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História Voz de Anjo - Capítulo 03 - "Canela e Pomada"


Escrita por: basohr

Capítulo 4 - Capítulo 03 - "Canela e Pomada"


CAPÍTULO TRÊS

 

Segunda-Feira, 13h35min 

No momento em que cheguei em casa já era um pouco mais das uma hora. Fiz uma refeição rápida logo após tomar um banho frio. Fiquei certo tempo deitado na cama escutando uma por uma das músicas que continham em meu celular.

Vez ou outra me levantava para fazer o mesmo caminho; ir até a janela e conferir se ele realmente não estava ali, sereno.

Quando finalmente sai de meu quarto já se passavam das duas horas. Caminhei um pouco pela casa, por fim me sentando nos degraus da varanda dos fundos.

O dia não estava tão quente, mas mesmo assim o sol brilhava no meio do céu. Seria um ótimo dia para passear. Talvez eu realmente devesse sair um pouco.

— Já que estar aqui fora, regue as plantas. – pediu minha mãe enquanto tomava algo em sua xícara.

Café. Eu reconhecia o aroma dos grãos torrados com facilidade.

Minha mãe não era bem uma apreciadora de café, mas sempre o tomava quando se encontrava com dor de cabeça, já que, dizia que melhorava.

Reguei as plantas como ela havia pedido. Desde a grama verde até as flores espalhadas pelo quintal. Durante o tempo e que eu molhava as flores minha mãe que antes havia se sentado, voltou para dentro da casa.

Terminei de regá-las, deixando a mangueira de lado e andando pelo o local. Dando mais uma olhada nas cores das flores. Aproveitando para conferir se ele não estaria no telhado.

A curiosidade me tomava para si. Pelo tempo em que moro aqui, vê-lo sentado naquele mesmo telhado já havia se tornado um hábito. Mas hoje ele não estava ali. Talvez eu esteja sendo paranoico em pensar que algo poderia ter acontecido a ele, mas de certa forma, eu me sentia temoroso.

Estava tão pensativo que nem percebi quando arranquei uma das rosas que ali estavam. Analisei-a com cuidado, vendo os espinhos afiados. Pequei uma das inúmeras pedrinhas que estavam espalhadas pelo chão e quebrei todos os espinhos. Sorri quando já não se tinha mais nenhum espinho no pedúnculo da flor.

Não sei explicar exatamente o que me fez erguer daquela grama e andar até a casa ao lado. Muito menos dizer o porquê de ter escalado – com um pouco de sacrifício – a parede daquela mesma casa e ter subido em seu telhado. Quando eu finalmente dei por mim, eu já estava – novamente – no jardim de minha casa. Porém, não tendo mais a rosa em minha mão, esta que agora encontrava-se no batente da janela da casa vizinha, sendo mantida ali pela mesma pedrinha que retirara seus espinhos.

Talvez – não irei confirmar com prontidão – eu apenas quisesse fazer um pequeno agrado ao garoto, e aí estar outra incógnita, por que eu tentaria agradá-lo ? Por qual motivo? Talvez por conta do dia a dia do mesmo se resumir – aparentemente – em cores escuras e sem vida. Sei que as cores do céu e de seu pôr-do-sol, a qual ele tende a admirar com tanta atenção, o completa levemente me fazendo tirar o foco de suas roupas simples e focar toda minha atenção em sua simplicidade de admiração, já que, dificilmente encontramos alguém que se preze a algo tão simples como admirar o passar do dia.

Mas o que eu poderia fazer ? Aquele garoto era mais uma incógnita em minha vida.

Mesmo achando arriscado e sem lógica permanecer colocando uma rosa naquele mesmo lugar todos os dias, eu continuava o fazendo. Poderia ser ridículo e invasivo de minha parte, mas algo dentro de mim se alegrava ao descer daquele telhado em que ele permanecia no final da tarde. Talvez pela razão de que todas as rosas depositadas alí sumissem.

Foi no primeiro dia desde que eu me mudei que o tempo havia ficado pela primeira vez, bastante úmido, e fora nesse mesmo dia que eu consegui vê-lo pegar a rosa pela única vez até aquele dia, foi a primeira vez que de fato o vi pegá-la, talvez tenha sido a decima quarta ou quinta rosa que eu havia deixado alí, não sei ao certo, mas eu o vi pegá-la e levá-la as narinas e sentir o aroma com cautela, no mesmo momento eu senti uma calmaria me abraçar, semelhante a de quando você acorda quase no horário do almoço de uma segunda-feira, mas mesmo assim, pode continuar amarrotado na cama sem preocupações de obrigações e escola. Uma sensação agradável.

Nos dias seguintes eu me mantive empenhado em colocá-las sempre no mesmo horário, havia vezes que conseguia vê-lo pegá-las. Durante esse mês eu me pus na obrigação de cuidar do jardim do quintal. Minha casa – assim como a maioria das residências da rua – continha um jardim no fundo. De início minha mãe estranhou tal iniciativa, no entanto, parou de questionar ao perceber que o jardim começou a florescer com mais vigor – apesar das rosas que eram arrancadas diariamente.

Hoje tudo tinha começado de um modo ruim, eu acordei atrasado, mal fiz me higiene pessoal, ao tomar café com pressa minha blusa do colégio ganhou uma grande mancha de café. O que acabou com eu ficando mais tempo no colégio para explicar o motivo de tal coisa. O mais chato fora que, já por eu estar no colégio fora do horário de aula o diretor me puxou para a arrumação da feira de química, fazendo com que eu chegasse em casa uma hora depois do cotidiano.

Aproveitei que minha mãe não estava em casa para me deitar sem almoçar, estava cansado e estressado, minha cabeça latejava e ao repousá-la em meu travesseiro o sono dominou-me instantaneamente.

Quando despertei já eram quase quatro horas da tarde, levantei em um salto correndo – e tropeçando – em direção a janela, não havia ninguém no telhado, porém a janela encontrava-se aberta, com as cortinas balançando conforme o vento. Suspirei esfregando a mão na testa enquanto ia em direção ao banheiro, lavei meu rosto para me despertar por completo.

Minha mãe já estava em casa o cheiro do bolo de baunilha que essa preparava tomava toda a casa, fazendo com que meu estomago rocasse. Desci ainda em passos lentos até a cozinha onde não só minha mãe estava, o MinSeok também.

— Hyung. – me chamou estendendo um dos morangos da vasilha em minha direção, me aproximei abocanhando-o. 

— Assim não terá morangos para enfeitar o bolo. – ditou minha mãe tirando a vasilha de nossas vistas e a guardando na geladeira, causando um bico em nós dois.  

Peguei uma banana do cacho e fui em direção ao jardim, enquanto terminava de comer a banana analisava as rosas que ficavam no canto do jardim, me agachei e puxe uma rosa que estava caída, arrancada de sua raiz, limpei a areia de suas pétalas e me ergui, antes pegando uma pedra pequena.

Enquanto caminhava em direção a casa vizinha, com a pedra eu arrancava os espinhos da rosa, um por um, até não restar mais nenhum.

Me pendurei na grade da janela do térreo como de costume e me impulsionei, subindo com cuidado até estar sentado no telhado da casa. Ao me virar para a janela me assustei ao vê-lo bem alí, em minha frente, sentado no batente da janela onde eu colocaria a rosa. Meus olhos estavam esbugalhados e com toda a certeza meu rosto encontrava-se pálido, senti minha boca seca, meu coração batendo mais rápido por conta do susto e minha respiração ofegante, inconscientemente apertei com um pouco de forçar a rosa que estava em minha mão, ao sentir uma das pétalas se desprender parei rapidamente de apertá-la.

Com muito esforço o olhei, ele analisava atentamente a rosa que eu segurava, seus olhos seguiram até a telha amarronzada onde a pétala que havia se soltado se encontrava agora, fazendo com que um pequenino – quase perceptível – bico nascer em seus lábios rachados. Esses que me pequei fitando.

Me assustei quando ele esticou sua mão em minha direção, franzi o cenho completamente confuso, até ele apontar para a rosa que eu segurava enquanto com a outra mão tapava a boca tentando esconder seu riso. Ele não estava rindo de mim, estava ?

Se antes eu me encontrava pálido pelo susto e por ter sido pego no flagra, agora eu me encontrava completamente vermelho de pura vergonha. Com toda a certeza do mundo eu estava fazendo o papel de bobo e ridículo. Sabe quando você estar em um lugar com muitas pessoas ao seu redor e você acaba caindo bem no meio do local ? Fazendo todos te olharem e rirem ? Eu me sentia exatamente assim, totalmente constrangido. Por ser flagrado subindo no telhado que não era da minha casa, por estar fazendo um papel de retardado. Eu só queria voltar no tempo e ter permanecido em minha cama, dormindo e longe de todo esse constrangimento. Digamos que eu nunca fui uma pessoa que conseguia agir sem parecer um idiota quando o foco estava sendo eu. E esse era mais um dos incentivos para James me atazanar com suas brincadeirinhas, fazendo todos de nosso ciclo de amizade rirem ao constatar que eu era mais “menininha” que a Jordana. E talvez eu realmente fosse, eu não negaria.

Engoli em seco erguendo meu braço para que ele a pegasse, esse que logo a levou até o rosto, cheirando-a e sorrindo de leve. Me senti menos tenso ao imaginar que ele não me jogaria de cima do telhado como eu imaginava que faria. Suspirei aliviado.

Enquanto ele passava seus dedos longos por cada pétala, uma por uma sentindo sua maciei, eu me pus a analisá-lo. Seu cabelo era em um castanho escuro, juntamente com seus olhos pequenos e escuros, seus lábios eram finos e encontravam-se esbranquiçados e rachados, e bem no cantinho esquerdo, havia um corte já com sua casquinha. Sua pela não era tão branca e muito menos escura, era em pardo claro, um pouco mais escura que a minha. Não deixei de reparar que um pouco abaixo de seu olho direito tinha uma mancha arroxeada, porém já sumindo, contudo, ainda encontrava-se com um pequeno inchaço, fazendo com que o olho deste se encontrasse um pouco mais fechado que o outro.  

Parei de analisá-lo quando percebi que ele também me olhava, e novamente me senti constrangido, meu rosto rapidamente esquentou, fazendo com que eu olhasse para outro lugar que não fosse seu rosto risonho. Ele ria sem fazer um ruído sequer, rindo de mim como se risse se alguma série televisiva.

Voltei a olhá-lo quando ele parou de me fitar para retirar do bolso de sua bermuda um bloquinho de papel e um lápis já pela metade. O vi atentamente rabiscar na folha amarelada, logo arrancando-a e a erguendo para mim, peguei-a de sua mão com muito esforço, me aproximar dele não estava em meus planos, olhá-lo de perto com toda a certeza também não estava em meus planos! Por que isso estava acontecendo ? Eu só queria ter acordado no horário certo e colocado a rosa e decido sem vê-lo. Tê-lo assim, tão perto e me encarando fazia com que minha garganta secasse. Talvez por pensar que ele soubesse que eu o encarava de meu quarto a quase dois meses, e quem sabe também soubesse que eu já estava em meu terceiro quadro tendo-o como modelo. E que eu sabia as horas exatas em que saia pela janela e sentava-se no batente da janela ou no telhado para ver o dia passar. Sem citar que agora sabia sem mais nenhuma dúvida que era eu quem colocava as rosas no batente de sua janela. Eu estava apavorado. Completamente apavorado.

Respirei fundo antes de ler o que havia sido escrito no papel, ele me encarava atentamente o que fazia com que eu me sentisse mais nervoso. Tive que reler três vezes para entender o que estava escrito, havia erros de escrita fazendo com que eu demorasse para entender.

“Você demorou dessa vez, achei que não viria mais. Obrigado pela rosa.” – Engoli em sego passando a língua pelos meus lábios para umedecê-los, por que minha boca estava tão seca ? Céus! 

— E-eu... Eu dormi um pouco mais do que o previsto, então... Então eu... – ele comprimiu seus lábios e eu sabia que ele estava tentando segurar sua risada. Park ChanYeol, você é o maior pateta de todo o mundo — então eu me atrasei... – sussurrei sem querer realmente falar. Ele abaixou a cabeça com a mão cobrindo seu rosto. Eu sabia que ele ria por conta das lufadas de ar audíveis que saiam de seu nariz, juntamente com seus olhos espremidos por suas bochechas. Quando ele finalmente retirou a mão da frente de seu rosto pude vê-lo completamente vermelho, me fazendo lembrar dos morangos que MinSeok estava comendo mais cedo. Sem realmente perceber ri baixinho pela minha comparação ridícula, o olhei ainda rindo o vendo sorrindo.  

Ele voltou rapidamente a escrever em seu bloquinho, o que já estava me deixando curioso o porquê disso.

“Qual o seu nome ?” – Encarei aquele novo papelzinho, e o vendo me olhar com curiosidade e expectativa.

— ChanYeol. Park ChanYeol. – o respondi. Eu já me sentia um pouco mais calmo, porém ainda assim, nervoso.

Ele concordou sorrindo, voltando a escrever em seu bloco.

“Eu me chamo BaekHyun, Byun BaekHyun.”

Ri ao ter que ler duas vezes para ter certeza que não era bacon, e sim BaekHyun, o que fez ele me encarar atento.

— Nome bonito. – elogiei guardando os papelzinhos no bolso de minha calça de moletom – Mas, por que escreve em vez de me responder ? – questionei. Mesmo parecendo calmo eu estava receoso por talvez estar sendo invasivo demais, mas ele pareceu não se incomodar ao voltar a escrever em seu bloco.

“Eu não falo, *ChanYeou.” – Um bico se formou em seus lábios ao me entregar o papel, eu senti um frio na espinha ao reler o papel e constatar que ele não falava.

— Ahhh, me desculpa. – me senti completamente envergonhado, minha coragem de descer desse telhado só havia aumentado. Ele riu negando com a cabeça o que fez com que eu sorrisse inconscientemente – Mas, você me escutar ou faz leitura labial ? – indaguei curioso para saber como ele me entendia.  

Ele pareceu pensar por um tempo, até finalmente escrever algo e me entregar.

“Não sei explicar, eu falava, mas depois de um tempo eu parei, mas eu consigo te ouvir.”

— Entendo... – concordei — Ahh... – tentei prosseguir enquanto coçava minha nuca tentando pensar em algo — Como sabia que era eu que co-colova as rosas aqui ? – ele riu com seu modo silencioso voltando a escrever.  

“Você não é muito discreto, tenha mais cuidado.” – sorri sem graça. Talvez eu realmente não fosse a pessoa mais discreta, isso eu já havia percebido.

Ficamos calados por um tempo. Ele tinha guardado seu bloco de notas e agora analisava a rosa novamente. E eu o analisava. Analisava sua roupa folgada e larga, percebendo que ele era bem magro.

Parei de fitá-lo quando esse chamou minha atenção e logo apontou para o céu, me virei confuso e logo entendi o que ele queria dizer com aquilo. O sol agora estava se pondo para o crepúsculo.  

Me senti nervoso quando ele se sentou ao meu lado no telhado. Ele sorriu fraquinho, logo voltando a olhar para o céu. Passei a tentar me manter focado em olhar o pôr-do-sol mesmo me sentindo tenso. Estava difícil.

Agora com ele ao meu lado eu podia sentir um cheiro de canela e pomada que com certeza provinha dele. O que fez com que meu estomago revirasse. Eu não gostava de canela. Canela deixava minha boca e garganta seca, fora o sabor forte que não me agradava o paladar. Talvez isso fosse proposital. Ele e canela me deixavam com a boca e a garganta seca. Talvez o Byun fosse algum tipo de canela diferente.

E meu final de tarde se concluiu comigo assistindo o pôr-do-sol, vendo a imensidão alaranjada dá lugar ao azul. Sentindo o aroma de canela e pomada que se desprendia do menino sorridente ao meu lado.

E agora eu sabia. O nome da mais nova incógnita da minha vida se chamava, Byun BaekHyun.


Notas Finais


*ChanYeou: ele escreveu o nome do ChanYeol errado


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