Sim, o Tenente Homes veio até a minha casa em plena noite de Natal. E me pediu desculpa por todas as ofensas ao qual me foi dita, e entre as desculpas havia uma confirmação... O fato de que o beijo ocorreu e ecoou pelo espaço momentâneo da vida. O único fato de que era para tanto eu, quanto ele, esquecermo-nos daquele beijo, daquela noite. Eu permaneci em silêncio diante de suas falas, agora minha única função é deixar o destino me guiar para uma noite estranha. Fomos convidados para ir para a sua casa, e neste exato momento estamos indo para ela.
A ida até a casa do tenente Homes foi da seguinte forma: Rimon foi no carro do David; e minha irmã e eu fomos no carro de Homes - eu ao seu lado, e ela no banco de trás. No carro só ecoava a voz da minha irmã animada, conversando sobre assuntos do Exercito com Homes. Eu permaneci em silêncio ao lado dele, não conseguia falar ou comentar nada, é como se eu tivesse perdido a voz pelo restante da noite.
Vivo, ou apenas existo?
Capítulo 19: Espero dormir nesta noite.
"Esta é minha casa." - apresenta Homes, analisando a minha reação.
Uma residência mobilada em cores de riqueza com uma sala enorme, contendo bem ao fundo da casa um quintal que aparenta ter mais hectares que toda a casa em si.
"Como descrever a casa do tenente Homes em uma palavra?" - indaga Rimon, olhando surpreso para David.
"Descreveria como algo... Fabuloso." - sussurra David próximo a Rimon. - "Com certeza fabulosa."
"Não fiquem surpresos com a minha casa." - murmura Homes calmamente. - "Vocês, em breve, irão ter um salário tão grandioso quanto o meu, e poderão mobilhar até uma mansão se quiserem.".
"Não nos iluda." - fala David, rindo. - "Acho muito difícil de isso acontecer."
"Por enquanto." - sussurra Rimon, pensativo.
O tenente Homes mostra os quartos que tanto David quanto Rimon irão ficar. Há um quarto pequeno para a minha irmã dormir. E de acordo com Homes, este poderia ser um quarto de uma futura filha que ele pudesse ter com sua ex-esposa.
E quando todos conferem seus quartos, eu fico na cozinha, sozinho. Olho para os pratos diferenciados, com uma cor prateada em um marrom estranho. Tudo tão bem organizado. É estranho o quanto o Tenente tem paciência para lidar com o Exército, e ao mesmo tempo lidar com a sua casa... Talvez ele tenha empregada, ou não. Enfim, é uma surpresa.
Estou a tanto tempo admirando a cozinha que acabo esquecendo da minha irmã. Ela deve estar conversando com o Homes no quarto provisório dela. Eu não estou preocupado com a minha irmã, não sei o porquê, mas sinto que o Homes está cuidando dela desde o momento que nos trouxe para cá. Então eu sossego. Agora, estou deixando na conta de Homes, ele que cuide da pirralha.
"Olá." - a voz dele surge, e levanto a cabeça para olhá-lo. - "sua irmã amou o quarto.".
"Ah, que bom." - murmuro. Tento falar não olhando para seus olhos, porque eu percebo bem que toda vez que eu o olho, a atmosfera muda em torno de mim, e isso parece tão estranho e exagerado... Tão repentino e brega. - "Amanhã venho buscar ela de que horas?"
"Buscar?" - indaga ele, surpreso.
"Sim, ué." - respondo.
"Mas achei que você fosse dormir aqui."
"Em que quarto, Homes?" - indago.
"No meu quarto."
"O quê?!"
"Calma. Não comigo ao lado." - explica Homes. - "Eu vou dormir no sofá da sala.".
"Não!" - exclamo. - "Homes, chega disso, sério."
"Como assim... Chega disso?" - indaga ele, me fitando com os mesmos olhos que me olhava quando eu acordei da enfermaria após ter levado vários socos dos terroristas. É nesse instante que nossos olhos se paralisam e sinto como se tudo estivesse congelado ao meu redor.
"Disso de tentar ser legal. Eu já entendi que isso tudo que você está fazendo é um pedido de desculpa, mas... Eu não quero e nem vou fazer você dormir na sala." - digo.
"Então eu durmo com você no meu quarto." - sorri ele.
"Palhaço." - sorrio.
"Não vai ser incômodo para eu dormir no sofá." - diz ele, com seu olhar que demonstra uma sinceridade exorbitante. Estou bem preparado para dizer o famoso não, mas os seus olhos parecem tão amargurados. - "Sério."
"Se você diz..." - sussurro.
A conversa se encerra com a minha irmã; ela aparece logo após na cozinha, e sem mais, nem menos, começa a conversar com Homes sobre como adorou a casa. E eu os observo, lembrando do desejo do Tenente de ter uma futura filha; seus olhos tão lindos que parecem brilhar ao olhar para a minha irmã. Saio o mais rápido possível da cozinha antes que eu acabe ficando obcecado por ele.
"AMAZING!" - exclama David no quarto. - "Com certeza o melhor natal da minha vida."
"Ainda bem que minha família não se importou por eu passar a noite fora." - murmura Rimon.
"Nem deveriam, aliás, você passa várias semanas foras.". - comenta David.
"No exército." - instigue Rimon.
"Gostaram mesmo?" - indago.
"Gostar, eu não gostei. Eu amei." - sorri David, parecendo uma criança que acabou de conhecer um novo mundo. - "Mas até agora estou sem entender essa do tenente Homes nos convidar.".
"Isso também não me sai da cabeça." - fala Rimon.
"Tem haver comigo." - murmuro, chamando a atenção dos dois. - "Não se preocupem. Coisa de amizade. Apenas se divirtam, e tentem criar intimidade com ele." - sorrio.
"E pensar que foi ele que deu um soco no Paul." - relembra David. - "As pessoas são estranhas.".
"Sempre foram." - finalizo.
❦
Estamos todos no enorme quintal do tenente, esperando o sono chegar. Sentamos em volta de uma mesa rústica, com alguns comes e bebes. Minha irmã está quase caindo no sono.
"Demorou muito para ser um Tenente?" - indaga Rimon.
"Um pouco, mas depende do esforço de cada um e das tarefas tão bem realizadas." - responde Homes, mostrando uma reação estranha por estar se lembrando de algo importante. – “É o seguinte... A cada ano há um campeonato só com os novatos, em breve será anunciado a nova edição, no Exercito. Tentem ganhar."
"Uau, um campeonato?!" - indaga David.
"Acho que fui muito imprudente de falar isso tão cedo." - comenta Homes. - "Por isso, esqueçam sobre isso, por enquanto.".
"Vou tentar." - ri David, e do seu riso sai um bocejo.
"Cara estranha está com sono." - ri minha irmã, com uma expressão cansada.
"Acho que você também está." - ri David.
"Leva ela para o quarto que ela está." - peço a David. - "Por favor."
"Certo." - responde David, levantando. - "Acho que vou para a cama também. Boa noite.".
"Boa noite." - fala minha irmã, acenando para Homes. - "Obrigada... Tenente.". - e enquanto os dois entram na casa, eu observo o sorriso tão lindo sair de Homes.
"Ela é muito especial." - fala Rimon.
"É sim." - concorda Homes. - "Bem, soldados. Acho melhor eu falar logo sobre isso agora.".
"O que houve?" - indago.
"Eu não irei me transferir, mas... Eu fui chamado para uma missão especial no outro lado do país." - explica Homes. - "Então passarei um longo mês fora." - seu suspiro logo após é demorado. - "Estou falando isso porque provavelmente eu não estarei aqui quando o campeonato surpresa acontecer." - seus olhos fitam os meus. - "Tentem ganhar, sério, vocês estarão cada vez mais próximos de se tornarem Tenentes.".
“Você vai... Embora?” – indago, em uma voz cansada. E eu vejo em seus olhos uma seriedade tão grande que acaba me assustando. – “Certo.”
"Tentaremos." - diz Rimon.
"Assim espero." - sussurra Homes.
A conversa logo se encerra. Levantamo-nos e voltamos para dentro da casa. Homes, como havia dito antes, realmente vai dormir no sofá da sala, e eu acabo deitando em seu quarto de cama de casal, sozinho.
A escuridão predomina todo o quarto, e eu me ponho a ligar o abajur para clarear um pouco o local. É quando sinto o seu cheiro no lençol que cobre toda a cama, seu cheiro parece estar exalando no travesseiro, e isso está me dando uma sensação boa e ao mesmo tempo agoniante.
O tempo passa, e a insônia se estabelece. Olho para as horas do meu celular, e já faz uma hora que o último "Boa noite" foi dado por ele; já faz uma hora que estou deitado nessa cama, esperando o sono vir, mas o sono não vem. E é quando eu começo a me sentir culpado por estar deitando em uma cama de casal, estando Homes no sofá da sala. E então, me levanto.
Abro silenciosamente a porta, e me guio pela pequena lanterna que o meu celular contém. Está tudo escuro pela casa, e acabo sendo guiado pelo som do ventilador que está ligado juntamente com a televisão. É quando o vejo, com seus olhos fechados, em uma posição reta no sofá, com seus braços cruzados.
"Ei." - sussurro, mas ele não escuta. - "Homes." - novamente, nada. É quando me ponho a tocar-lhe.
No meu mínimo toque em seu braço faz com que seus olhos abram em fúria, seus dois braços seguram os meus e me jogam no chão, seu corpo cai encima do meu e sua mão se prepara para chegar até o meu rosto, é quando ele percebe que sou eu.
"Pedro?" - indaga ele, movendo o braço para trás. É quando minha mão paralisada abre e deixa cair o celular no chão ao meu lado.
"O que foi isso?" - indago, perplexo.
"Desculpa." - se redime ele, levantando e me puxando para cima. Ele se abaixa para pegar meu celular e me devolve. - "Eu estou acostumado com isto de... Segurança; Exército. E como eu estava aqui na sala, tinha que estar responsável por vocês."
"Caso algum ladrão chegasse." - sussurro.
"É." - confirma. - "O que você estava fazendo aqui?".
"Ah, vim lhe chamar para dormir no quarto." - falo silenciosamente. - "A cama é de casal, e não acho certo você dormir aqui, havendo espaço nela.".
"Falei para não se preocupar.".
"Mas eu estou me preocupando, porra."
O silêncio predomina por um curto período de tempo. Tenho que apontar a lanterna para o seu rosto para poder ver sua reação, ele logo se põe a pegar o "celular lanterna" de minha mão.
"Eu só não acho certo eu estar dormindo em uma cama de casal espaçosa." - murmuro. - "Enquanto você dorme na sala."
"Mas tudo bem para você?" - indaga ele, tentando não rir.
"Óbvio." - finalizo, saindo do local e deixando na sala.
Alguns minutos após - quando eu já estou na cama, deitado - é que vejo a porta abrir e o vejo entrar silenciosamente no quarto. Tento fechar os olhos e fingir dormir, mas isso parece impossível quando eu o sinto aproximar-se para a cama.
Ele se deita de costas para mim, e um alívio preenche-me, mas logo se dissipa quando eu o vejo de costas, e percebo que realmente estamos dormindo em uma mesma cama, dentro de quatro paredes. As paranoias começam a circular em minha cabeça, e eu forço meus olhos contra a vontade deles á se fecharem. Demora muito para eu cair no sono, mas eu finalmente durmo.
Eu esperava acordar assustado com o braço do tenente Homes me agarrando em forma de coxinha, ou de qualquer outro jeito, eu esperava que quando eu acordasse, eu estivesse muito próximo ao seu corpo "sem querer”; mas o seu corpo não está mais na cama quando eu abro os meus olhos.
Quando o tenente Homes falou que era para esquecer o beijo e qualquer outro afeto, ele estava certo. Ele já saciou o seu "desejo" de saborear os lábios do novato impressionante, vulgo eu. Agora, ele realmente quer que fiquemos só como amigos, espero que ele diga isso para o meu coração, este é o mais difícil de aceitar a realidade. Em momentos assim eu sou um idiota.
Levanto-me e saio do quarto, me deparando logo com David que segura uma chave cinza metálica.
"Bom dia." - falo. - "Homes?"
"Foi para uma tal de missão do outro lado do país." - fala David vagarosamente.
"Como você sabe? Ele só havia contado para mim e para o Rimon." - murmuro, vendo Rimon ao longe na cozinha.
"Bem, ele está dizendo na carta." - diz David, retirando a carta do bolso. - "Deixou as chaves para fecharmos a casa.". - fico sem reação
"Vou pesquisar no Google: como entender o Tenente Homes." - resmungo, e ouço David rir. - "Ele nem avisou que ia ser hoje a missão, e ainda por cima deixou uma carta com as chaves ao lado, confiando em nós... Oh, Deus!".
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