História Vinte e duas e meia de um domingo - Capítulo Único

 Vinte e duas e meia de um domingo.

Outro domingo.

Deve ter quase vinte minutos que saí da sala e fui para a parte de cima da minha casa, ficar sozinha. À noite, a temperatura sempre cai ficando como um ótimo momento para se enfiar debaixo das cobertas e assistir algo na televisão ou celular.

Mas o quintal parecia estar tão convidativo que não pude recusar. É a segunda vez que subo hoje.

Segunda vez que prefiro a companhia de ninguém à de minha família, e sempre pelo mesmo motivo. Por que estou preferindo ficar em uma área que venta muito, mesmo não estando sentido frio do que com eles?

Nunca falo nada, estou sempre ignorando para não ficar magoada e quando decido falar sou egoísta demais. Por que se preocupa em perguntar se não se preocupa em ouvir a resposta? Perguntar não ofende, porém nem querer ouvir a resposta sim.

Me pediu para dar meu espaço de conforto para outra pessoa mesmo sabendo que eu só tenho aquilo. Não ouviu minha resposta e deu todo pra ela.

E a outra se faz de surda e só olha pro próprio umbigo, seus problemas são sempre mais importantes do que o de alguém que nunca demonstra ter.

Mesmo sabendo muito bem todos os problemas dela, nem faz questão de parar um segundo sequer pra tentar entender ou pelo menos respeitar. E ainda exige ser poupada quando é repreendida pelo óbvio, chama ou trata como egoísta a pessoa que nunca fala nada.

Grita como se ela tivesse feito a pior coisa no mundo apenas porque ela pediu silêncio depois de horas calada e tendo que atuar suas ladainhas repetidas inúmeras vezes. Agora já faz meia hora que estou debaixo dos ventos, sem roupa adequada, chorando e ouvindo a voz alta cheia de egocentrismo.

Ao menos fale mais baixo para que eu não escute, ela nem deve ter pensado nisso por amar ouvir sua própria voz falando alto. Calar a boca, eu não sou ingênua o bastante para achar que ela irá fazer isso, então fale baixo para que eu possa ficar sozinha e quieta pela primeira vez neste mês.

São vinte e três horas, e eu ainda não consigo estar sozinha sem ter que te ouvir se achar a injustiçada e a pior pessoa no mundo em questão de se sentir mal.

Vinte e três horas e quatro minutos de um domingo.

O mesmo domingo.

Meu rosto está meio melado por causa das lágrimas, minhas pernas dormentes e marcadas pela mesma posição em que fique. Agora eu estou com frio!

E eu quanhei de volta meu pequeno espaço.