Passo o meu polegar de minha mão esquerda na palma de minha mão direita, sinto-a literalmente - até mesmo o beliscão que dou nela, consigo sentir até uma pequena pontada de dor.
"Isso aqui é algo tão imaginável." - falo, olhando para David.
"É perfeito." - elogia David a realidade virtual ao qual estamos.
Observo as árvores, o vento que se deslumbra sobre nós, as folhas que se balançam de um lado para o outro. O silêncio.
É quando os barulhos de explosões se iniciam.
Vivo, ou apenas existo?
Capítulo 7: Realidade virtual
"O que foi isso?" - indaga David, segurando com receio no tronco de uma árvore.
"Veio da mansão." - falo. - "São as armadilhas. Vamos continuar.".
Andamos pela pequena quantidade de grama que compõe nossos pês, e mesmo aqui, não conseguimos ver nenhum soldado e nenhum tenente. As árvores passam por nós sem nenhuma ameaça contra nossos corpos, e vão diminuindo ao longo do percurso.
Olho para mais a frente, e vejo uma enorme escada - como no Egito, só que de metal -, dando fim a floresta, e dando início a entrada na mansão.
Piso cuidadosamente no pedestal da escada. É seguro. Ando na frente, enquanto David me segue.
"Como iremos combater os inimigos sem armas?" - indaga David.
E sua pequena fala faz com pelo menos cinco armas apareçam das árvores ao longe, que começam a atirar rapidamente. Só dá tempo de me abaixar, enquanto o corpo de David é despedaçado em minha frente.
Ponho a mão em minha boca quando os tiros, enfim, param. O barulho da fala atrai as armas. As armadilhas já começaram, e agora eu estou sozinho.
Volto a subir cuidadosamente as escadas, quando logo vejo o enorme maranhar de muralhas no fim da escada, com apenas uma única entrada - o portão principal em minha frente. Abro-o com cuidado.
O que vejo na parte de dentro é um corredor reto, que compõe nas suas paredes apenas uma cor cristalina. Ando calmamente. Olhando para o local, e percebendo que logo terei que escolher lá na frente entre três caminhos - três novos corredores.
Tudo está muito silencioso, e após tanto andar, me sinto como se já estivesse passado por mais de trinta corredores diferentes, e uma variedade de portas.
Até que uma porta de cor vermelha me chama atenção. Entro nela. E o que têm na parte de dentro é um vazio ‘extensial’, a sala é muito grande, mas não há nenhum objeto nela. E principalmente, nenhum botão vermelho.
Quando me preparo para voltar, a porta automaticamente se fecha atrás de mim, e eu volto para tentar abrir ela novamente, mas ela está agora trancada. E eu estou preso dentro da sala.
"O que está acontecendo?" - penso.
Quando escuto um barulho de água, e sinto um líquido começar a subir do chão até os meus pés. É água, e por incrível que pareça, está enchendo toda a sala rapidamente.
Após alguns curtos segundos, a água chega até minha cintura, e esta parece ser uma armadilha sem escapatória. Não há nada para fazer com que eu possa sair daqui.
É então que eu percebo, o ruído de algo sendo empurrado. As paredes estão se movimentando, e se fechando vagarosamente. Ou eu irei morrer esmagado, ou irei morrer afogado.
O meu desespero e minha mente logo se compilam, e quando mal vejo, estou nadando. A água já está preenchendo 70% do local. Mergulho até a porta. E chuto-a, só que a água dificulta com que meus chutes saiam com força, mas não desisto. Chuto, repetidas vezes.
Tudo ocorreu muito rápido, os tiros ao longo do ar; as pessoas sendo despedaçadas pelos tiros; o barulho da voz de David alertando várias armas; os vários corredores sem sentido; a água que está lotando o local; as paredes que estão fechando, desejando amassar o meu corpo.
E estou perdendo o fôlego diante dos acontecimentos, diante da água que está me preenchendo, quando sinto que irei desmaiar, levo todo meu corpo com força para a porta rupestre, o que faz com que se quebre totalmente.
O que acontece depois parece um Tsunami, toda a água sai da sala e começa a percorrer o corredor como se fosse uma maré sem fim, seguro com a maior força que posso na porta. Quem estiver nos corredores agora, será levado pela maré.
Quando tudo se estabiliza, me solto da porta, e vou para o corredor. As paredes da sala ao qual estava, enfim, se fecham. Estou todo ensopado - novamente -, ignoro o acontecimento e volto a andar pelo corredor.
"Meus Deus do céu." - resmungo, ofegante. E minha voz desencadeia uma maldita sirene. – “Jesus...”
Os nossos inimigos não são pessoas, são as armadilhas. E quando percebo que as paredes estreitas do corredor estão se fechando e juntando-se – igual estavam na sala -, é que começo a correr desesperadamente.
"Droga, droga, droga!" - grito, enquanto sinto a parede se aproximar ao meu corpo.
Entro na porta azul em minha frente com toda a força que posso. E caio no chão. Nesta sala as paredes não estão se fechando, ainda bem.
"Que milagre." - penso.
"Pedro." - uma voz na sala me chama a atenção, olho para frente e vejo o tenente Homes em posição armada, mirando para a esquerda. - "Vem para cá, lentamente.". - nunca fiquei tão feliz em vê-lo.
Me movo rasteiramente, quando olho para o lado que Homes está mirando, vejo uma armadura vazia, parada, encostada na parede. E do outro lado ao qual ele não está mirando, vejo o botão.
"O botão que é para apertar." - penso.
"Temos que apertar aquele botão, mas se nos aproximarmos dele, a armadura vazia irá correr em nossa direção." - explica o tenente, com uma voz autoritária.
"Vamos tentar." - sussurro, e só agora vejo o seu olhar em minha direção.
"Agora!" - exclama ele.
Começamos a correr em disparada para o botão. E como ele dissera, a armadura ganhou vida, e corre como um leopardo em nossa direção. A armadura prepara um soco para acertar um de nós, enquanto corre.
O botão está tão perto, mas eu estou focado no aterrorizante ser que chega até nós. Ele não quer me acertar, quer acertar o tenente, que tenta atirar na armadura vazia, mas o tiro não faz nada com ela – nem sequer um arranhão.
E o único movimento que faço é correr em direção ao tenente Homes – que está ao meu lado -, e me movo para sua frente, levando o forte soco da armadura que me despedaça em turbilhões de pedaços.
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