"E ali estão eles, vivos." - fala o Capitão Carl no microfone, olhando de longe para nós. - "Em toda a minha vida, eu nunca vi dois soldados novatos surpreenderem tanto." - É quando uma aglomerada salva de palmas se aglomera por todo o local.
Vivo, ou apenas existo?
Capítulo 15: Arrependimentos fatais
"Sim, mãe. Estou vivo." - falo pelo telefone da Enfermaria. - "Eu sei, todos ficaram surpresos. Mas já estou bem, a médica está analisando se há alguma fratura em mim." - a conversa pelo telefone não demora tanto, e logo se conclui.
A médica verifica minha pressão, e toda vez que encontra os meus olhos, eu logo ponho a perceber sua expressão de surpresa. Para todo mundo o que havia ocorrido no hospital tinha realmente trazido a minha morte e a do Rimon. E tentar explicar tudo o que aconteceu para o Capitão Carl foi difícil.
O Tenente Homes não estava na sala de Reuniões; não está no Exército; e nem nesta cidade ele se encontra. Ele continua na cidade do Parque de diversões junto com o soldado Rique e os outros, provavelmente já deve ter recebido a notícia que eu estou vivo.
"Obrigado." - agradeço a médica. Quando os exames terminam; por sorte, não estou com nenhuma forte lesão ou fratura, posso voltar normalmente para o meu quarto.
Saio do local, e passo tranquilamente pelos corredores, percebendo os olhares dos soldados e tenentes que passam á me olhar como se eu fosse feito de Ouro por ter conseguido sobreviver a tudo isso.
Quando abro a porta do quarto, David e Carlos não se importam em saber se estou com fraturas ou não, eles apenas pulam encima de mim e me abraçam da forma mais forte possível.
"Você está vivo, PORRA!" - Exclama David, os dois me viram mais cedo, quando eu cheguei com o Rimon no local onde o Capitão Carl estava fazendo o discurso.
"Promete que não vai mais morrer." - ruboriza Carlos.
"Prometo não morrer." - digo, sorrindo. Sentamos no chão, como fizemos no primeiro dia que nos conhecemos, e eu logo me ponho a perguntar. - "Alguma notícia dos soldados que estão lá na outra cidade... Os que ficaram na missão?".
"Sim." - responde David. - "Conseguiram achar os três caras." - um arrepio percorre por meu corpo após David falar isso.
"O Capitão Carl avisou no microfone para todos. Dois dos caras estão sendo mantidos presos, e o outro terceiro foi morto." - explica Carlos. E eu pensando que eles estavam ilesos ainda.
"Dificilmente explodir um hospital e matar várias pessoas acarretaria em alguma fuga." - comenta David. - "Havia dezenas de viaturas, os policiais logo perceberam os três homens.". – Paro para pensar que um dos três homens acabou sendo morto, e penso de qual forma isso aconteceu.
"Provavelmente os três revidaram, aí os policiais atiraram e mataram um deles." - falo minha teoria.
"Não, pelo contrário." - murmura David. - "Os soldados daqui, que estão lá, chegaram logo após no local dos policiais. Os três da quadrilha não revidaram, eles já tinham desistido por perceberem a quantidade de policias e soldados no local, mas aí...".
"Mas aí o quê?" - indago, curioso.
"Parece que um dos tenentes atirou em uma das cabeças dos três homens." - quando David fala isso, eu consigo vislumbrar bem o rosto da pessoa que fez isso.
"Homes." - sussurro.
❂
Eu tive a permissão de ir visitar minha família pela manhã. O Capitão Carl fez questão dele mesmo vir falar comigo sobre a permissão.
Peguei um táxi e fui em direção até a minha casa. Eu fiquei tão feliz por ver esta casa depois de tantas semanas que começo a lacrimejar. Saio do carro e percebo bem a surpresa de minha irmã quando entro vagarosamente pela porta.
Abraços, exclamações, felicidade. Meu pai e minha mãe sorriam direto para mim enquanto eu contava cada detalhe do que ocorreu. Percebo minha mãe chorando em boa parte do tempo. Minha irmã passa todo o tempo fazendo carinho em meu cabelo. E eu percebo que uma frase faz todo o sentido: "É quando a gente quase perde, que começamos a dar importância.".
O resto do dia é em conversas, comida e agradecimentos ao destino por ter me livrado da morte. É uma visita normal, uma visita para mostrar que estou vivo e inteiro para a minha família.
Logo a noite chega e o táxi vem me buscar, minha mãe até pede para eu dormir lá, mas eu nego com educação. Preciso encontrar uma pessoa que já deve ter chegado ao Exercito.
❂
Quando chego no Exercito, vejo o zelador que me ajudou no primeiro dia acenando para mim. Ponho a acenar de volta. Percebo que depois dos últimos acontecimentos, eu consegui amadurecer tanto por dentro.
Adentro no Quartel, e logo dou de cara com o soldado veterano Rique pelo corredor.
"Quando falaram, eu juro que eu não acreditei." - fala Rique, logo me abraçando rapidamente. - "Você surpreende qualquer um, novato feito de ouro.". - dou um sorriso.
"Ocorreu tudo bem por lá?" - indago.
"Mais ou menos, os dois homens foram presos, e o outro foi morto pelo tenente Homes." - diz ele, me surpreendendo por ter confirmado a minha teoria.
"Onde está ele?" - indago.
"Na pequena ala de box, bem ao fundo do Quartel." - responde Rique.
"Obrigado." - digo, adentrando no Quartel. - "Até mais."
"Até."
Passo pelos corredores. Eu me lembro de ter realmente visto essa sala em algum dia desses, não faz tanto tempo. Olho vagamente e de longe vejo uma porta com o nome "Treinamento ao Box.".
Chego perto e abro a porta lentamente. Escuto bem os fortes socos que são dados. A sala tem tantos tons vermelhos, com equipamentos em uma grande variedade do local.
Vejo no fundo da sala o tenente Homes, sozinho diante de todo este local em plena noite. Ele está com uma roupa branca que parece ser de um tecido esbelto, e com uma calça preta, sua farda deve estar sendo lavada. Me aproximo aos poucos, e vejo seus socos sendo desferidos no saco grosso que está pendurado do teto para a superfície.
Quando ele dá o último soco, o saco põe-se a cair no chão, fazendo um barulho estrondoso pelo local.
"Parabéns." - digo, e ele me olha em surpresa. Seu rosto se transforma em curiosidade, como se estivesse vendo uma nova espécie nunca vista antes no mundo.
"Eu procurei você quando cheguei, e você não estava em lugar nenhum." - diz ele. Olho para o seu rosto, não há nenhuma gota de suor, nem de cansaço, há apenas o espanto.
"É que eu fui visitar minha família... Estavam preocupados." - digo, me aproximando. - "Você matou um dos homens, não matou?".
"Sim." - responde secamente. - "Eu estava completamente cego e com raiva.".
"Com raiva deles terem matado tantas pessoas." - sussurro.
"Com raiva deles terem matado você." - murmura ele, fazendo com que todo o silêncio do local fixe-se.
"Eu poderia ter dado alguma notícia, não sei... Me desculpa." - digo, cortando o silêncio.
"Eu que tenho que me desculpar, por não ter supervisionado você direito." - fala Homes, e vejo bem em seus olhos e em seu rosto uma feição de alguém que havia perdido as esperanças há algumas horas atrás.
"Eu estou vivo agora." - tento colocar humor em minhas palavras para amenizar o clima, mas nada parece funcionar. - "Vamos comemorar comendo sushi, ou você dando um tapão em minha cabeça, algo como antes." - tento sorrir, mas o seu olhar me desmorona por inteiro. - "Apenas, vamos seguir a vida." - é quando meus olhos começam a lacrimejar, e eu percebo que nesse exato momento eu poderia não estar mais nesse mundo. Eu poderia realmente estar morto, soterrado naquele Hospital.
O tenente Homes se aproxima até mim, e chega perto o bastante. Sua mão direita encosta no lado direito de meu rosto, com seu polegar tocando levemente em minha bochecha. O seu corpo se movimenta, levando sua boca próxima á minha, e juntando nossas respirações em uma só.
Sinto seus lábios tocando nos meus. E ele logo põe a retirá-los, me olhando bem nos olhos, deixando a sua respiração fluir em meu rosto.
Homes leva sua mão esquerda até minhas costas, e sua mão direita segura em meu cabelo, enquanto ele volta com sua boca até os meus lábios. A sua ondulação faz com que toda a sua feroz língua procure prazer diante da minha, que todo o seu calor, encontre caminho ao se juntar a meu. É uma sensação tão inesperada que eu ponho a me perder em meus pensamentos, em meus olhos que se fecham, e em sua boca que parece ter encontrado um local que tanto se maravilha em estar.
Ele retira sua boca da minha, e coloca seus braços para longe de mim. Os seus olhos estão em intensa harmonia com o meu. É quando Homes corta todo o silêncio:
"Quando eu soube que você havia morrido, eu me arrependi drasticamente de não ter tido a coragem para lhe... Beijar. Eu fiquei arrependido de não ter feito isso quando soube da sua morte." - sussurra ele. - "Agora, já fiz o que o meu corpo queria tanto fazer. Não há mais nenhum desejo para ser realizado." - um pequeno sorriso é formado. - "Se cuida, Pedro. E tenta esquecer desse acontecimento, por favor." - ele logo se movimenta lentamente para fora do local, sem olhar para trás.
Escuto apenas seus passos, enquanto ponho o polegar em minha boca e sinto os seus lábios ainda nos meus, mesmo após tendo passado tantos segundos. Um tenente beijou um novato... Homes me beijou, e esse beijo fez com que todos os pedaços dentro de mim se juntassem novamente. Isto é algo que vai permear na minha mente durante vários dias, sem projeção para esquecimento.
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