História Vivendo com você - 19

Depois de conversar com aquela mulher no parque, Will ficou estranho. Ele veio o caminho todo calado olhando pra janela com o olhar perdido, e eu podia ver as engrenagens girando em sua cabeça. Ele nem fez nenhuma piada sobre o fato de eu ter tropicado na entrada da porta e quase caído – o que para Will Traynor não era normal. Ele estava me deixando preocupada, e os pensamentos não paravam de girar em minha mente. Quem era aquela mulher? O que será que ela disse a ele para ele ficar assim?

Assim que entramos em casa, Martin aparece chamando Tom para jogar basquete com ele, que aceitou na mesma hora e saiu correndo atrás dele. Treena disse que iria ficar de olho nele, mas eu sabia que ela ia ficar de olho mesmo era no peitoral de Martin, que Ca entre nós, nem eu consegui não olhar.

Assim que fecho a porta, me viro para Will que encarava a televisão desligada com o braço bom coçando o queixo. Ok, isso já está estranho o suficiente, chega.

_Tudo bem chega, você já está estranho o suficiente por hoje, me diga o que está acontecendo. O que aquela mulher te disse e quem era ela? – eu digo.

Ele vira a cadeira para mim e suspira pesado.

_Nem adianta dizer que não tem nada por que eu te conheço Will, me conte.

_Eu vou te contar Louisa, só vamos para o quarto primeiro.

Franzo a testa.

_Por quê?

_Só vem, Clark.

Ele começa a ir com sua cadeira em direção ao nosso quarto e eu o sigo em silencio. O barulho da cadeira dele, por mais baixo que fosse eram como se fossem fanfarras na minha cabeça, e meu coração tocava um tarol, parecia que ele iria sair da minha boca. Minhas mãos suavam tanto que parecia que eu as tinha molhado. Tento controlar minha respiração para que ele não perceba meu nervosismo, mas era em vão.

_Senta.

Ele aponta para a cama assim que entramos no quarto. Resolvo não discutir e simplesmente me sento na beirada da cama olhando para ele. Ele suspira e olha no fundo dos meus olhos. Eu podia ver agonia naqueles olhos castanhos, que agora estava escuro. Sabia que a coisa era séria.

_Aquela mulher no parque, é minha namorada dos tempos da faculdade...

_VOCÊ ACHA O QUE? – eu grito assim que ele termina de me contar suas suspeitas.

Will achava que aquela garota que estava com a ex dele no parque era sua filha. Meu cérebro parecia que ia derreter, aquilo tinha me pegado em cheio, eu não sabia como me sentir. Claro que era só uma suspeita, mas e se isso se confirmasse? Se essa tal de Lily for mesmo sua filha? Como isso afetaria a nossa relação? Eu sei que Will não iria deixá-la desamparada e pela raiava que ele me disse que ela tem da mãe, com certeza depois de um tempo, ela viria morar aqui, e como isso afetaria nossas vidas? Will disse que Tayna é casada e isso tirou minhas suspeitas de que ela quisesse se reaproximar dele, mas mesmo assim...

Um milhão de emoções passam pelo meu rosto e vejo ele avaliando cada uma delas com o rosto impassível.

_Você tem certeza? – pergunto.

Ele da uma pequena risada e eu não compreendo como ele consegue rir em uma hora dessas.

_Eu posso está aleijado nessa cadeira Louisa, mas meu cérebro não está paralisado, eu não sou burro, sei fazer contas. Lily tem 16 anos e olha só, há exatos 16 anos, Tayna e eu tivemos um caso.

_Mas e o marido dela? Lily não poderia ser filha dele?

_Não. Lily disse que ele não era seu pai, e quando eu e Tayna terminamos, nós tínhamos amigos em comum, e uma dessas amigas me disse que ela não se relacionou com ninguém pelo menos dois meses depois de terminarmos. Só preciso  de um exame de DNA para confirmar o que já sei, Lily é minha filha. – ele fala sério e meu coração só vai apertando a cada palavra.

_E... E como você se sente sobre isso?

Ele olha para a janela antes de responder e depois olha para mim de novo. Seus olhos agora suavizavam e eu podia ver até mesmo alegria neles.

_Eu honestamente não sei. Um lado meu se sente feliz com isso, mas outro está apavorado. Eu tinha planos de ser pai um dia, mas depois desse acidente inútil eu nem queria viver, quem dirá ser pai. E alem do mais, como posso ser pai de alguém, se nem consigo mexer o pescoço? – sinto a tristeza em suas ultimas palavras e naquele momento eu fiz a primeira coisa que veio em  minha cabeça.

Me levanto da cama e me encaminho até ele, sentando em seu colo e passando os braços ao redor d sua nuca, minha posição favorita no mundo. Naquele momento todos os meus medos foram embora e eu sabia que independente do que acontecesse, eu estaria do lado dele para lhe apoiar e Dara força que ele precisa. Dou um beijo carinhoso nos seus lábios, tentando transmitir segurança para ele.

_Ei, se ela for mesmo a sua filha, ela vai ter muita sorte, porque vai ter você como pai, e ela não poderia esperar algo melhor.

_Quem quer um pai aleijado? Ela tem o marido de Tayna, sei que ele é um pai melhor que eu que nem fiz parte de sua vida.

_Não é culpa sua. Tayna que escolheu esconder isso de você, ela é a culpada de Lily crescer sem o pai e de você ter perdido os primeiros anos de sua filha, mas o que vai realmente contar, vai ser o que você e ela vão construir nos próximos anos. Você vai ser um ótimo pai e eu prometo ser uma “boadrasta”.

Ele ri um som lindo e contido, ah como eu amava aquele som. Ele me da um selinho demorado e sorri quando se afasta.

_Promete que não vai me deixar? Se ela for mesmo minha filha? – sinto o medo em suas palavras.

Pego sua cabeça com as duas mãos e faço ele me encarar de perto.

_Eu te larguei quando você zombou das minhas roupas? Quando me chamou de incompetente ou quando quis se matar? Não, eu ainda estou aqui, não estou? Entenda de uma vez Willian Traynor, você vai ter que me aturar pelo resto de sua vida.

Ele ri de novo e me beija dessa vez um beijo de verdade e sinto a gratidão em seus lábios.

_Eu te amo Clark – ele fala com os lábios colados aos meus.

_Eu também te amo Traynor.

Nós ficamos assim, abraçadinhos por um bom tempo e naquele instante eu tive completa certeza, nós dois iríamos enfrentar isso juntos. Ele decidiu que iríamos a casa de Tayna assim que Treena fosse embora, ele queria mais que tudo tirar essa historia a limpo e honestamente, eu também. Então segunda era o dia, o dia de finalmente descobrirmos a verdade.