História Virtual Love - Trabalho, Se Conhecendo

Hoje é quarta feira, acordei 6:30 como sempre, com a cara amassada, cobertor no chão e sem camisa.

Vesti meu uniforme, tentei arrumar isso que eu chamo de cabelo, tomei um copo de refrigerante - me deixa acordado - e fui para a escola. 

Hoje eu vou ter que encontrar com a Julia/Púrpura7. Sério, eu já estava desconfiando que era ela, ela é igualzinha na foto, menos pelo sorriso, que é mais bonito pessoalmente - tecnicamente ela sorriu para o Legolas, deve gostar de cachorros -... e também por aquela "dica", tenho certeza que ela fez aquilo só para zuar minha cara. Ela é realmente fria, sabe, sem amigos e quieta no canto dela, quando ela me disse isso pelo jogo eu achei que era brincadeira, mas agora, putz, ela chega a ser pior do que eu, deve ter acontecido alguma coisa com ela no passado. Ela também é briguenta, minha versão feminina. 

Eu sou a mesma coisa que disse na internet, não tenho vergonha e nem motivos para não contar a verdade para o primeiro trouxa que aparece, eu realmente não ligo, tipo, e daí? Não vai acontecer nada mesmo. 

[...] 

Cheguei na escola, o Lucas veio me encher o saco. 

- Ooooeee Japa - Sério, parece viado. 

- Oi. 

- Oi japa. - Prefiro o Thomas, não por ele ser mais calado, mas por me entender melhor que o Lucas. O Lucas é muito superficial. 

A Julia estava escutando música, como sempre, passei do lado dela, olhando para baixo, ela olhou de canto se olho. Alias, eu tenho que olhar para baixo até quando estamos em pé, ela é muito menor que eu. 

[...] 

Intervalo chegou, sai com o Lucas e o Thomas como sempre, ela saiu sozinha, escutando música, estava com um Fandangos na mão. Ela é sempre meio sozinha. Não que eu repare nela, saí de mim, mas é que eu a considero uma amiga, mesmo que pela internet, e fico meio mal por não chegar na cara dela e gritar "ooooi Juuulia" - na verdade eu nunca faria isso, falaria normalmente, no máximo um abraço -. 

Ela sempre fica sentada no sol, com os fones olhando o nada, às vezes ela leva uns mangás, e ela também estava com aquela blusa da Tropa de Exploração, que por sinal é muito foda.

Todos voltaram para a sala, a Julia foi a última entrar, ela sempre se arrasta por aí, calmamente, como se não tivesse nada no caminho, na verdade não tem, esses seres aqui são, na minha opinião, lixo entulhado. 

[...] 

- Gente, vou passar um trabalho em grupo, valendo 8 pontos, é uma maquete de uma floresta e um trabalho manoescrito sobre a floresta: vegetação, animais e etc... Passarei os detalhes na lousa. - Disse a professora de geografia.

Sério, que maravilha, trabalho em grupo, e maquete? Que bosta em.

- Vou sortear os grupos , serão 4 pessoas em cada. - Começou o inferno - Floresta Amazônica: Théo, Julia, Thomas e Lucas - Ela virou na velocidade da luz para mim. 

Que maravilha, pelo menos a floresta é fácil. 

- Deixarei fazerem grupos para discutir as coisas do trabalho, fiquem à vontade. - À vontade o caramba. 

Os três se juntaram na minha mesa. 

- Vamos ter que ir na casa de alguém para fazer a maquete - Disse o Thomas. - Minha casa não dá, minha mãe fica maluca.

- Eu moro do outro lado do universo mano. - Isso é verdade. 

- Minha irmã enche o saco. 

- Pode ser lá em casa mesmo. - Deu para sentir o desinteresse, mas um sorriso surgiu, parece que ela queria rir. 

- Hoje? - Perguntei. Todos concordaram. - Quem vai fazer a maquete e quem vai escrever? 

- Assim fica mais fácil: Julia e Japa fazem a maquete, eu e o Lucas fazem o manoescrito - Sério Thomas, obrigado por me envergonhar pelo resto da vida. 

- Dá no mesmo - Ela disse, e o sorriso dela ainda não sumiu, ela devia estar achando graça da situação. - Pode deixar que eu compro os matérias, você me ajuda a montar.

- Eu levo umas informações da floresta e você leva fotos tá Lucas? - Disse o Thomas. 

- Taaah - Que desespero. 

- 14:00 lá em casa, vocês sabem onde é. - Ela disse se virando para frente. O trabalho já estava "pronto" mesmo. 

[...] 

Fiquei o final da aula todo pensando em como seria estranho ir na casa dela. Mas fazer o que, é o "trabalho de escola" 

Eu fui embora com o Thomas e o Lucas como sempre, ela estava com os fones, como sempre. 

Cheguei em casa, tomei um banho, almocei, ouvi minha irmã encher o saco como sempre. Nem deu tempo de treinar ou dormir um pouco.

[...] 

Deu 14:00, eu, Lucas e Thomas estávamos no portão da casa da Julia, batemos campainha, e quem atendeu foi uma mulher, deve ser a mãe dela. 

- Aaah vocês são os meninos que vão vir fazer trabalho aqui. - Ela disse, tentava fingir interesse, mas não deu muito certo. 

Ela disse para nós entrarmos, e nos levou até o quarto da Julia, ela não estava em casa,  foi comprar os materiais. 

- Poorra - Disse o Lucas - Olha que quarto foda mano. 

Era mesmo muito foda, o teto azul com as estrelas, e aquele tanto de bonecos - nem no meu quarto tem tantos -... os ursos, a coleção de livros e aquela guitarra. E também estava tocando música na caixinha de som conectada ao notebook, e é uma música tão foda: Courtesy Call. Dava para ver o jogo aberto também, na sua conta do Naruto Online.

Thomas e eu sentamos na cama, Lucas estava bicando as coisas da menina. 

- Théo Silva Ackerman olhe este guarda roupas. - Ele disse abrindo a porta do guarda roupa. 

- Porra - Eu estou babando? - Como um ser humano pode ter tantas camisas de anime? 

Voltei a sentar na cama, e a mãe dela apareceu na porta. 

- Estou saindo gente, daqui a pouco a Julia deve estar chegando, tchau - Sei lá para que ela falou isso, mas tá. 

Ficamos uns 15 minutos escutando as músicas da Julia e olhando suas coisas, Lucas descobriu uma gaveta de mangás e ficou mexendo naquela guitarra. 

- MÃÃE???? - Escutei um grito vindo da sala, era a Julia - Essa capivara não para em casa não? - A voz se aproximava do quarto. 

Ela entrou, demorou uns 5 segundos para perceber que eu e o Thomas estava sentados na cama e o Lucas mexendo na guitarra. 

- Tire suas mãos sujas desta guitarra, antes que eu as corte com uma faca de cortar queijo - Ela disse calmamente. 

- Calma é só uma guitarra - O Lucas provoca ne?! Vontade de bater. 

- Porra essa guitarra é do meu pai - Mas o pai dela está morto, herança? 

- Ué ele não vai falar nada. - Lucas cala a boca por favor, antes que você não fale nunca mais. 

- Exatamente, mortos não falam. - Ela disse, deu um suspiro. - Desculpa, tô estressada com minha mãe, e desculpa pelo atraso. 

- Me desculpa, eu não sabia. - Ele parecia arrependido. 

- Mano, nem liga, por favor. - Ela fechou o jogo e desligou a música. 

- Oh Julia quantas blusas de anime você tem? - Eu perguntei, estava realmente curioso. 

- Iih olhando o guarda roupas de uma garota? - Ela riu - 47, nem uma repitida. 

- Porra - gritou o Lucas - da onde se tirou grana pra comprar isso? 

- Aaah... Por ai, algumas eu ganhei. - Ela não quis contar, deve estar envolvido com o passado. - Também tem as blusas de séries, que são mais 15 - ela riu. 

Fomos fazer o trabalho, conversamos sobre coisas aleatórias, ninguém percebeu que aquela é a Julia/Púrpura7, lerdos demais. 

- Você não acha que precisa de mais árvores não? Sabe, tá parecendo mais um parque do que uma floresta - Ela perguntou olhando para a maquete, depois para mim. Tinha tinta verde suja no seu nariz. 

- Cara, esse Rio Amazonas bugou, cê não acaha não? - Lá vai o Lucas. 

- Cala a boca que você está morto "escrevendo" um textinho. - Nossa, que tiro no coração. 

- Bem feito otário. - Sábias palavras Thomas... 

- Ué, você fala? Pensei que só batia nos outros. - Lucas é agora que você apanha... - Ué mano, cadê ela? 

- Ela saiu tem uns dois minutos, foi para aquele lado de lá... - Thomas apontou, bom, deixa ela lá, deve ter ido no banheiro. 

Ela voltou com uma bandeja cheia de biscoitos e bolo, e depois pegou refrigerante e copos. 

- Quê foi? Quer que eu coloque a comida na boca de vocês? - Ela pegou um biscoito e comeu. - Sirvam-se 

Lanchamos, damos uns retoques na maquete e no trabalho manoescrito também. Todos foram embora 17:30. 

Ela sabe ser alegre, ou fingir, mas pela reação que ela teve ao ver o Lucas tocando naquela guitarra... Deu para ver que ela esconde muita coisa só para ela. 

[...] 

Dei alguns passos e já estava em casa novamente, fui jogar, já que não tinha nada para fazer. Ela estava online. 

*Privado The Black 0*

-> The Black 0: ooi julia 

É como se não tivesse acabado de vê-la, mas é fato que nos sentimos mais confortáveis na internet. 

-> Púrpura7: ooi 

-> The Black 0: bem? 

-> Púrpura7: nn e vc 

-> The Black 0: normal, pq nn 

Eu sei porque ela não está bem. 

-> Púrpura7: serio, eu nao aguento ver o Lucas pegando naquela guitarra 

Ela nem quis disfarçar. 

-> The Black 0: vc é igualzinha naquela foto 

-> Púrpura7: vc é nd haver kk 

-> The Black 0: ta nervosa com ele? 

-> Púrpura7: nao é raiva, é so.. sla, raiva e um sla a mais 

-> The Black 0: desce ai no portao 

-> Púrpura7: pra? 

Bom, ela é minha amiga, eu a considero amiga, mas não só virtualmente, a partir de hoje. 

-> The Black 0: vem logo sow kkk 

Eu sai do jogo e fui para o portão, esperei ela. 

- Achei que tinha morrido. 

- Eu tô morta, tá vendo não? - Ela é bem diferente. 

Dei um abraço nela, mesmo não gostando de contato físico com ninguém, ela é uma boa amiga. 

- Mortos não são quentes. - Dei um sorrisinho de lado. 

- Não precisa apertar né Japa. - Ironia. 

- Vem, vamos andar um pouco. - Comecei a andar na frente dela. 

Chegamos numa praça perto da escola, sentamos ali. 

- Tava com raiva do Lucas porque? - Puxei o assunto, que ainda não tinha sido terminado. 

- Sabe, eu odeio que toquem naquela guitarra, ela é do meu pai - Ela estava olhando para o nada. 

- Ele deixou para você? 

- Éh... - Dá pra ver que ela não gosta muito de falar sobre o pai dela. 

- Você toca? 

- Às vezes, quando eu tô triste... - Ela continua olhando o nada.

- Faz uns solos fodas e pula do sofá? - Anima-la um pouco

- Com certeza. - Ela olhou pra mim e deu um sorriso. 

- Saudades de Minas Gerais? 

- Sim... A Carla e o Miguel - voltou a olhar para o nada. - Minha acadêmia e meu tio... 

- Amanhã eu vou te levar na minha acadêmia. - Dei um sorriso para ela. 

- Está tão louco assim para apanhar? - Ela riu

- Cala a boca baixinha - Ela vai me matar. 

- O QUE? Eu não sou baixinha. 

Eu me levantei e fiquei na frente dela, ela também se levantou. 

- Certeza? - Sorriso vitorioso. 

Ela me deu uma rasteira tão rápido, eu achei aquilo impressionante, tirando o fato de eu estar sentado no chão. 

- Você não fez isso. - Disse "pegando o espírito", segurei a canela dela. 

- Me solta peste, sai fora - Ela balançava a perna, conseguiu se soltar e saiu correndo, eu corri atrás dela. 

[...] 

Chegamos em casa  cansados, suando igual porcos. 

- Desde quando um anão corre tão rápido? - Disse recuperando um pouco de fôlego. 

- Desde a mesma época um "gigante" cai tão facilmente - Ela me deu um soquinho na barriga. 

- Ei, você é tão isolada, notei isso na escola, mas nesse tempinho você riu bastante. 

- É que você é legal. E você também não é lá uma tocha que ilumina tudo também não. 

- Ai fiz amiguinho novo - Dei uma risada.

- Aai miigaa - Sério que bosta. 

Ela me deu um abraço, sério, a cabeça dela chegava no meu ombro, mas foi um abraço apertado. 

- Foi bom te conhecer japa. 

- Você também Juuh-Chan. 

- AAAH NÃO COMEÇA 

- Amanhã me espera aqui no portão, vamos pra escola juntos? 

- Pode ser - Ela deu um sorriso. - Boa noite Japa, até amanhã. 

- Boa noite Juuh-Chan - Dei uma risadinha maldosa - Até amanhã. 

Ela entrou pelo portão dela, e eu pelo meu. 

[...] 

Fui tomar banho, jantei, depois deitei na minha cama. 

- É, ela é bem legal, mas ao mesmo tempo tão triste. - Falei sozinho, a sensação de fazer um amigo de verdade, eu não sentia a muito tempo. Virei para o lado e dormi.