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História Você Já Foi à Paris? - Querido Diário - Parte IX


Escrita por: senhoritabombonzinho

Notas do Autor


e ai galerinha
mais um

Capítulo 7 - Querido Diário - Parte IX


Fanfic / Fanfiction Você Já Foi à Paris? - Querido Diário - Parte IX

A manhã seguinte foi um verdadeiro tormento, tanto emocionalmente quanto fisicamente. Levantei-me da cama com uma sensação de exaustão que parecia pesar em cada fibra do meu corpo. Ao encarar meu reflexo no espelho, fui recebida por uma imagem que me assustou: olheiras profundas, olhos vermelhos e uma expressão abatida que refletia toda a turbulência interna que eu estava enfrentando. Não era apenas uma questão de estar descabelada ou com o rosto amassado; eu me sentia como se tivesse sido atropelada por um caminhão e depois jogada de volta na cama.

Por sorte, não precisei me apressar para me arrumar, já que Raquel estava na cozinha preparando o café da manhã. No entanto, o pensamento de ter que ir para o centro de treinamento me atormentava. Havia programado um treino regenerativo e trabalho no gramado para os jogadores que não haviam participado da última partida. Não era apenas a perspectiva de encontrar Julian que me incomodava; simplesmente não tinha ânimo para interagir com ninguém naquele momento. Mas, como não tenho o luxo de me dar ao luxo de deixar que uma noite ruim afete meu trabalho, sabia que precisava superar minha própria vontade e enfrentar mais um dia.

"Você está horrível." Raquel colocou uma xícara de café diante de mim.

"Bom dia para você também."

"Se você estiver com muita ressaca, eu posso ir no seu lugar. Hoje tem coletiva e precisamos conseguir uma entrevista." Ela se sentou de frente para mim. Eu sabia, ela duvidava que eu fosse capaz de conseguir uma entrevista.

"Te devo essa." Forçei um sorriso e me levantei, sem tocar no café. Raquel estava me irritando, ela não era tão legal quanto aparentava.

Voltei para o meu quarto e me deitei na cama novamente. Estava, sim, de ressaca; uma ressaca de ter sido feita de boba, de minhas decisões tolas e, principalmente, dos meus sentimentos tumultuados.

Eu não vi Raquel sair naquela manhã; quando percebi, o apartamento estava vazio. Aqueci um pouco de leite, sentei em frente à TV e zapeei pelos canais. Todos em francês, mas eu não estava com paciência para tentar entender os programas, muito menos para ver as imagens sem prestar atenção ao que falavam. Desliguei a TV e fiquei observando a tela escura. Passei boa parte da manhã aproveitando o sol que entrava pela janela do meu quarto.

Eu queria desabafar minhas desilusões com alguém, então peguei o celular e escolhi minha amiga de infância como destinatária. Digitei um texto enorme, detalhando uma situação complicada envolvendo um colega de trabalho e a confusão em que eu me encontrava. Deixei implícito que esse colega era um jogador, embora isso não fosse importante; eu só precisava desabafar sobre o que havia acontecido. Esperei alguns minutos, olhando para o teto, e logo recebi uma resposta cheia de palavras de apoio, tentativas de me fazer sentir melhor e de levantar minha autoestima. 

Em meio a todas aquelas mensagens, havia uma sugestão para eu mostrar a ele o que estava perdendo, enquanto outra parte me aconselhava a simplesmente ir trabalhar, tão linda quanto pudesse, e não dar atenção a ele. Parecia um plano razoável, não para provocar Julian, mas sim para me sentir bem. Afinal, sentir-se bonita faz uma grande diferença, e talvez eu devesse me arrumar um pouco mais, apenas para mim mesma.

Aprendi ao longo da vida que não há motivo para deixar um homem me abalar, não quando posso passar um batom e me sentir incrível diante do espelho. Já tive meus altos e baixos com alguns caras, momentos em que me senti no fundo do poço, mas depois de uma sessão de máscara facial e unhas feitas, todo o coração partido parecia menos doloroso. 

Dizem que o amor próprio é a melhor cura para uma fase ruim, afinal, qual prova de amor a si mesma é melhor do que cuidar da própria aparência? No entanto, é muito mais fácil seguir esse conselho quando se tem amigas por perto. Na França, sozinha, essa ideia não me trouxe o ânimo que eu esperava. Na verdade, tudo o que eu queria naquele momento era um abraço.

Entre os devaneios de autoajuda, me peguei pensando em como consegui me envolver com um francês sem contar nada a respeito. Como explicar que os problemas que tenho enfrentado na França são resultado de um alemão? Fiquei o dia todo no quarto, com o apartamento limpo, sem nada para fazer, nenhuma distração, ninguém com quem conversar de forma interessante, e sem ânimo sequer para respirar. Em meio a esse marasmo e entre lamentos, acabei adormecendo mais uma vez.

Ao acordar, ainda atordoada e sem saber exatamente onde estava ou que horas eram, percebi que a soneca tinha sido longa e me deixado com uma fome voraz. Antes de ir para a cozinha em busca de algo para comer, e talvez escovar os dentes para tirar o gosto ruim da boca, verifiquei meu celular. Lá, além de mensagens da minha mãe, havia uma de um número desconhecido não salvo na minha agenda.

“Você está bem? Não te vi no campo hoje. Adorei sua companhia ontem.”

Talvez em outro dia, antes de ontem à noite, eu teria ficado feliz com a mensagem. Talvez eu teria ficado radiante em saber que ele se lembrou de mim e que minha espera por horas de conversa por mensagem havia acabado. Mas naquele dia, eu não queria nem ter dado meu número a ele. Não pude acreditar na cara de pau: depois de beijar mil bocas, inclusive a minha, e me fazer de idiota na balada, ele me manda uma mensagem assim, se fazendo de preocupado? Qual o problema dele, na verdade, qual é o meu?

Eu fiquei super indignada, e aquela sensação de ter sido usada só aumentou. Então, lembrei que não tenho nada com o Julian e que o que aconteceu é considerado normal - apenas mais uma noite de balada, mais uma farra que ele pode atribuir à bebida. Contudo, ele pode até perguntar se estou bem e por que não fui ao CT hoje. Talvez ele ache que eu tenha dado PT, mas não sou obrigada a responder nada. Mensagem ignorada com sucesso.

Tomei um banho e, depois de muito custo, penteei meu cabelo e fiz uma trança. Como estava entediada, resolvi fazer um bolo, que por sinal ficou muito bom. Eu cozinho bem quando estou com raiva, deve ser um dom.

No dia seguinte, não pude escapar de ir para o centro de treinamento. A semana seria intensa, com muitas tarefas para adicionar ao site. Depois de me levantar e ficar sentada na cama, olhando para o nada por um tempo, decidi seguir o conselho da minha amiga. A mensagem do Julian acabou sendo uma motivação, porque agora sei qual é a dele e o quão canalha ele é. Eu havia chorado por nada.

Vesti uma camiseta e uma calça jeans, optei pelo meu tênis branquíssimo. Passei gloss nos lábios, caprichei na máscara de cílios e tive a paciência de definir cachinho por cachinho no meu cabelo. Mesmo estando simples, me senti bonita. Não queria exagerar, então decidi ser sutil: um pouco de cada vez. Hoje seria um decote discreto, um brilho nos lábios e meu cabelo perfeito. Peguei um táxi após tomar café e fui direto para o gramado. Os jogadores ainda não haviam chegado. Fiquei perto do corredor de acesso, como quem não quer nada, mas no fundo, queria ser vista.

Pode parecer coisa de quinta série, mas seria uma massagem no meu ego ferido. Quando os jogadores começaram a se dirigir ao campo, notei que o alemão e o francês Adrien Robiot estavam envolvidos em uma conversa animada. Decidi me aproximar, fingindo ler algo muito importante no meu iPad, e esbarrei propositalmente em Robiot, que gentilmente me segurou pelos ombros.

“Desculpa.” Disse, adotando um tom de menina tímida.

“Sem problemas.” Respondeu Adrien, soltando-me e sorrindo. “Gostei do seu cabelo.”

“Oi, Isa.” Ouvi a voz que eu mais queria ignorar. Uma intervenção do destino a meu favor.

“Obrigada.” Sorri para o francês, olhando em seus olhos azuis, fingindo que o alemão sequer estava ali. Em seguida, segui meu caminho tranquilamente. Notei Julian franzir a testa e dizer algo ao amigo. Sabe, diário, até que gostei. Pode parecer infantil, mas às vezes as pessoas pedem por isso.

O meu plano de ser linda e ignorá-lo deu certo por uma semana. Ele passava, me cumprimentava, e eu apenas o encarava sem abrir a boca para responder. Se ele se aproximava, eu simplesmente me afastava. Tenho certeza de que ele notou tudo isso. À noite, eu checava meu celular e lá estavam as mensagens dele, cheias de pontos de interrogação. Sabe qual é a dos caras como o Julian? Eles gostam de brincar, mas nunca querem ser os brinquedos, especialmente os brinquedos rejeitados. Eu sei que não era a única em sua lista, mas se ele ainda não desistiu de falar comigo, é porque eu o incomodei.

Olha, diário, a gente passa a vida sonhando com um príncipe, e de repente, lá está ele. A atração é imediata, porque ele parece se encaixar perfeitamente em cada um dos nossos sonhos. Mas ninguém é tão perfeito a ponto de corresponder a todas as nossas expectativas de uma só vez. Foi isso que aconteceu comigo. Foi só uma ilusão, um verdadeiro conto de fadas em que eu investi muita esperança onde não deveria existir nenhuma. Eu já estava começando a aceitar isso, mas não tenho controle sobre tudo o que acontece, nem sobre minhas esperanças ridículas. Então, preciso te contar como caí na realidade. Literalmente.

Raquel havia ido gravar uma matéria no CT, e eu já estava cansada dela. No começo, ela parecia ser uma pessoa bem diferente do que era na verdade. Mas agora, percebi que ela é um pé no saco em tempo integral. Eu praticamente implorei para ficar em casa, usando a desculpa de que iria faxinar a cozinha de cima a baixo, e ela finalmente me deixou em paz. Eu gosto de limpar as coisas; é desestressante para mim.

Liguei o rádio de Raquel na cozinha e conectei meu pen drive, recheado com sucessos dos anos 2000 a 2009. Tinha de tudo: funk, pagode antigo, Summer Eletrohits e músicas internacionais. Era uma trilha sonora eclética, mas que me trazia uma sensação de conforto e familiaridade.

A cada música, uma onda de boas lembranças invadia minha mente, transportando-me para dias que pareciam infinitos, passados em frente à TV, dançando e me sentindo parte dos clipes musicais com as amigas. A programação musical excelente da MIXTV naquela época era uma verdadeira fonte de diversão e nostalgia. Enquanto as músicas tocavam, eu me entregava às memórias, revivendo momentos especiais.

Ouvindo aquelas músicas, eu nem me importei de subir em uma escada perigosamente bamba que encontrei na área de serviços, equilibrando-me para limpar em cima dos armários e os azulejos das paredes. Estava tudo muito divertido, relembrando e cantando junto, até mesmo me emocionando ao som de "With You" do Chris Brown. Foi nesse momento que percebi que estava precisando realmente de um abraço, de alguém para me reconfortar e me fazer sentir acolhida.

Enquanto eu estava lá, imersa nas lembranças da adolescência, aquela música começou a tocar, e eu simplesmente não pude resistir. Precisava compartilhar aquele momento nostálgico com uma das minhas amigas, relembrar os dias em que pensávamos que o ensino médio seria como em "High School Musical". Eu estava em um dos últimos degraus da escada, de costas para ela enquanto limpava o armário. Sabe, diário, se um dia você fizer uma faxina, vai entender que às vezes precisamos ser contorcionistas e ter um equilíbrio incrível para alcançar todos os lugares.

Devagar, me virei para descer, mas a escada começou a chacoalhar e ranger. Foi então que tive aquela sensação estranha de estar sendo observada. Instintivamente, olhei em direção à porta da cozinha para conferir, e levei um susto enorme. Meu coração quase parou. Num movimento errado, acabei perdendo o equilíbrio e levando um baita tombo, escada e tudo. Me esborrachei no chão.

Fall... Sometimes I fall so fast

When I hit that bottom

Crash, you're all I have

Caindo rapidamente ao som de Ashlee Simpson - "Pieces of Me", eu descobri que o chão de Paris era frio e implacável, causando uma dor intensa quando você caía nele. Lá estava eu, caída no chão, tentando me lembrar de como se levantar e mapeando mentalmente as áreas doloridas. Realmente, só a intercessão divina poderia me ajudar naquele momento. Não sei se é assim que alguém deve chegar à casa de outra pessoa. Não ouvi a porta da sala se abrir, talvez devido ao som alto, e nem esperava por uma visita naquele momento. Será que era pedir muito para ser chamada?

“Você está bem?” Julian rapidamente se ajoelhou ao meu lado, estendendo a mão para me ajudar a levantar.

"Me leva, Jesus. Eu quero morrer!" Desabei em choramingos, ignorando completamente o gesto de apoio do rapaz. Levei a mão até minhas costas e bunda, sabendo que um belo hematoma estava a caminho. Cada parte do meu corpo doía.

Tentei me erguer, mas foi uma daquelas quedas que parecem sugar todo o ar dos pulmões. Meu ombro também latejava de dor. Acabei me sentando no chão, encarando Raquel que se aproximava de mim.

“Meu Deus, menina, quer me matar de susto? Machucou?” Ela me observava estatelada no chão enquanto se dirigia à geladeira. Morar com essa mulher era como viver com um pedaço de madeira, completamente insensível. Ela levantou a escada sem me oferecer nem mesmo uma mão para me ajudar.

“Você precisa de um médico?” Draxler parecia genuinamente preocupado. “Desculpa, não quis mesmo assustar você.”  Ele estendeu a mão novamente, oferecendo ajuda.

“Preciso que você cale a boca. Estou ótima, nunca estive tão bem.” Recusei sua mão mais uma vez, apoiando-me no armário para me levantar.

Iria ficar dolorida por dias, mas o que é uma queda de uma escada para alguém já acostumado com os tombos da vida? Fui até o rádio e o desliguei.

“O que ele está fazendo aqui?” Raquel se aproximou com algumas pedras de gelo em um saco plástico.

“Disse que precisava falar com você. Você está inteira, ótimo. Estou muito cansada para levar alguém ao hospital.” Ela me avaliou e me entregou o saquinho com gelo. “Quer alguma coisa, Julian?”

“Não, obrigado.” Ele cruzou os braços, fitando-me por um longo instante.

“Vou deixar vocês conversarem e depois você me conta o que está acontecendo.”Raquel meneou a cabeça na direção do alemão e saiu da cozinha.

Coloquei o saquinho de gelo no meu ombro, sentindo uma vontade quase avassaladora de chorar ou gritar. Não sabia se era pela dor da queda, pela raiva em relação a Julian ou pela surpresa de vê-lo ali, na minha casa, sem qualquer explicação.

“Você está mesmo bem?” Ele veio em minha direção. “Posso te ajudar?”

“Não, obrigado. E sim, estou bem. Nem doeu tanto assim.”  Eu dei de ombros, gemendo ao me sentar na cadeira.

“Posso ver?” - Ele se aproximou e tirou minha mão com o saquinho de gelo do meu ombro. “Vai ficar um hematoma feio aqui.” Eu olhei para o outro lado, esperando por alguma novidade. “Você tem alguma pomada anti-inflamatória? Pode ajudar a aliviar a dor.” Eu simplesmente neguei com a cabeça.

“O que você está fazendo aqui?”

“Você não tem falado comigo e me evitado e eu não sei bem o porquê…”

“Jura que você não sabe?” Eu tirei as mãos dele do meu ombro. “É muito babaca mesmo, viu. Dá licença.” Eu tentei me levantar rapidamente e ficou claro que eu iria pagar caro por essa queda.

“Escuta, Isa, se foi por causa do que aconteceu na balada… Do nosso beijo…”

 “Não foi por causa do nosso beijo, foi por tudo o que aconteceu. Eu não tenho costume de beijar alguém e assistir essa pessoa beijar outras pessoas depois na mesma noite e achar normal.” Ele arregalou os olhos e me encarou com a boca semiaberta, já preparado para se defender. Típico. “Eu não esperava que você fosse esse tipo de cara.” Na verdade, eu esperava sim, mas às vezes a gente tem que se fazer de boba.

“Isa…”

- “Meu nome é Isabel.”

“Desculpa, não quis ser um idiota com você.” Eu apenas esperei, já me preparando para a desculpa da bebida. “Eu estava bêbado.” - Ele disse.

“Eu também, não deveria nem ter deixado você me beijar. Parece que o que a gente faz bêbado causa um enorme arrependimento depois.” Eu sabia que estava mentindo sobre estar bêbada, mas ele mereceu.

“Uau. Eu acho que eu mereci essa.”

“Porque você não vai embora?.”

“Me desculpa, eu fui idiota e ainda fiz você cair de uma escada. Você tem todo direito de ficar brava comigo, mas eu gosto de conversar com você e eu não queria que você ficasse com raiva de mim.”

E foi aí que eu percebi que para ele não fazia diferença ou não ter me beijado, ele só não queria que eu me afastasse. Doeu viver de fantasia esse tempo todo e agora abrir os olhos. Tive que despencar de uma escada para cair na real.

"Tá bom então." Eu abri um sorriso irônico.

“Podemos ser amigos?”

“Eu realmente não tô afim, mas claro.” Eu sorri sem mostrar os dentes e fui em direção ao meu quarto.

“O que eu posso fazer para você se sentir melhor?” Ele ainda me observava com um olhar arrependido, que eu sabia ser falso.

Fingir que morreu seria ótimo.

Hoje, mais do que nunca, só queria voltar para casa. Aquele espaço onde me sinto segura e confortável, onde posso ser eu mesma sem preocupações ou decepções. A sensação de querer fugir e encontrar refúgio em um lugar familiar era avassaladora. 


Notas Finais


Até o proximo
a musica é essa aqui ó
https://www.youtube.com/watch?v=WJCsyLUCSXI


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