História Voz do pensamento - Capítulo Único

Lá estava ela. Preparava-se para mais uma apresentação de trabalho acadêmico diante da sala toda. Levantou da cama cansada, tomada pelo desânimo que deveria ser resultado do seu elevado nível de estresse, segundo os sites de psicologia que lia sobre assunto quase todos os dias. Tomou café apressada, despediu dos pais e saiu andando em direção ao ponto de ônibus, olhando para o céu e perguntando varias coisas.

Esperava agora a ordem do professor para começar, enquanto olhava as pessoas naquele espaço, alguns prestando atenção, outros não. E então passou a ouvir a voz de seus pensamentos:

-“Você sabe que eles vão rir, não é? Será que não há algo de errado? Os slides estão bons, certo? E a sua aparência, esta bem apresentável?”

Ela começa uma batalha interna e tenta reprimir tais idéias, tenta confrontar aqueles pensamentos invasores:

- Vamos, não escute. Sabe que é mentira. Não fique nervosa.

-“Você já está nervosa. Eles vão perceber e usar isso contra você. Meus parabéns, agora vai bancar a tímida, a vergonhosa, incapaz de fazer uma simples apresentação.”

A autorização para iniciar a apresentação é dada. E ela se põe a falar, coloca e explica muito bem sobre o assunto e termina com firmeza. Seus colegas e professor aprovam, admiram o trabalho, mas a sua mente não se agrada muito:

-“É, poderia ter ido melhor, talvez se não tivesse gaguejado ali naquele momento e desenvolvido mais o assunto, tirava uma nota maior.”

Concordar com aquela opinião era sua resposta. Poderia ter ido melhor sim, apesar dos elogios e congratulações que recebia, mas não creditava o devido valor a elas. No fim da manhã, era hora de voltar para casa, no transporte público lotado, apreciando a paisagem e ouvindo música no fone. Chega em casa, cumprimenta os pais e o sorriso deles a motiva, porém logo aquela voz  se manifesta:

- “Devia fazer mais por eles, devia ajudá-los e não ser um peso para eles. Você já é adulta.”

Ela entra em casa ainda ouvindo as próprias reclamações internas, que a depreciam, a entristecem, desgastam, entretanto continua a batalhar para não ouvir, porque não se sente capaz de mudar. Olha-se no espelho e não se enxerga bela, deveria ter se arrumado mais para ir à faculdade, talvez assim a vissem melhor.  

Almoça, sempre buscando apreciar o alimento e apaziguar sua briga interna, queria se sentir melhor, até porque, como dizia sua consciência:

- “Pare de reclamar, tem pessoas em situações bem piores que as sua e estão lutando, então pare.”

Era isso que tentava todos os dias. A tarde rapidamente ia embora,  depois de algumas horas de sono e leituras. A noite chegava, acompanhada do banho, jantar, novelas, trabalhos obrigatórios e conversas de família e isso a fazia esquecer um pouco as suas lutas.

Como de costume, em algum momento da noite as luzes se apagam e as pessoas se recolhem, deitam-se em suas camas, cansadas, rapidamente dormem, inclusive ela, mas antes de dormir não deixa de ouvir a voz que sussurra em sua mente:

-“Eu estarei aqui amanhã. Você sabe. Eu voltarei.”