História Volte para Dezembro - Seis

Malia acordou abraçada ao peito nu de Theo e por um momento ela se perguntou se eles tinham transado. As memórias da noite passada eram como um borrão em sua mente. Mas ela ainda tinha todas as roupas de ontem em seu corpo, então ela deduziu – esperou – que nada tivesse acontecido.

Ela levantou o rosto para olhá-lo. Chamou-o n'um sussurro sonolento e tentou acordá-lo. Sua cabeça doía – talvez os deuses só quisessem que eles ficassem deitados ali? Talvez.

Mas então Theo acordou e Malia teve que chacoalhar aquela ideia de sua cabeça. Ele deu um sorriso preguiçoso quando viu a mulher-coiote deitada em seu torso.

— Bom dia.

— A gente não transou ontem à noite, n'é?

— Não pareça tão aliviada, eu vou ficar ofendido. — Theo murmurou, passando a mão pelos cabelos desajeitados.

— Vamos ter outras oportunidades. — ela brincou, com um sorriso divertido e sentando-se na cama.

Theo abriu sua boca para dizer alguma coisa – talvez convidá-la para fechar aquele dilema agora mesmo? –, mas sua fala se cortou n'um sorriso porque Malia Tate tinha acabado de flertar com ele. E aquilo tinha que significar alguma coisa. Ele já estava feliz com a ideia dessa possibilidade.

Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a porta foi aberta e Katherine entrou no quarto. Ela já estava bem acordada e arrumada para a escola. Malia e Theo viraram seus rostos para vê-la e se entreolharam confusos.

— Bom dia. — ela disse. — Levantem seus traseiros dessa cama a se arrumem, senão vamos nos atrasar! — Malia riu e iria comentar, mas ela a interrompeu: — Antes que falem qualquer coisa, eu acordei mais cedo porque eu sabia que vocês não iriam e a gente ia se atrasar por causa disso. E, ao contrário de vocês, eu sou bem responsável.

Katherine carregava um sorriso orgulhoso em seu rosto e doeu para Malia dizer:

— Kath... é feriado de festas de fim de ano.

— O quê?! — o mundo da pequena parecia ter desabado. — Então eu acordei cedo a toa?!

Malia deu os ombros para sua filha e ela conseguia ver pelo canto da vista Theo tentando segurar sua risada. Isso a fez dar um sorrisinho de lado, o que deixou Katherine furiosa. Ela bufou e saiu do quarto em passos duros – o que foi a gota d'água para Theo, caindo na gargalhada.

Malia não conseguiu evitar a risada. Ela virou-se para o outro e deu-o um tapa fraco no ombro.

— Coitada d'a menina! Não ria d'ela!

Theo fechou a boca, tentando conter o riso, mas carregando um sorriso travesso em seus lábios. Ela sorria igualmente para ele. Depois de observá-la por um momento, Theo disse:

— Quer saber, você ainda está com a proposta de ontem há noite? Eu quero repensar minha resposta.

Malia arqueou as sobrancelhas.

— D'o que você 'tá falando?

— Oh — Theo riu fracamente. —, você não se lembra. Não te culpo, você estava bem bêbada.

Okay, agora ela estava preocupada. Proposta?

— Fale. — ela pediu. — O que eu propus?

— Hm, nada demais na verdade. — ele disse calmamente. — Só insistiu bastante na ideia de eu te beijar. Ênfase na palavra "bastante".

O quê? Um tornado de pensamentos começou a invadir sua cabeça.

Isso parecia ridículo, e ela teve quase certeza na hora que Theo inventara essa história para fazê-la passar vergonha. Ela não faria isso, nunca. Beijar Theo? Nunca. Nunca mesmo. Havia motivos de sobra para não beijar Theo. Começaria com o ódio da alcateia com ele e ela e acabaria n'ela odiando a si mesma. Ela não conseguia pensar em um bom motivo sequer para ter essa ideia.

Ela desejou ter escutado Kira e não ter tomado tanto álcool.

— Eu disse que não, não iria te beijar. — ele continuou, afastando Malia de seus próprios pensamentos. — Porque você estava bêbada, e fora de si. Eu sei que se tivesse não iria acabar bem para nenhum de nós depois.

— Huh — ela disse se aproximando d'ele. —, e agora você quer repensar sua resposta?

Theo sorriu e abaixou a cabeça, se arrependendo imediatamente do que dissera cinco segundos atrás. Droga, ele pensou. Quando levantou o olhar de novo, respondeu desajeitadamente:

— Bem, não é como se você ainda estivesse com a proposta aberta.

— Eu não sei, Raeken. — ela disse, fazendo Theo arquear uma sobrancelha e se aproximar d'ela. — Você sempre me pareceu o tipo que rouba beijos. Fico surpresa que você nunca tenha me beijado até hoje.

Surpresa? Mais que definitivamente. Malia ficou completamente surpresa com Theo quando ele a agarrou pela nuca, puxando-a para ele e prensando seus lábios nos dela. Era quente e feroz, e tinha algo tentador n'ele. Tudo parou e seu toque queimava dentro d'ela. Os lábios dele ardendo sobre os seus enquanto ela o beijou de volta, embora ela não tivesse pretendido. Não, o que ela queria era empurrá-lo para fora d'ela, chutá-lo e enviá-lo voando contra a parede. Manter suas mãos e boca sujas longe dela e sua língua mentirosa fora de sua boca.

Mas em vez disso, ela cedeu.

Foi apenas por um momento. Ou dois. Ou talvez até três. Ou... depois de três, ela perdeu a conta. Ela estava sem fôlego, e seu peito queimava. Ele era tentador, atraente, ele era pecado. Inferno encarnado que tentava arruinar sua vida, afastá-la de seu bando e usá-la para sua vantagem. Ela deveria matá-lo por tudo o que ele causou para ela.

Contanto, lá estava ela, o beijando.

Sua testa se enrugou um pouco quando sentiu os lábios dele se desprenderem dos seus. Ela iria perguntar o que havia acontecido, mas sua fala foi cortada por um gemido quando sentiu aqueles mesmos lábios em seu pescoço. Theo traçou uma trilha de beijos de seu pescoço até seu ombro, sua mão acariciando seu braço e deixando Malia tonta.

— Mãe- ah, não! — Katherine entrou no quarto e tampou seus olhos quando viu em que estado seus pais estavam. Theo se distanciou de Malia e os dois olharam para a filha. O que eles tinham acabado de fazer? — Por favor, não voltem a fazer isso! Não, não, não!

Katherine suspirou e tirou a mão de seus olhos, tentando se acalmar. Abriu os olhos lentamente, e quando viu que seus pais já estavam há uma distância razoável um do outro, ela relaxou.

— Eu me esqueci de falar. — ela disse. — Tia Lydia falou que vai fazer uma viagem no ano novo com, sabe, todo mundo. E isso também inclui a gente! Ela me falou pra avisar vocês e pra, quando vocês puderem, falarem com ela se podem ir.

Como não obteve resposta, Katherine decidiu que realmente tinha chegado na hora errada.

— Bem, eu vou indo, então. — ela disse e saiu do quarto.

A porta se fechou e o silêncio reinou no quarto. Tanto o coração quanto a mente de Malia pareciam estar a mil por hora. Ela estava paralisada, sem saber o que fazer. Ou o que tinha acabado de fazer. Errado, a mente dela gritava. Errado, errado, errado.

Theo arrumou todas as forças que tinha e conseguiu olhar para ela. Ao contrário de Malia, ele sabia exatamente o que tinha feito e os efeitos que isso iria causar n'ela. Se ela voltasse para Beacon Hills, ela estaria arruinada – e ela estava bem decidida em voltar.

— Malia? — ele a chamou, sua voz falhando. Ele procurou os olhos dela, suplicando que o olhasse.

Lentamente, ela abriu os olhos, encontrando os olhos azuis-esverdeado de Theo. Ele sabia o que havia em seus olhos, ele conhecia aquele sentimento muito bem. Culpa.

— Isso não pode acontecer de novo. — ela disse, depois do que parecia séculos em silêncio. Levantou-se da cama e saiu do quarto o mais rápido que pôde.

Theo suspirou.

∞∞

 — Você ainda está com as roupas de ontem? Eca, que nojo. Vai se trocar, tomar um banho. — Katherine falou com uma careta quando Malia passou pela sala.

Malia suspirou. Ela não estava com paciência o suficiente para isso. Sentou-se do lado da filha no sofá e virou-se para ela. Perguntou:

— Você disse uma vez que eu e Theo brigávamos muito quando você era bebê. Você se lembra por quê?

— Hm... — a pequena colocou a mão no queixo, pensando. — Não muito, na verdade. Eu era bem pequena. Mas eu lembro que, no final, vocês sempre se entendiam. Tia Lydia já me falou que tanto sua vida quanto a do pai foram difíceis e vocês se acharam e um momento muito difícil também.

Malia se surpreenderia com a semelhança com seu mundo em Beacon Hills, se não fosse pelo fato de que um dos motivos que sua vida era difícil era o próprio Theo. Mas, mesmo pensando assim, ela continuou a ouvir a pequenina.

— Vocês dois são duas pessoas bem bravas e teimosas, então sempre andavam brigando. Mas Tia Kira também me contou uma vez que, apesar disso, vocês acharam semelhanças um no outro. E, eu não sei, começaram a ajudar e ouvir um ao outro e... acabaram aqui.

Ela lembrou-se de um tempo em que acreditava que ele estaria disposto a ajudá-la e ouvi-la. Mas ela também lembrava como a história acabou. Ela não cometeria o mesmo erro novamente.

Porém, então, Malia não pôde evitar pensar o que teria acontecido com eles. Se ele só estivesse disposto a ajudá-la, se ela tivesse o ouvido e não entrado naquele prédio, se ele tivesse se arrependido um pouco antes.

Mas não era tempo para pensar em "se"s.

— Mas, por que a pergunta? — Katherine indagou.

— Nada. — Malia respondeu. — Diga á Lydia que nós vamos para aquela viagem.

∞∞ 

Cinco dias se passaram em um piscar de olhos.

Mas, não era como se coisas extraordinárias tivessem acontecido nesses cinco dias. Malia tentava evitar Theo o máximo que podia. Katherine continuava Katherine. Alan ainda tentava achar alguma solução para o problema dos dois, mas nada parecia dar certo.

Lydia sugeriu viajar para Miami, o que parecia perfeito para Malia. O que ela precisava era esfriar a cabeça por um momento. Então ela arrumou suas malas e subiu n'um avião direto para Flórida.

Ela estava já no hotel, arrumando suas malas no quarto, quando se arrepiou com a presença de alguém ao seu lado e uma mão em sua cintura. Ela suspirou, pois sabia quem era e o que queria.

— Malia — Theo falou. —, por favor, fale comigo.

— Não tem nada para falar.

— Não faça isso. — ele pediu, em uma voz quieta. — Você tem me ignorado por dias, e você sabe que precisamos falar sobre... o que aconteceu.

Malia se virou para ele. Theo a olhava com um ar preocupado, e ela quase acreditou n'ele. Quando ele abaixou o olhar para os lábios dela, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa sobre isso, a porta de seu quarto fora aberta. E lá estava a primeira e única Lydia Martin.

— Olha, eu sei que é um hotel, mas um pouco de espaço pessoal seria ótimo. — ela riu, e Theo se afastou um pouco da outra, tirando a mão de sua cintura. — Isaac quer falar com você. E você, você vem comigo e Kira. Esse lugar é incrível! Eu tenho que te mostrar tudo.

Malia sorriu para a amiga.

— Claro, eu desço em um instante.

Lydia sorriu de volta e saiu do quarto.

Theo se virou para Malia, recomeçando sua fala:

— O que aconteceu n'aquele dia-.

— Não vai acontecer de novo. — ela disse calmamente. Virou-se para e continuou: — Você não ouviu? Isaac quer falar com você. Eu não quero.

Ele murmurou algo baixo demais para ela ouvir e, depois de um último olhar triste, saiu lentamente do quarto. Malia suspirou e voltou sua atenção para as roupas em sua mala.