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História Vicissitudes - Capítulo Único


Escrita por: keyhimura

Notas do Autor


Na quase atrasados tour, depois de muito desespero, febre, mudança e poeira eu consegui terminar a fanfic.
Eu sei que ela não está o meu melhor e peço desculpas por isso, mas infelizmente os meus dias tem sido muito muito complicados e eu acabei ficando doente no meio de tudo.

Eu peço desculpas as organizadoras por talvez não ter feito meu máximo, mas eu tentei com tudo que eu tinha produzir algo de qualidade, que eu gostasse e que se adequasse ao tema da primeira etapa do concurso. Ainda estamos na falta de uma capa, mas em breve eu sei que produzo uma.

Uma boa leitura a todos!

Capítulo 1 - Capítulo Único


O rapaz passou pela recepção do hospital sem sequer se identificar, uma vez que todos naquele lugar já sabiam exatamente para onde ia. O semblante cabisbaixo e pesado contava a história de alguém que tinha vencido uma batalha, mas ainda travava uma guerra, que perdurava por um ano. Rapidamente ele chegou em frente ao quarto 203, suspirando antes de abrir a porta para se deparar apenas com o silêncio mórbido quebrado pelo barulho de máquinas, que mantinham uma vida preciosa para si.

 

Porque tinha de ser daquele jeito?

 

Aproximou-se com cuidado, deixando sua bolsa com remédios na poltrona, chegando perto do outro apenas para que pudesse deslizar os dedos com delicadeza por sua tez pálida, afastada do sol por tanto tempo, se perguntando se algum dia ele teria a chance de sair dali novamente. O tempo parecia tão infinito...

 

Analisou com esmero as unhas para ver a necessidade de cortar e sentiu o coração doer ao localizar uma das cicatrizes deixadas, já devidamente fechada e curada. Porque ele não podia se curar também? Segurou a mão calejada entre as suas, lamentando o tempo que estavam paradas, o tempo que ele havia perdido. Apertou a mão na sua rezando baixinho como de costume, os olhos vagando pelo quarto até pararem no desenho que ele nem devia se lembrar de ter feito.

 

Volte pra mim...

 

(...)

 

Byun Baekhyun era um cara estranho. Foi o primeiro pensamento de Chanyeol quando, em sua primeira aula de pintura, o garoto da expressão taciturna chegou faltando meia hora para o termino da mesma e produziu uma pintura melhor que a de todos os presentes antes sequer da mesma terminar, gerando comentários maldosos que ele pareceu nem ouvir, ignorando todos antes de simplesmente deixar a sala, o quadro bonito ainda secando.

 

Aquela foi a primeira vez em que viu o baixinho e mesmo que os outros tencionassem encher seus ouvidos com palavras ruins sobre ele, Chanyeol não se deixou levar, seguindo o ensinamento da mãe que lhe dizia sempre para não julgar as pessoas pelas medidas dos outros, o que não impediu o garoto de se assustar quando ouviu de uma boca aleatória a frase que só pode lhe deixar aturdido.

 

Ele matou o próprio pai”

 

O Park não acreditou, mas algo ruim se agitou em seu peito quando o garoto ouviu a acusação e apenas deu de ombros, continuando seu caminho como se sequer tivesse visto as pessoas que lhe xingavam e lhe atiravam palavras ruins e ferinas. Aturdido, o garoto alto e novo naquela escola acompanhou quando um grupo de garotos cercou o Byun, iniciando uma série de agressões que ele não conseguiu assistir calado.

 

Usando sua força, empurrou os garotos e se enfiou no meio deles, dando ombradas e socos mal executados nos garotos cruéis que a essas alturas já gritavam toda sorte de despautérios, desde esnobe até assassino, que ofendiam o próprio Park devido a sua frieza e intenção de ferir. Espantou-os da melhor forma que podia, sabendo que estava marcado assim como o garoto a partir de agora.

 

“Desculpa, pai. Eu juro que não queria brigar”

 

Quando ele finalmente conseguiu fazer com que os garotos fossem embora, restaram apenas ele e o garoto Byun no corredor, junto com o extremo silêncio, quebrado apenas pelos pequenos arfares do outro que se levantava de forma lenta, testando cada parte do corpo, os dedos longos tocando os lábios feridos para recolher o sangue acumulado. Chanyeol não pode deixar de notar o quanto ele parecia acostumado e conformado com aquilo tudo e viu-se sem entender.

 

—Você tá bem? —Estendeu a mão para o outro caído no chão, analisando se deveria enviá-lo à enfermaria

 

Não conseguiu disfarçar a surpresa quando ele simplesmente deu um tapa em sua mão, erguendo-se por conta própria para então cuspir o sangue acumulado em sua boca, fitando-o com extrema frieza e descaso.

 

—Não preciso da sua ajuda. —Respondeu de má vontade, já recolhendo seus pertences.

 

—Que...? Você... Você ‘tá todo arrebentado!

 

—Não é a primeira vez. E nem vai ser a última. —Chanyeol não entendia. Porque ele estava negando sua ajuda, oras!

 

—Você devia comunicar isso a alguém! Sei lá, o diretor, a sua mãe... —O Park gelou ao ouvir a risada sarcástica e dolorida do Byun, que lhe fitou com extrema impaciência.

 

—Minha mãe? Você não ouviu o que dizem por aí? —Parou por alguns segundos. —A minha mãe me odeia, sabia disso? Pra ela se eu morrer dentro desse lugar ela vai achar ótimo! —Riu novamente e Chanyeol engoliu a seco, sem saber como retrucar. —Ninguém mais se importa comigo, cara, caia na real!

 

E saiu andando.

Chanyeol não soube explicar, mas sentiu o peito doer.

 

(...)

 

Byun Baekhyun era solitário. Foi um pensamento que Chanyeol desenvolveu após vê-lo semanas após semanas vagando pela escola como um fantasma, fugindo de tudo e todos, aparecendo apenas em algumas aulas esporádicas, sempre com o mesmo ritual de chegar faltando poucos minutos para o final e produzir uma belíssima tela, nunca trazendo ou levando consigo qualquer material de pintura de fosse.

 

Parando pra pensar, Chanyeol nunca vira o garoto com seu material, em nenhuma das aulas que os dois frequentavam juntos, sempre utilizando materiais que encontrava pelas salas ou então não utizando material algum, o que não lhe impedia de tirar notas altíssimas, que mais uma vez eram motivo para que ele fosse hostilizado pelos colegas, que pareciam decididos a tornar sua vida a pior possível.

 

Chanyeol apenas observava, relembrando as palavras amargas que o outro dissera, torcendo os dedos nervosamente sem nunca saber o que fazer. Sentia uma necessidade estranha de ajuda-lo, mas ele parecia tão distante quanto um arranha-céu e diante de toda aquela mágoa o Park só podia se sentir pequeno. Não sabia quase nada sobre o Byun, mas por alguma estranha razão sentia que devia ajuda-lo, pois cedo ou tarde o garoto ia quebrar.

 

Chanyeol preferia nem pensar.

 

(...)

 

Foi numa tarde de outono, meses depois, que Chanyeol foi tragado ao mundo de Byun Baekhyun de forma inesperada. O Park havia esquecido um de seus materiais na sala de pintura e corria na esperança de reavê-lo antes que alguém pudesse roubá-lo de si, movendo-se esbaforido pelos corredores e desviando dos alunos do colégio interno que se aglomeravam pelos corredores, enfadados demais para estudar.

 

Estava quase chegando na sala quando ouviu um choro desesperado, de uma voz que ele pouco ouvia mas que era capaz de reconhecer, que o fez acelerar ainda mais em sua corrida fazendo-o quase trançar os pés algumas vezes. Ele havia quebrado. E Chanyeol jurou que havia quebrado também quando abriu a porta da sala, encontrando-o jogado no chão, chorando copiosamente enquanto se agarrava em um papel como se toda sua vida dependesse daquilo.

 

E talvez fosse assim.

 

Com cuidado, o garoto alto se aproximou do Byun que em prantos sequer havia notado sua presença, abaixando-se lentamente até estar no mesmo nível que ele, fitando-o com preocupação e certa doçura, sem saber direito como ajuda-lo em meio a todos aquelas lágrimas que lhe faziam engasgar.

 

—Baekhyun...? —Foi solenemente ignorado, não conseguindo atrair a atenção do garoto que fitava um ponto qualquer na parede, soluçando. Suspirou, decidido a tentar mais uma vez. —Ei, Baekhyun... Olhe pra mim. —Pediu baixinho, estendendo a mão com cautela, encostando no ombro alheio e sacudindo de leve, buscando o mínimo de atenção. —Baekhyun? —O garoto finalmente lhe ouviu, os olhos molhados focando em si, tragando o Park para sua imensidão.

 

Um abismo de solidão.

 

Tudo aconteceu muito rápido e antes que o mais alto pudesse lhe perguntar mais alguma coisa Baekhyun lhe abraçou, agarrando-se em si com sofreguidão e Chanyeol não pode fazer nada se não envolvê-lo firme em seus braços, apoiando-lhe sem nem entender direito o que estava acontecendo.

 

—E-e-eu mat-tei...! —Ele começou baixinho, abafado pelo tecido da camisa, entrecortado pelos soluções que impediam-lhe de falar de forma fluida. —E-Ela vai morrer...! —O Park tentava a todo custo entender sem sucesso.

 

—Eu não estou entendendo... Baekhyun?

 

—Ela vai morrer... Ela vai morrer! —Ele continuou murmurando, ignorando completamente as perguntas que Chanyeol fazia.

 

—Quem, Baekhyun? —Perguntou baixinho.

 

—A minha mãe! —Ele praticamente gritou, sacudindo a folha de papel amassada, que Chanyeol tirou de sua mão com alguma resistência, pois o pequeno não queria lhe entregar. —Eu matei ela!

 

Quando ele finalmente conseguiu tirar o papel das mãos do Byun, puxando dedo por dedo até o mesmo estar solto, finalmente pareceu entender o que estava acontecendo. Localizando com o canto dos olhos um lápis de ponta quebrada, ele foi capaz de juntar as peças do quebra cabeça que poucos seriam capazes de entender. Na folha havia um retrato de uma mulher cuja semelhança com Baekhyun era gritante, desenhado com o estilo típico do Byun que Chanyeol costumava observar tantas vezes nas aulas de pintura, com um grande risco no meio.

 

Chanyeol entendia aquilo.

 

“—Mamãe? O que você tem, mamãe? Fala comigo!”

 

Imediatamente foi transportado à sua infância, quando sua mãe simplesmente congelava no lugar, os olhos vidrados em algo longe demais para a pequena criança compreender, o corpo dela bambeando até que ela estivesse apoiada em algum lugar enquanto ela respirava ofegante como se estivesse passando muitíssimo mal o que apavorava o garotinho, que só podia se agarrar a mesma e tentar sacudi-la.

 

Ela então acordaria de seu transe, minutos depois, chorando copiosamente enquanto agarrava o garotinho, repetindo coisas que ele não entendia e nomes que ele não conhecia, contando histórias trágicas de outras pessoas como se fossem suas, como se ela estivesse no meio de tudo que havia acontecido. Chanyeol se lembrava de sempre estar por perto e abraçá-la até passar, mas nunca de entender. Estaria sua mamãe doente? Ele pensava enquanto via a mãe sorrindo feliz.

 

E ele só foi entender com certeza o que acontecia anos depois, quando sua mãe derrubou a bandeja inteira do café da manhã no chão sendo rapidamente amparada por seu pai que parecia saber exatamente o que estava acontecendo. Aquela foi a primeira vez que ouviu a palavra visão e que tomou ciência de seu significado, entendendo finalmente o peso que a mãe havia carregado por todos aqueles anos em que foi acometida por suas premonições.

 

“—Sua mãe é especial, Chany. Ela tem um dom muito precioso mas que a deixa muito cansada, por isso precisamos cuidar dela e ajudar, certo?

 

—Certo, papai.

 

—Você promete que vai me ajudar, querido?

 

—Prometo!”

 

Uma pena que não tiveram tempo. Quando Chanyeol completou treze anos sua mãe acabou falecendo em um acidente de carro, num dia atípico no qual ela resolveu ir ao mercado sozinha. Um carro desgovernado controlado por um homem ébrio havia batido no carro dela provocando um capotamento que findou sua vida no local do acidente, sequer dando aos médicos a oportunidade de fazer alguma coisa.

 

No dia seguinte os dois descobririam uma carta da mesma dizendo que não suportaria vê-los morrer novamente, que faria tudo que estivesse ao seu alcance para impedir aquele terrível futuro de se concretizar, se sacrificando se fosse preciso. O que acabara acontecendo. Pai e filho choraram a morte da mulher que os dois mais amavam no mundo, sentindo-se culpados mas decididos a seguir em gente com suas vidas pois elas agora tinha um valor ainda maior.

 

Três anos depois estava ele frente a uma visão de novo.

 

E desta vez ele estava decidido a cumprir a promessa que havia feito com seu pai. Durante os anos que haviam passado, Chanyeol havia procurando entender melhor o dom de sua mãe, descobrindo que haviam muitas pessoas que partilhavam do mesmo, algumas sem sequer entender o que acontecia quando tinham suas visões, que podiam se manifestar de formas diferentes. Com o talento que o garoto tinha, nada mais natural que a de Baekhyun se manifestasse através de desenhos, embora retratos não fossem muito comuns nas pesquisas que Chanyeol havia feito.

 

—Shhh... Vai ficar tudo bem. —Falou baixinho, esquecendo o papel por uns instantes para ampará-lo melhor, afagando o cabelo curto. —Você não tem culpa de nada... —Falou a verdade, tentando amenizar a dor que ele estava sentindo.

 

—E-e-eu não aguento mais... Eu quero morrer... Não quero matar mais ninguém...! —A voz dele soou trêmula e cortada e imensamente dolorida.

 

Chanyeol só sentia o peito apertar.

 

—Não é verdade... Não é culpa sua. —Tentou novamente, a voz se enchendo de ternura para falar com o mais baixo que parecia até menor tamanha a sua fragilidade. —Vem, vamos sair daqui.

 

Chanyeol jamais soube se as lágrimas haviam o deixado mais fraco ou se Baekhyun havia finalmente se cansado de aguentar tudo sozinho, mas quando ajudou-o a se erguer, não houve qualquer resistência. Quando o envolveu novamente em seu abraço, só se sentiu sendo apertado ao invés de rechaçado e quando caminhou pelos corredores olhando feio qualquer um que tencionasse falar alguma coisa jurou que pôde ouvi-lo agradecendo baixinho, quase sem forças.

 

O menor foi rapidamente vencido pela exaustão quando chegaram no quarto do mesmo, os olhos vermelhos se fechando sem qualquer esforço diante de Chanyeol que apenas afagou seu cabelo de forma carinhosa pensando em formas de fazê-lo entender o que acontecia e minimizar sua dor que por si só já era enorme. Baekhyun sabia que a própria mãe ia morrer e mais ainda achava que ele era o responsável por tal catástrofe, assim como deve ter acontecido com seu pai.

 

Tudo fazia sentido.

 

O Park só pode lamentar a crueldade da vida, que o fez passar por tudo aquilo completamente só. Que o fez acreditar que o ódio de sua mãe tinha fundamento, que ele não era digno e não merecia o respeito alheio, que sua maior habilidade se convertia em uma arma de matar. Como aquilo era injusto!

 

Enquanto fitava o rosto adormecido ainda de cenho franzido, Chanyeol fez uma outra promessa consigo mesmo, em memória de sua mãe. Faria Baekhyun feliz.

 

(...)

 

Quando acordou no dia seguinte, Baekhyun se sentia completamente zonzo e desorientado, o que piorou ainda mais quando encontrou Chanyeol em seu quarto que trazia consigo um pequeno sanduíche embalado em suas mãos.

 

—Eu trouxe pra você. Deve estar com fome. —E ele estava, mas sentia-se estranha ameaçado pelo grandão. Como ele havia entrado ali?

 

—O que você está fazendo aqui? —Soou menos ferino do que o planejado, se batendo mentalmente por isso.

 

—Eu te trouxe. Ontem. —Parou, respirando fundo pois sabia que o outro era orgulhoso e que aquela afirmação mexia e muito com seu brio. —Eu te encontrei na sala de pintura chorando, você não se lembra? —Chanyeol observou quando ele pareceu ponderar visivelmente nervoso por alguém ter visto seu lado mais frágil, parecendo se recordar de algo.

 

—E então? Viu o que queria? Pode sair daqui e rir de mim agora.

 

—Baekhyun... N-

 

—Não começa! Não vem com esse papo de que quer ajudar porque eu não caio mais nessa! Você é igual a todo mundo, o típico bom samaritano que não aguenta o tranco.

 

—Você não entende, me deixe fal-!

 

—Não, é você que não entende, que não sabe com o que está lidando. Para o seu próprio bem só dê meia volta e vá embora, certo? Eu fico melhor sozinho!

 

—Eu sei que todos que você desenha acabam morrendo. —Aquele era um golpe baixo, Chanyeol reconhecia, mas parecia a única forma de fazê-lo parar tempo suficiente para que pudesse lhe oferecer ajuda. —E que seu último desenho foi a sua mãe.

 

—Filho da puta! Filho da puta! —O Byun não pensou, avançando contra o maior que com alguma dificuldade o segurou, tentando conter a fúria de Baekhyun que lhe xingava e esbravejava enquanto os olhos se enchiam de lágrimas. —O que é que você quer, hein?! —O tom era alto, quase gritado

 

—Eu quero te ajudar.

 

—Vá pro inferno!

 

—Eu sei que você não se dá conta que faz esses desenhos. Sei que é por isso que você nunca tem material nenhum com você, pra não correr o risco de acabar desenhando alguém. —Os movimentos então cessaram, sendo substituídos por uma atenção cautelosa.

 

Não era incomum que pessoas com clarividência perdessem a consciência durante uma visão e Chanyeol sabia disso. Sua mãe mesmo era puxada com tanta força que era impossível tirá-la de lá antes que terminasse.

 

—A minha mãe tinha visões de pessoas morrendo. A maioria ela sequer conseguia distinguir a língua, apenas podendo assistir.

 

—O que?

 

—Acontecia do nada, uma hora ela tava bem e na outra tava paralisada, olhando um ponto fixo na parede enquanto tentava se escorar em algum lugar. Muitas vezes ela perdia as forças e caía, chorando ou gritando no final, depende do que ela acabava vendo.

 

—Sua mãe também...? Então quer dizer que eu...?

 

—Você tem premonições, Baekhyun, mas diferente dela as suas se manifestam pelos seus desenhos. Você não mata quem desenha, você desenha alguém que provavelmente vai morrer. —O Park tentava manter a calma, explicando escolhendo as palavras com cuidado. —Entende? Não é culpa sua.

 

—Você só diz isso porque tem pena.

 

—Minha mãe me viu morrendo, eu e o meu pai, num acidente de carro.

 

—Mas como...? —Baekhyun inquiriu baixinho e não precisou de mais para o Park entender.

 

—Ela escolheu ir no nosso lugar, sabendo que podia acontecer. O acidente ocorreu e ela acabou morrendo lá mesmo. —O Byun pode perceber dor e culpa nas palavras. —Eu sei como se sente.

 

Baekhyun sabia que ele estava sendo sincero. Sabia que ele falava a verdade, mas ainda estava aturdido com tudo aquilo. Passara boa parte de sua vida se culpando e amaldiçoando a si próprio então a ideia de “dom” lhe soava quase absurda.

 

—Eu não sei se consigo acreditar... Preciso pensar. —Chanyeol compreendia e por isso apenas assentiu, deixando o sanduiche sobre a escrivaninha que pertencia ao Byun.

 

—Meu quarto é o 303, já sabe onde me encontrar. Te vejo por aí. —Sorriu minimamente antes de sair do quarto, deixando Byun sozinho com o silêncio e os próprios pensamentos que pareciam se multiplicar, culminando na noite em que após um de seus black outs ele havia encontrado um desenho com o rosto de sua mãe em suas mãos.

 

Será mesmo que ele podia mudar?

 

(...)

 

Chanyeol tomou um susto quando ouviu batidas fortes em sua porta de madrugada, pulando da cama já preparado para xingar seu colega de quarto por ter esquecido a chave novamente, seus olhos se arregalando de surpresa quando abriu a mesma e encontrou o baixinho que não falava  consigo desde o incidente da sala de pintura, o que já fazia uma semana.

 

—Baekhyun...?

 

—É a minha mãe. Os médicos ligaram... Ela não passa de hoje. —Chanyeol só pode puxá-lo para dentro, sentando-o na própria cama.

 

—Como assim...?

 

—Ela já tava doente, Chanyeol! Há muito tempo! —Ele se levantou e começou a caminhar transtornado. —Já faz meses! Eu... Você tinha razão...

 

—Baekhyun...

 

—Ela me mandou uma carta. —Ele puxou um envelope de dentro do seu casaco. —Não tive coragem de abrir... —Os olhos se fixaram no chão, enquanto os dedos brincavam com o papel do envelope. —Eu não tenho mais ninguém... —Antes que ele pudesse terminar Chanyeol puxou-o para que se sentasse, sentando ao seu lado.

 

—Eu disse que quero te ajudar e isso continua valendo. Eu posso saber pouco sobre você, mas eu sei que você é uma boa pessoa. Abra, se ela fez questão de te mandar isso é porque tem algo importante a te dizer. —Sorriu para o outro, vendo-o assentir e começar a abrir a carta, tomando a mesma nas mãos rapidamente.

 

Se afastou um pouco para dar privacidade ao menor que em pouco tempo já tinha os olhos cheio de lágrimas, que ele deixou escorrer sem pudor. Quando terminou de ler, apertou a carta contra o peito e soluçou baixinho, recebendo um afago em suas costas, com a intenção de lhe acalmar.

 

—Ela me ama, Chanyeol! Ela... Ela me pediu desculpas e... —Soluçou novamente, cobrindo os olhos dessa vez. Em resposta recebeu apenas um abraço compreensivo pois Chanyel podia dizer que ele estava dividido entre a felicidade de ser amado e a tristeza profunda de perde-la.

 

Chanyeol ficaria ao seu lado.

 

(...)

 

Conforme o diagnóstico, a mãe de Baekhyun veio a falecer na manhã seguinte, deixando o pequeno completamente devastado. Atendendo ao pedido da mesma, o Byun não foi ao seu enterro, contentando-se em chorar quase por um dia inteiro em seu quarto, agarrado a carta que ela havia escrito e enviado junto com uma foto dos dois. Chanyeol o acompanhou em seu luto, trazendo-lhe comida e cuidando do menor sempre que podia.

 

Quando a dor se tornou suportável, Chanyeol fez Baekhyun prometer que iria voltar a frequentar as aulas de pintura, lhe dando a garantia de que sempre lhe levaria o material, pois o pequeno mesmo aceitando que não era culpado continuava sem querer ter nada relacionado a desenho ou pintura a seu alcance, com medo de ter mais alguma visão. O Park não aprovava completamente a decisão, mas não lhe forçaria a nada.

 

Chanyeol não tomaria decisão nenhuma por Baekhyun.

 

Os dois se tornariam ainda mais próximos quando Chanyeol fizesse questão de almoçar com o garoto que ele viria a descobrir que era mais velho alguns meses, lançando olhares mal-encarados para todos que tencionavam cochichar algo maldoso sobre o Byun, fazendo uso de sua altura e de seu porte físico que não era nada para se desdenhar. Passariam então a compartilhar fones de ouvido, trocar cadernos e estudar juntos, perdendo a concentração rapidamente quando Chanyeol fizesse alguma palhaçada aleatória.

 

Baekhyun levaria o mais novo aos seus lugares secretos, os dois correndo dos monitores que os seguiam nervosos com suas lanternas piscando em suas costas, e eles contariam muitas estrelas dividindo sonhos e histórias que as vezes terminavam em lágrimas, as vezes em risadas. Se descobririam competitivos quando virassem madrugadas no vídeo-game do mais velho, xingando-se e fazendo apostas descabidas.

 

Chanyeol seria o primeiro a perceber o coração bater mais rápido quando entrelaçavam os dedos sem motivo, entendendo rapidamente o que estava acontecendo a cada nova fórmula de física que Baekhyun tinha que explicar cinco vezes ao invés de três pois o Park prestava mais atenção na pintinha graciosa que ele tinha na mão.

 

—Não acredito que vou ter que te explicar de novo, Chanyeol! É a quarta vez!

 

—Me desculpe...

 

Eu estava prestando atenção em você.”

 

O primeiro beijo dos dois aconteceria em um dia de neve quando, após uma guerra de bola de neve, Baekhyun estivesse congelando sem poder usar seu cachecol que havia se encharcado. O maior ia então enrolar os dois em seu cachecol, o que deixaria os rostos muito próximos e os corações extremamente agitados, batendo com rapidez. Dividiriam um beijo desajeitado, o primeiro dos dois, com os dentes batendo enquanto soltavam fumacinha. Separariam os lábios quando estivessem ambos sem fôlego, Chanyeol puxando o mais velho para um abraço por pura vergonha de suas bochechas rubras enquanto o menor sorria, sentindo plenamente feliz em muitos anos. Tudo parecia bem.

 

Até não estar mais.

 

(...)

 

Por um deslize Baekhyun seria novamente atirado ao abismo. Após uma tarde normal de estudos compartilhada um único material seria deixado sobre a mesa. O lápis de Chanyeol. Que começaria a terceira guerra mundial.

 

Naquela noite Chanyeol havia ido dormir cedo por estar cansado mas acordara rapidamente ao ouvir batidas insistentes e seu nome ser chamado. Ele reconhecia aquela voz, novamente. Ao abrir, Baekhyun o abraçara imediatamente, apertando-o como se ele fosse sumir a qualquer momento, soluçando alto e com sofreguidão, desconsolado como o episódio da sala de pintura.

 

—Baek? Me diz o que houve! —Pediu, já sendo consumido pela própria preocupação.

 

—V-Visão! —O Park respirou fundo. Mesmo depois de inúmeras conversas ele não lidava bem com aquilo.

 

—Me conta, amor, não fica assim. Eu tô aqui, lembra?

 

—Não vai estar! —Ele praticamente gritou e Chanyeol viu-se confuso, sem saber como ajudar.

 

—Como assim...?

 

—EU DESENHEI VOCÊ, CHANYEOL!

 

Tudo pareceu parar.

Chanyeol não sabia o que fazer.

 

Desprovido da própria capacidade de raciocinar, Chanyeol só pode abraçá-lo ainda mais forte, apertando-o contra si. Estava com medo mas Baekhyun precisava de si. Com a calma que ainda lhe restava o puxou para cama onde se deitaram dormindo abraçados como se tudo pudesse acabar da noite pro dia.

 

As lágrimas que molhavam o travesseiro pertenciam aos dois.

 

Alguns meses depois daquela noite Chanyeol seria diagnosticado com um tumor maligno cujo tratamento era imensamente caro, de forma que o pai do Park não era capaz de custear.

 

—Baek...

 

—Tem que ter um jeito! A gente não pode aceitar isso. —Baekhyun andava de um lado ao outro do quarto, gesticulando nervoso.

 

—Você sabe que não há...

 

—Você me disse que podia mudar as coisas! Que a sua mãe mudou por causa da visão dela! Como pode me dizer agora que não tem jeito? —Gritou com Chanyeol, vendo-o se encolher.

 

—Me desculpe... —Falou baixinho e Baekhyun respirou fundo, se aproximando e tomando a mão dele entre a sua, apertando firme.

 

—Não desista. Eu não vou aceitar isso sem lutar. Não vou! Não vou deixar você morrer, Chanyeol! —Estava decidido e nada tiraria aquilo de sua cabeça. —Preciso ir agora. Fique bem, meu amor. Eu te amo. —Beijou-lhe os lábios com doçura antes de sair porta afora.

 

 

Cuidaria de Chanyeol.

 

Por uma semana inteira Baekhyun foi de clínica em clínica da cidade, fazendo perguntas e buscando alternativas, usando o nome influente de seu pai, que era um artista renomado, como moeda de barganha e confiança. Sem sucesso, procurou então outras cidades nas redondezas, chegando até mesmo a dormir em estações de trem por ficar muitas horas esperando.

 

Foi quando ele já sentia suas forças se esgotando que apareceu a luz do fim do túnel. Por coincidência, o médico oncologista do hospital vizinho era um grande amigo de seu pai e após ouvir a história se mostrara muitíssimo comovido pelos esforços do garoto em ajudar o amigo que não tinha condições, concordando em trata-lo e cuidarem das finanças depois.

 

Baekhyun não podia estar mais feliz.

 

Correu eufórico para fora do local após praticamente ajoelhar em agradecimento, discando os números que ele sabia de cor no celular. Tinha que falar para Chanyeol! Sequer prestava atenção nas coisas ao seu redor e quando o mais novo atendeu quase não conseguiu controlar o tom de sua própria voz animada.

 

—Eu consegui! Você vai ficar bom! Você vai se tratar!

 

O que?

 

—Eu consegui, Chanyeol! Um hospital na cidade vizinha, vai dar tudo certo agora! —Ele gritava animado, correndo em direção a estação de trem. Queria vê-lo, beijá-lo e abraça-lo, pois sua felicidade não cabia em si.

 

E por isso não ouviu a buzina.

 

Quando percebeu o que acontecia era tarde demais e ele teve seu corpo atirado para longe, perdendo a consciência ao bater a cabeça com força no chão, um corte profundo se abrindo e espalhando o sangue pelo asfalto..

 

O que houve? Você está aí? Baek? Eu ouvi uma buzina, tá tudo bem? —Recebeu apenas o silêncio como resposta. —Amor, não brinca assim, por favor... Eu não vou aguentar! Baekhyun? BAEKHYUN?

 

A voz de Chanyeol podia ser ouvida pelo telefone.

 

(...)

 

Chanyeol fitou Baekhyun pela milésima vez. Os olhos cerrados, os cabelos agora mais compridos, o rosto bonito levemente tampado por todas aquelas máquinas que ainda mantinham-no vivo. Já fazia um ano. Um ano desde que seus cabelos estavam curtos e ele tomava uma infinidade de remédios, que pouco a pouco faziam no melhorar. Já o mais velho mantinha-se estável, sem melhora nem piora, em coma induzido desde o acidente que quase terminara lhe matando.

 

Ninguém esperava.

 

Também como pudera, se o desenho que Baekhyun fizera de si mesmo acabara perdido embaixo de sua cama, numa artimanha do destino que parecia decidido a brincar de forma cruel com os dois? Chanyeol as vezes se perguntava se aquilo valia a pena quando o menor parecia tão longe de si mesmo que estivesse ali, tão perto. Todos os dias, quando conversava com ele imaginava-o respondendo e rindo, exibindo seu sorriso retangular que ele amava tanto.

 

—Oi amor. —Sentou-se em sua poltrona cativa, puxando-a mais para perto para que pudesse se apoiar melhor, apertando a mãozinha na sua. —Me desculpe por ontem, eu fiquei enjoado demais e não consegui sair de casa... —A quimioterapia não era fácil, também. —Quando você volta? Eu sinto sua falta, sabia? Me sinto sozinho sem ter ninguém pra conversar. —Riu amargurado.

 

Como de praxe, acompanhou-o até o último minuto do horário de visita, sendo chamado de volta a realidade pela enfermeira que lhe estendia um lenço de papel, para que pudesse secar as lágrimas que ele nem tinha percebido que estavam ali. Agradeceu com um menear de cabeça educado, secando o rosto antes de se levantar, abaixando para deixar um beijo estalado na testa branquinha.

 

—Amanhã eu volto, Baek, eu prometo!

 

E você, amanhã volta pra mim?”

 

A porta já estava se fechando quando algo mudou passando desapercebido por ambos, enfermeira e Chanyeol. Baekhyun continuava deitado, os olhos fechados, o corpo exatamente na mesma posição, como se nada tivesse mudado ou acontecido.
 

A única diferença era um leve movimentar de dedos.


Notas Finais


Espero que apesar de tudo tenha ficado bom.
Muito obrigada a você que leu

[talvez tenhamos um extra, não me matem pelo final]


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