História Villainy - Capítulo 5 - Que a Batalha Comece

 

Às vezes não se pode confiar nem mesmo nas pessoas mais próximas. Era isso que Midoriya pensava. Ele tinha sérios problemas para acreditar em outras pessoas, essa foi uma das razões que dificultou seu relacionamento com outras crianças. O que era estranho, pois geralmente, crianças têm tendência em confiar demais, porém, ele não era assim. Curioso, mas cauteloso, diria.  

 

E agora, estava começando a achar que não podia nem mesmo confiar em seu chefe. Havia algo errado ali. Por que caramba ele mandaria logo Toga para lhe seguir? Ele sabia do jeito espalhafatoso da menina, e sabia mais ainda que havia uma grande possibilidade de Todoroki desconfiar, botando o plano em risco.  

 

Por que seu chefe faria isso...?  

 

Questioná-lo-ia outro dia, pois estava nervoso com a reação de Shouto. Precisava saber se estava tudo bem, se ele desconfiara de algo. Ou pior! Precisava saber se ele iria ignorá-lo.  

 

Por isso, assim que chegou em casa após seguir um caminho diferente do de Toga, correu para seu quarto e abriu o aplicativo de mensagens do celular.  

 

>Midoriya Izuku: Oi, Todoroki  

>Midoriya Izuku: Desculpe por minha amiga, eu não sabia que ela viria  

>Midoriya Izuku: Espero que possamos sair de novo, eu me diverti muito 

 

Demorou meia hora para obter uma resposta, porém, felizmente foi algo positivo.  

 

>Todoroki: Não tem problema.  

>Todoroki: E vamos marcar um dia, posso te apresentar aos meus colegas também. 

>Midoriya Izuku: Ah, interação social  

>Midoriya Izuku: Vou logo dizendo que sou bem quieto hahah  

>Midoriya Izuku: Mas, tudo bem 

>Todoroki: Pra mim, você só prefere assuntos mais interessantes.  

>Todoroki: Eu mesmo quase não converso nas aulas ou no intervalo. Silêncio é melhor. 

>Midoriya Izuku: Exatamente!  

>Midoriya Izuku: Não gosto muito de pessoas falando demais, porque nem sempre consigo acompanhar a conversa  

>Midoriya Izuku: Na verdade, eu costumava falar muito com a minha mãe, acho que é porque ela me ouvia  

>Midoriya Izuku: Então, se somos amigos, já sabe né  

>Midoriya Izuku: Ahahah desculpe 

>Todoroki: Da mesma forma que eu confio em você, espero que confie em mim também : )  

>Todoroki: Meu pai quer que eu vá treinar, desculpe.  

Todoroki está digitando . . .  

Todoroki está offline. 

 

Midoriya estalou a língua. Queria continuar conversando, se aproximar mais, porém, havia descoberto algo importante. Aparentemente, tinha algo podre sobre o grande Endeavor. Algo que provavelmente ninguém sabia, e que Midoriya tentaria descobrir com o tempo. Ele se sentiu um pouco estranho quando Todoroki afirmou confiar em si, mas decidiu ignorar. 

 

•×•×•×• 

 

Pouco mais de uma hora depois, quando estava pronto para dormir, recebeu uma mensagem em seu celular, de um número desconhecido e sem identificação de DDD.  

 

>???: Não machuque Todoroki Shouto, apenas lhe digo isso.  

Você não pode responder essa conversa antes de aceitar a solicitação de ???.  

[ ACEITAR ] [ RECUSAR ] 

 

[ X ] ACEITAR  

 

>Midoriya Izuku: Quem é?  

>Midoriya Izuku: Nem sei do que você tá falando 

>Espúrio: Você sabe, Midoriya.  

>Espúrio: Não se faça de falso comigo, sem fingimentos. 

>Midoriya Izuku: Primeiro, eu não te conheço  

>Midoriya Izuku: Segundo, como conseguiu meu número?  

>Midoriya Izuku: Você é algum tipo de maníaco, por acaso? 

>Espúrio: Se não me conhece, como eu sei que está se preparando para a segunda individualidade?  

>Espúrio: Midoriya, não vamos brincar assim.  

>Espúrio: AFO ficaria decepcionado com essa atuação. 

>Midoriya Izuku: Dabi?  

>Midoriya Izuku: Ah, pelo amor de Deus  

>Midoriya Izuku: Por que não vem falar essas coisas na minha cara?  

>Midoriya Izuku: Você não tem nada a ver com o que eu faço, estou seguindo ordens e não pretendo descumpri-las só porque você pediu 

 

Ao ouvir a porta da sala sendo aberta, pôde ver Toga sendo acompanhada por Dabi, ambos encararam Midoriya por alguns segundos, porém a menina foi a primeira a correr para abraçá-lo.  

 

— Izuku-kun, temos novas ordens, vamos encontrar com o AFO, então viemos te buscar!  

 

— Ela insistiu, se for torturar alguém, que seja ela.  

 

Midoriya já estava pronto para dar um sermão em Dabi, porém apenas viu o telefone vibrar. O pegou e arqueou as sobrancelhas.  

 

>Espúrio: Que a batalha comece. 

 

O esverdeado ignorou a mensagem, deixando o celular em cima da cama. Afastou-se de Toga, apenas para encará-los secamente, avaliando suas expressões, tentando descobrir algo.  

 

— O que foi, amorzinho? — Himiko cruzou os braços. —Já pedi desculpas sobre ter atrapalhado você e seu namoradinho.  

 

— Vocês... — Midoriya até hesitou, mas decidiu perguntar. — Receberam alguma mensagem estranha? 

 

— Só um anúncio de cuecas aquecedoras do Endeavor, nada além disso. — Dabi respondeu com certo desinteresse.  

 

— Se você mandar mensagens estranhas pra mim, eu vou adorar! — Toga exclamou.  

 

— Algo está acontecendo, Midoriya? — O mais alto resolveu perguntar. 

 

— Não, nada. — Midoriya estreitou os olhos, por fim, permitiu-se suspirar. — Como podem ver, eu já ia dormir, então me esperem aqui. Já volto.  

 

O rapaz, então, caminhou até seu quarto e trancou a porta. Ele já não tinha ideia do que estava acontecendo. Se aquele tal de "Espúrio" não era Dabi, quem poderia ser? Ele não conseguia pensar em outro alguém que soubesse tanto sobre a Aliança. Ou melhor, sobre Midoriya.  

 

Sem delongas, ele se vestiu costumeiramente, pondo uma calça social, blusa branca de mangas compridas e um colete preto por cima. Pôs também suas luvas e sapatos sociais. Agora sim, estava apresentável. Saiu do cômodo, vendo Dabi sentado no sofá e Toga, em uma cadeira.  

 

— Vamos. 

 

•×•×•×•  

 

All for One os chamou para uma reunião e nem ao menos compareceu, isso deixou Midoriya irritado. O que deveria fazer? Por que o chamar para algo que não iria comparecer? Apenas recebeu um papel informando que deveria ir rápido com o plano.  

 

>Todoroki: Deku, vai fazer algo a tarde? Preciso comprar algumas coisas para o acampamento, quer me acompanhar? Pensei em conversarmos um pouco, é seu aniversário, não é? Apitou no meu calendário, está no seu perfil de Mensagem. 

>Midoriya Izuku: Eita, quantas perguntas  

>Midoriya Izuku: Sim, é meu aniversário e não tenho nada para fazer hoje  

>Midoriya Izuku: Então vai ser bom acompanhar você  

>Midoriya Izuku: Que horas? 

>Todoroki: Isso soou stalker?  

>Todoroki: Desculpe.  

>Todoroki: 15:00 está bom pra você? 

>Midoriya Izuku: Está ótimo  

>Midoriya Izuku: Não se preocupe, não soou stalker ahuaha  

>Midoriya Izuku: É bom saber que alguém se importa com meu aniversário  

 

Midoriya se pegou em um pequeno momento de felicidade, com um sorriso sutil no rosto que mal durou um segundo. Por que sorria? Por que estava feliz com aquela situação? Izuku não assimilava o que sentia no instante, pois sua mente se tornou uma perfeita confusão no momento que Todoroki mandara mensagem.  

 

>Midoriya Izuku: Enfim, às 15:00 te encontro lá 

>Todoroki: As 15:00 então, vou desligar.  

>Todoroki: Até 

 

O esverdeado não se deu ao trabalho de lhe enviar uma resposta. Todoroki sairia mesmo, então não havia necessidade. Midoriya olhou para o relógio, percebendo que ainda eram 13:20 e ainda não comera nada.  

 

Sinceramente? Estava completamente sem fome. Analisou diversas vezes as mensagens trocadas com o "Espúrio" e não fazia a mínima ideia de quem fosse. Até pensou em ser o próprio All for One, porém, isso era ridículo de se imaginar! O principal suspeito era Dabi, mas ele não demonstrou qualquer sinal de que fosse o responsável também.  

 

Então, quem poderia ser? Só o tempo traria a resposta.  

 

Com um pouco de preguiça, Midoriya se levantou da cadeira — rabiscava algumas anotações no caderno — e logo fora atrás de algo para comer. Afinal, era seu aniversário e ele sairia com Todoroki. 

 

Acabou por tomar um milkshake e comer uma batata frita, então seguiu até o shopping. Aproximou-se de um dos bancos e sentou para esperar Todoroki, que não demorou nem 10 minutos.  

 

— Feliz... Aniversário. — Shouto tirou de trás das costas, lírios feitos totalmente de gelo. Seus dedos estavam um pouco ralados e ainda sim, ele estava sorrindo de forma gentil. 

 

Midoriya piscou algumas vezes, rápido e incredulamente. Alternou o olhar entre as flores e o rapaz de pé à sua frente. Analisou desde o pequeno vapor gelado saindo das plantas, até os arranhados nas mãos grossas que as seguravam.  

 

— Todoroki... — Izuku tinha os olhos arregalados, uma feição surpresa. Levou suas mãos até as flores e as segurou. Era incrível que, por mais que fossem feitas de gelo, elas não queimavam sua pele por conta do frio. — Isso... é tão lindo. Eu nem sei o que dizer... muito obrigado! 

 

— Como você pediu lírios da última vez, achei que fosse sua flor preferida. — Shouto riu ao ver a expressão do garoto. — Não está tão perfeito, mas espero que goste. 

 

— Está perfeito! — Midoriya abriu o maior sorriso que já havia dado, então levantou-se do banco. — Eu adorei! 

 

— É tão bom te ver sorrindo, quase sempre está sério. — Shouto riu baixo e o puxou pelo braço, então pegou o celular e apontou para a câmera. — Continue sorrindo até ouvir o 'click!'.  

 

Todoroki riu internamente ao ver a expressão atrapalhada do garoto, então bateu a foto e mostrou para o esverdeado.  

 

— Ficou ótima, quer que eu mande pra você? — Disse ao mostrar a imagem no visor do aparelho. 

 

— Uhum. — Midoriya assentiu um tanto tímido, abaixando o olhar para encarar as flores. — Elas não vão "derreter"? 

 

— A ideia é que não derretam por três meses, mas ainda não controlo muito bem... 

 

— Não tem problema. — Ele abriu novamente um sorriso, o encarando. — Eu realmente gostei muito.  

 

E o pior de tudo, é que era verdade. Midoriya não estava mentindo ao dizer que adorara ter ganhado aquilo.  

 

— Mas, então, vamos fazer suas compras? — Perguntou, respirando fundo. 

 

— Vamos, sabe onde encontro essas coisas? — Murmurou ao entregar a lista ao garoto. 

 

•×•×•×•  

 

Passaram aproximadamente três horas perambulando pelo shopping e escolhendo os produtos da lista. Dentre eles, havia dois tubos de protetor solar e repelente. Midoriya logo viu que ele precisaria mesmo, branco como uma parede do jeito que era, poderia até se queimar se ficasse tempo demais exposto ao Sol. Ele achou aquilo meio contraditório, pois Shouto dominava o fogo em seu lado esquerdo. Mas decidiu deixar pra lá.  

 

Também havia um óculos escuro, um boné azul e talvez mais algumas coisas que Midoriya sequer fazia questão de se lembrar, pois agora sua atenção estava voltada à tabela de preços de um restaurante. Era impressionante como o tempo simplesmente voara, e olha que eles só estavam comprando coisas. Claro, também conversaram pelo caminho e Midoriya aproveitou para comprar um gorro cinza para si. Gostava daquelas coisas.  

 

Porém, três horas era muito tempo, e ele poderia estar, quem sabe, em casa lendo todos aqueles livros grossos e entediantes. Mas por que de repente a ideia de fazer compras no shopping lhe soou tão agradável? E por que sentia bem fazendo coisas "normais"? Talvez houvesse passado tempo demais pensando enquanto encarava o cardápio do local, que apenas saiu de seus devaneios quando Todoroki, sentado à sua frente, pigarreou.  

 

— Ah, desculpa! — Riu meio sem graça. — Eu vou pedir macarronada. 

 

— Quero macarrão com molho de peixe. — Shouto disse para a garçonete e logo depois falou o que Midoriya havia pedido. O bicolor bateu gentilmente a pontinha dos dedos na mesa e apoiou o rosto na destra. — Está quente hoje. 

 

— Você acha? — Midoriya fez o mesmo gesto que ele, mas apoiando o rosto na mão esquerda. — Eu gosto desse horário porque começa a esfriar um pouco. 

 

— Eu gosto de chuva, é bom pra pensar. — Sorriu fraco e bocejou.  

 

Ouviu um barulhinho vindo do celular e abriu a mensagem, então tombou o rosto para o lado ao ver uma mensagem de Bakugou. Apenas ignorou a mensagem e encarou a televisão, vendo os vários crimes sendo noticiados.  

 

— Isso me entristece. 

 

— É a realidade. — Midoriya suspirou e também olhou para o noticiário. — Coisas assim sempre irão acontecer, e infelizmente os heróis não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Só fico preocupado porque tudo se tornou mais violento depois que All Might sumiu.  

 

O que ele dissera não fora uma mentira, então não soou forçado. Ele estava preocupado sim, pois muitos vilões iriam se intrometer em seu caminho e só teria dor de cabeça. Além de que havia uma possibilidade de outro grupo criminal se unir para arranjar briga com todos.  

 

Mas Midoriya sabia que Todoroki interpretaria sua frase de outra forma. 

 

O rapaz assentiu de forma calma e após alguns minutos, a garçonete deixou os pedidos, foi só Shouto e Midoriya relaxarem para que um rapaz de cabelos esverdeados adentrasse no local. Ele caminhou até o caixa e tocou naa caixa registradora, fazendo a menina recuar um pouco.  

 

— Todoroki Shouto! Venha conosco, ou seremos obrigados a pegar essas pessoas como reféns e...  

 

O homem mal pode responder, todo o seu corpo foi congelado. O bicolor desviou sua atenção para a tal pessoa e tombou o rosto para o lado.  

 

— Oh, desculpe. Me descontrolei um pouco. 

 

— Eu vou chamar a polícia! — A moça do caixa exclamou e correu para dentro, indo pegar o telefone.  

 

As pessoas que estavam sentadas se agitaram, aplaudindo o feito de Todoroki e agradecendo pelo filho de Endeavor estar ali. Já Midoriya sorria de canto enquanto encarava o bandido que se encontrava congelado.  

 

Se o conhecia? Bem, só um ladrãozinho com o poder de esticar seus membros como elástico, mas não poderia comentar sobre isso, não é?  

 

Entretanto, a maior questão era: o que ele, sozinho, ameaçando Todoroki Shouto, estava fazendo ali, roubando? Por acaso era maluco? Algo estava errado, alguma peça não se encaixava. Algo que havia deixado passar, talvez? Não sabia.  

 

— Que susto. — O esverdeado pôs uma mão sobre o peito e respirou fundo. — Se eu não estivesse com tanta fome, iria deixar meu prato aqui e ir embora. 

 

Todoroki encarou Midoriya por alguns instantes e arqueou a sobrancelha. Àquilo foi um pouco falso, não era a reação de alguém que estava assustado. Porém, ele apenas riu e comeu um pouco de seu macarrão.  

 

— E esse é só mais um dia de trabalho. 

 

•×•×•×•  

 

Pouco depois a polícia chegou e levou aquele ladrão para fora dali. Também não demorou para que Midoriya e Todoroki saíssem do shopping, pois o clima ficara um tanto pesado após o ocorrido.  

 

Eles caminhavam pela calçada, um ao lado do outro, em silêncio. Midoriya estava mais quieto que o normal, pensando em todos e quaisquer motivos que levaram aquele homem até ali. E qual seria seu envolvimento com Shouto? Seria uma organização também pensando em usá-lo em alguma espécie de plano?  

 

Ele não sabia e não conseguia achar um motivo plausível. 

 

Sentiu a mão do rapaz pousar em sua cabeça e isso o assustou, encarou sua moradia e quase conteve um grunhido ao ver que andara até ali sem nem ao menos perceber.  

 

— Está entregue, até depois, Izuku.  

 

Shouto se afastou, então caminhou até a rua debaixo e pegou o telefone, abriu a página dos contatos e mordeu o lábio antes de digitar.  

 

>Todoroki: Bakugou, me encontre em 5min em frente à UA.  

 

Não esperou uma resposta, apenas desligou o celular.