História Vestígios - VKook - Taekook - É minha culpa

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Dahyun: Tá na casa do Kook?

Taehyung: Quem é "Kook"?

Dahyun: ...

Taehyung: Tô.

Dahyun: E...

Dahyun: Fala TaeTae.

Taehyung: Aqui é legal. A mãe dele me trata muito bem e eu gosto dela.

Dahyun: Então por que parece que você está meio pra baixo?

Taehyung: Por que eu não estou na minha casa?

Dahyun: Tae, eu não posso te responder isso. Você PRECISA conversar com o Jungkook, entendeu? Ele quem tem que te contar a história.

Taehyung: Mas, Dahyunie... Por favor!

Dahyun: Larga mão de ser frouxo e pergunta logo pra ele!

Capitulo 7 – É minha culpa.

- Muito bem, Taehyung. Onde você prefere dormir?

Estávamos sentados na cama de casal do meu quarto depois que eu havia mostrado a casa para Taehyung. Ele analisava calmamente uma foto nossa que estava na mesinha de cabeceira da cama, com a expressão indecifrável. Queria saber no que estava pensando.

- Eu durmo no quarto de visitas, e você dorme aqui no seu quarto. – Finalmente respondeu, devolvendo a foto ao seu lugar de origem.

- Não vou deixar você dormir sozinho.

Depois do incidente no hospital – e por incidente eu quero dizer ataque de pânico – eu não havia dormido tranquilo por uma noite sequer. Estava preocupado que ele tivesse que passar por isso de novo e queria estar lá para ajuda-lo caso acontecesse.

- Mas, Jungkook...

- A questão não é essa. – Fiquei sério. Sabia como Taehyung podia ser manhoso e também sabia como deixar bem claro quando ele não tinha escolha. – Nós vamos dormir aqui, na cama de casal, ou nós vamos dormir lá. Você na cama, e eu no chão.

- Isso não faz sentido! – Ele tentou argumentar, mas eu neguei com a cabeça e ele pareceu perceber que eu não iria voltar atrás. – Não quero fazer você dormir no chão.

Então dorme aqui comigo.

- Eu não tenho problemas em dormir no chão. – Ele olhou pra mim e suspirou, desistindo de argumentar. – Então é isso, vou levar nossas coisas pra lá.

É claro que eu não queria dormir no chão. Na verdade, depois de mais de um mês dormindo naquele sofá do hospital tudo o que eu mais queria era passar uma noite na minha própria cama. Mas, se pra isso eu precisasse deixar Taehyung sozinho, não valeria a pena. Porque aí eu não ia dormir, de qualquer jeito.

- Você é muito teimoso! – Ele reclamou baixo, e ouvimos minha mãe chamar pra jantar.

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Sentamos à mesa da cozinha e eu percebi que Taehyung ficou impressionado, exatamente como da primeira vez que ele esteve lá.

Minha mãe é chef, e trabalha em uma feira gastronômica itinerante. Ela viaja pra muitos países, junto com outros chefs de cozinha, por isso a casa acabava ficando mais vazia do que cheia. Ela decidiu que moraríamos aqui, depois que meu pai faleceu, justamente por causa dessa cozinha.

Era o maior cômodo da casa, já que se juntava à sala de jantar. Minha mãe achava que separar a cozinha da sala de jantar era uma grande bobagem, porque gostava de conversar com as pessoas enquanto cozinhava. Um grande balcão amarelo mostarda se estendia ao lado dos eletrodomésticos prateados. Ela havia decorado a cozinha com estampas coloridas e diversos alimentos dentro de potes de vidro espalhados pelas estantes.

- Uá, Sra. Jeon! Eu nunca vi uma cozinha como essa antes! – Taehyung exclamou, e minha mãe sorriu gentilmente, sem pontuar o fato de que ele já estivera naquela cozinha muitas vezes antes.

- Obrigada, querido. – Respondeu apenas, trazendo os dois pratos com sanduíches gigantescos feitos com o hambúrguer artesanal dela. – Espero que goste, costumava ser o seu predileto.

Observei os olhos de Taehyung brilharem enquanto ele olhava para o sanduíche e minha mãe trouxe um prato de batatas fritas com molho de ervas que ela mesma havia preparado. Ele me olhou incerto quando ela não trouxe talheres e eu peguei meu sanduíche com as mãos, demonstrando como ele deveria comer.

Na casa de Taehyung, todos comiam tudo com talheres.

Ele me lançou um sorriso retangular, segurando o sanduíche desajeitadamente antes de dar a primeira mordida. Minha mãe ficou parada atrás de mim, encarando-o ansiosamente para ver sua reação. Ele arregalou os olhos e puxou o ar profundamente, alternando seu olhar entre mim, minha mãe e o sanduíche.

- Agora tudo faz sentido! – Ele exclamou depois de engolir.

- O que faz sentido, Tae? – Mamãe perguntou, sorrindo de orelha a orelha da
cara que ele tinha feito.

- Porque eu comecei a namorar com o Jungkook, obviamente! – Minha mãe gargalhou sonoramente e eu fiz uma careta para Taehyung.

- Hilário. – Comentei, sério. Mas apreciei o fato de que ele se sentia confortável o suficiente para fazer piadas e agradar minha mãe.

Enquanto isso ela ainda gargalhava.

- Fico feliz que tenha gostado, filho. – Disse quando conseguiu controlar o riso. – Eu fiz muitos e deixei tudo congelado pra vocês. Infelizmente tenho que viajar amanhã.

- Aaah... – Taehyung reclamou de boca cheia, fazendo biquinho com as bochechas gordas de comida.

Achei muito fofo.

- Não se preocupe, Jungkook vai te alimentar muito bem – Sorriu, puxando uma de minhas orelhas com força moderada. – Não vai, Jungkook? – Afirmei veementemente com a cabeça. – Se ele te fizer passar fome você me conta tudo quando eu voltar.

- Pode deixar, Sra. Jeon. – Riu, enquanto pegava quatro batatas de uma vez e enfiava todas na boca – Você ouviu, né Jungkook?

Taehyung adorava comer com as mãos.

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Deitamo-nos no quarto de visitas, como o combinado. Eu no chão e Taehyung na cama de solteiro. Ele havia passado o dia todo conversando com a minha mãe, perguntando a ela sobre as viagens e a feira gastronômica.

Apesar de tudo o que aconteceu, fiquei feliz ao ver que ele parecia bem. Não agia exatamente como o Taehyung que eu me lembrava, mais talvez algo parecido com como ele era no inicio do nosso namoro, um pouco mais narcisista e às vezes até meio esnobe. Mesmo assim, ainda era o Taehyung pelo qual eu havia me apaixonado. O Taehyung que havia se apaixonado por mim também.

Um silêncio estranho se instalou entre nós assim que eu apaguei a luz. Sabia que ele ainda estava acordado, nunca foi de dormir muito rápido e sempre acabava tagarelando demais antes de finalmente adormecer. Era assim antes do acidente e continuou sendo nas noites que passamos no hospital. Mas agora ele estava calado e eu fiquei ansioso pensando que podia ser por causa da minha casa, um lugar desconhecido para um Taehyung que não se lembrava de nada.

- Jungkook? – Finalmente ouvi sua voz, mas não senti o alívio que esperava. Não parecia um chamado casual, como alguém que quer puxar papo. Pelo seu tom de voz, soube que ele queria falar de algo sério. – Está acordado?

- Sim. – Respondi, meus olhos fixos no teto, apesar de eu não conseguir enxergar um palmo a minha frente. – Pode falar.

Eu sabia que seria agora. Pude pressentir a chegada daquele assunto delicado que eu estive tentando evitar desde que Taehyung acordou depois do acidente. Mesmo com as investidas da Doutora Choi, me neguei a tocar em tal tema tão incomodo com ele. Mas eu sabia, era hora.

- Eu estou me sentindo meio estranho. Gosto daqui, gosto da sua mãe, e por um lado posso entender porque já passei as férias por aqui, mas por outro...

Não é a sua casa.

Meu coração se apertou e eu tive certeza do ponto em que Taehyung queria chegar. Ele tinha sua própria casa, porque não estava lá? Porque seus pais não foram vê-lo no hospital?

- Não quero que me interprete mal, mas...

- Você quer ir pra casa.

- Não! – Ele respondeu imediatamente, soltando um suspiro pesado em seguida – Eu só quero entender. Sabe? Porque eu não estou em casa.

Fiquei em silencio. Eu podia explicar o porquê de ele não estar em casa, mas parecia que as palavras ficavam presas em minha garganta. Tinha medo de que, quando eu dissesse algo, Taehyung me deixaria. Se sentiria traído, ficaria bravo comigo, porque afinal, no fundo eu sabia que era minha culpa.

- Jungkook, se eu quisesse ver meus pais eu já teria falado alguma coisa. – Taehyung finalmente falou, depois de alguns minutos em silencio. – Eu sei que deve haver um bom motivo pra eles não terem ido me ver no hospital. Suspeito que nem saibam que eu estive em um acidente, ou que não se importem. Pode soar horrível, mas tive medo de perguntar e vocês acharem que eu queria vê-los. Mas eu não quero vê-los. Apesar de tudo, estava feliz no hospital com você. – Ele parou por um segundo, e eu não tive coragem de interrompê-lo. – Mas é só que, agora que estamos em casa, sinto que não posso mais ignorar isso.

Eu respirei fundo e audivelmente, e ele logo percebeu que aquele assunto me deixava incomodado.

- Não precisa falar sobre isso agora se não quiser. – Assegurou-me.

Mas eu não podia mais deixar para o dia seguinte. Se não falasse agora, acabaria passando a noite em claro, imaginando como seria quando eu contasse para ele no dia seguinte.

- É tudo minha culpa, Tae. – Confessei – Seus pais não me aprovam e não conseguiam entender porque você tinha terminado com a Dahyun, a menina ideal para ser sua esposa, e ficado comigo. Eles estavam de mudança marcada para a Europa, por conta da empresa de seu pai, e quando ficaram sabendo do nosso relacionamento teimaram em te levar junto com eles, à força. Então, você fugiu pra cá. E nunca mais falamos sobre isso.

Apertei meus olhos com força ao me lembrar daquela época, e de todas as coisas horríveis que os pais de Taehyung haviam me dito. Taehyung apenas ficou em silencio. Ele sabia que eu não tinha terminado.

- Eu fui um namorado horrível. Fiz você brigar com seus pais e fugir de casa, mas eu nunca quis que isso acontecesse. Queria que você fosse atrás deles e que fizessem as pazes, mas depois você veio pra cá e nós estávamos tão bem! Parecia o paraíso te ter aqui comigo todos os dias durante as férias, como quando estávamos na universidade. Eu fui egoísta porque te amo demais e queria que você ficasse aqui comigo, mesmo que no fundo eu soubesse que você não deveria. A culpa pelos seus pais não terem ido te ver no hospital é toda minha. Eles estão na Europa e eu nem ao menos tive coragem de ligar e avisá-los. E quando você não perguntou por eles eu me senti aliviado e acabei adiando o compromisso de ter que falar com eles. Me desculpe, Taehyung.

Senti meus olhos marejados e meu coração batendo rápido. Estava com medo da reação que Taehyung teria depois que eu lhe contasse tudo aquilo. Soltei um suspiro pesado, e apesar de nervoso senti um alívio por finalmente ter dito tudo o que estava preso em meu peito desde que ele havia acordado. Ao fechar os olhos deixei que algumas lágrimas escapassem, rolando pelas minhas têmporas. Estava me controlando ao máximo para não começar a chorar de fato.

Apertei as mangas do moletom que usava contra o meu rosto, tentando ao mesmo tempo conter as lágrimas e não emitir nenhum som, quando senti os dedos compridos e finos de Taehyung embrenharem-se por entre meus fios de cabelo, fazendo um carinho suave na minha cabeça, enquanto desembaraçava com cuidado eventuais nós.

O ritmo do meu coração pareceu dobrar a velocidade ao sentir aquele toque tão familiar do qual eu sentia tanta falta. Abri os olhos, que já estavam acostumados à escuridão do quarto, e ao olhar para cima consegui ver de forma embaçada Taehyung deitado de bruços, olhando diretamente para mim enquanto seu braço direito pendia da cama, esticado até minha cabeça, acariciando meus cabelos.

- Não foi sua culpa, Jungkook-ah. – Ele finalmente falou, e eu não pude conter um gemido choroso de escapar da garganta – Nada disso é sua culpa.

Então eu chorei. Não sei exatamente por quanto tempo, mas chorei audivelmente tudo o que não tinha chorado desde que Taehyung acordara no hospital. Ele afagou meus cabelos em silencio, até que eu finalmente caísse no sono.

Lembro-me que chorei como um bebê.