História Vida de aparência - Liguei o "foda-se"

Pov: Annabeth

Eu saí da sala chorando, mas não era de verdade, na realidade eu estava bem feliz com o meu termino do namoro, e precisava agradecer ao Jason por ter sido tão convincente. Tive que parecer arrasada, para meu pai não continuar colocando a culpa em mim, ele sempre arrumava um jeito de fazer isso.

Concordar com ele sobre a questão de um parceiro ideal pra mim não foi um dos meus melhores momentos, mas eu já tinha dezessete anos, e não pretendia ficar sobre as asas de meu pai até o fim da vida.

Subi até meu quarto, e fiquei saboreando meu primeiro passo a liberdade, poucos minutos depois alguém bate a porta, não estava muito empolgada para abrir.

- Annie, é o Percy abre a porta, vai! - A voz do Percy ecoou, e eu rapidamente levantei.

Fui até a porta e abri, dando passagem para ele. Olhei pelos corredores para ter certeza que meu pai não estaria vendo, e fechei a porta rapidamente.

- O que está fazendo aqui? – Perguntei em um chiado baixo – Se meu pai pegar você aqui...

- Qual é a sua, hem? – Ele me interrompeu

- Han? – Fiz uma careta

- Eu ouvi a conversa, eu ouvi o que seu pai te disse... E você concordou – Ele mantinha uma expressão difícil de decifrar.

- Acho que entendeu um pouco errado – Eu gaguejei

- Serio? – Ele me fitou irritado – Não parecia isso

- Não é o que parece – Eu tentei acalmá-lo

- Acho que é exatamente o que parece – Ele suspirou – Isso explica tudo. Seu jeito de agir, a forma que se esconde quando está comigo na escola, o olhar sempre atento pra saber quem está vendo a gente conversar... Isso tudo porque não sou alguém o suficiente o bastante pro seu mundinho perfeito e mimado

- Não acredito que está dizendo isso – Eu disse surpresa – Percy, precisa acreditar em mim.

- Eu ouvi você concordando, Annie – Ele disse com uma expressão de dor

- Eu estava tentando convencer ele – Eu tentava desesperadamente me justificar, mas os olhos envidraçados e cheios de desapontamento do Percy, me fizeram entender que não adiantaria. Ele não ia acreditar em mim.

- Parece que eu me precipitei ao imaginar que por trás dessa mascara arrogante, existia alguém legal. – Ele se afastou de mim – Achei que... Por um momento eu achei que... – Ele suspirou e fitou o chão – Esquece...

- Percy – Eu puxei seu braço antes dele sair

- Eu sou apenas o empregado da casa, o funcionário do seu pai – Ele puxou o braço de volta – Não sou alguém pro seu nível.

Ele desviou os olhos de mim, e saiu do quarto. Fiquei petrificada sem saber o que fazer depois de ouvir tudo aquilo. Ele não acredita em mim, mas porque acreditaria? Eu nunca fiz nada pra provar o contrario de tudo que meu pai disse, eu sempre fugia do Percy, sempre me certificava de que estávamos sozinhos quando conversávamos, eu sempre nos escondia das pessoas, eu sempre o tratava mal, então... Porque ele acreditaria que isso era tudo pra agradar meu pai, se em nenhum momento, eu fui sincera com ele sobre esse assunto?

Me joguei na cama, em choque demais pra começar a chorar, apenas deitei e engoli seco o buraco que eu me encontrava. O buraco que eu cavei, e que me joguei dentro, será que algum dia, eu conseguiria sair dali?

***

Na manhã seguinte eu acordei fiz minha higiene matinal, visto um vestido qualquer e vou tomar café da manhã, mas não encontro Percy, que provavelmente já deveria ter ido embora. Mesmo com coração pesado, fico feliz por não ter encontrado com ele, depois do momento de ontem, seria constrangedor demais.

- Que roupa bonita, Annabeth - Meu pai diz entrando na cozinha.

- Obrigada pai - Dou um meio sorriso um pouco forçado e saio de casa.

Chegando à escola estaciono o carro e vou para o campus, no caminho encontro minhas amigas e relato a elas o ocorrido.

- Isso é péssimo – Piper comenta

- Você tentou explicar? – Thalia perguntou

- Eu tentei, as palavras fugiam, mas eu tentei – Disse desanimada

A professora ainda não tinha chegado na sala, e todos estavam em um emaranhado de conversas. Vejo o Percy entrar, e logo em seguida a Rachel atrás dele, os dois pareciam estar compartilhando algo engraçado pois sorriam, e acabaram sentando juntos.

- Ótimo! – Eu disse fechando a cara – Agora tenho que suportar isso

Minhas amigas seguiram meu olhar, e viram a cena nojenta do Percy e Rachel na maior empolgação de conversa.

- Ele é assim – Thalia disse de mau humor – Ele sempre foi assim, sempre desconta suas frustrações em diversão com garotas.

- E a Rachel é alvo fácil – Piper lembrou – Ela quer ficar com o Percy, faz tempo.

- Vocês não estão ajudando – Eu reclamei

- Desculpa – Piper se encolheu.

- Para de olhar – Thalia me deu um tapa no ombro – Quanto mais você olha, mas ela provoca.

Eu desviei o olhar assim que Thalia falou, mas era impossível resistir a algumas passadas durante a aula. Fiquei tão irritada, que não tinha animo nem para continuar na escola.

- Acho que vou pra casa – Resmunguei a uma das minhas amigas

- Vamos comer algo no refeitório – Thalia me puxou

- Vão filar aula? – Piper perguntou surpresa

- Faltam apenas vinte minutos pra o horário do intervalo, isso não vai matar ninguém não – Thalia revirou os olhos.

Nós três disfarçadamente saímos da sala e fomos ao refeitório. Eu apenas comprei um suco, não queria comer nada, estava deprimida demais para isso.

- Estou um caco – Bati a testa sobre a mesa – O gelo do Percy está me matando

- Você passou a vida dando gelo nele, então não reclama – Thalia me lembrou

- Obrigada Thalia, você é uma grande amiga – Eu resmunguei.

Alguns minutos depois, o sinal bateu e o refeitório começou a encher. O assunto das garotas já era sobre algo que eu nem estava por dentro, pois minha mente só pairava no meu fundo do poço emocional.

- Ai meu Deus – Ouvi a Piper resmungar, ela encarava um ponto cego entre o corredor que dava acesso a saída do refeitório

- O que...? – Perguntei curiosa

- Annie, não... – Ela me segurou meu ombro para que eu não tivesse acesso a visão

Piper encarou Thalia, que ficou mais branca do que já era.

- O que deu em vocês? – Me desfiz dos braços da Piper, e segui o local para onde ela tinha olhado antes de se espantar.

Meu chão caiu. Eu me deparei com a cena mais desagradável que poderia ver em todo século, o Percy BEIJANDO a Rachel. Não pude acreditar no que estava vendo, meu coração se apertou eu quis chorar então quando o beijo acabou, por questão de coincidência, ou um destino maligno os nossos olhos se encontraram.

Pov Percy

Sim, eu estava revoltado, magoado e com raiva. Eu queria poder nunca mais voltar para aquela casa, queria nunca mais ter que olhar na cara daquela patricinha mimada, mas infelizmente, eu precisava do emprego, e infelizmente eu ainda teria que me bater com ela diversas vezes.

Nunca fui de ceder investidas de nenhuma garota da escola, mas hoje eu estava deprimido demais para me esforçar a não aceitar, eu precisava de consolo, e a Rachel sempre estava disposta a oferecer isso. Passei a aula inteira tentando tirar a Annabeth da cabeça forçando uma conversa que nem eu mesmo entendia. Rachel só sabia falar de si mesma, e de se engrandecer, eu fingia entender, fingia rir e fingia gostar.

Percebi que a Annabeth e as garotas saíram mais cedo da aula, coisa que eu nunca via ela fazer. Meu olhar acabou se prendendo nela, sem que ele tivesse percebido

- Pra onde está olhando? – Perguntou Rachel

- Pra lugar nenhum – Disse disfarçadamente

Eu não sei se havia feito a coisa certa, talvez ela realmente precisasse se explicar melhor, talvez eu estivesse sendo irracional demais.

O sinal bateu, e saímos da sala. Na verdade eu fui o ultimo a sair, estava preso em pensamentos e discussão mental sobre o que fazer, e o que não fazer. Assim que sai fui surpreendido por um puxão da Rachel.

- Opa! – Eu ri um pouco nervoso quando ela me pressionou na parede.

- Você está com a cabeça no ar hoje – Ela sorriu

- Um pouco – Admiti. Olhei para os lados – Estamos em um acesso fácil, das pessoas do refeitório nos ver.

- Idai? – Ela perguntou ainda com um sorriso sobre os lábios

- Talvez a gente precise ir, a um lugar reservado, já que você pretende continuar... Com a mão boba – Eu encarei sua mão sobre o cós da minha calça.

- O lugar reservado fica pra outro dia, hoje só quero um beijo – Ela sorriu e avançou sobre meu rosto.

Foi um beijo longo e demorado, e não me importei de corresponder, eu estava com o botãozinho “foda-se” ligado, desde ontem a noite. A única coisa que eu queria era poder tirar a Annabeth da minha cabeça a qualquer custo.

Assim que o beijo acabou, dei um sorriso sem graça, e me virei para encarar o refeitório. Acabei paralisado e quase sem ar ao me deparar com os pares de olhos cinzas atordoados e cheios de dor, me encarando.

Annabeth se levantou rapidamente, e saiu correndo do refeitório. As garotas foram logo atrás, tive vontade de correr também, de ir até ela, mas eu apenas respirei. Não faço parte dos padrões dela, não faço parte dos padrões dela, eu tinha que me lembrar disso, e por mais que aqueles olhos me mostrassem o quanto ela tinha sofrido ao ver meu beijo com a Rachel, eu não podia ceder... Eu não deveria ceder.

- Algum problema? – Rachel perguntou

- Não – Disse rispidamente – Nenhum...

Engoli meu seco e amargo orgulho, suspirei e respirei profundamente, enterrei qualquer vestígio de dor, e segui em frente.

Pov Annabeth

Eu não consegui ficar na escola, inventei uma dor de cabeça e vim para casa, chorei o resto do dia inteiro, dormi entre soluços do meu choro, e despertei com o barulho da grande porta da entrada se fechando.

Me levanto e vou ao espelho, eu estava horrível, mas eu tinha que encarar isso. Comprimo toda raiva existente em mim, e desço as escadas em fúria. Percy ainda estava dando pequenos passos nos corredores, quando precisou me encarar, ele fez uma cara surpresa ao me ver, e desviou o olhar.

- Oi! – Foi a única coisa que ele disse.

- Você não vale nada – Eu disse um pouco alterada

- Como? – Percy riu em ironia

- Você beijou a Rachel... A Rachel – Eu indaguei como se aquilo fosse o fim do mundo, e era.

- Acho que isso não desrespeita a você – Ele deu um ar de riso e tentou sair

- Você fala de mim, mas não é nada diferente... Você possui tantas mascaras que é difícil dizer quais delas ainda pode-se ser chamada de verdadeira – Eu sussurrei em um tom que ele pudesse ouvir.

Percy virou-se para mim novamente com um olhar de fúria.

- Não sou eu quem preciso exigir padrões para ficar com alguém, então não fale sobre mascaras, quando você possui uma mala inteira delas, dentro do seu maldito mundinho mimado.- Percy fala com uma calma sarcástica, que me fez criar um frio na barriga.

- VOCÊ NÃO SABE DE NADA - Falei totalmente alterada dessa vez

Percy riu

- Annabeth, você é só mais uma garota frígida e superficial que só liga pra status social e dinheiro. Se liga! As pessoas só ficam com você por pena - Ele cospe aquelas palavras na minha cara

- Você acha que eu sou MESMO assim não é? Também pudera, lerdo desse jeito. – Eu ri ironicamente - Você não passa de um descarado que conta a popularidade por quantas garotas pega por dia. Se toca, Percy, elas só ficam com você porque te acham bonitinho, porque sua popularidade, aumenta a delas. – Devolvi o troco na mesma moeda.

- Acabou? – Ele perguntou. Eu não respondi – Vou estar no meu quarto, senhorita Chase, caso precise de algo.

Percy deu uma reverencia como se estivesse atendendo uma rainha, algo provocativo que só ele sabia fazer muito bem. Eu quase explodi de raiva com aquela provocação.

- Vai pro inferno, seu idiota! – Eu gritei pra ele, e sai batendo pé e cuspindo fogo por onde eu passava.

Ódio, ainda seria pouco pra o que eu sentia. Eu queria poder ter enfiado a mão na cara dele, e ter socado até minha raiva passar. Idiota, mesquinho, insensível, descarado e um filho da mãe, miserável... Era isso que ele era, e eu... Eu era uma burra por amá-lo tanto, uma burra.