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História Vulneráveis (hiatus) - Diferentes, mas semelhantes


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Mudei de avatar; eu era Mãe do Kurama, agora sou Mãe do Hyoga de Cisne. Mês que vem, vou mudar novamente, só não decidi se para Mãe da Kagome ou para Mãe do Yusuke Urameshi.

No capítulo anterior, Sesshoumaru se descobre desejando Rin e se toca, imaginando-se tendo momentos íntimos com a jovem. Enquanto isso, Inuyasha usa as técnicas de sedução de Miroku para atrair Kagome, mas seus planos são frustrados pelo ferreiro Toutousai, que diz suas dúvidas acerca da relação 'apenas de amizade' entre o hanyou e o monge.

O capítulo a seguir pode ter deixado os personagens, principalmente Sesshoumaru, meio descaracterizados (OOC), mas minha intenção não foi esta. Espero que o texto não esteja estranho.

Esta autora é absurdamente viciada em música e acaba fazendo dos personagens músicos/cantores/dançarinos. Foi malz ae, pessoal.

A imagem do Sesshy dançarino não me pertence. Créditos ao fanartista.

Boa leitura!

Capítulo 17 - Diferentes, mas semelhantes


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Diferentes, mas semelhantes

ѼѼѼ

 

Tenkuukai, Palácio Celestial.

Kuuya se apresentava diante de Lakshu. Como a mocinha detestava formalidades, fê-lo logo levantar-se do chão para lhe dar um abraço.

— E aí, Kuuya, tudo bem?

— Sim... E, Lakshu, creio que você tem algo a me dizer sobre sua transmigração à Terra, o youkai, o encontro com o monge... — ele arqueou uma sobrancelha, ao ver o queixo da jovem cair. — Sim, eu descobri tudo.

A jovem divindade perdeu o sorriso e, olhando para os lados, sussurrou para o Hachibushu, apressadamente:

— Acho que para você eu posso contar... Me leva para dar uma voltinha no seu shakti¹?

— Como quiser, Lakshu.

— Eu vou apenas avisar a Shurato-kun que vamos sair... — e a jovem entrou no quarto do casal e estranhou o rapaz, que estava dormindo profundamente sentado na posição de lótus, apesar de não ser esse o seu costume; Shurato, irrequieto desde sempre, não dormia de dia.

— Ué... Ele está dormindo... Sentado?! Acho melhor não incomodar...

Saiu ao encontro do seu guardião, que já a esperava sobre o shatki no ar. Voaram devagar pelo belo céu azul sem nuvens, enquanto a jovem divindade relatava tudo o que aconteceu na Terra para Kuuya, que a ouvia em silêncio, intrigado.

Enquanto isso, num plano espiritual, a alma de Gai se encontrava também sentada na posição de lótus, olhos fechados, totalmente concentrado.

— Muito bem, Shurato, obrigado por esse pequeno favor. Hora de me encontrar com o novo Rei Yasha.

 

ѼѼѼ

 

Kagome enxugava as lágrimas. Rira a ponto de sentir dores no diafragma, enquanto um Inuyasha irado e vexadíssimo resmungava sem parar. Ainda era escuro; o casal seguia andando a passos lentos para a fazenda de Sesshoumaru. Ela, depois de muitos meses usando apenas as vestes sacerdotais, resolvera inovar um pouco, vestindo um camisete e calças jeans. Simples e casual.

— Inuyasha, me desculpe... — disse ela, respirando já com certa dificuldade — Mas eu não entendo você! Quantos anos convivendo com houshi-sama e não se acostuma às brincadeiras dele?

— Brincadeira o caramba! — gritou o hanyou. — Ele se ofereceu para transar comigo, pegou na minha bunda... Isso não pode ser brincadeira! E ele é um pervertido safado, bolinava todas as mulheres que apareciam em seu caminho... Sempre com aquela cara de tarado... Sei lá! Ele sim pode ser um... um bissextual! Mas não eu!

Bissexual, Inu!

— Que seja, droga! — berrou ele. — Nem com a cara ensanguentada ele deixou de se insinuar para mim, o filho da...

— Tá bom, tá bom, já entendi... — interrompeu-o a sacerdotisa. — Mas, falando sério, amor... Você tem certeza de que o pergaminho dele se transformou em lâmina?

— Está duvidando de mim?! Já disse que foi! E mesmo que ele tenha acertado somente abaixo do meu ombro, o impacto que eu senti foi de algo maior, mais pesado.

Kagome baixou o olhar, séria e pensativa.

— Acho que isso pode ter a ver com aquele desmaio esquisito que ele teve no dia em que o youkai sequestrou Makoto-chan, Inu.

— E eu tenho certeza de que ele ainda não está bem, Kagome — volveu o hanyou, também sério, já falando em tom de voz normal. — Sei lá... Ele ficou assombrado; durante o chilique que ele deu ontem, falava do buraco do vento que iria voltar e matar Sango, essas coisas. Sem contar a história bizarra da deusa. Eu estou preocupado com Miroku.

— Quando a gente voltar da fazenda, vou vê-lo. Sango-chan também não deve estar bem.

— Ela ficou muito assustada — afirmou Inuyasha, pegando de leve na mãozinha de Kagome e corando, enquanto caminhavam. — A Sango já sofreu muito... Fiquei triste por ver o quanto foi difícil para os dois ontem.

— Verdade... Aqueles dois se amam muito... E se doam muito. Acho isso lindo — fez ela, corando um pouco também e o encarando.

Pararam de andar, perdidos nos olhos um do outro. Era tão bom ter as mãos entrelaçadas, o olhar transmitindo o mesmo carinho. As orelhas de Inuyasha se agitaram brevemente e foi impossível para Kagome impedir a vontade de beijá-lo, o que aconteceu com doçura. Ao se olharem novamente, vieram as recordações do namoro lascivo de algumas horas atrás e, ainda bem corada, a jovem riu.

— Onde foi parar aquele tesão todo, amor? — indagou ela. Inuyasha rapidamente olhou para os pés, envergonhado.

— É-é que eu... eu... Droga! — gaguejou ele. — Eu estava louco para te ver e fazer todas as coisas que o Miroku me ensinou, mas...

Mas...?

— Eu... Me sinto tão estúpido! — desabafou Inuyasha, enquanto a puxava de leve para recomeçarem o trajeto. — Continuo sentindo vergonha de... demonstrar meus... desejos. Nem sei como consegui fazer... tudo aquilo com você mais cedo.

Kagome passou o braço por trás da cintura do noivo.

— Não seja bobo, Inu. Sabe, eu também fiquei bem empolgada... — murmurou ela, sorrindo em meio ao rubor. — Mas é totalmente natural sentir um pouco de vergonha. Nenhum de nós havia passado por isso antes. Você não é obrigado a ter uma performance sensual perfeita nem nada do tipo, você é virgem como eu, não um transão como Miroku-sama. E nós dois podemos muito bem aprender a fazer amor juntos.

— Então você não me acha um hanyou estúpido por isso?

— Você seria um estúpido se tentasse ser o que não é, meu amor. Mesmo que se fosse um youkai completo. E, olha... Eu adorei ver você se revelando daquela forma para mim, e...

Ambos pararam novamente, o coração do hanyou batia desesperadamente de expectativa pelo que iria ouvir de sua amada.

— Estou ansiosa para me entregar a você... Só queria que você esperasse pelo nosso casamento, eu me sentiria melhor, pois também tenho meus receios...

Será que eu aguento?, pensou Inuyasha, mas a sua resposta foi diferente.

— Eu te espero o tempo que for necessário — afirmou ele, fascinado pelo brilho dos olhos azuis da sacerdotisa. — Prometo que vou aumentar a oficina e fazer um lugar legal para a gente morar. Eu vou te fazer muito feliz, Kagome.

— Você já me faz feliz, amor — afirmou ela, após dar mais um beijo comovido nos lábios dele. — Muito feliz.

Inuyasha sorriu abertamente para ela, apaixonado e rendido aos seus encantos. Deu-lhe as costas, solícito.

— Tem música? Se tiver, coloque aí e suba nas minhas costas. Melhor chegar lá logo para você poder dormir e descansar antes de dar lições para a pirralhinha.

— Claro que tem música, amor — riu ela, enquanto abria uma das mochilas e tirava o tablet: bateria carregada, novas playlists. Ligou o aparelho.

— E eu trouxe o mp3 daquela da academia... Que Miroku-sama e Sango-chan usavam como aquecimento para a sevilhana e você gostou, lembra? Yo voy amarte, de Grupo Treo.

— Ótimo! — exclamou ele, empolgado. — É bom você se segurar, porque nós vamos saltar bem alto hoje. Aquela música me deixa doidão.

— Eu sei que deixa... — gargalhou Kagome. — Acha que eu não sei que você tentava dançar ela escondido na oficina, mesmo sem ter o arquivo tocando?

Inuyasha revirou os olhos, bufando contrariado:

— Droga... Aquele Shippou, língua de trapo, fofoqueiro!

— Deixa para lá, amor. Zumbar não faz mal para ninguém. Pena que eu não aprendi a cantar essa letra direito...

— Isso é o de menos. Cante como der na telha. Liga, vai, eu quero ouvir...

Um som em lá menor soou do pequeno aparelho e Kagome subia nas costas de Inuyasha, que já cantarolava (errado) a introdução da música.

 

Yo voy a marte, 

Y que se entere el universo hasta marte, 

Porque yo estoy cansado de alucinarte, 

Yo voy a marte, yo voy amarte

 

Saltou com ferocidade. A sacerdotisa não conteve um gritinho. A batida da canção, somada à sensação de voo proporcionada pelos saltos altos e empolgados do hanyou, encheram seu sangue de adrenalina e ela se juntou a Inuyasha, cantando a letra espanhola com vontade, mesmo sem acertar na pronúncia da mesma.

 

Intergaláctico, por las estrellas, 

Interlunático, por ser tan bella, 

Intergaláctico, por adorarte, 

Interlunático...

 

Interlunáticoooouuuuuuuooooouuuuuuuoooooooo! — gritou o hanyou, dando um novo pulo, inebriado, fazendo a garota rir. Poder-se-ia dizer que a música era como uma droga para ele, mas ainda seria pouco.

A música era quase tão essencial a ele quanto Kagome.

 

ѼѼѼ

 

Após se permitir descontrair com a própria volúpia, Sesshoumaru dormiu por mais alguns instantes. Ao acordar, banhou-se demoradamente, indo inspecionar sua propriedade ainda antes dos primeiros raios de sol apontarem no céu. Jaken já estava no estábulo com Ah-Un, aguardando o velho youkai Tokumaru ordenhar a vaca para levar o leite até a casa grande.

— Oh, Sesshoumaru-sama, meu mestre, bom dia... — exclamou o youkai verde, com uma mesura, torcendo para que o outro estivesse de bom humor. — Este seu humilde servo Jaken também se levantou mais cedo para garantir que as refeições para seus hóspedes saiam mais rápidas e... O QUE O SENHOR ESTÁ FAZENDO?! — berrou o pequeno.

Sesshoumaru havia dispensado Tokumaru com um olhar e, agachado, puxava com rapidez as tetas da vaca, como se estivesse acostumado a fazer aquilo desde sempre.

— Sesshoumaru-sama, por favor, vai se sujar... Mas que diabos... Tokumaru, incompetente, o que você fez de errado para que Sesshoumaru-sama se prestasse a esse papel de serviçal?! Me diga! — esganiçou-se Jaken. O velho apenas deu de ombros, também bastante surpreso pela atitude do patrão inuyoukai.

— Não sei de nada, Jaken-sama — disse ele. — Nem imaginava que Sesshoumaru-sama sabia ordenhar vaca...

— Até ontem, este Sesshoumaru realmente não sabia... — disse o youkai branco, altivo e assustador, mesmo agachado com as mãos nas tetas da vaca. — Apenas observei a forma como Tokumaru fazia e quis experimentar. Pode ser uma tarefa para empregados, mas eu me interessei.

E, já de pé, equilibrando o grande objeto que lembrava um balde de ordenha cheio de leite em uma mão, aproximou-se de Jaken, com olhar letal.

— Esta vaca me pertence e pretendo dispor dela sempre que eu quiser. Algum problema, Jaken?

— N-n-n-não, senhor! E-eu só...

Cascudo. Jaken caiu no chão, choroso, com um galo enorme no cocuruto.

— Vá arrumar o quarto de estudo da Rin, seu inútil. E sem barulho, pois, se você a acordar antes da hora, eu te mato. Tokumaru, quero que leve para a casa grande três frangos grandes, dez ovos, um cesto de rúcula, outro de pepino, três molhos de espinafre, uns treze ou quatorze tomates não muito maduros. Honami já deve estar na cozinha.

— Mas o senhor mesmo vai levar o balde para lá, Sesshoumaru-sama? — indagou o velho.

— Estou entediado desta rotina de todos os dias. Quero me distrair, fazer alguma coisa diferente — respondeu o youkai, já voando com o balde. — Jaken, é para você ir para lá agora.

O verdinho se apressou em se erguer do chão. Seu subordinado, tirando o chapéu da cabeça, comentou:

— Se me permite uma opinião, Jaken-sama, acho que hoje será um dia de muito sol.

— Sol aonde, Tokumaru? — resmungou o outro. — A aurora ainda não despontou e eu já apanhei! É dia de tempestade, isso sim!

 

ѼѼѼ

 

Sem entender onde estava, Miroku flutuava na vastidão do azul celeste. Seu corpo era leve como uma pluma; o sol não o incomodava e ele nunca havia se sentido tão confortável assim antes.

— Será que alcancei o Nirvana?

Ao oeste, havia uma cascata de águas cristalinas, tão bela que o atraiu. Voou para lá e mergulhou os pés descalços no regato próximo, deliciado com a sensação de frescor. Carpas e sardinhas nadavam tranquilamente naquele local e a alma do monge se sentia totalmente pura e livre de todos os pesares.

— Até que enfim encontrei você.

Sobressaltando-se ao ouvir aquele timbre grave masculino atrás de si, Miroku se voltou para o dono da voz: um homem bonito e tão jovem quanto ele, de longos cabelos lisos e brancos, olhos serenos e vestes que pareceram estranhas ao monge. Mesmo sem entender, sentiu-se muito à vontade na presença daquele estranho que parecia estar à sua procura.

— É um prazer conhecê-lo, Miroku Toriyama.

O monge fez uma careta incrédula.

— Quem é você e como sabe o meu nome completo...?

— O nome completo que você nunca fala por não gostar do sobrenome? — replicou o estranho, sorrindo. Miroku ficou boquiaberto.

— Incrível! Espere... Eu estou morto e você é um ser iluminado que veio me receber?

— Não, meu amigo, você está vivo, dormindo profundamente na Terra. Estou conversando com a sua alma. Eu sou Gai Kuroki, uma de suas reencarnações.

— O quê?!

— É uma longa história, meu amigo — disse Gai, passando a mão pela franja. — Infelizmente, não teremos muito tempo para conversar. Só vim te dar um aviso e uma recomendação...

— Sobre o que, Gai-sama?

— Só Gai. Dispenso formalidades. Você precisa despertar totalmente o seu sohma sagrado. O mais rápido possível. Pressinto problemas para você no mundo físico. Não desperdice a dádiva que Lakshu te concedeu.

— Lakshu, aquela deusa? Mas eu nem sei direito o que... — ia dizendo Miroku, aflito.

— Calma, não precisa ficar nervoso. Só preciso que você esteja alerta. Num futuro próximo, seus entes queridos correrão sérios riscos... Inclusive a sua esposa, Sango Minami.

O monge ficou mais abalado ainda.

— Cabe a você, e somente você, defender o seu povo desta ameaça que se aproxima.

E, se aproximando de Miroku, Gai tocou-lhe o ombro de leve, na tentativa de confortá-lo.

— E sobre o buraco do vento da sua mão direita, não precisa ter medo. Quando você despertar o sohma sagrado, terá total domínio sobre ele, podendo voltar a usá-lo para o bem.

Miroku ainda tentava responder algo, mas a confusão na mente era extrema. Gai tocou em sua testa devagar, murmurando um “até breve”. Então a escuridão o engolfou e ele deu um salto em sua cama, abrindo os olhos e vendo que Sango dormia profundamente com a mão espalmada em seu peito. Fechou os olhos com força, angustiado.

— Então, nada foi um sonho... Foi tudo real! Preciso ver meu mestre Mushin...

E afastou a franja de sobre os olhos da esposa, fitando preocupado e apaixonado o rosto dela. Sango era a melhor coisa que lhe acontecera na vida; era inadmissível para ele ter que lidar com tantas reviravoltas e medos em menos de uma semana de casados. E a exterminadora também não merecia sofrer mais do que já sofrera. Ele, Miroku, não iria permitir que nada de mal acontecesse a ela, nem a seus amigos.

— Farei tudo pelo seu bem, anjo meu, tennyo² minha... — murmurou ele, beijando a testa de Sango e aconchegando o corpo dolorido e cheio de hematomas ao dela.

 

ѼѼѼ

 

Em poucas horas, o casal chegava à cancela da fazenda do youkai branco, um pouco antes do nascer do sol. Se sentaram e fizeram um pequeno lanche; Kagome trouxera sanduíches e Coca-Cola. Bem à vontade, ela se deitou e repousou a cabeça sobre as pernas de Inuyasha, que pedira para ver a novidade que ela trouxe armazenada no tablet: vídeos de zumba. Orelhas agitadas e olhos brilhantes denunciaram a empolgação do hanyou com o vigor dos movimentos da dança ritmada que agitava todo o corpo.

— Eu quero aprender isso! — disse ele, depois de assistir a três ou quatro performances. Kagome sorriu.

— Sabia que você ia gostar... Só não entendo por que você não curte flamenco e sevilhana, como Miroku e Sango.

— Prefiro me sacudir sem ter que rebolar — exclamou ele. A jovem riu muito. Sentou-se enquanto sugeria ao noivo que arriscasse uns passos do exercício ali mesmo, enquanto não dava a hora de entrarem.

— Mas e se alguém me vir?

— Que nada, amor. Está muito cedo, todo mundo deve estar dormindo, inclusive o folgado do Sesshoumaru. Eu aposto que ele é um playboy mimado e à-toa...

— O que é um playboy? — questionou Inuyasha.

— É um cara rico que não faz nada e se acha, entendeu?

— Nossa, Kagome! Outra palavra não cairia tão bem para aquele metido...

Riram juntos. Inuyasha ficou de pé e tirou a parte superior do quimono.

— Calor — disse ele, e pedindo à sacerdotisa que colocasse em reprodução um dos vídeos. Assistiu-o com atenção, devolvendo o aparelho em seguida a Kagome, que permanecia sentada junto às inúmeras sacolas e bolsas.

— Eu danço e você me diz se está certo...

— Tudo bem, amor, pode começar.

Bailando, de Enrique Iglesias, começou a tocar e o hanyou, diante da noiva, iniciou os passos. Ele tinha uma excelente memória e havia decorado a maioria dos movimentos, enquanto Kagome elogiava e mostrava pontos a corrigir aqui e acolá. Cabelos prateados dançavam acompanhando o corpo musculoso de Inuyasha, que começara a suar pelo esforço.

Não muito longe dali, Sesshoumaru praguejava as próprias garras; na intenção de se distrair, dissera a Honami, a cozinheira, que ele mesmo pegaria o cesto de farinha no depósito. Todavia, não mediu bem a força ao pegar o cesto que ficava no alto e acabou furando-o, derramando farinha sobre si e sujando o rosto, os cabelos e o quimono, tendo uma crise de espirros.

Estava furioso e se sentindo estúpido. O ócio nunca lhe parecera tão mais adequado à sua posição de proprietário de fazenda. Nunca mais eu darei vazão a essas ideias idiotas... Para que me sujeitar a isso se tenho empregados?, pensava ele, indignado consigo mesmo.

Subitamente, ouviu uma conhecida voz de mulher dizendo ao longe:

— Mexe mais, Inuyasha.

— Assim? — disse a voz do seu irmão.

— Isso. Mexe mais o quadril, desse jeito, pernas mais abertas.

O que está acontecendo?, pensou o youkai, intrigado. Esqueceu-se momentaneamente do estado em que se encontrava e rumou para a direção das vozes.

— Você está devagar demais. Vai mais depressa! Siga o ritmo! — exclamava Kagome.

— Keh! Não me apresse não, maldita, eu não estou acostumado! E eu já tinha lhe dito que não gosto de rebolar.

— Não custa nada se esforçar só um pouquinho, e a ideia foi sua, poxa! Caramba, você está derretendo de suor.

— Isso cansa, Kagome. E olhe que eu tirei a roupa...

— O que vocês estão fazendo afinal? — indagou Sesshoumaru, aparecendo subitamente atrás de Inuyasha, que havia acabado de empinar o quadril, numa inegável tentativa de rebolado.

Um grito de susto em uníssono ecoou pelas terras do youkai branco, após ele ter brotado do nada e completamente sujo de farinha ao lado do casal.

 

ѼѼѼ

 

Com as devidas explicações feitas e Sesshoumaru devidamente livre da farinha, todos se encontravam dentro da casa grande. Rin já tinha se levantado e abraçava Kagome, alegre, pedindo licença aos irmãos inuyoukais e conduzindo a sacerdotisa para o quarto onde seria a biblioteca.

Os dois irmãos ficaram sozinhos, desconfortáveis. Inuyasha pigarreou, indicando que queria dizer algo ao mais velho, que permaneceu olhando para a porta do cômodo onde sua protegida estava com a cunhada.

— Errr... Sesshoumaru...

Excetuando por um tremelicar da orelha pontuda, o youkai continuou imóvel. Contudo, como nada escapava aos sentidos apurados de Inuyasha, ele entendeu que aquilo era um sinal de estava sendo ouvido.

— Se... Se a Kagome perguntar por mim, diga que eu fui zumbar debaixo da copaíba perto da cancela, a não ser que você se incomode.

— Faça como quiser — respondeu o outro, aparentando desinteresse. Então, sem mais nada a dizer, o hanyou saiu saltando pela grama verde. Em instantes, sumiu em meio às diversas árvores da propriedade.

Sesshoumaru então foi dar mais ordens a Reina e Honami, que preparavam desde já uma quantidade considerável de comida, pães e bolos (desta vez Tokumaru se ofereceu para ir buscar a farinha, para evitar novos incidentes e uma possível tempestade no humor do youkai). Meia dúzia de gritos nos ouvidos do já atarantado Jaken, que recolhia as roupas sujas de todo mundo, e ele agora batia cauteloso à porta da futura biblioteca. Kagome abria a porta, gentil.

— Quer participar, Sesshoumaru? — perguntou ela, enquanto sua Rin olhava admirada para os diversos livros e cadernos que a sacerdotisa havia trazido da era moderna. Negando com a cabeça, o youkai disse:

— São muitos livros.

— E Kagome-sama está me dando todos eles, Sesshoumaru-sama — disse Rin, alegre. Ele se sentiu satisfeito: Rin feliz, Sesshoumaru feliz. Simples assim.

— Que bom — ecoou ele, sem saber se deveria agradecer Kagome ou não, pois não era acostumado a isso. Enfim, decidiu-se: — Obrigado, Kagome.

O olhar estupefato que as duas moças humanas deram a ele fê-lo se arrepender daquilo. Impaciente, Sesshoumaru exclamou:

— Estou de saída. A propósito, Kagome, Inuyasha pediu para lhe dizer que foi sambar debaixo da copaíba.

A sacerdotisa olhou confusa para ele, até que seu olhar se iluminou e ela respondeu, divertida:

— Ah, sim! Entendi. Por que não vai zumbar com ele, Sesshoumaru?

— Como é?! Do que está falando? E o que é sambar?

Sambar, não, zumbar. Garanto que é uma coisa que vai lhe fazer muito bem à saúde!

— Uma coisa sugerida por uma humana me faria bem? — revidou ele, irônico. Rin disse:

— Claro que sim, Sesshoumaru-sama. Eu mesma já lhe sugeri mastigar bem antes de engolir. Lembra daquele dia em que o senhor se engasgou com um abacaxi porque não estava mastigando dir-

— Basta, Rin, já entendi — cortou-a ele, bravo. Ela, porém, não se importou e continuou sorrindo.

— Ah, Sesshoumaru-sama, vá. Se Kagome-sama diz que é bom para a saúde, eu gostaria que o senhor fizesse. Vá zumbar com Inuyasha-sama.

Ah, Rin e esse maldito olhar límpido e brilhante que me faz perder a vontade de ir contra seus pedidos, pensou ele, vexado e nervoso. Kagome resolveu cutucar a onça:

— Inuyasha te ensina direitinho, onii-san.

— Ora, sua atrevida... É melhor que deixe de besteira e vá lecionar a Rin! — saiu ele, irritado, enquanto as duas disfarçavam o riso.

O youkai se lançou contra o céu e saiu planando sobre a casa grande, sem rumo certo. Aliás, tinha um pensamento, mas não queria ceder a ele, nem ao som bem distante de uma música latina que era tocada ali em sua fazenda. O fato é que Sesshoumaru descobriu que, desde que passara a querer ser mais livre das pressões que ele mesmo se impunha, tinha mais curiosidade sobre coisas simples que não lhe importavam no passado. Culpa de Rin e sua forma de ver a vida com muito interesse. Mas, claro, nem ela nem ninguém precisavam saber disso. Seria o mesmo altivo e arrogante Sesshoumaru de sempre para todos.

Sob a copaíba, alheio a todos os conflitos internos do youkai, Inuyasha se exercitava ouvindo Enrique Iglesias. Bela descoberta de Kagome! Agora ele não precisava mais ficar se movendo desordenadamente numa coreografia sem pé nem cabeça quando quisesse se soltar dentro de sua oficina. Zumba era o máximo!

Suando bastante, o hanyou havia tirado a parte de cima do quimono novamente e agora movia alternadamente os braços, pernas abertas que se erguiam de forma alternada também, debaixo da sombra agradável da árvore. Não imaginava que estava sendo atentamente por um Sesshoumaru impressionado, que, mais do que nunca, se xingava pelo dia em que tropeçara nos pezinhos de Rin, durante a festa de casamento do monge e da taijiya.

Esse estúpido sabe fazer todas essas coisas com o corpo e eu, que sou Sesshoumaru, não sei?!

Sem saber direito se era pelo eterno desejo de competir com o irmão — tão diferente, mas ao mesmo tempo, tão semelhante a si — ou se era pelo encantamento que o ritmo dançante lhe proporcionava, além do magnetismo daquele exercício divertido, o youkai branco agora pousava sob um dos galhos mais altos da copaíba, sem despregar o olhar curioso de sobre o hanyou.

Que, rapidamente, parou tudo ao sentir seu cheiro.

— Ei, Sesshoumaru, maldito, por que está me espiando? Dê o fora!

— Esqueceu que é aqui que eu moro, idiota?

— Mas por que você não vai para lá? EI! — berrou Inuyasha, ao ter o celular tomado da mão. — Me devolve isso, imbecil! É da Kagome!

Ignorando solenemente o desespero do irmão, Sesshoumaru observava o celular preto, que prosseguia tocando a canção. Atirou-o sobre um Inuyasha apavorado (“se essa coisa se quebrar, Kagome vai me dizer 'osuwari' até eu perder os dentes”), que o aparou no ar, lívido de pavor.

— Vim para cá porque quero falar com você, estúpido. Me ensine isso que está fazendo.

— T-te ensinar o que?! — fez o outro, espantadíssimo, parando a reprodução da música. — A zumbar?!

— Não é óbvio, seu imbecil?

— M-mas eu estou aprendendo agora!

— Não me importa! Eu quero aprender também! — e, estreitando os olhos, completou: — E isso fica entre nós, ou eu te arranco essas orelhas com as garras...

Inuyasha, chocado e apreensivo, pôs as mãos na cintura e suspirou, incomodado.

— Eu danço apenas para mim mesmo, Sesshoumaru! Apenas para livrar meu corpo e minha cabeça do cansaço do dia. Não é para me expor.

— É exatamente disso que preciso! Me distrair sem me expor! — afirmou o outro, parecendo meio inseguro. — Ser um youkai renomado e poderoso às vezes é muito cansativo, Inuyasha.

Ainda muito desconfiado, o hanyou perguntou, encarando o irmão carrancudo:

— Você só quer descontrair mesmo?

— Foi o que acabei de dizer, leso.

Silêncio. Inuyasha acabou se decidindo:

— Então eu vou ensinar você, desde que me garanta que isso ficará realmente entre nós!

— Pode ter certeza que eu prezo bem mais esse segredo do que você...

O hanyou olhou para ele, meio indeciso, afirmando:

— Como você notou, isso não é mesmo uma dança, é uma ginástica. Isso serve para manter o corpo saudável. Ah, você vai continuar enrolado com essa coisa quente?

— Qual o problema com a minha estola? — inquiriu o outro. Inuyasha deu de ombros, enquanto procurava na playlist do celular a música que estivera treinando.

— Nenhum problema, a não ser que você queira suar até desidratar. É impossível zumbar com roupa quente.

Então, Sesshoumaru, ainda meio pensativo, tirou a armadura e a estola felpuda; desatou o obi e logo a parte superior de seu quimono era colocada no chão, ao lado da vestimenta do irmão. A canção recomeçou.

— Eu faço uma sequência de oito passos, paro e você repete.

— Certo.

O hanyou balançou habilmente braços e pernas, logo em seguida dançando para a direita, requebrando os ombros ao puxar os braços para trás e agitá-los, ao mesmo tempo que abria ligeiramente as pernas, pés bem plantados no solo, encerrando a sequência de passos com um bater de palmas. O youkai imitou-o, meio ressabiado a princípio.

— Ei, Sesshoumaru, não seja tão duro! Você deveria ser bem mais flexível do que eu.

— E sou, seu chato! Dá para não me apressar?

Novas sequências de passos, novas imitações. Da segunda vez que a música foi reproduzida, os dois dançavam desenvoltos, um de frente para o outro. Ao pararem, Sesshoumaru passou a mão pela testa suada. Apesar de estarem ambos apenas vestindo a calça do quimono, o ritmo dançante os fazia sentir um calor intenso. De qualquer maneira, a animosidade diminuíra consideravelmente e os dois irmãos estavam, de certa forma, satisfeitos por aquele momento de descontração juntos, sem reservas ou cobranças.

Eram apenas dois irmãos dançando.

— Gostei — disse Sesshoumaru. — Tem outra?

— Claro que tem — respondeu o hanyou, simpático e quase sorrindo. — Isto está cheio de música... Vou pôr um reguetão³.

— Reg... Hã?

— É como Kagome chama esse tipo de música, eu não sei explicar não...

— Eu ficaria admirado se você soubesse explicar alguma coisa...

— Keh! Não me amola, imbecil. E chega de conversa! Vamos continuar com a zumba!

— O mesmo eu digo a você, tapado!

E, naquela manhã, os dois prosseguiram zumbando durante aproximadamente quatro horas, sem parar.

 

ѼѼѼ

 

¹ – Shakti é a armadura divina dos guardiões celestiais que também é utilizada como meio de transporte, como se fosse um carro voador.

² – Tennyo: virgem celestial.

³ – Reggaeton! O Inu não sabe pronunciar certo, tadinho! XD


Notas Finais


Yo voy a marte (Treo), primeira música citada: https://www.youtube.com/watch?v=niSI_KiXlZ0
Bailando (Enrique Iglesias), coreografia de zumba que Inu & Sesshy dançam juntos: https://www.youtube.com/watch?v=HzlVcEJk_Yk

Ficou estranho, pessoal? Poxa, tomara que não...

Para quem gosta de fanfics leves, a minha fanfic do coração, humor/family, que está emperrada está aqui...
Meu Paizinho Naraku: https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-inuyasha-meu-paizinho-naraku-3912460 (neste ambiente, Sesshoumaru e Rin têm relacionamento pai/filha)

Críticas pelo capítulo do Sesshy dançarino? Podem fazer, eu não brigo não... É assim que a gente progride, né? rs

Obrigada a todo mundo...

~TheOkaasan (◕‿◕✿)


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