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História Vigilantes - Busca e salvamento


Escrita por: VerenaSantori

Notas do Autor


Olá!

Esse capítulo tá imperdível!

Boa leitura!

Capítulo 11 - Busca e salvamento


Fanfic / Fanfiction Vigilantes - Busca e salvamento

Saltei da cama, tropecei nos próprios pés e caí, mas a dor que senti não foi nada comparado ao desespero que me dominou depois que percebi qual era a verdade oculta por trás dos muros da mansão do prefeito. Vesti uma calça e mergulhei os braços pelo moletom preto pendurado na cadeira. Tinha que correr.

Passava da meia-noite quando cheguei ao conhecido depósito de ferro. Como era de se esperar, Suri e Uriel estavam sentadas em volta de uma pequena fogueira, ambas seguravam copos descartáveis de café com as mãos. Assim que me viram se levantaram, alertas.

— Preciso que saibam a verdade. Só assim poderão me ajudar — falei de uma vez e logo percebi meu erro. Caí de joelhos, tonto e sem oxigenação.

Me recuperei perto do fogo. Suri me deu seu copo e percebi que não era café que ela bebia e sim algum tipo de chá adocicado que eu nunca havia tomado na vida. Bebi mais uns goles antes de recomeçar a falar.

Expliquei tudo a elas, contei cada detalhe, cada sensação. As duas me observaram durante toda a história, em silêncio. No fim, Uriel se levantou e Suri soltou um suspiro baixo e preocupado.

— O que faremos? Não podemos simplesmente invadir por uma janela! — rebateu Uriel um tanto aborrecida.

— Temos que fazer alguma coisa! — bradei impaciente — Ela ta correndo perigo lá!

— E faremos, Noah. Mas precisamos ser cuidadosos — murmurou Suri me olhando diretamente nos olhos.

— Tem que haver uma forma de entrar sem sermos notados... — resmungou Uriel andando de um lado para o outro com os braços cruzados.

De repente a solução me surgiu tão natural quanto a chuva.

— O baile! É assim que vamos entrar, é claro! — passei as mãos pelos cabelos sem acreditar na minha sorte.

Suri e Uriel me olharam sem entender, então lhes contei sobre o convite que havia recebido e que, convenientemente, se estendera a elas também. Era a oportunidade perfeita para entrarmos e arrancarmos Alaizabel da cova daqueles lobos sem sermos expostos.

— Isso me parece perigoso, Noah — comentou Suri com preocupação. — Esse convite é muito suspeito. Temo que já tenham nos descoberto a essa altura e que essa seja somente uma forma de nos terem todos sob o mesmo teto.

— Não acredito nisso — rebati — se já soubessem sobre a nossa existência ou que estamos interferindo nos planos deles já saberíamos.

— Estariam nos caçando — complementou Uriel, no que concordei — A essa hora uma enxurrada de possuídos estariam batendo a nossa porta.

— Suri — me coloquei diante dela e olhei dentro de seus olhos — Por favor... É nossa única chance. Precisamos tirar Alaizabel daquela casa — supliquei.

— Tudo bem — concluiu ela respirando fundo.

 

Meu coração ficou mais tranquilo depois que organizamos um plano quase infalível para o resgate de minha amiga. Se seguíssemos cada passo cuidadosamente calculado por Suri, conseguiríamos tirar Alaizabel da mansão e sair sem sermos notados.

 

************************************************

 

Na noite do baile passei o dia inquieto. Fiquei trancado no quarto repassando o plano mentalmente e no fim da tarde já havia feito tanto disso que suspeitei ter derretido meu cérebro. Como combinado, saí com minha mãe por volta das seis e quarenta e cinco quando Gertrudes, amiga dela, passou para nos buscar em sua velha caminhonete amarela.

A noite estava gelada e senti meu corpo tremendo sob o terno. O jardim da mansão fora todo ornamentado com luzes brancas que desciam pelos galhos das árvores e um longo tapete preto fora estendido sobre as escadas. Os manobristas uniformizados recebiam os convidados e conduziam seus carros para um estacionamento montado no terreno ao lado do casarão. Estaria feliz de estar ali se não fosse o fato do prefeito ser o líder de uma seita maluca disposta a trazer o mal para o mundo.

— Vamos entrar?

Pisquei algumas vezes voltando a mim. Quase havia me esquecido de minha mãe parada ao meu lado com Gertrudes, as duas esperando alguma reação de minha parte.

— Ah, podem ir na frente, estou esperando umas amigas — murmurei timidamente. Nunca havia conversado sobre garotas com minha mãe, tampouco ela sabia que eu tinha amigas, de fato.

— Que amigas? — questionou ela estreitando os olhos.

— Você está namorando, Noazinho? — Dona Gertrudes arregalou os olhos negros.

— Não! — tratei de responder, o rosto queimando de vergonha — São apenas amigas que... — engasguei e tossi, sem saber como mudar de assunto — O padre Thomas pediu-me para trazê-las e....

Uma bela limusine preta parou silenciosamente diante das escadas da mansão e cortou o assunto. Todos os olhares se voltaram para ela assim que uma bela moça saiu pela porta detrás. Seu lindo vestido de busto bordado cintilava sob as luzes ao redor e a longa saia rosa-chá arrastou-se pelo chão enquanto ela subia até nós. Assim que ganhou distância, uma outra tomou seu lugar. Era ainda mais deslumbrante que a primeira, e mais ousada também. Seu vestido longo era negro como a noite, acinturando todo o seu corpo esguio. As mandas compridas eram transparentes, deixando a mostra sua pele alva. O decote em coração valorizava o alto de seus seios torneados e um bordado atrevido de flores negras descia de seu ombro até sua coxa, abrindo-se numa fenda lateral que revelava suas pernas.

— Boa noite.

Eu jurava ter ouvido a voz de Suri, mas não tinha muita certeza. Meu cérebro havia parado de trabalhar assim que meus olhos encontraram uma Uriel que eu nunca poderia imaginar. Evidentemente que ela era uma jovem bonita, mas àquela noite ela estava sensacional.

— Como vai, Noah? — ela perguntou assim que se juntou a irmã, um risinho satisfeito nos lábios vermelhos. Reparei que colocara lentes de contato para camuflar as cores desiguais de seus olhos.

— Oi... — eu engoli seco e realmente não consegui pensar em nada melhor para dizer.

— Essas são suas amigas, querido? — perguntou-me Dona Gertrudes tão perplexa quanto eu e mamãe, em silêncio ao meu lado. Eu sabia que ela também estava processando as imagens a sua frente.

— Isso — voltei a mim com uma sacudidela da cabeça — Mãe, Dona Gertrudes, essas são Suri e...

— Olivia — interrompeu-me Uriel, estendendo a mão para cumprimentar as duas senhoras. Ela inclinou a cabeça para o lado e sorriu de um jeito tão meigo que me fez pensar se aquela era a mesma Uriel detestável que eu conhecia. — É um prazer conhecê-las.

Fiquei em silêncio enquanto as mulheres conversavam entre si. Dona Gertrudes ficou muito interessada em saber onde as meninas haviam feito seus vestidos. Como boa costureira que era, aquela informação seria de grande valia. Mamãe ainda estava quieta, mas pela forma rápida com a qual seus olhos se mexiam nas órbitas, com certeza havia muita coisa girando dentro de sua cabecinha.

— Vamos entrar? — o rosto de Uriel iluminou-se num sorriso amável. Ele entrelaçou seu braço ao meu e puxou-me discretamente para dentro.

Entramos no enorme saguão, agora muito diferente daquele do domingo. Garçons bem vestidos cruzavam o espaço de um lado ao outro servindo canapés e champanhe. As pessoas se amontoavam na pista de dança e deslizavam pelo piso ao som do melhor Jazz que se já ouviu. Havia luz, cheiro de flores, conversas altas e risadas, muitas risadas. Um palco fora instalado junto da escadaria central e de lá uma banda animava sua platéia.

— Por que Olivia? — indaguei cutucando as costelas de Uriel com discrição. Estava muito consciente de que mamãe caminhava bem atrás de mim e dava para sentir seus olhos de Águia em minha nuca.

— Uriel não é um nome muito comum, não concorda? — a moça virou-se para mim e sorriu, seus cabelos caiam em cachos grandes sobre um de seus ombros e a franja fora presa de lado. Com certeza ela não era a mesma garota arredia com a qual eu me acostumara. Ali ela era outra. Era Olivia.

Percebi poucos segundos depois de entrarmos que eu não era o único impressionado com as irmãs nefilins. O baile inteiro parou para observá-las. As mulheres lançavam-lhes olhares de inveja e ciúmes. Os homens as devoravam em silêncio e não era difícil ler suas expressões de desejo, de fascínio.

Talvez eu fosse um cara sortudo afinal. Estava na presença de duas lindas moças e apenas eu sabia a verdade sobre elas.

— Noah... — Uriel sibilou ainda sorrindo — Sua mãe...

Voltei a mim de repente. Ainda estava submerso no estupor delicioso que era ser invejado por todos os cavalheiros do baile. Mas estava ali por um único motivo e não poderia me desfocar dele.

— Mamãe, não é melhor procurar o padre Thomas? — indaguei voltando-me para ela com ar natural. — Ele deve estar procurando pela comissão, certo?

— Ah, bem... É...

— É isso mesmo, Noah! — foi Dona Gertrudes que retomou a conversa. Sem que minha mãe visse, ela lançou-me uma piscadinha cúmplice — Vamos, Eleanor, vamos procurar o padre!

Suspirei e forcei e um sorriso ainda mais cúmplice para nossa vizinha. Dona Gertrudes enganchou-se ao braço de minha mãe e sem dar-lhe tempo para retrucar, arrastou-a pela multidão. Quando desapareceram de vista, soltei-me de Uriel.

— Bem, vamos seguir com o que planejamos — murmurou Suri, os olhos brilhando em tons de verde-água, muito parecidos com os da irmã. — Vocês ficam na festa. Você precisa ser notado, Noah. Enquanto isso vou ver o que consigo encontrar.

— Precisamos achar Alaizabel — respondi um tanto tenso.

— E acharemos, mas não podemos levantar suspeitas — rebateu Suri afastando a franja loira da vista. Seu cabelo fora trançado ao longo das costas, dando-lhe um lindo ar de princesa. — Farei o que puder.

— Ótimo. Vamos dançar — Uriel agarrou a manga de meu paletó e me puxou para o centro do baile.

Estava morto de vergonha. Argumentei que não sabia dançar, mas Uriel me ignorou solenemente. Apenas acertou minha mão em sua cintura e fez o resto. Em minutos estávamos dançando.

— Viu? Não é tão difícil... — ela sorriu maldosa enquanto flutuávamos junto dos convidados.

Reparei no prefeito e no padre, que conversam amistosamente a um canto. Eles pareciam não ter nos notado, mas era bom saber que o prefeito estava em público, onde podíamos vigiá-lo. Entretanto, nem sinal de Alaizabel no baile.

— Seja mais natural e não chame tanta atenção — reagiu Uriel — você está muito tenso...

— É difícil não chamar a atenção estando com você — resmunguei girando-a e puxando-a de volta. Podia sentir cada pessoa naquele salão olhando para mim.

— Isso foi um elogio? — Uriel ergueu uma sobrancelha incrédula.

Desliguei-me do prefeito e a girei novamente, puxando-a para mim. Ela desprendeu a mão da minha e entrelaçou os braços sobre meus ombros. Eu segurei-a pela cintura fina e ficamos cara a cara.

— É estranho... — murmurei enquanto nos balançávamos juntos.

— O quê?

— Não ver seus olhos — respondi com sinceridade. — Parece que essa não é você.

— Essa não sou eu — disse ela com ar natural.

— Tem razão — suspirei — E acho que prefiro Uriel à Olivia, por mais estranho que possa parecer.

— É, eu também.

Nós rimos. Gargalhamos. Estávamos tão próximos, nossos rostos, nossas bocas. As pontas dos dedos dela tocaram a pele de minha nuca. Fiquei impressionado com o efeito arrebatador que aquele toque quase imperceptível teve sobre mim. Senti minhas mãos se fechando ao redor de sua cintura, numa tentativa boba de encontrar seu corpo, de tê-la de forma mais íntima e mais vívida. Tudo em mim ansiava para tê-la, para chegar até ela. Eu não queria apenas segurá-la naquela dança idiota. Eu queria alcançar sua alma.

— Venham comigo, preciso de ajuda.

Foi Suri quem quebrou o encanto. Me desligar de Uriel foi como mergulhar num abismo escuro, frio e vazio. Toda vez que me desconectava dela, me sentia daquela forma. Estava consciente de nossa missão, consciente de que deveria salvar Alaizabel, pelo menos parte minha estava. Mas a outra parte gritava para que tudo fosse para o inferno só para que eu pudesse dançar com Uriel mais um pouco.

— Foi uma... ótima dança, campeão — Uriel sussurrou em meu ouvido antes de deixarmos a pista. Por sua expressão agradada, eu sabia que novamente ela conseguira me deixar aos seus pés.

Seguimos Suri por entre os convidados. Atravessamos o salão e mergulhamos num corredor estreito que levava aos cômodos dos empregados e a cozinha.

— Achei essa passagem que dá no segundo andar — murmurou ela tateando a parede do corredor e logo seus dedos agarraram uma fenda na madeira que revelou-se uma porta. A escadaria sinuosa levava para cima.

Subimos em silêncio e demos no corredor de cima, dos quartos.

— Eu segui suas orientações, Noah — disse ela enquanto avançávamos até a última porta.

— Espera, é o quarto de Alaizabel — interrompi, empurrando a porta.

 Avancei para dentro do cômodo, mas estava escuro e vazio. Nem sinal da acamada Alaizabel.

— Não estou gostando disso... — falei mais para mim do que para as meninas.

Quando as mãos de Suri agarraram as maçanetas das portas do escritório, senti meu sangue gelar nas veias e minha cabeça girar. Apoiei-me na parede e fechei os olhos. Foi como se cada lembrança daquele lugar ferroasse meu corpo dolorosamente.

— Noah — Uriel apertou minha mão, os olhos arregalados — Não é hora de passar mal. Temos que ir!

Fiz que sim com a cabeça. Ela tinha razão, mas a sensação era inevitável. Respirei fundo e segui as duas para dentro do escritório deserto.

Avistei um corpo desacordado não muito longe da escrivaninha. Suri lançou-me um olhar vazio e eu soube que não deveria me preocupar com aquilo naquele instante. Avançamos então pela porta secreta e descemos para a sombria cripta abaixo da mansão.

Meu coração subiu na garganta quando a vi. Quase não tive forças para me manter de pé. Meu corpo encheu-se de ódio de repente, um ódio puro, violento, mortal.

— Precisamos tirá-la daqui — reagiu Suri aproximando-se do altar de pedra onde Alaizabel jazia adormecida. Seus punhos e tornozelos estavam amarrados e seu vestido outrora branco e perfumado, estava sujo e respingado de sangue.

Corri até ela, sem coragem para olhar em seu rosto. Desafivelei a primeira amarra sob o silêncio das outras duas, mas antes que conseguisse desafivelar as demais, fui arremessado no chão.

Você não tem o direito! Você não tem o direito de fazer isso!

Uma mulher histérica gritava e se debatia em cima de mim. Ligeira, ela passou a faca que empunhava em meu braço e o sangue jorrou sobre nós. Com espanto percebi que aquela era a mãe de Alaizabel, a esposa do prefeito.

Arrastei-me para longe quando Uriel agarrou a mulher pelos cabelos e bateu sua cabeça contra o altar de pedra. A esposa do prefeito gemeu de dor e caiu no chão, o rosto sangrando.

— Você não tem o direito... — gemeu ela desorientada — Ela serve... A um propósito maior... Não pode... Não pode levá-la...

A mulher apagou e só restou o silêncio.

— Temos que ser rápidos. Logo aparecerá gente da Seita aqui para se certificar de que está tudo bem — falou Uriel desafivelando as amarras dos pés de Alaizabel.

— Como vamos sair? — perguntei me recuperando. — Há um baile acontecendo lá em cima. Não conseguiremos sair com ela.

— Vocês tirem ela daqui. Eu cuido da nossa saída — Suri subiu as escadas da cripta e desapareceu.

— Será que ela vai ficar bem? — perguntei voltando a desamarrar Alaizabel e lançando a sua mãe desmaiada no chão um olhar penoso.

— Vai sobreviver. Mas vai precisar de uma plástica no nariz — zombou Uriel descendo as pernas de minha amiga do altar.

De súbito ouvimos a festa parar no andar de cima. Os convidados lançaram interjeições de surpresa no ar, mas nós não sabíamos o que estava acontecendo.

— Vamos embora! As luzes voltarão logo!

A cabeça de Suri surgiu nas escadas e não perdemos tempo com perguntas. Seguimos a garota para o andar de cima, Alaizabel adormecida em meus braços. Descemos as escadas secretas e saímos novamente no corredor do primeiro andar. Esperamos antes de sair, dava para ouvir os seguranças passando em grupo, falando sobre o blackout.

— Vamos rápido... — sussurrou Suri — por aqui...

Deixamos as escadas secretas e entramos pela primeira porta do corredor, que dava acesso a uma extensa sala de jogos. Corremos até a janela mais próxima e com a ajuda de Uriel, Suri quebrou o trinco e conseguimos pular para o jardim. Avançamos pelo meio da mata até o estacionamento e mais além dele, perto da estrada, o Fiat azul aguardava para a conclusão da nossa fuga.

— Essa foi a coisa mais louca que eu já fiz — falei assim que o Fiat ganhou a estrada e conseguimos ver pelo retrovisor as luzes da mansão se acenderem como num passe de mágicas.

— Viver perigosamente... — respondeu Uriel no banco do carona — É assim que se vive.


Notas Finais


Esse foi tenso, né? rs

Espero que tenham gostado.

Até o próximo!


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