O curativo foi removido do meu nariz. A dor já passou, e o meu nariz continua do mesmo jeito de sempre - graças às maravilhas de Cristo.
Logo pela noite me foi encaminhado que o tenente Homes me esperaria na "sala 040" ás duas horas da manhã - plena madrugada - e a partir daí, eu já sabia que não era aconteceria boa coisa.
Vivo, ou apenas existo?
Capítulo 4: Exercícios instrutivos
"Se você faltar?" - indaga Carlos, em pé, movendo suas mãos para um lado, e para o outro, juntamente com o seu corpo. Provavelmente fazendo um alongamento. - "Acho que se você faltar, tudo bem.".
"As chances de ele vir aqui e arrombar a porta para me levar a força até o local são prováveis caso eu falte." - digo seriamente, e isso sai de forma tão humorada que o Carlos tenta não rir. Mas eu realmente estou falando sério.
"Eu até agora estou sem acreditar que o Paulo recebeu um soco por olhar a bunda do tenente Homes." - resmunga David. - "Tudo bem que, realmente, o tenente Homes é bonito pra caralho, mas né... Que pelo menos disfarçasse as olhadas.".
"As coisas aqui são bem sérias. Lembra do carinha que foi retirado da sala apenas por ter sussurrado? O capitão Carl ficou uma fera." - fala Carlos, agora olhando para mim. Ele não demonstra nenhuma afeição feliz, apenas uma, de solidariedade. - "Boa sorte com o machão Homes lá, vai precisar.".
"Obrigado." - sussurro.
♨
"Sala zero-quarenta." - penso, ao andar pelo corredor deserto do quartel. Tentei dormir o máximo possível, já que de acordo com o Capitão Carl, deveríamos todos descansar por conta do cansaço da resistência. Ele deve saber que um dos novatos bateu em um dos seus tenentes, por sorte eu ainda não o vi, apenas o escuto pelos fones principais dos corredores - dando ordens para todos.
Finalmente chego a uma sala que destaca bem o número "040". Dou uma leve batida na porta, e uma voz rouca fala para eu entrar. Reconheço a voz bem depois, quando abro, e vejo atentamente o rosto do tenente Homes.
"Pelo visto melhorou do curativo." - murmura ele, levantando-se. A sala só contém uma cama, e é bem redecorada com a cor verde, provavelmente deve ser o seu quarto. - "Aqui é apenas nosso lugar de encontro. Agora, iremos para fora do quartel, para o campus.".
"Tudo bem." – assinto.
Saímos do quarto, e dali em diante sou guiado por Homes até a saída do alojamento. Lembro-me de Paulo, e do motivo dele ter levado o soco, então, paro por um instante para dar uma pequena olhada nas nádegas coladas em sua calça, e realmente, Paulo tinha o que admirar nelas. O tenente Homes parece que passou a vida toda treinando o seu corpo.
"Eu espero que a sua coragem faça você sobreviver a esses exercícios." - fala ele, olhando para frente. - "A mesma coragem que fez você me bater.".
"Não precisa ficar lembrando toda hora disso." - sussurro.
Ele então para, e sou forçado a parar junto a ele. Seu corpo vira rapidamente e sua mão direita sobe a gola de minha camisa, me encostando com força na parede. Sinto nas minhas costas uma pontada de dor.
"Eu lembrarei a você disso a cada minuto." - o seu tom grosso faz meu corpo tremeluzir. Sinto bem sua respiração próxima. - "Para você aprender a respeitar seus superiores." - fecho meus olhos, eu estou realmente sendo intimidado por ele. - "Entendido?".
"S-sim, senhor." - falo em bom som. Abrindo meus olhos. E ele retira sua mão de minha gola.
"Você parece que vai me dar trabalho." - resmunga ele, voltando a andar. - "Venha.". - E então o sigo, na defensiva.
Chegamos ao campus - o mesmo local onde fiz o teste de resistência com todos -. O tenente Homes vai até um local onde tem cinco objetos grandes encostados na parede.
"É o seguinte. Ouça bem o que irei lhe falar." - ele cruza os braços, enquanto fala. - "Duas bolas grandes, duas tábuas grandes e uma caixa totalmente lacrada cheia de suprimentos. Cada um desses objetos pesa muito para alguém do seu porte físico." - ele anda até ao lado de um dos objetos, a bola, que aparenta ter vinte centímetros, e a pega facilmente, é então que sem nenhum aviso ele a joga para mim. - "Segura.".
Quando a bola chega em minhas mãos, eu sinto como se alguém tivesse jogado uma âncora enorme de navio encima de mim. Minhas mãos vão até o chão, e nem com o esforço consigo trazê-la um pouco para cima.
"Pesadinha, hein." - resmungo, suspirando.
"Você vai ter que levar cada objeto desses até o portão principal do exército e depois voltar com o mesmo." - explica ele seriamente. Olho para o portão principal ao longe, e meu corpo arrepia.
Paro um pouco para pensar, e observo o ambiente. Há apenas eu e o tenente Homes no enorme campus do exército. A noite está calma, e apenas as luzes principais clareiam o local. Não há vento, nem frio, provavelmente as probabilidades de meu corpo suar com a tarefa será bastante provável.
"O que isso tem haver com exercícios instrutivos, senhor?" - indago calmamente.
"Tudo." - responde-me, e seus olhos fazem uma curvatura. - "Exercícios que faz o aluno testar seus limites. Alunos que merecem sofrer por tal desobediência causada. Nesse caso, você." – sua feição continua séria; é então que eu percebo que nunca vi este homem sorrir, e nem verei. - "Muitos desistem. Ou por não aguentar o trampo, ou por não fazer a tarefa completa.".
Resumindo, se eu não fizer as tarefas que ele mandar, eu com certeza serei expulso daqui. E não posso deixar isso acontecer tão cedo.
Sem ele mandar, eu começo, pegando cuidadosamente a bola que está ao chão e a levanto com esforço, ela só chega até abaixo dos meus joelhos - mas já é o bastante para andar com ela até o outro lado.
Começo a andar, com minha coluna curvada, provavelmente o tenente Homes deve estar se divertindo bastante vendo a cena. Até que quando chego à metade do caminho, ouço o barulho de um portão enferrujado, olho para o lado e vejo um velho ao longe. É o zelador, o que me ajudou no primeiro dia a achar o meu quarto. Ele deve ficar até tarde acordado por conta da manutenção. Continuo a me movimentar.
Chego até o portão, respiro rapidamente, e volto com a bola em passos mais rápidos. O tenente Homes continua com a mesma expressão ranzinza de sempre.
Quando chego perto dele - e coloco a bola encostada na parede -, eu o olho e falo a letra "h", ele faz uma expressão confusa. Pego agora a tábua grande, ela parece ter um pouco mais de leveza. Tento pegar a outra tábua, para assim, levar duas ao mesmo tempo.
E a vagareza dos meus pés se torna enorme enquanto carrego as duas tábuas. Olho para o lado, e vejo que o zelador continua lá, fazendo um sorriso de solidariedade para mim, sorrio de volta.
Chego ao portão, e volto para o local. Sinto que os minutos estão passando diante dos meus olhos. O suor está começando a aparecer, e o calor que reside durante a noite não está ajudando.
Quando me aproximo de Homes, falo a letra "o", e logo após a letra "m".
"Engraçadinho." - resmunga ele sabendo o que estou fazendo. Eu meio que dei para cada objeto uma letra do seu nome. 5 letras. 5 objetos. Isso parece tirar um pouco da sua expressão fechada.
Tique-tique, o relógio não para de trabalhar, e o meu corpo não para de se estraçalhar. A bola que eu levo e volto, faz com que eu diga a letra "e" ofegantemente, é quando percebo que meu coração está acelerado, muito acelerado. E meu corpo completamente suado.
Pego a caixa, o último objeto. E me pergunto se há tijolos nessa caixa, porque a cada passo que eu dou, sinto meus braços tremerem com o peso. No meio do caminho, sou forçado a parar por conta do peso.
"Droga." - resmungo, passando a mão por minha testa, e sentindo a grande quantidade de líquido chamado 'suor'. - "Um, dois e...". - pego a caixa novamente, chegando assim até o portão.
O zelador não está mais lá, mas fico feliz por ele ter assistido alguns minutos do meu sofrimento. Agora, só me faltar voltar para o tenente Homes com a caixa, e terminar o exercício. E assim começo a voltar, pisando cada passo ao chão como se minha vida estivesse em jogo. Nunca quis tanto chegar perto do tenente Homes como eu quero chegar agora, para assim deixar a caixa ao lado dele e o surpreender por eu ter conseguido.
Mas quando me aproximo dele, meu corpo todo se perde em tontura, e caio no chão. A caixa pesada se deslumbra em meu braço direito. E permaneço ali, deitado, com a forte dor emanando em meu braço.
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