Faz uma semana desde que eu beijei a Julia, nós agimos normalmente, continuamos "brigando", nos batendo, eu carregando ela e abraçando, mas sempre que estamos sozinhos é estranho, mas não deixamos de brincar, as vezes brincamos até com aquele beijo: "porra você beija mal em".
[...]
Hoje é sábado, minha mãe e a Ayane saíram para fazer compras, o Haru e a Bia foram com eles, a Julia disse que estava passando mal então ficou em casa, eu decidi ficar cuidado dela, que por sinal está quieta no quarto dela a manhã toda. Eu fui lá algumas vezes, mas quando eu entrava ela falava que estava bem, eu não liguei muito.
[...]
Já era 13:00 da tarde, minha mãe havia me ligado falando que iria demorar mais um pouco, que eles iriam ver um filme no cinema, e perguntou se eu e a Julia queriamos ir, mas ela ainda estava mal, então não fomos, eu não liguei muito. Fui no quarto dela ver como ela estava, de novo.
- Julia, você está bem? - Estava começando a me preocupa, já que ela não fazia nem sequer um barulho
- Eu tô bem, pode ir embora. - Ela estava em baixo da coberta e encolhida em um canto. Eu fui até ela e coloquei a mão no seu ombro.
- Ei peste negra, se estiver passando mal pode me contar.
- Eu estou bem, pode ir embora, sério mesmo.
- Certeza? - Coloquei a mão por baixo da coberta, iria ver se ela estava com febre, mas o rosto dela estava molhado, ela estava chorando? Tirei a coberta de cima dela, ela estava toda encolhida, e estava mesmo chorando.
- Eu disse para ir embora. - Ela puxou a coberta de novo. - Rla parecia nervosa, e triste.
- Julia o que aconteceu? - Eu acabei de descobrir que tem uma coisa que eu odeio mais do que ver a Julia triste: vê-la chorando.
- NADA! VAI EMBORA. - Ela gritou me empurrando.
- NÃO VOU EMBORA, O QUE CARALHAS ESTÁ ACONTECENDO? - Ela pulou em mim e me abraçou, me abraçou muito forte, e começou a chorar, chorar desesperadamente.
- Fica aqui comigo. - Ela disse em meio ao choro.
- Claro mas... - Ia perguntar, mad achei melhor não.
Eu me escorei na cama, e ela deitou no meu peito, e continuou chorando, eu realmente odiei aquela cena.
- Era disso que seu tio estava falando não é? De quando você chorasse? - Ela balançou a cabeça com sinal de sim. - Porque você está chorando? - Ela não respondeu, apenas continuou chorando.
Ela ficou alguns minutos naquela posição, chorando feito louca, eu nunca imaginei que veria a Julia assim, e isso partiu meu coração.
- Hoje é o dia que ele morreu. - Ela olhou para mim, ainda haviam lágrimas escorrendo de seus olhos.
- 10 de agosto é o dia em que seu pai morreu Julia? - Ela balançou a cabeça com sinal de sim, e começou a chorar, e parece que o choro está pior do que antes, está mais alto e também soluçava, ela também me batia, mas não estava doendo.
Ela continuou a chorar, ela não parava, e a cada lágrima que pingava na minha camisa eu também ficava pior, ela segura tudo por um ano e chora tudo no dia que o pai morre? Eu só fiquei acariciando seu cabelo, não havia nada que eu podia fazer para reverter aquilo, e isso me perturbava, eu odiei ver lágrimas escorrendo pelo rosto da Julia, isso faz com que meu peito aperte. Nós ficamos naquela situação por meia hora, ou mais, e em momento nenhum ela parou de chorar. Até que uma hora ela me soltou e deitou na cama, de costas para mim.
- Melhorou? - Ela balançou a cabeça com sinal de não. - Eu não consigo ver lágrimas caindo no seu rosto, isso aperta meu coração.
- ENTÃO VAI EMBORA. - Ela está triste.
- NÃO PORRA, EU VOU FICAR AQUI NEM QUE EU TENHA QUE CHORAR COM VOCÊ.
- PORQUE? PORQUE VOCÊ FAZ ISSO? Todo mundo sempre vai embora, todo mundo some quando eu choro. - Ela se virou para mim de novo, e ainda estava chorando.
- Eu não sei, você é minha amiga, eu não consigo ver você chorando, isso aperta meu coração. - Ela não está olhando para mim, mas ainda chora.
- Não vai embora... - Ela sussurrou.
- Não...
- Todo mundo sempre vai embora, ou morrem... - Porque ela está sussurrando?
- Eu não vou morrer.
Ela me abraçou de novo, dessa vez foi fraco, mas ela ainda chorava, e seu rosto estava bem do lado da minha orelha, então eu conseguia escutar sua respiração rápida e seus soluços, aquilo partiu meu coração ainda mais.
- Me conta o que aconteceu com você...
- Eu não consigo... - Ela me apertou.
- Eu quero te ajudar, eu não consigo te ver assim Julia...
- EU NÃO CONSIGO PORRA, VOCÊ SABE QUE NÃO, IMAGINA O QUANTO É DIFÍCIL TER QUE CONVIVER COM ESSA PORRA DENTRO DA MINHA CABEÇA TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA? - Eu não imagino.
- Não...
- TÁ VENDO? PORRA, ISSO PARA MIM É UMA FACA NO CORAÇÃO, E QUE NUNCA VAI SAIR, EU NÃO CONSIGO FALAR, VOCÊ NÃO IMAGINA O TANTO QUE EU QUERO GRITAR ISSO PARA TODO MUNDO, MAS EU SIMPLESMENTE NÃO CONSIGO, EU TENHO NOJO DA MINHA VIDA, DA MINHA MÃE, DE MIM MESMA, E VOCÊ NEM SE QUER IMAGINA O PORQUE, PORRA, TUDO QUE EU MAIS QUERO AGORA É QUE ESSA FERIDA SE FECHE. - Eu vou entrar em desespero.
- ENTÃO ME FALA, ME FALA DE QUALQUER JEITO, MAS ME FALA PORRA, EU TAMBÉM NÃO CONSIGO TE VER ASSIM, SE EU NÃO ENTENDO ME EXPLICA. - Ela começou a me socar, mas estava tão fraco, ela queria me bater, mas o choro não deixava.
- Eu não consigo seu desgraçado, eu não consigo, eu quero te falar, eu preciso, mas não sai. - Ela chorou ainda mais. - Me ajuda, por favor.
Eu a abracei, mas foi um abraço diferente, foi mais quente e apertado do que o normal, ela estava tão triste, cansada... E aquilo acabou comigo, é como uma faca queimando atravessasse meu coração em câmera lenta, aquela cena nunca mais iria sair da minha mente.
- Japa me desculpa. - Ela estava chorando ainda mais forte, mas porque?
- Porquê?
- Eu te bati, eu te xinguei... - Ela apertou meu braço.
- Não liga pra isso. - Disse fazendo carinho no cabelo dela.
- Você é meu melhor amigo virtual. - Ela sorriu, mas ainda chorava muito. - E pessoalmente também.
Eu acho que nunca fiquei tão feliz, mesmo com ela chorando, escutar que eu era o melhor amigo de alguém, é muito bom, e a Julia... Ela também é minha melhor amiga. Eu a abraçei mais forte e ela olhou para mim. Eu a beijei. Mas desta vez quem se seprarou fui eu.
- Me desculpa Julia...
- Não faz isso comigo, por favor... - Ela se separou de mim e foi para o canto dela. O que caralhas eu fiz?
- Me perdoa por favor, eu não quero me afastar de você... - Eu a abraçei, quase uma conchinha.
- Porque você faz isso comigo? - Ela ainda não olhava para mim.
- Eu não consigo ver você triste, eu prefiro seu rosto alegre como sempre, sorrindo, e te beijando é uma menira de evitar que você chore... - Eu coloquei minha cabeça escorada no ombro dela. - Me desculpa...
- Nunca mais faça isso... Por favor... - Ainda consigo escutar os soluços dela, ela ainda chorava.
- Me perdoa...
- Tá bom... - Ela ainda não olhava para mim.
- Olha pra mim. - Eu tentei virar ela...
- Não. - Porque?
- OLHA PRA MIM JULIA.
- EU TÔ COM VERGONHA PORRA, PARA COM ISSO. - Vergonha, sério? Para com isso. Puxei ela e subi em cima de sua cintura, e prendi seus braços com a mão.
- PARA COM ISSO. - Ela virava a cabeça a cabeça de um lado para o outro. - PORQUE VOCÊ TÁ COM VERGONHA, FICA QUIETA.
- VOCÊ ME BEIJOU, VOCÊ É MEU MELHOR AMIGO CARALHO. - Só por isso? Eu a soltei e a abracei em seguida, ela também me abraçou.
- Obrigado Japa. - Eu só a abraçei mais forte, acho que ela entendeu.
- Vai tomar um banho quente, e coma alguma coisa, não quero que você passe mal. - Ela concordou com a cabeça e foi.
[...]
Depois de um tempo ela voltou, deitou na cama e encostou a cabeça no meu peito de novo, mas ela ainda não parava de chorar, eu acariciei o cabelo dela o tempo todo, não que fizesse algum efeito, mas mostrava que eu estava ali, que eu sempre vou estar.
[...]
Minha mãe chegou em casa, junto com os outros, a Bia veio para o quarto dela e me viu com a Julia, eu apenas balancei a cabeça com um sinal de não, minha mãe veio até a porta e puxou a Bia, olhou para nós com um olhar de "cuide dela". Ela me disse que conheceu o pai e o tio dela na faculdade, ela com certeza sabia que dia que era hoje, e deve ter falado para os outros, com certeza só o necessário, minha mãe não é de falar demais.
[...]
Depois de muito choro a Julia dormiu, dormiu alí no meu peito mesmo, eu fiquei lá com ela a noite toda, eu disse que não a deixaria sozinha, a Bia dormiu no meu quarto. Eu fui dormir 1:00 da manhã mais ou menos, não conseguia tirar a cena da Julia chorando da minha cabeça, aquilo com certeza me assombrará por um longo tempo, mas eu prometi para mim mesmo que nunca mais iria querer ver a Julia chorando, porque ela também é minha melhor amiga.
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