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História Virtual - Único


Escrita por: minatozakie

Notas do Autor


é só um desabafo. nao disse de quem rsrsrs
vocês vão encontrar muitas vezes as palavras "eu sabia", sinto muito por isso.

Capítulo 1 - Único


Fazia mais de sete semanas. Sete semanas que você havia me mandado sua última mensagem. Sete semanas que você sumiu, sem dar aviso algum, apenas dizendo que me amava. Sete semanas que eu mandava-lhe mensagens dia e noite, e você não as recebia. Sete semanas que suas fotos de capa e perfil do Facebook foram trocadas por uma imagem negra, com escrita branca dizendo claramente para que todos pudessem ver: “Luto”.
Sete semanas que você fora encontrada balançando de um lado para o outro, presa por uma corda em seu pescoço, na janela do seu quarto. Seus pais me contataram. Disseram que você tinha tomado todos seus antidepressivos de uma única vez, e depois se jogou da janela. Eles sequer ouviram. Sequer ouviram a filha gritando por socorro, clamando para que, pelo menos quem convivia consigo a ajudasse; percebesse que tinha problemas. Mas vocês não ouviram. E essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já escutei.
Eu sabia.
Sabia que você sofria de depressão, era anoréxica e tinha transtorno de personalidade limítrofe. Sabia que você tinha ataques de pânico, não conseguia conversar com as pessoas que não convivia. Sabia que você tinha crises de ansiedade, que vomitava quando tinha que ir à um evento, que suava frio e tremia todas as vezes que iria fazer alguma apresentação da escola.
Eu sabia, pois você me contava tudo.
Você contava quando se mutilava, contava quando enfiava o dedo na garganta para vomitar suas refeições, contava quando sua mente ficava tão confusa que não sabia quem era, ou porque estava se cortando, ou porque estava colocando o dedo na boca para vomitar. Afinal, você odiava sentir dores.
Sabia quando você chorava de noite, baixinho, para não acordar sua mãe, pois ela se preocuparia. E você não gostava que as pessoas se preocupassem com você. Eu sabia quando você lembrava-se do seu padrasto, que lhe batia todos os dias por motivos fúteis, e você mesmo assim aguentou tudo por oito anos, sem poder gritar para o mundo que sofria abuso tanto verbal quanto físico, você não podia fazer nada, pois não sabia que existiam leis contra isso. Então aguentou tudo calada.
Eu sabia que você começara a sofrer nova demais. Pais separados desde o primeiro ano de idade, família dividida. Sofrendo nas mãos do padrasto desconhecido, que começara a bater em ti com apenas sete anos. Sabia o quanto você chorava por sua aparência, o quanto te depreciavam em casa. Lembro-me quando digitava chorando, eu sabia, pois você demorava a mandar mensagem.
“Ele me bateu mais uma vez. Falou mal da minha aparência. Disse que sou patricinha. Gritou comigo, pois eu não fiz o que ele disse. Mandou-me desfazer meu bico emburrado. Eu odeio minha boca. Odeio-o. Odeio tudo.”
Eu sabia que depois, quando você sumia por horas, era porque estava chorando, se mutilando. Você esperava sua mãe e seu padrasto dormir, colocava um travesseiro na boca, e gritava. Eu sabia. Você me contava tudo.
Sabia o quanto você sofreu com o preconceito da sua mãe, quando contou a ela que gostava – também – de garotas. Você chorou. Chorou muito. Mas depois de uma semana, já estava conversando animadamente comigo. Sua mãe havia lhe aceitado. Eu nunca vira você tão feliz.
Eu sabia o quanto você havia gritado, chorado, esperneado com sua mãe e seu padrasto, quando tiraram seus dois cães de você. Sabia o quanto você os amava – eles eram sua única salvação, não eram? Eram o que lhe mantinha viva. Eram o que lhe dava forças para continuar. Você me contava tudo. Contara que, mesmo superando, ainda chorava noites e mais noites, lágrimas e mais lágrimas, pois sentia falta dos seus bichinhos.
Sabia o quanto você odiava sua aparência. Sabia por que pintava tanto o cabelo, de diversas cores diferentes – você queria parecer, no mínimo, satisfeita consigo mesma. Você me contava tudo. Sabia o quanto você odiava sua boca, pois era grande demais. O quanto odiava seus seios, pois eram pequenos. O quanto odiava suas coxas, pois eram grandes e chamativas demais. O quanto odiava sua barriga, pois era gorda. A única coisa que gostava em si era seus olhos, e nem isso foi lhe concebido sem ser uma doença. Você tinha glaucoma. Poderia ficar cega. Você chorava todas as noites por causa da sua aparência e, também, do seu azar.
Mas...
Eu sabia que você não queria isso. Sabia que você não era isso.
Sabia que você era saudável, que sorria sempre na escola, que adorava brincar com os meninos, porque eles eram mais legais que as garotas. Sabia que você adorava bater um papo animado com sua mãe, tirar fotos com ela. Sabia que você gostaria de viver até os cem, duzentos anos, para poder apreciar todas as coisas bonitas que a natureza nos dá. Sabia que você tinha a mente mais impressionante que eu já conhecera. Você tinha seus próprios princípios, e eles eram magníficos. Pensava diferente de todos, agia diferente de todos. Isso te tornava especial. Eu sabia porque você nunca respondia “eu também te amo”, quando eu dizia que lhe amava.
“Amores são diferentes. Ninguém ama igual. Como posso dizer ‘eu também te amo’, se não sei como você me ama? Não sei a intensidade que me amas? Isso seria injusto. Por isso digo que te amo. Amo-te do meu jeito, e você me ama do seu.”
Eu sabia. Sabia o quanto era incrível.
Eu sabia o quanto você gostava de mim. Mais do que uma simples amiga.
Mas eu não sabia, meu amor, porque você chegara a esse ponto. Estava tudo tão ótimo entre nós! Em poucos dias seria seu aniversário, eu já havia combinado com sua mãe, eu lhe faria uma surpresa, iria te visitar. Eu ficaria sete dias. Sete. Sete sempre fora seu número da sorte, não? Talvez tenha sido por isso que resolvera se suicidar no dia sete do mês sete. Você acreditava em paraíso e inferno. Sei que fez isso no seu dia da sorte, pois queria ir ao paraíso. Você me contava tudo.
E eu também.

Contava-lhe dia e noite como estavam sendo meus dias depois que você sumira. Contava-lhe como estava a escola, minha família, meus gatinhos, a vida dos nossos cantores favoritos, eu contava tudo a você. Eu chorei. Ainda choro. Você faz falta, meu amor, como faz. Eu te amo e você sabe muito bem disso. As ligações, áudios, mensagens, vídeos, tudo, tudo fazia falta agora. Eu me lembrava de cada sorriso, lágrima, bochechas vermelhas e olhares que você me dava. Só para mim. Você era só minha, dizia isso sempre, e eu ficava tão feliz por isso!
Sei que está num lugar melhor. Sei que está livre de dor. Sei que está sorrindo, dia e noite. Sei que agora está feliz. Sei que continua me amando.
Afinal, você me conta tudo.


Notas Finais


o final foi horrível, eu não gostei muito.
para quem não entendeu, a história vai pulando de tempos em tempos, como se em cada "eu sabia" fosse um tempo diferente. ficou meio confuso, mas é só um desabafo, então se voce leu até o fim, obrigada.


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