se isso fosse fazê-lo lembrar de algo.

- Então galera, o papo tá ótimo né, mas me deu vontade de tomar suco de graviola. – Hoseok interrompeu o silêncio constrangedor, sem nem ao menos se dar o trabalho de inventar uma desculpa crível para ir embora. – Vô lá, tá? Taehyung, melhoras. Amanhã passo aqui pra te ver.

- Tchau! – Tae se despediu com um sorriso largo, parecendo já ter se esquecido da discussão que estávamos tendo ainda agora.

Estávamos só os três no quarto e Dahyun bufou se jogando no sofá ao lado da cama, impaciente. Depois ficou me olhando com cara de dó. Fiquei com vontade de esganá-la por um segundo.

Ok, talvez mais de um segundo.

Ela voltou a encarar Taehyung com uma careta de alguém que acabou de sentir um cheiro muito, muito ruim. Ele deu de ombros e revirou os olhos.

- Ainda bem que a gente terminou, Dahyun. Até calada você me irrita, garota.

- Vejo que você já está voltando ao normal – Ela deu uma risada forçada. – Olha olha, vê se não vai destratar o Jungkook, hein? Só ele pra te aturar nesses últimos dois anos!

Quis esganá-la de novo.

- DOIS ANOS? – Taehyung quase gritou, virando-se para mim com a boca semiaberta. Senti que já não conseguia mais conter as lágrimas e meus olhos marejaram enquanto ele me encarava.

Talvez eu realmente fosse digno de pena.

- Ai meu Jesuzinho! É, Taetae. Tem dois anos que ele é seu colega de quarto no dormitório da faculdade. Dois anos que vocês se conhecem. – Dahyun explicava calmamente, como se ele fosse uma criança.

- Isso é uma pegadinha, né? – zombou Taehyung, sorrindo enquanto eu secava com a manga da camisa algumas lágrimas que teimavam em descer. – Cadê as câmeras? Aposto que tem câmeras. Quem tá filmando? É o Namjoon?

- Cala a boca, Taehyung.

- Mas eu nem tenho colega de quarto! Eu sou rico e mimado e minha mãe disse que eu não precisava de um.

Dahyun fez uma careta.

- Você não faz ideia do quanto mudou nesses últimos dois anos. – Ela respondeu, seca. Depois se virou para mim. – Eu vou entender se você não quiser lidar com essa criazinha de cobra de novo. – Ela olhou para Taehyung com o canto dos olhos antes de continuar. – Você já fez demais, Jungkook. Vai para casa. Eu sei lidar com esse aqui.

Ponderei a possibilidade por um segundo antes de olhar para Taehyung. Ele estava com uma expressão de completo tédio, mas ao olhar para ele eu soube que nunca poderia ir. Nunca poderia simplesmente deixa-lo.

Já faziam duas semanas que eu passava noite após noite ao seu lado, olhando para o seu corpo inerte. Independente de como ele acordara, de quem ele era, do que ele se lembrava, eu não podia abandoná-lo.

Talvez eu precisasse mais dele do que ele de mim.

- Não. Quero ficar.

Dahyun suspirou.

- É, eu já esperava que você fosse dizer isso. – Ela se levantou e pegou a mochila jeans jogada no sofá. – Se precisar de ajuda com a versão escrota me liga.

Concordei com um aceno de cabeça, sabendo que talvez eu realmente precisasse.

- EI, EU TÔ AQUI VIU DAHYUN.

- EU SEI, CÉREBRO DE PEIXE. TÔ FALANDO ISSO PRA VOCÊ PERCEBER COMO É BURRO MESMO.

Taehyung fez cara de emburrado e fechou a boca. É inegável que ela sabe mesmo lidar com os dramas dele.

A porta bateu. Estávamos só nós dois no quarto.

- Então você é meu namorado? – Ele perguntou, com uma cara entediada. Como quem pergunta as horas.

Respirei fundo e fechei os olhos, me concentrando para não começar a chorar. Ele parecia realmente frágil com a cabeça e um dos braços enfaixados. Seu olhar às vezes parecia completamente perdido. Fiquei feliz por ele ainda não ter perguntado onde estavam seus pais, apesar de saber que acabaria acontecendo.

- Sou sim. – Me limitei a dizer, após alguns segundos em silencio.

O melhor que podia fazer agora era isso. Responderia a toda e qualquer pergunta sua. Deixaria todas as minhas dúvidas e meus medos de lado, esconderia meus sentimentos o mais fundo que pudesse.

E não o deixaria sozinho nem um segundo.

- Há quanto tempo namoramos?

- Nem tanto. Um ano e pouco.

Taehyung arregalou os olhos e abriu um pouco a boca, surpreso. Não pude evitar um pequeno sorriso tímido surgir em meus lábios, vendo aquela expressão tão familiar.

- Um ano e pouco? – Fiquei calado e dei de ombros. – Tá, vou te testar então.

- Vá em frente.

Ele ficou alguns segundos pensativo, seus grandes olhos castanhos passeando de um lado ao outro do quarto, o que me fez sorrir mais abertamente. Deus, como eu senti falta daquelas caras e bocas que o Taehyung tinha costume de fazer.

- Qual é a minha cor preferida? – Ele perguntou, e eu achei engraçado que ele tivesse pensado pra fazer uma pergunta tão simples.

- Verde.

- E a minha comida preferida? – Ele estreitou os olhos.

- Japonesa – Respondi, e ele levantou as sobrancelhas logo em seguida, como quem pega alguém no flagra. – Costumava ser hambúrguer, mas tem uns meses que você comeu um podrão estragado e parou de comer hambúrguer desde então. – Eu sorri – Era mais barato te pagar hambúrgueres que japonês.

- Eu não me recordo do episódio. Voltou a ser hambúrguer.

- Melhor pra mim. – Ri – E pro meu bolso.

Meu coração se esquentou ao vê-lo sorrindo abertamente para mim. Aquele mesmo sorriso quadrado que eu conhecia tão bem, que deixava seus olhos pequenos e adoráveis.

Não importa o que aconteça, eu não vou desistir de você, Kim Taehyung.