A pequena heiziana ouvia os gritos uivantes de desespero de seu amigo, parecia tão assustado quanto ela, ele não parava de repetir que eles não iriam morrer. A nave parecia balançar cada vez mais, o painel ficava cada vez mais frio, assim como o corpo os tripulantes, a pequena comandante leva as mãos aos braços os esfregando, enquanto mantinha-se sentada em sua cadeira, estava tudo fora de controle, não conseguia mais ver para onde ir, estava tudo escuro, iria preferir ficar de olhos fechados do que ver o pior em sua frente. Se sentia covarde por tal ato, mas ela não conseguia fazer mais nada, não dava mais tempo, estavam perdidos, sabe-se lá onde esse buraco negro os levaria. A nave parecia ganhar mais velocidade, como se estivesse caindo enquanto girava, sentia como se suas entranhas quisessem sair do corpo, abraçando a si própria torcendo para que aquela tortura logo termine. E por fim terminava, um grande tremor amassava a nave de leve, ela parecia parada, havia se chocado com algo, tal impacto fora o bastante para arremessar a comandante até o vidro da frente, fazendo com que ela perca a consciência. Seu corpo estava muito gelado, não ouvia mais nada além de um estranho uivo, seria o mestre do disfarce ainda resmungando? Perguntava ela para si, mas ela estaria morta? Estava com dúvida, sentia uma forte dor na cabeça, aos poucos ela tomava coragem para abrir os olhos, via em sua frente um vidro, estava todo frio, parecia coberto por algo branco. Dentro da nave estava escuro, sorte que as lentes de seu amplificador de visão estava intacto, o vidro da nave apenas estava rachado. Parecia estar um pouco embaçado o vidro de seu amplificador. Lentamente ela apoiava as mãos ao vidro, descolando seu corpo dele, fazia aquilo com dificuldade pois parecia estar presa. Olhando para baixo ela via uma espécie de pedra pontiaguda, fincada a sua barriga, parecia não ter furado muito fundo, mas como se mantinha fincado, seu corpo não se regenerou. A dor era forte quando ela se mexia, cerrava os dentes se empurrando com força para trás, saindo rapidamente daquela pedra, deixava um baixo grito de dor escapar. Sentava-se próximo a pedra pontiaguda olhando o próprio abdome, parecia ileso, sem nenhum arranhão, leva as mãos em cima do local, ainda um pouco incrédula.
-Sumiu.. não sinto mais nada.. - dizia para si logo olhando para cima, pelo visto lá estava a saída da nave, ela tinha batido de frente e ficou inclinada. Olhava ao redor procurando algum sinal de seu amigo branco.
-Está ai branco- sua voz ecoava através da lataria, porém não ouvia nada além dos uivos estranhos que vinham de fora da nave.
Se levantava sentindo seu corpo dormente, será que ficou muito tempo desacordada? Havia já perdido um pouco da razão, sentia um pouco de frio. Puxava um pouco sua capa a ajeitando sobre os ombros, para que pudesse se aquecer. Dava um salto se segurando ao banco, se encostando atrás dele, olhando para o chão podia ver a mochila do mestre do disfarce, estava presa ao pé de seu banco. Logo colocava ela na mochila, olhava para o lado do outro banco, onde seu amigo estava basicamente pendurado pelo rabo, estava desacordado. Ela colocava a mochila as costas, por cima da capa, em um salto vai até o outro banco, segurando o lupino ao colo. Era difícil de carregar ele pelo seu tamanho, mas ela era forte, até mesmo se impressiona ao levantar ele com facilidade. Ela olhava para cima, visualizando a porta, teria que chegar até lá e abri-la, mas como faria? Estava com as mãos ocupadas. Dava pequenos saltos se preparando para saltar mais alto, e assim fazia, segurava o lupino pelo cangote deixando uma das mãos livres, no qual ela segura na maçaneta da porta ficando pendurada, a nave começava a tremer, um brilho estranho emanava do painel.
-Essa não, a carga da seikka vai detonar tudo... tenho que sair daqui logo.- nem terminava de falar quando seu peso fazia a maçaneta virar, a porta se abria em sua frente. Com muito esforço ela se balançava mirando o buraco da porta, logo se atirando em direção a ele, novamente segurando o lupino aos braços. Seu corpo parecia cair lentamente, como se estivesse em câmera lenta, curiosa ela olhava para o chão confusa, era como se estivesse flutuando.
-Eu posso voar?- Dizia para si sem entender o que acontecia, logo ouvia um estranho barulho vindo da nave. Olhava para ela e logo para o chão, que estava na cor branca.
-Cai logo.... anda... tenho que correr pra longe...- Ao olhar novamente pra nave seu corpo começava a despencar e ela caia sentada no solo gelado e macio, o que fazia ela estremecer.
-É frio... mas fofo... onde estou?- Se levantava olhando ao redor, tudo parecia branco, lembrava-se que a nave estava prestes a explodir, logo correndo para longe, onde encontrava grandes árvores cobertas de neve, ouvindo a explosão, parecia não ter chego até eles. Estava curiosa com aquela grande árvore, seria algum tipo de ser? Além da curiosidade algo a intrigava, sentia seu corpo mais lento, talvez aquela coisa branca causasse algum tipo de paralisia, o corpo dela tremia um pouco. Ela leva uma mão fria até o rosto do amigo, dando leves tapas.
-Acorda.. estamos vivos seu molenga. Não vou conseguir carregar você por muito tempo.- O corpo dela parecia um pouco bambo, começava a cair alguns flocos brancos do céu, deixando seu amplificador um pouco mais embaçado e seu corpo mais lerdo. Ela não resistia caindo ao chão de costas, onde o lupino acabava ficando em cima dela. Seu corpo não respondia ela queria se mexer, ali era tão frio, pelo menos tinha oxigênio bom. Não tinha noção de onde estava, se sentia confusa. Estava se imaginando em frente da rainha, ela a chamava de fracassada, dizia que deu a maior confiança a ela mas é um fracasso, esperava mais. Em um susto ela arregalava os olhos, estava se sentindo quente não reconhecia o local, via o céu coberto, parecia várias daquelas coisas grandes que achou na floresta. Sua visão estava um tanto ruim, parecia ter perdido seu amplificador também. Ao olhar pra baixo via uma grossa coberta em cima de si, estava macia, sua capa já não estava mais consigo, nem sua seikka em seu pescoço, no qual a mesma leva rapidamente a mão.
-Não acredito.- Ela sentava rapidamente olhando ao redor, via uma toalha cair de sua testa, logo segurava a mesma com as mãos um tanto curiosa.
-É importante para você né?- Ela ouvia uma voz vinda de perto, parecia falar sua língua.
Os olhos confusos da comandante contornavam o local ela via uma lareira, mesmo sem entender o que era, estava deitada em algo quadrado e fofo, não via seu amigo ou suas coisas. Logo se virava para trás vendo ali um homem barbado, vestindo uma camisa de manga comprida e um colete, estava sentado em uma cadeira próximo a cama onde ela estava. O homem vestia uma calça grossa e botas. Seus cabelos e barbas eram ruivos, nas mãos dele havia uma xícara com algo quente, o mesmo estende a ela.
-Quer um pouco?- Falava em um tom gentil, como se quisesse fazer amizade.
Ela se encolhia um pouco o observando, estava curiosa mas não sabia como reagir.
-Q-quem é você?- a voz dela estava levemente rouca, além de um pouco gaga.
-Descanse um pouco, estará melhor amanhã. Achei que você não falasse.- Ele leva a xícara aos lábios bebendo o líquido quente.
-Então você me ajudou?- Perguntava ela puxando o cobertor para perto de si, estava ficando com frio novamente.
-É bem friorenta, seus pais estão por perto?- Perguntava o homem tirando a xícara dos lábios.
Os olhos dela se voltavam para a fogueira, estava confusa, não entendia como veio parar ali, mas a questão era, estava sem sua seikka, agora já era.
-Quando me achou, viu minha seikka cor esmeralda? É importante pra mim.- Ela falava com a voz baixa. Ao terminar de falar o homem se levantava, indo a uma mesa próxima, trazendo um pingente com sua seikka colada a ele.
O homem se aproximava entregando a ela.
-Eu colei sua esmeralda aqui, é uma pedra bonita, suponho que seja herança de família não?-
A comandante se aproximava dele para pegar o pingente dele, o mesmo abria a parte de trás, colocando o mesmo ao pescoço dela e encaixando novamente. No susto ela pulava para trás, levando a mão até sua seikka, vendo que estava novamente em seu pescoço, soltando um suspiro aliviada.
-Família?- Os olhos dela se voltavam ao homem, essa era uma das palavras que não tinha tradução do idioma deles, mas aquele bom homem seria o tal humano que ela leu no banco de dados, a descrição era bem parecida.
O homem pegava novamente sua xícara, sentando a cadeira próximo a ela.
-Então é órfã né? Ohh que pena, parece uma jovem saudável.. mas parece ter uma visão ruim- Falava ao perceber ela apertando os olhos para enxergar o homem. Ele logo tirava do bolso da calça um óculos de armação arredondada colocando ao rosto dela.
-Bem melhor não é? Bela engenhoca que você fez, mas tomei liberdade de colocar em uma armação, dessa maneira fica melhor.-
Ela leva as mãos as laterais da armação, sentindo a parte fina e metálica dela, as hastes eram apoiadas em suas orelhas levemente pontiagudas.
-Como nunca pensei nisso.. Err.. obrigado. Mas me diga, o que é órfã?- Ela se sentava um tanto curiosa no comportamento dele, o comportamento dele era completamente diferente do que mencionava o banco de dados.
O homem parecia gostar do interrogatório, pois sempre era gentil com suas respostas.
-Órfã é alguém sem família.-
Ela balançava a cabeça negativamente, ainda não havia entendido a comparação.
-O que é família?-
Novamente ele estava paciente em responder.
-Família é quem cuida de você, te acolhe, lhe dá carinho, está sempre do seu lado, não importa o que aconteça, até nos momentos mais difíceis. Mesmo que briguem o amor sempre será mais forte.-
Os olhinhos dela brilhavam com tal resposta, ela já ouviu falar em amor, mas não sabia que tinha relação com família, estava encantada com tal ato. Ela passava a mão em seu cabelo, que parecia caído, não entendia por que agora ele ficava assim.
-Sabe que eu não sou daqui né?-
O homem afirmava positivamente com a cabeça.
-Depois da minha filha morrer em uma avalanche, me culpava todos os dias, já havia perdido sua mãe durante o parto. Todos os dias eu pedia os espíritos que me dessem minha filha de volta, orei por anos, e agora veja o que elas me mandaram, uma coisa caiu do céu de noite, é o sinal, depois de algo explodir achei você na floresta, junto com um lobo esquisito, mas acho que ele é de estimação né?-
Ela não conseguia entender tal lógica, o homem acreditava que os espíritos a deram ao homem para compensar a filha perdida? Parece loucura, mas de alguma maneira ela preferia acreditar naquilo do que pensar o que a rainha diria se soubesse de tal falha, talvez fosse melhor ficar por ali mesmo. Ela olhava ao redor procurando seu amigo.
-Cadê o branco?-
Ao ver a comandante procurar seu animal, o homem se levantava, puxando uma cortina que havia próximo a eles, revelando o lupino deitado ali próximo dela, ainda estava desmaiado.
-Branco é o nome dele certo?- Perguntava o homem
Ela acenava que sim com a cabeça, os heizianos não tinham nomes, mas ela leu relatos que cada humano tinha seu nome, portanto chamaria seu amigo daquele nome mesmo.
-Ele está bem?- Peguntava levantando da cama, suas pernas ainda estavam um pouco dormentes, ela logo caia se apoiando nas mãos.
O homem corria até ela a segurando no colo, colocando ela deitada na cama.
-Seu corpo estava congelado, não sei como está viva, talvez deve ser uma deusa. Sua pele verde deve ter alguma ligação com a natureza.- O homem gentilmente cobria ela enquanto falava.
A comandante nunca tinha sido tão bem tratada, pela primeira vez se sentia importante, talvez mais do que ganhar a confiança da rainha, pois ela não precisava ganhar a confiança do homem, apenas sendo ela era bem tratada. Ele caminhava até uma porta, era a porta do quarto. Caminhava até um corredor chegando a porta da cozinha, que estava aberta. Minutos depois, voltava de lá com algo quente em uma xícara.
-É apenas água beba um pouco, lhe fará bem.-
Ela se sentava enquanto ele entrega a bebida. A mesma segurava a xícara tentando imitar ele bebendo. A água era bem pura e estava quentinha, sentia seu corpo se aquecer. A sensação de algo descendo por sua garganta era estranha, nunca comeu ou bebeu nada antes. Ao terminar de beber ela colocava a xícara ao chão tornando a se cobrir, ficava ali deitada.
-Como posso chamar você humano?- Dizia ela enquanto olhava a lareira
-Rob, é como todos me chamam, lenhador Rob, mas meu nome é Robert. Mas a pequena deusa tem nome?- respondia de imediato, talvez estivesse tentando puxar assunto para conhecer ela melhor.
Nada vinha a sua cabeça quando ele perguntava seu nome, precisava de um, logo dizia a primeira palavra que passava em sua cabeça.
-Esmeralda- Falava baixo
-Esmeralda?- Rob perguntava por não ter escutado direito
-Sim-
Ele soltava uma gargalhada, o que fazia ela tampar os ouvidos assustada, não sabia ao certo o que aquilo significava.
-Esse nome é lindo. Está bem?- Ele parava de rir preocupado com ela.
A mesma balançava positivamente a cabela se ajeitando a confortável e quentinha cama. Novamente ela fechava os olhos.
-Devia tirar os óculos para dormir, ou pode se machucar.-
Ele se aproximava pegando os óculos dela, colocando em uma cômoda que havia perto da cama dela. Logo se afastava do quarto onde estavam. Deixando a porta encostada. Esmeralda parecia confusa, mas por algum motivo se sentia bem por aquilo, deveria ela tentar voltar para sua terra natal, ou deveria ficar ali? Se fosse ficar poderia acontecer coisas inesperadas, os humanos eram perigosos. Se voltasse a rainha podia a condenar a destruição devido a tal falha. Por enquanto apenas iria estudar cada uma das possibilidades. Já quente e confortável na cama ela adormece.
Por um breve instante ela sentia algo raspar em seu rosto, era como se um graveto estivesse a encostando, novamente ela sentia tal toque, aos poucos seus olhos se abriam. Demorava a reconhecer o local, sua visão ainda um tanto ruim não facilitava, lembrava-se logo que estava em um lugar quente, tinha sido acolhida por um humano. Mais uma vez sentia o toque a sua bochecha, olhando para o lado de onde vinha, era seu amigo seikka-branca, estava acordado, os olhos azuis-céu dele estavam fixos a colega.
-Está bem?- Perguntava aquela grossa voz esticando seu longo braço para pegar o óculos dela a cômoda. -Veja que legal, ele fez isso pra você. É incrível as habilidades dos humanos não é? Parece até alguém que eu conheço- Dizia ele se referindo a ela.
A menor leva as mãos até os olhos os coçando, nunca se sentiu tão bem antes, talvez dormir fizesse bem ao seu corpo. Ele colocava o óculos próximo a ela, não demorava para a mesma pegar e coloca-los em seu rosto. Ainda se sentia meio lerda devido ao sono, seria esse o efeito negativo de dormir? Aos poucos ela se sentava olhando em volta.
-Minha mente parece um pouco lenta..- Coçava a bochecha onde o Branco tinha cutucado. -Mas acho que estou bem.- Falava lentamente, com um pouco de dificuldade para entender as palavras.
O lupino acenava com a cabeça positivamente
-Recém acordar causa esse efeito. Mas bem o que ele disse sobre nossa presença, se assustou? Acho que dormi demais, bati a cabeça forte na queda, por algum motivos fomos jogados para cá.- Estava um pouco pensativo, sentava com as pernas cruzadas, como um índio, a frente dela. -O que acha que houve comandante?-
Ela se esticava um pouco, era como se o seu corpo estivesse um pouco retraído de tanto ficar na mesma posição. Os olhos esmeraldas dela voltavam ao amigo.
-Ele diz que sou uma deusa. Como ele perdeu a filha diz que eu vim compensar a falta dela.- Ficava um pouco pensativa quando ele mencionava sobre o que aconteceu. -Acho que aquilo não era um buraco negro. É um portal inter dimensional, pode transportar coisas para outros planetas ou galáxias, a maneira mais rápida de viajar. Mas os experimentos foram um fracasso, não era possível transportar seikkas, elas sempre quebravam durante o processo, apenas pedras ou metal. É algo muito complexo, mas aquelas seikkas corrompidas planejavam algo com aquilo, conseguiram aprimorar a tecnologia, até melhorar, devem ter material extra. Imagino que estão usando a energia de várias seikkas para ativar o portal.... isso pode ser um problema.- Falava sem quase piscar olhando para seu amigo. -Em tal proporção não sabemos o que eles pretendem, mas algo temos certeza. A rainha tem relatos desse planeta e aqueles corruptos tem como chegar aqui.. não é um bom sinal, eles podem tentar tomar posse desse lugar para fazer uma colônia de corruptos contra a rainha.- Por alguns instantes ela piscava parecendo incrédula olhando o Branco. O mesmo olhava confuso para ela inclinando a cabeça para a direita.
-Acho que devíamos ficar aqui e nos preparar. Se eles vierem para cá precisamos combate-los. Nós temos algo que eles não tem.- Dizia ele destemido
Sem entender ela imitava o ato dele, inclinando levemente a cabeça para a direita.
-Temos é?-
Ele acenava que sim com a cabeça.
-Nós temos... -
A porta de abria, onde o homem entrava ao quarto carregando uma xícara com leite quente e uma bandeja com biscoitos.
-Ora ora, que bom que acordaram.- Rob logo colocava a bandeja na cômoda. Ambos estavam olhando para ele, pareciam um pouco confusos. -Não se preocupem, eu cozinho muito bem, espero que goste de chocolate.- Dizia logo entregando a xícara a ela. -É leite quentinho.-
Esmeralda pegava a xícara olhando para ele, olhava tal líquido um pouco confusa. Rob olhava para o lupino em cima da cama.
-Ele é bem limpo, toma banho todo dia?- Perguntava a ela que parecia ainda intrigada com o líquido dentro da xícara.
Os olhos esmeraldas dela fixavam o homem, logo voltando os mesmos ao lupino.
-Sim, bem sempre que dá. Ele é um pouco birrento.-
-É um belo animal.- Comentava Rob.
O lupino esfregava as fendas do focinho ao rosto do homem, que soltava risadas. Tais sons faziam Esmeralda se encolher, porém o lobo parecia não ligar.
-Acho que ele gostou de mim.- Comentou o homem acariciando o animal.
Enquanto era acariciado o lupino fechava os olhos, apreciando o carinho lhe proporcionado. Sentia-se ótimo em voltar para a Terra, aqueles carinhos eram ótimos, talvez se alguém fizesse isso em seu planeta poderia ser considerado um insulto. Aos poucos Esmeralda sedia a tentação de experimentar aquele líquido, lentamente ela tocava os lábios à beira da xícara, virando pequenos goles. Era bom, o calor de tal líquido aquecia seu corpo. Ao ver ela beber, Rob esticava o braço pegando a bandeja de biscoitos colocando ao colo dela, a mesma os observa sem entender o que era aquilo.
-Pode comer, são de chocolate, minha filha adorava.- O tom gentil dele era notável,tratava ela como se fosse sua filha falecida.
Esmeralda segurava um dos biscoitos a mão, observando o mesmo. Olhava para o lupino como se pedisse ajuda, o mesmo estava deitado com a cabeça ao colo do homem, que lhe acariciava. Olhando a intriga da amiga ele apenas abria e fechava a boca, parecendo morder algo com os dentes, ela já entendia o recado, abocanhando logo o biscoito, arrancando um generoso pedaço. O biscoito ainda estava morno, tinha recém saído do forno. Ele se esfarelava facilmente, seus pequenos e afiados dentes eram ótimos em arrancar pedaços. Aquele sabor doce era impressionante, nunca provou nada do tipo. Rapidamente ela comia alguns biscoitos mais rápido.
-Isso é bom.- Dizia antes de começar a comer um novo biscoito.
O homem sorria olhando para ela, a mesma o olhava curiosa sem entender tal expressão, sua raça não era muito expressiva, apenas sabiam sentir medo. Ao ver os olhos do amigo fixos em um biscoito ela pegava um levando até a boca dele, que logo o abocanhava, comendo um inteiro sem quase mastigar.
-Seu lobo caça?- Perguntava o homem ao ver a forma que ele comia o biscoito.
-Bem nunca viu ele caçar, mas ele é bem veloz na corrida.- Falava logo tomando um gole de leite. -Obrigado, isso é maravilhoso! Como chama?-
Ela colocava a xícara vazia em cima da bandeja, o homem segurava a bandeja vazia e colocava na cômoda.
-É apenas leite e biscoito. Uma ótima combinação quando está frio. Apenas tenho uma curiosidade, a qual raça você pertence? Ou apenas eres uma deusa?- Tornava a acariciar o lupino.
-Bem eu vim do espaço, sou uma Heiziana, precisamente uma seikka-verde, minha raça são soldados, porém eu fui promovida a comandante. Branco e eu estávamos em uma missão, ele era o mestre do disfarce, iria ser meu espião pra me apoiar. Mas deu tudo errado e vim parar aqui, bem longe do meu planeta.-
-Provavelmente foi obra dos espíritos da floresta, eles a queriam aqui então trouxeram você para cá.- Rob respondia
-Bobagem.- Dizia ela não querendo acreditar naquilo.
-Já ouviu falar que nada acontece por acaso?- Retrucava ele mantendo o tom.
Esmeralda abria um pouco os lábios pensativa em tais palavras.
-E se fosse para eu vir pra cá? Talvez assim descobrisse como ativar minha seikka, ou melhor, talvez encontre meu lugar e me sinta importante, talvez mais do que com um título, mas que não me desprezem por eu ser diferente dos que são da minha raça. Por não ser uma soldado bruta e forte todos me rebaixavam, até escutarem minhas palavras, quando as seguiam dava tudo certo, mas nem sempre me ouviam.. teimosos.-
-Então seu povo não é diferente de nós.- Ele dizia em um sorriso levando uma das mãos aos cabelos dela e os bagunçando. -Bem, eu nunca deixaria minha filha fazer isso, mas queria que fosse cortar lenha comigo, estou curioso sobre as habilidades que possui. Sabe fazer magia?- Ele parecia curioso.
-Bem.. talvez... a única coisa que sei é que meu corpo se regenera de qualquer ferimento.- Afirmava ela.
O homem se levantava da cama, ouvindo um uivo manhoso do lupino que parecia não ter gostado dele ter se levantado.
-Vamos lá então, devo me acostumar com seu jeito diferente.- O sorriso ao rosto dele era evidente.
Esmeralda se levantava da cama, vendo suas curtas roupas de couro e seus pés descalços, não era bom sair no frio assim.
-Acho que não tenho trajes adequados Rob.-
-Espere aqui.- Dizia o homem saindo do quarto.
Ela olhava para seu amigo o vendo se esticar na cama.
-Por que não fala na frente dele?-
Ele se levantava ficando apoiado as quatro patas ao chão.
-Já é esquisito uma moça verde do espaço, imagina um animal falante. Então sou apenas seu animal, eu não falo. Mais uma coisa eu sou horrível em falar a língua de humanos, pelo visto você fala muito bem.-
-Falo é? Apenas digo tudo em nossa língua, como ele pode entender?- Perguntava confusa.
-Bem na verdade, não entendi nada que você diz quando está perto dele. Acho que outra habilidade sua é conseguir se comunicar com qualquer espécie, uma habilidade rara, apenas uma seikka poderosa tem, veja só é você.- Ele se sacudia, pelos brancos cresciam ao corpo dele, aquele short que ele usa, quase sumia perante a pelagem macia que havia se formado a ele.
-Como fez isso?-
-Posso me camuflar lembra? Mudar de forma, esse pelo me aquece então ficarei assim até esquentar. E bem, como disse antes, temos algo que os corruptos não tem... você, sua seikka é muito poderosa, acredite.-
Ela apontava para si mesmo sem entender.
-Não podem confiar a mim a vitória, nem ao menos sei usar minha seikka.-
-Não vou confiar a vitória, vamos vencer, quando chegar a hora certa vai saber usar sua seikka, se sua teoria estiver certa, os invasores logo mandarão cobaias de teste, podemos capturá-los e estudar seus planos, afinal, ninguém naquele planeta todo é mais inteligente que você ou conhece mais coisas.- Dizia o lupino esfregando a cabeça a mão dela. Ela movia os dedos enquanto ele se esfregava, fazendo carinho nele.
Olhava para o fundo do quarto vendo um enorme guarda-roupas, ao lado inverso da lareira. Ela se aproximava dele o olhando curiosa abria uma das portas dele vendo ali várias roupas, porém eram um tanto finas, mas tinha exatamente o tamanho dela.
-Incrível, a filha dele tinha a minha altura.- Comentava ela para si.
O lupino pacientemente esperava sentado ao tapete entre as duas camas. Não demorava para Rob entrar pela porta.
-Trouxe pra você o casaco que era da minha filha, eu lavei ele a pouco tempo, estava para secar.- Ao adentrar mais ao quarto via que ela observava as roupas de sua filha. -Se quiser você pode usar, acho que cabem certinho em você.-
Entregava a ela um casaco de pele marrom bem grosso, dentro dele tinha uma macia pelagem branca, na qual ela passava a mão admirada.
-Incrível, é macio e quente, obrigado.-
Colocava o casaco por cima de suas roupas, observava os botões tentando encaixar eles. Ao ver a dificuldade dela o homem logo a ajudava, fechando os botões.
-Pronto, está arrumada.-
Ela via a forma com que ele fazia, aprendendo de primeira, já memorizava as informações. Ela olhava para os pés dele vendo botas, logo olhando ao redor procurando alguma.
-Devia vestir uma calça- Aconselhava Rob.
Ela se aproximava do armário pegando uma grossa calça preta, não sabia se era aquilo que ele se referia, mas tinha certeza que não iria ficar com os joelhos de fora nesse frio, sem demora vestia a mesma por cima do short. Via ao canto do guardar roupas uma bota também de cor marrom. Logo coloca seus pés dentro que se encaixavam perfeitamente.
-Os espíritos que lhe mandaram com certeza. Não tem como você ter o mesmo tamanho e número de calçado que minha filha... além da mesma cor dos olhos. Esmeralda é uma benção te-la aqui comigo de volta.- Com lágrimas nos olhos o homem se abaixava abraçando ela, a mesma ficava imóvel, não sabia como reagir aquilo, estaria ele tentando a machucar?
-Não me machuque...- Dizia confusa.
Ele não cessava o abraço, apenas deixava os braços ao redor dela, estranhamente aquilo era confortável, o que fazia ela se acalmar, deixando que ele a solte um tempo depois.
-Acho que não está acostumada com contato físico né?- Dizia ele secando as lágrimas na ponta da manga do casaco.
Ela acenava positivamente com a cabeça.
-Melhor irmos lenhar.- Diz ela
O homem soltava uma gargalhada com tais palavras.
-Não se diz lenhar, se diz cortar lenha, esse termo é muito do interior, é engraçado.- Falava enquanto ria.
Um pouco assustada ela se afastava dele indo até seu amigo branco.
-Você vem junto.-
O lupino a acompanhava. O homem pegava ao bolso uma coleira de couro jogando a ela.
-Pegue.-
Ela agarrava a coleira ao ar observando a mesma.
-O que é isso?-
O homem se aproxima, pega a coleira da mão dela e a coloca ao lobo.
-Pronto, é uma forma de dizer que ele é seu. Era de um antigo cão de caça do meu avô, ele disse para eu dar a meu cão de caça, mas nunca tive um.-
Ele acaricia os os pelos macios do lupino.
-Não lembro dele ter pelos tão macios.-
-Err... é o frio.- Dizia ela de imediato.
O homem dava de ombros saindo do quarto, ele dava a um corredor onde tinha uma porta, que leva para fora da casa. Ela acompanhava o homem até a saída, era seguida por seu lupino.
Ao abrir a porta os uivos do ventos eram ouvidos por todo lado. Rob pegava a touca pendurada próxima a porta colocando a cabeça. Puxava a touca do casaco da comandante colocando a cabeça dela, deixando apenas alguns bagunçados fios loiros para fora. Nas mãos dele haviam luvas, enquanto as mãos dela estava despida. A mesma leva as mãos aos bolsos para mantê-las quente. Se sentia muito aquecida agora, seu corpo demorava a perder a temperatura, era um pouco mais resistente ao frio, mas nem tanto para a temperatura em que estava. Rob se aproxima de uma caixa de madeira próxima a porta, tirando a neve de cima da mesma e a abrindo, pegando um enorme machado de lenhador. Olhando a caixa a comandante se aproxima, quase que entrando dentro da caixa quando se apoia para pegar outro machado.
-Tenha cuidado.- Dizia o lenhador em tom autoritário.
Ela segurava o machado olhando para a ferramenta.
-Eu terei, já usei armas mais afiadas, mas acho que esse fio não está fraco.- Ela passava o dedão no fio do machado de forma horizontal através da linha vertical do fio.
Rob serguia suas sobrancelhas, ela parecia entender daquilo.
-Nunca deixaria minha filha usar um machado nesse tamanho, mas vejo que entende tanto de machado quanto eu, talvez deixe cortar algumas árvores.-
Ela o reverenciava com a cabeça, era uma forma de agradecer. Por mais que o vento uivasse enquanto soprava, ele não estava muito forte, apenas o suficiente para mover suavemente as roupas, talvez tais uivos se dessem ao local ser bastante aberto e vulnerável a tanto vento, havia também algumas montanhas próximas.
-Achei vocês lá em cima.- Dizia Rob apontando para a montanha.
Esmeralda olhava para o local um pouco pensativa. Branco se aproximava dela farejando o chão, talvez tivesse sentido cheiro de algo.
-Tem um quadrupede por perto, pelos brancos, porte médio, calda longa, grandes orelhas, é bom farejador. Mas não conheço as espécies daqui, nem sei dizer o que é.-
Rob ficava um tanto curioso olhando o lobo, não teria entendido nada além de rosnados e palavras estranhas, se sentia confuso.
-Ele fala desse jeito?- Pergunta o curioso homem.
Ela afirmava que sim com a cabeça.
-Ele diz que tem um quadrupede, de pelos brancos, tamanho médio, calda longa, grandes orelhas e que fareja bem. Sabe o que é?- Perguntava ela virando o rosto para frente a procura de algo que pareça com a descrição.
-Talvez seja uma raposa das neves, a descrição bate há muitas delas por aqui. Tomem cuidado são perigosas, algumas atacam humanos quando se sentem ameaçadas. Será se ela passou aqui há muito tempo?- Ele olhava para o lupino, o mesmo negava com a cabeça. Ouvia-se uma voz estranha novamente e os olhos do homem voltavam a Esmeralda, a mesma dizia.
-Não faz muito tempo, está perto e tem filhotes, pelo cheiro é fêmea.-
O homem tomava a frente seguido pelos dois, dava passos cautelosos, não desejando se encontrar com as raposas.
-Acho incrível sua habilidade de comunicação.- Dizia o homem. -Consegue entender qualquer língua?-
Por alguns segundos ela pensava.
-Bom creio que sim, mas nunca testei. Mas pra mim falam a mesma língua que eu entende? Como se todos falassem a mesma língua, talvez seja alguma habilidade da minha seikka.- Ela leva a mão um pouco acima do peito, bem em direção a sua seikka.
-E o que é essa tal seikka?- Ele pergunta enquanto caminha.
-Resumidamente é uma energia anexada a um corpo para suprir a falta de uma alma, se o corpo tiver alma, ela pode ser corrompida e destruída, mas se não tiver a seikka será a alma. No meu caso eu tenho alma... mas ela é tão pura que consigo controlar a seikka sem me corromper, é dela que meus poderes são originados ela me deu essas habilidades.- Sentia sua mão esquentar enquanto tocava tal local, não entendia como, apenas desencostava a mão do corpo olhando as pontas dos dedos, eles estavam levemente avermelhados. -Será que isso é algum poder?- perguntava enquanto olhava o lupino.
-Toque em algo.- Dizia ele curioso com o que estava vendo.
Ela então assim faz, tocando as pontas dos dedos em uma árvore, a neve que estava sobre ela era derretida, as folhas das árvores ficavam verdes e pequenas flores começavam a surgi.
-Incrível!- Ela afastava sua mão e instantaneamente a árvore virava cinzas e o vento a soprava para longe, deixando um doce aroma ao ar.
Os olhos esmeraldas dela vibravam ao ver tal cena. Conseguia ouvir uma voz que dizia.
-Obrigado, agora estou em paz.-
-Quem disse isso?- Perguntava olhando ao redor procurando o dono da voz, mas nada encontra, apenas estava com seus amigos ali.
-Está bem?- Perguntava o lenhador.
-Ouviram a voz? Ele disse obrigado.- Esmeralda respondia em seguida.
O homem negava com a cabeça. O lupino se aproximava parecendo impressionado também.
-É incrível, é como se você tivesse purificado a alma dele, mas quando tirou sua mão dele, a alma foi liberta. Seus poderes são mesmo incríveis, consegue purificar almas, realmente você é uma arma contra as seikkas corrompidas. A seikka-azul tinha razão, a visão dela é verdade, você será nossa salvação para a guerra.-
Confusa ela soltava o machado, sentando na neve e levando as mãos a cabeça.
-Por que? Digo... como? Quer dizer que a voz que só eu ouvi era a alma agradecendo a liberdade? Como posso purificar almas? Isso é impossível. Fora que não existe mais seikkas-azuis, mas dizem que elas podem ver o futuro.- Ela puxava seus fios de cabelo como se estivesse enlouquecendo.
-Olha as duas seikkas-azuis existentes moram aqui na Terra, poderíamos encontrar elas se quiser. Mas deixa o tempo lhe dizer, suas habilidades são muito poderosas, não apenas pela sua seikka. Mas sim por sua alma, é tão pura que consegue equilibrar qualquer seikka perturbada, você é a salvação da nossa espécie.-
Os olhos dela se voltavam ao lupino
-Pera você antes disse de guerra?- Falava intrigada apenas se dando conta agora.
Suas dúvidas eram interrompidas por uma voz vinda de Rob.
-Hey.. menos papo mais ação. Vamos cortar lenha Esmeralda, pare de falar essa língua esquisita com seu animal.-
Ao longe o homem batia em uma árvore para derruba-la. Parecia que ele não entendeu nada do que estavam falando. Ela logo se levantava correndo até ele, chegando lá olhava para as próprias mãos.
-Ahhh deixei o machado lá.- Mexia as pontas dos dedos vendo que sua pele estava em um tom verde tradicional. Sentia um pelo macio se esfregar em si logo olhando para o lado, onde via o Branco com um machado entre os dentes, tinha trazido até ela.
-Bom garoto.- Dizia o lenhador parando de cortar enquanto olhava o lobo.
-Obrigado.- Ela leva a mão a cabeça dele coçando o local. Logo pegava o machado da boca dele e se aproximando da árvore. -Tem algum segredo?-
Rob negava com a cabeça.
-Não segure muito na ponta do cabo ou pode se machucar, apenas no meio.- Demonstrava a ela segurando seu machado. Esmeralda segurava o cabo bem no meio, mantendo as mãos próximas. Se aproximava da árvore olhando onde tinha um pequeno corte já na árvore. Mexia um pouco os ombros focando o local, sem demora batia com toda a força na árvore, acidentalmente cortando ela por completo no qual ela caia para o lado.
-Uau que força! Com apenas um golpe!- Diz Rob impressionado.
-Err... Obrigado... nesse planeta me sinto mais leve.. talvez a gravidade tenha me deixado mais forte. Bem imagino que seja isso.- Estranhamente ela sentia seu rosto um pouco quente, era uma sensação estranha para ela, estava envergonhada, nunca se sentiu assim. Mesmo que estivesse acostumada a ser elogiada por sua inteligencia.
O homem ia até a árvore batendo nela bem no meio para cortar.
-Vamos ter que reduzir ela para transformar em lenha.- Explicava a ela. -Quanto menor mais fácil de cortar.-
Esmeralda se aproxima da árvore quebrando uma das metades ao meio, novamente com um só golpe. O lupino ficava sentado a neve atento ao que ocorria, mas os olhos estavam fixos aos dois. Rob logo deixava ela cortar por ser mais rápida, havia feito pequenas toras com cerca de cinquenta centímetros cada. Ele ia onde ficou a base da árvore, colocando uma tora em cima, fixando a mesma, onde com apenas uma machadada quebrava ela em duas.
-Quebre todas as toras em dois, tenta.- Falava Rob fixando uma tora para ela quebrar.
Assim com ele, em apenas um golpe a tora era dividida em duas, em poucos minutos havia uma pilha de lenha bem cortada.
-Está ótimo, temos lenha pra amanhã, até a noite a lenha já está bem seca, por causa da neve está um pouco úmida. Acabei esquecendo de cortar lenha no verão, fiquei tão deprimido com a perda da minha filha.-
A mão de Esmeralda tocava o braço dele.
-Não precisa se deprimir, o corpo dela pode não estar presente, porém a alma dela sempre estará lhe vigiando.-
-Como um anjo?- Perguntava animado olhando para ela.
-O que é anjo?-
-Um ser divino que nos protege.-
Ela acenava que sim com a cabeça.
-Exatamente isso.-
Rob ficava em frente a ela se abaixando, novamente abraçando a mesma. Ela apenas ficava parada esperando que ele terminasse tal ato.
-O que isso quer dizer?- Perguntava ela
-Demonstrar carinho, é uma forma de dizer que se importa com a outra pessoa, sem usar palavras.-
-Entendi.-
Após a resposta dele, a mesma soltava seu machado, que caia na neve e envolvia os braços ao redor dele. Um som logo irrompia a demonstração de afeto entre eles. Era um uivo um tanto grosso do lupino, que parecia fazer tal som pra chamar a atenção deles. Ambos se soltavam e olhavam para ele, vendo que ele estava posicionado como se fosse atacar uma raposa branca. Mesmo que o lupino fosse bem maior que ela, a raposa parecia que não iria recuar, estava rosnando para ele.
-O Branco não sabe lutar.- Ela corria para perto dele. -Já lutou antes?-
-Nunca.- Dizia o lobo engolindo em seco, não sabia o que fazer.
-Vou pegar a espingarda, esqueci em casa.- Dizia Rob enquanto saia correndo, mas era cercado por raposas menores. O mesmo se encolhia um pouco voltando para próximo deles. -Estamos cercados.- Dizia assustado. Olhava para se machado próximo a pilha de lenha se aproximando devagar. -Branco não sabe caçar?- Perguntava
-Não.- Afirmava ela. Os olhos tornavam a ele. -Irá fazer tudo que eu mandar.- Dizia pra ele.
O lupino acenava positivamente com a cabeça.
-Salta na direção dela rosnando.-
Usava as pernas de trás para dar um salto em direção a ela, rosnando. A raposa assim desvia tentando morder a ele.
-Desvia pra direita.-
Assim ele fazia esquivando da mordida.
-Morda fraco a orelha dela.-
Aproveitava a deixa para morder a orelha da raposa, que grunhia alto logo correndo em seguida, acompanhada das raposas menores.
-Você foi incrível.- Dizia ela se aproximando do Branco e abraçando ele. O lobo apenas ficava parado parecendo orgulhoso.
-Não teria conseguido sem você. É muito boa em analisar e bolar estratégias, confesso que é a primeira vez que luto.-
-Ela apenas estava assustada, não pretendia brigar, era perceptível pela postura dela. Não irá voltar tão cedo, apenas se afastou.- Respondia ela como se explicasse.
-Muito bem. Não entendi o que disse a ele. Eram comandos para ataque? Acho estranho as raposas estarem juntas, sempre pensei que fossem mais solitárias.- Dizia o lenhador se aproximando com o machado na mão.
-Apenas disse a ele o que fazer.- Retrucava soltando o lupino. -Acha que já temos lenha o suficiente?-
Rob acenava positivamente com a cabeça. Alguns barulhos de tiros podiam ser ouvidos a distância.
-Que estranho, não tem muitos caçadores aqui, são muitos tiros para isso.- Dizia Robert intrigado.
Mais tiros eram ouvidos, parecia que estavam metralhando alguma coisa. Um alto grunhido cortava o barulho de tiros, parecia algum tipo de criatura. Algumas árvores caia mais acima da montanha.
-Vamos ver o que é.- Dizia Esmeralda correndo em direção a montanha mais próxima.
-É perigoso.- Corria atrás dela o lenhador com o machado na mão.
Ela nem dava ouvidos a ele. O lupino a acompanhava correndo ao lado dela devagar. Ao ver ele em seu lado logo segurava aos pelos dele, montando nas costas dele. Já havia entendido o recado, agora apenas acelerava deixando o lenhador para trás, que logo se cansava caminhando.
-É perigoso não vão.- Gritava enquanto cessava os passos.
Ambos pareciam não ouvir ele, estavam determinados ao ver o que era.
-Pode ser perigoso para ele.- Dizia a comandante olhando para trás o vendo parado ao longe com seu machado na mão. -O que imagina que é?-
O lupino não respondia, não fazia ideia do que fosse. Era um pouco mais densa a neve ao chão, logo ele corria um pouco mais devagar, os dedos longos de suas mãos se fixavam bem na neve. Encontrava logo um pouco de neve avermelhada, cheirando o local.
-É sangue, e está fresco.- Dizia ele agora caminhando com cautela.
Esmeralda olhava ao redor erguendo o corpo para o alto, tentando ver mais ao longe, mantinha a mão direita segurando aos pelos dele, enquanto a esquerda é levada a cabeça para segurar a toca que o vento soprava.
-É sangue humano?- Perguntava.
-Sim.- Ele responde sem pensar.
-Branco olha, tem estão ali.- Apontava para noroeste.
Corria em direção ao local, logo alguns homens com armas estavam atirando contra um enorme lagarto roxo, ele tem várias marcas mais clara, parecia queimado. Em cima de sua cabeça era possível ver uma seikka roxa, mas diferente das outras seikkas, essa era muito escura, não era transparente e está cheia de manchas.
-Ele tem uma seikka corrupta.- Apontava em direção a testa da criatura. -Precisamos pegar a seikka dele, talvez isso quebre o anexo que ela criou a sua alma e o corpo se auto-destrua. Mas vai dar trabalho, ele está bem maior que antes.-
Branco engolia em seco, estava com um pouco de receio de lutar, afinal apenas lutou conta uma raposa que nem lhe atacou, porém aquele lagarto era muito maior, sua boca cheia de dentes podia decapitar um braço com uma bocada. Os soldados ao redor não cessavam fogo, ficavam atirando sem parar, mas aquilo parecia não afetar ele. As balas eram retidas pela grossa escama. Um deles segurava uma bazuca atirando na criatura, porém a explosão nem fizera efeito. Com um simples golpe de calda, soldados voavam de um lado para outro, os que eram abocanhados foram engolidos.
-Chamem reforços.- Gritavam alguns soldados.
O comandante falava em um rádio chamando reforços.
-Recuar.- Gritava ele para sua tropa, haviam poucos homens, sobraram em pé apenas quarto, sem contar o comandante. Os soldados corriam acompanhados da criatura.
-Estão vindo para cá. Quando eu dizer já você pula e morde o focinho dele.-
Segurava firme os pelos do lupino, que se preparava para saltar, seu corpo termina levemente, tanto pelo nervosismo quanto pelo medo.
-Confia em mim.- Acariciava ele próximo a onde estava segurando a mão, tentando acalmar ele.
A criatura se aproximava se aproximava em suas quatro patas, correndo em direção a eles.
-Salte.-
A ordem dela o lupino saltava em direção a criatura, que abria a boca para abocanha-los, logo era surpreendida por uma mordida em seu focinho, sacudindo a cabeça, onde o lupino caia em pé olhando para cima.
-E agora?- Perguntava ele.
-O grandão está atordoado, agora morde o rabo dele.- Apontava ao rabo inquieto do lagarto, que não parava de se mexer.
O lupino assim fazia, abocanhando o rabo dele, onde ficava pendurado enquanto o lagarto se debatia, chacoalhando o rabo.
-Não solta. Quero que vire um seikka-laranja de quatro braços, com um par de olhos, aqueles com rabo e espinhos nas costas. Sua força vai ser suficiente pra imobilizar ele.- Dizia enquanto ficava de pé nele.
A cor branca dos pelos ficava em um tom laranja, seu corpo parecia crescer, as patas dianteiras seguravam o rabo do bicho. A parte debaixo se alongava, onde ficava com quarto patas, eram pés como de lagartos, onde tinham uma grande cauda com vários espinhos na ponta e também nas costas. Seu tronco é bem largo com dois pares de braços repletos de músculos. O rosto era um tanto achatado com fendas para respirar e dois pares de olhos avermelhados, além de vários pequenos chifres na cabeça. Havia dois buracos nas laterais do rosto usados pra escutar. Esmeralda estava de pé nos ombros dele, ela pulava para cima do lagarto. Os quatro fortes braços seguravam a cauda da criatura que ficava tentando se debater. Seu corpo se virava na tentativa de abocanhar.
-Segure a mandíbula dele como duas das suas mãos.- Dizia a menor se apoiando as costas do lagarto, tentando se segurar para não cair.
Assim ele fazia, segurando com uma mão em cima e a outra embaixo da boca, onde mantinha a mesma aberta, sem conseguir morder ele. Esmeralda aproveita a brecha para pular sobre o braço dele logo se jogando na cabeça do bicho, ficando bem em cima do focinho ela se aproxima da seikka. Estava enterrada na testa dele, tocava a mesma delicadamente, ela sentia a energia emanando dela.
-Está assustado.-
Falava ao tocar a seikka, logo acariciando ela. Enquanto sua seikka era tocava a criatura ficava tentando sair daquela posição.
-Não vou segurar ele por muito tempo.- Dizia a grossa voz do lupino, parecia diferente da voz normal dele.
-Estou tentando acalmar ele.- Retrucava enquanto continuava alisando a seikka corrupta que estava ali. -Fique calma.-
Por mais que ela se esforce parecia ser em vão. Ao invés de se acalmar a criatura ficava mais agitada. Os braços de Branco estavam trêmulos de tanta força que fazia para segurar a criatura. Esmeralda sentia uma mão fria ficar mais quente, continuava passando as pontas dos dedos na seikka, agora os dedos estavam avermelhados. Uma fumaça saia do local, onde a criatura soltava um urro de dor.
-Isso machuca o corpo? Só quero te libertar amigo....- Falava enquanto tirava a mão da seikka.
Era possível ver uma fumaça emitir da seikka, onde ela estava derretendo, a criatura ficava mais agitada do que nunca. Branco não conseguiu mais continuar segurando a boca, onde a cabeça da criatura se soltava, sacudindo desesperadamente. Esmeralda tentava segurar no focinho dele, mas onde ela tocava começava a derreter. De tanto sacudir ela é arremessada longe, batendo na copa de uma árvore e caindo ao chão, logo ficava desacordada. Branco não viu pra onde ela tinha ido, sua visão naquela forma era ruim. Logo soltava a cauda da criatura onde ela se contorcia ao chão derretendo por completo. Nada restava da criatura, apenas o formato de um grande lagarto na neve. Os soltados saim de trás de alguns montes de neve.
-O que aconteceu?- Pergunta o comandante.
Sem como responder, o lupino se apoiava ao chão, precisava dela, não sabia falar a língua deles. Logo tornava a sua forma peluda e branca, onde parecia um enorme logo com patas dianteiras repleta de dedos alongados. Corria para longe deles, olhando aos poucos para trás vendo se havia se distanciado o suficiente. Logo batia de cara em alguém, ficando um tanto zonzo e caindo ao chão. Lentamente seus olhos ficavam em quem ele tinha batido, era o lenhador. O mesmo se aproximava do lupino.
-Onde está Esmeralda.- Perguntava enquanto acaricia o pelo dele, tentando ajuda-lo a acordar.
Pronunciava algumas palavras, porém não eram entendidas por ele. O lupino leva as patas ao rosto, parecendo se lamentar pelo ocorrido.
-Sou um péssimo seikka-branca, eu devia saber todas as línguas, mas não consigo nem me comunicar. Apenas sei me esconder, talvez se fosse menos covarde nunca teria voltado a rainha, ai não teria a missão de proteger Esmeralda, seikka-rosa irá ficar irada comigo, vamos precisar da Esmeralda, mas eu a perdi. Como vou encontrar ela? Posso ser um bom farejador, mas o cheiro dela é fraco, e aqui tá sujo de sangue, como pude fracassar? Sou um tonto.- Estava um tanto trêmulo como se estivesse com medo. Sentia a mão de Rob o acariciar.
-Não precisa se culpar pelo que aconteceu, vamos procurar ela juntos, preciso de sua ajuda.-
Os olhos azuis do lupino focavam no homem agora, conseguia entender a maior parte das palavras dele, podia ser péssimo em falar, mas era um bom ouvinte. Acenava positivamente com a cabeça como sinal de quem irá apoiar e ajudar a encontrar ela. Aos poucos se levantava. Virava em direção de onde tinha vindo, olhava para trás observando se o lenhador o acompanharia. E assim fazia, empunhando seu machado ele acompanha o lupino até o local do incidente.
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