História Village Singsong - Capítulo Único

Havia uma lenda sobre uma vila perdida no meio de uma floresta a leste da Coréia do Sul. Ninguém sabia qual floresta ou muito menos o nome da cidade, pelo menos não o nome verdadeiro, porém, a chamavam de “A Vila das Bonecas Cantantes”. Segundo essa lenda, há muitos e muitos anos, a vila fora devastada pela guerra e pela doença. Crianças morreram junto com a felicidade do povo que, agora, morria de depressão. Porém, um jovem, com os poucos recursos e a tecnologia nula da época, conseguiu criar bonecas como robôs que cantavam para entreter os habitantes, e em poucos dias, a vila voltava a ter vida. Contudo, felicidade não dura para sempre e a vila foi bombardeada por mais uma guerra e junto com ela, as bonecas se deformaram e obtiveram uma aparência assustadora, que espantou seus moradores. Mas uma única boneca, essa caracterizada como um menino pálido de olhos cor de âmbar e cabelos compridos que iam até seus ombros, se manteve, cantando para atrair pessoas, queria fazer o que sabia fazer, dar-lhes um motivo para sorrir, para se divertir, mas todos que iam até ele, iam com intenções maldosas, querendo destruí-lo por sua aparência e por sua voz que era constantemente confundida com algo sobrenatural que chamavam andarilhos para a morte. O boneco, que não tinha nome, foi perdendo sua vontade de viver com o passar dos anos, a raiva dos humanos se acumulava dentro de si, o tempo solitário só piorava ainda mais seu corpo, suas roupas agora pareciam farrapos e ninguém mais aparecia na vila abandonada. Porém, em uma noite fria e estrelada, enquanto o boneco andava pelas ruas estreitas e empoeiradas, uma figura encapuzada apareceu ao longe, e capengando em suas pernas finas, cambaleou para cada vez mais perto até perceber que era uma criança, com não mais que oito anos, tão maltrapilha quanto o próprio boneco, sujo e com marcas de lágrimas escorridas pelo rosto.

— Você gostaria de me ouvir cantar? - Apesar da raiva que o boneco sentia dos humanos, seu sistema interno era programado para entretê-los.

— Quero.. - A criança respondeu chorosa, olhando para o boneco com grandes olhos marejados, uma expressão de um típico cachorro abandonado.
 

Depois de tantos anos andando abandonado, sem sentir absolutamente nada além de raiva e rancor, sem um sentido, o boneco sorriu e cantou como nunca antes havia cantado. Agora tinha alguém perto de si, alguém que mais tarde descobriria que tinha sido abandonado pelos próprios pais, alguém que cujo nome era JongHyun e que tinha lhe dado um nome. TaeMin.

一一一

Anos haviam se passado desde que JongHyun encontrou TaeMin na misteriosa vila, a qual foi descoberto por ele que não passava de uma vila abandonada e que não tinha nada de sobrenatural. Anos haviam se passado e agora TaeMin nutria um amor enorme pelo, agora aparentemente mais velho, garoto, algo que ninguém saberia descrever, algo como um poder que lhe deu uma nova aparência, algo mais real, mais humano, e não juntas de madeira. JongHyun lhe fez novas roupas, cobriu uma parte de seu rosto como um curativo pela falta do olho há muito perdido.

— TaeMin! Eu sei que já cresci.. Agora sou um homem.. Na verdade até pareço mais velho que você, mas.. Será que você pode cantar para que eu possa dormir? - E com um brilho no olho falso, o boneco o fechava e começava a cantar uma melodia lenta que era carregada pelo vento e se perdia entre as árvores.

Por fim, eles eram felizes. Realmente felizes. Mas como toda felicidade tem algo que a atrapalhe no caminho, no caso dos dois, foi uma doença que atingiu JongHyun. Na verdade, nenhum dos dois sabia explicar o que realmente ele tinha. JongHyun sentia fortes dores no peito e falta de ar, não conseguia respirar, como se alguém apertasse seu pescoço, e isso o deixava cada vez mais fraco, não conseguia fazer esforços e se cansava rapidamente.

— JongHyun-ssi.. Eu te protegerei de qualquer coisa que tente te machucar. - TaeMin falou em uma noite enquanto se deitavam no meio de um pátio aberto, dali conseguiam ver tantas estrelas que mal conseguiam contar.

— Você não pode me proteger do que tem dentro de mim.. - Um sorriso entristecido surgiu no rosto magro do mais baixo, o qual invés de olhar as estrelas, as olhava no reflexo dos olhos de vidro do boneco ao seu lado.

一一一

Em uma determinada noite, homens surgiram das árvores, armados e gritando, perguntando aos berros onde o boneco se escondia. Tinham ouvido a lenda distorcida que havia sido criada na cidade e agora queriam destruir o ser sobrenatural que tanto lhe amedrontou, temendo pela vida de seus respectivos filhos. JongHyun e TaeMin tentaram se esconder deles, mas com o moreno doente do jeito que tava e o boneco extremamente preocupado, não tinham como simplesmente correr para um esconderijo, e logo acabaram encurralados dentro de uma casa sem telhado.

A felicidade é algo que dura pouco. Há alguns dias, JongHyun tinha feito uma máscara de madeira que lhe cobria todo o rosto para usar vez ou outra, aquilo protegia a respiração, ou talvez apenas ajudasse um pouco. Bem pouco. Não fortuitamente, ele usava a máscara naquele dia. “Bang” foi o som que TaeMin ouviu, mas que JongHyun sentiu. Rindo e se vangloriando de que tinham matado o boneco do mal, saíram dali e deixaram o mais novo caído no chão empoeirado junto com TaeMin, o qual estava ajoelhado ao seu lado sem poder chorar. Sem saber o que fazer.

— Y-yah.. O que fazer? O que fazer?! Você.. V-você está sangrando muito! JongHyun-ssi! - Apesar de ser apenas um boneco, o poder que se instalou dentro do antigo corpo de madeira tinha feito, não só que TaeMin se regenerasse com uma aparência mais humana, mas que também pudesse ter sentimentos como felicidade e tristeza.

— TaeMin.. Não quero que fique mais sozinho.. Cante para mim até o fim..

— O que você está falando? Eu não vou.. Eu não vou deixar você morrer!

— Me prometa que irá me encontrar assim que eu partir.. - Ele sabia que TaeMin era apenas um boneco, mas para si, no que realmente acreditava, era que iriam de fato se encontrar novamente. Ele e o primeiro e último grande amor de sua vida.

— Eu.. Prometo..

Dezesseis horas se passaram desde que TaeMin começou a cantar. Dezesseis horas se passaram enquanto JongHyun recebia um carinho viciante nas mechas escuras do cabelo e lutava para manter os olhos abertos, admirando, não só a bela voz que o boneco tinha, mas a aparência encantadora dele. Enfim um último suspiro e seus olhos se desfocaram, sendo a última coisa que viu fora o belo rosto pálido e olho cor de âmbar do boneco denominado como TaeMin, o qual, assim que viu que seu mestre, seu protetor, seu cuidador, seu amor, tinha partido, rasgou a blusa que usava e abriu um pequeno espaço que tinha no próprio peito, o qual ainda era feito de madeira.

— Obrigado por me ensinar o que é a verdadeira felicidade.. Eu estou indo ao seu encontro, JongHyun-ssi.

E enquanto olhava fixamente para os olhos desfocados do mais novo deitado no próprio colo, o boneco arrancou de dentro de si, uma pedra em tom verde-água brilhante, a qual perdeu seu brilho aos poucos, assim como a vida do boneco que viveu os últimos vinte anos exclusivamente para uma coisa..

Amar.