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História Vulneráveis (hiatus) - Saberes


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.

No capítulo anterior, Kaede testa os poderes de Miroku e, depois de um pequeno 'acidente', sugere a ele, que continua tendo visões com a alma de Gai, que pare de exercer o ofício de monge por causa dos poderes espirituais que estão ainda sem controle.

Desculpem a demora ao atualizar, pois, como a vida não é feita apenas de atualizar fanfics (kkkk), eu consegui um emprego (é pra glorificar de pé, irmãos!) e meu tempo para postar, que já era pouco, foi pro beleléu. Mas vou fazer um esforço para postar quinzenalmente. *-*

Capítulo de hoje cheio de novidades! #TodasComemora

A imagem de Rin e Sesshoumaru não me pertence. Créditos ao fanartista.

Boa leitura!

Capítulo 21 - Saberes


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Saberes

ѼѼѼ

 

Kaede se levantou com cuidado do futon para não acordar Shippou, que havia dormido abraçado a ela, carente de afeto, como sempre. Ainda estava escuro; a idosa ficara enfastiada de esperar pelo sono, que não veio, e resolveu ir ao túmulo de Kikyou fazer uma prece. Estava intrigada com o estranho poder espiritual do monge Miroku e se perguntava se havia feito a coisa certa ao lhe dizer para não usá-lo. Não era uma ordem, mas, como ela era a sacerdotisa daquele vilarejo e ambos eram muito unidos, o rapaz acatava quase todos os seus conselhos e orientações.

A velha se ajoelhou diante da lápide da antiga guardiã da Joia e murmurou:

— Eu queria tanto saber se tenho agido certo, Kikyou-onee-sama. Para você, parecia tudo mais fácil. Nunca a vi hesitar em suas determinações. Miroku-sama precisa de ajuda. Sua nova energia pode destrui-lo, mas não é possível que não haja uma solução para isso...

Suspirou, colocando as mãos postas e olhando para o céu estrelado.

— Você saberia lidar com isso melhor do que eu, minha irmã. Sinto muito a sua falta, até hoje... Aprender o ofício de miko sozinha foi muito sofrido para mim. Como seu espírito vive em Kagome, pretendo orientá-la da melhor maneira. Quero que ela seja uma sacerdotisa tão poderosa quanto você... Ou até mais, pois os poderes dela são notáveis. Porém, nada se compara ao que aquele menino fez hoje, estou sem palavras. Eu... Não consigo esquecer aquele houriki, parecia tão... divino! E...

— Eu já disse que aqui não tem pirulito, seu idiota! Vá embora! — soou a voz irritada de Inuyasha lá fora. A velha se ergueu, surpresa, e se dirigiu à porta da casa, onde acontecia um pequeno zumzum.

— Você é um ingrato, hanyou estúpido! — grasnava o verdinho, cheio de galos na cabeça, enquanto Kagome tentava mediar a situação.

— Puxa, amor, não seja mau. Eu posso ir ver se tem outro doce lá dentro...

Não tem outro doce lá dentro, Kagome! E, se esse nanico quer doce, vá pedir ao imbecil do Sesshoumaru, que é o mestre dele!

— Não tem doce, ou tem e você não quer dividir? — indagou a jovem, desconfiada.

— Err... T-tem, sim! Mas os pirulitos são meus! E eu não quero div-

Osuwari! Espere aí, Jaken, eu vou pegar um pirulito lá dentro para você.

O hanyou se levantou do chão, possesso. Ia berrando pela noiva, quando Kaede interrompeu-o:

— Que gritaria, Inuyasha. É madrugada, não percebe?

— E daí que é madrugada, velhota? Eeeeeei! — exclamou ele, ao ver que Kagome vinha com a mão cheia de pirulitos e caramelos. Os olhos de Jaken brilharam.

— Quantos quitutes! — fez ele, maravilhado. — Vou até poder dividir com meu senhor e com a menina Rin! Muito agradecido fico eu, miko!

— M-Mas, Kagome... — gaguejou Inuyasha. — Isso tudo?

Kagome olhou feio para ele e acenou para o pequeno youkai, que se afastava com os tão cobiçados doces, montando em Ah-Un e alçando voo. O casal se olhava com raiva, enquanto a velha sacerdotisa meneava a cabeça.

— Detesto quando você sai distribuindo os doces para qualquer um — rosnou ele.

— Dá um tempo, Inuyasha! Seu olho grande! Não tem vergonha? — gritou ela de volta.

— Sua idiota!

— Estúpido!

— Você me dá nos nervos! Sua insuportável!

— E você me deixa uma pilha! Sem modos, sem educação!

— Quer saber? Vai passar a ir sozinha para a fazenda, eu não te levo mais!

— Por mim, tudo ótimo! Eu tenho duas pernas, retardado!

E se deram as costas, fumegantes de ira. Kaede acabou rindo.

— Vocês não mudam mesmo... — comentou ela.

— Keh! Não me irrite você também, sua velha! — rosnou o hanyou.

— Não chame a vovó Kaede de velha! — sibilou Kagome, furiosa.

— E ela é jovem por acaso? — berrou ele.

— Está bem, parem os dois! Vocês não sabem fazer nada além de brigar? Vamos, entrem. Não quero que acordem os vizinhos.

— Eu não vou — resmungou Inuyasha. — Pode levar essa chata para bem longe de mim, velhota.

— Mas quanta agressividade, Inuyasha. Não é para tanto — fez a sacerdotisa. — Vamos entrar, tomar um chá e vocês vão me contar o que andaram fazendo...

Era um comentário simples e inocente, mas a idosa estranhou o súbito e brusco rubor que preencheu as faces dos dois brigões.

— Que caras esquisitas são essas?

— C-caras...? Nós? Errr... N-nada, vovó K-Kaede — tartamudeou Kagome, completamente rubra. — Estamos bem, é impressão sua...

— Keh! N-não é da s-sua conta, velhota! — exclamou o hanyou, extremamente nervoso e envergonhado.

Osuwari!

Ignorando Inuyasha sendo lançado ao solo com brutalidade, Kaede olhou diretamente nos olhos azuis de Kagome, que estava a cada momento mais sem graça, e viu que algo muito diferente havia acontecido. Contudo, o que saiu de seus lábios foi o seguinte:

— Minha filha, por que não pega um banquinho para mim lá dentro? Aquele mais comprido.

— Oh... Sim, claro — respondeu a jovem, andando apressadamente e conteve um suspiro de alívio. Será que ela percebeu alguma coisa, ou desconfia que Inuyasha e eu...

Por sua vez, Inuyasha já havia se erguido do solo e, revoltado, sentara de costas para elas. Instantes depois, Kagome vinha com o banquinho nas mãos.

— Sente-se aqui ao meu lado, por favor.

A jovem se sentou e surpreendeu-se ao sentir um incômodo no baixo ventre; não conseguiu conter uma expressão de dor, que não passou despercebida à velha sacerdotisa, que baixou a cabeça, pensativa. Então, depois de muitos minutos em um desconfortável silêncio, Kaede se pronunciou, com voz desanimada:

— Dói, mas não é por muito tempo, Kagome.

— C-como?! — fez a moça, com os olhos arregalados, enquanto que o hanyou permaneceu virado para frente, respiração opressa, sem saber como agir. Kaede deu um suspiro cansado.

— Ah, os jovens e essa mania de achar que sabem de tudo...

— Por que diz isso, vovó Kaede?

A idosa a encarou, com expressão seríssima.

— Você é uma sacerdotisa e foi deflorada por um hanyou, Kagome. Não, não me olhe com essa cara, você não sabe disfarçar. Nunca parou para pensar nas consequências?

Inuyasha deu um salto e se postou à frente delas, furioso, com os punhos cerrados.

— Você não tem nada a ver com nossa vida, sua velha intrometida!

— Já disse para não falar assim com ela! — gritou a jovem.

— Kagome é minha pupila e aprendiz, Inuyasha. E ela carrega consigo o espírito e os poderes de minha irmã — respondeu ela, com expressão severa, sem se intimidar. — Tenho, sim, muito a ver com ela. E você é um completo idiota. Pôs a vida dela em risco!

— O quê? — indagou Kagome, assustada.

— Que maluquice é essa, velha Kaede? Eu jamais colocaria a vida de Kagome em risco!

— Mas colocou, seu imprudente! — replicou Kaede, com o dedo em riste. — Sei muito mais a seu respeito do que pensa, Inuyasha. Estive me informando sobre casamentos entre indivíduos de raças distintas... E...

O rosto enrugado parecia angustiado. Kagome, com uma mão sobre o peito, encarou-a.

— Fale, vovó Kaede. Fale logo, por favor!

— Um youkai e uma humana, como vocês sabem, geram hanyous. Já um hanyou e uma humana estão sujeitos a ter filhos doentes ou inválidos... Mas um hanyou e uma sacerdotisa... Já perguntei a muitos monges e sacerdotisas e a resposta é a mesma — fez uma pausa, suspirando profundamente. — Kagome pode morrer se gerar um filho seu.

 

ѼѼѼ

 

Noite insone para Sango.

Ela desistira de ficar deitada na cama, sem jeito de se remexer para lá e para cá como queria, por não querer incomodar Miroku, que, mesmo adormecido, trazia no rosto sombras de tristeza. A exterminadora lastimava que seu amado estivesse tão abatido por todos os eventos recentes tão confusos que se abateram sobre eles.

A madrugada parecia ainda longe de acabar e Sango se sentia, além de aborrecida, entediada. Sentou-se na cama e ficou olhando para o companheiro, que ressonava virado para o seu lado. Ela o tocou de leve nos cabelos, afastando a franja de sobre sua testa larga. Não conteve um sorriso terno ao se lembrar de que Miroku não gostava da própria testa por achá-la grande, o que de fato era; porém, seus fios densos camuflavam bem aquela área. Deslizou o indicador pelas sobrancelhas, pela têmpora, pelo lóbulo da orelha com suas argolinhas douradas. Sango admirou em silêncio os traços do rosto de Miroku e acabou por pousar os lábios nos dele, devagar e sutilmente, enquanto lhe tocava com carinho a mão direita.

A ela, parecia que o monge estava um tanto obcecado com a ideia de ser um guerreiro iluminado; Sango não entendia o propósito daquilo, já que o inimigo comum de ambos, o maligno Naraku, já não existia. Os poderes de Miroku eram suficientes para o ofício espiritual que exercia; suas habilidades e força físicas não eram mesquinhas e ela, Sango, se sentia em pé de igualdade com ele. Então, para que buscar mais? Para que arriscar a própria vida, sendo que o houriki que ele manifestava já estava, a seu ver, de bom tamanho?

Então Sango entrelaçou os dedos nos de Miroku, enquanto sussurrava num cicio:

— Eu te amo assim mesmo, como um monge comum, meu bem. Não se gaste com essas coisas perigosas.

E aconchegou o corpo ao dele, de forma que sua testa ficasse à altura do queixo de Miroku, e fechou os olhos enquanto colocava o braço sobre seu dorso, procurando relaxar e se aquietar para dormir.

Por sua vez, Miroku, que havia acordado desde que ela se sentara no leito, se conteve para não suspirar de desalento e amargura.

Sango o amava, mas não o compreendia, e isso lhe doía mais do que pudesse imaginar.

Não posso ser um monge comum, minha doce princesa, e sinto muito por isso... Preciso aprimorar o meu sohma sagrado, você querendo ou não. Não é capricho e sim necessidade. Você tem que entender...

A mão da Kazaana se ergueu e alcançou a cabeça de Sango, que olhou para o marido surpresa.

— Miroku? Eu o acordei?

— Não, querida — mentiu ele, enquanto beijava a testa da exterminadora com ternura. — E você, por que está acordada?

— Perdi o sono, amor. Está fazendo calor demais — respondeu ela, desconversando.

— É — ecoou ele, vendo que não compensava falar sobre o motivo óbvio que preocupava a ambos. — Que tal um banho?

— Boa ideia. Quer ir primeiro? — perguntou a jovem, enquanto se sentava sob seu olhar atento.

— Não, vamos tomar banho juntos! — respondeu Miroku, já achando graça no rubor que se espalhava pelo rosto dela.

— M-mas... Err...

— Ah, vai me negar isso, Sango? — murmurou ele, com a expressão sedutora que costumava desarmar Sango sem dificuldade. — Não quer mesmo brincar debaixo d'água comigo?

Ela ficou ainda mais corada, mas acabou rindo.

— Não era apenas um banho, seu sem-vergonha?

— Pode ser apenas um banho, se você quiser... Mas eu já sei que você também quer mais — afirmou o monge, se levantando e enlaçando a cintura esbelta da jovem por trás, pressionando sua rigidez ao corpo dela, que deu um pulinho. — Vou fazer você implorar por mais, Sango.

— Por mais...? — repetiu ela, com o coração descompassado a se revolver no peito. Ainda não se habituara às muitas insinuações que o marido lhe fazia e, por vezes, ficava sem entender o que ele queria dizer. — Eu... Não entendi, amor.

Sem aviso, Miroku a ergueu nos braços e caminhou decidido até o cômodo de banho. Seus braços doloridos protestaram, mas ele os ignorou.

Seu coração estava pesaroso e o de sua bela esposa também, ele o sabia. Então, um pouco de prazer não faria mal algum aos dois.

— Mais tarde eu te explico, a partir de agora vou ficar muito ocupado.

— O-ocupado?

— Sim, Sango... — respondeu ele, baixando consideravelmente o tom de voz para provocá-la. — Vou ficar muito ocupado chupando você todinha, safada.

 

ѼѼѼ

 

Rin penteava seus longos cabelos negros, descontraída, enquanto tomava banho pela manhã.

Fora dormir elétrica depois do dia agitado que tivera. Se sentia eufórica; não imaginava que aprender coisas tão diferentes acerca da vida lhe traria o bem estar que estava experimentando. Kagome lhe mostrara os menores componentes de um organismo vivo, coisas que ela sequer sonhava que existissem, dentre outras muitas descobertas relacionadas à citologia. Palavras como mitocôndria, citoplasma, vacúolo, complexo de Golgi e lisossomo dançavam por seus pensamentos.

Rin agora sentia uma imensa fome de conhecimento. Tinha, desde criança, uma imensidão de dúvidas sobre a vida e seus diversos aspectos; contudo, seus pais se foram muito cedo. Seu senhor e agora namorado não lhe respondia boa parte dos questionamentos. Jaken, seu amigo verde, menos ainda. A sacerdotisa, contudo, lhe instigou a buscar respostas por conta própria; e, agora, com aqueles livros diante de si, ela teria suas dúvidas, ou ao menos parte delas, sanadas.

O mundo se lhe descortinava diante dos olhos, e ela estava feliz. Pegou uma das mechas de cabelo que flutuavam sobre a água do ofurô e olhou-a com atenção.

— Será que as células do meu cabelo são pretas e as das minhas unhas são rosadas? — perguntou a si mesma, e riu sozinha. Olhou para o corpo nu imerso n'água e imaginou-se sendo uma composição de minúsculos pontinhos vivos multicoloridos, e lembrou-se de tomar nota das novas questões que espocavam em seu cérebro.

Por que a veia que marcava sua pele alva era azulada, sendo que o sangue que lá corria era vermelho?

Por que lhe cresceram pelos em diversas áreas do corpo, sendo que, quando criança, ela não os tinha?

Por que seu nariz expelia secreção quando ela pegava um resfriado?

Por que seus olhos piscavam involuntariamente?

Por que suas unhas cresciam constantemente, sem pausa?

Por que perdia sangue pelo “lugar escondido” todo mês?

Lembrou-se de quando o fato constrangedor ocorreu pela primeira vez. Tinha 11 anos e, naquela tarde quente, se sentiu dolorida e indisposta. Jaken e Ah-Un estavam à caça de víveres para este último e Rin estava andando sozinha à procura de frutas; Sesshoumaru, que ainda não tinha recuperado seu braço esquerdo, havia parado a viagem em busca de Naraku para que ela pudesse descansar naquela floresta. Naquele dia, ela tentava, mas não conseguia sorrir com a espontaneidade que era sua marca registrada. Se sentia estranhamente melancólica e, para piorar, uma dor no ventre. Depois de rodar por algum tempo buscando o que comer, já se enervando, sentiu vontade de chorar e se estranhou. Ela não era uma criança dada a prantos.

Apreensiva, voltou para onde estava seu senhor, sentado majestoso sobre uma grande rocha rodeada de grama. Ele, percebendo o cheiro de sangue e lágrimas que se aproximava, levantou-se de um salto, imaginando se Rin havia se ferido.

Instantes depois, o youkai viu a pequena silhueta se aproximando. A garota tinha uma expressão confusa e zangada na face vermelha marcada de lágrimas, ao mesmo tempo que mordia os lábios para conter a inexplicável tristeza que se lhe assomara ao coração. O cheiro de seu sangue invadiu as narinas de Sesshoumaru, que não esperou e venceu a distância entre os dois velozmente e se abaixou para ficar à altura dela.

— Rin, você se machucou? — inquiriu ele, com a habitual voz e expressão desinteressada, mas ela já o conhecia bem para saber que ele estava realmente preocupado consigo.

— N-não encontro o que comer e minha barriga dói, senhor — murmurou ela, com um nó na garganta.

— Estranho — fez ele, intrigado, pois não via nenhum ferimento nela. Acomodou-se na grama e convidou a garota a sentar-se sobre uma de suas pernas compridas. — Sente-se.

Rin sentou-se e ia agradecendo a ele pela gentileza, quando teve a sensação de estar úmida; por sua vez, o youkai ficou agastado com o odor vibrante que saturava seu olfato sensível. Enfim, Sesshoumaru percebeu o que estava acontecendo ali e, constrangidíssimo, pediu a ela para se levantar.

— Mas o senhor acabou de me mandar sent- — calou-se em meio ao que dizia, apavorada por ver a mancha de sangue na perna da calça do quimono do youkai branco, que parecia não saber onde enfiar a cara. Diferentemente da miúda, Sesshoumaru sabia (um pouco) sobre as regras menstruais das fêmeas e se pegou agoniado por ver que seria ele a ter que explicar aquilo para a sua protegida. Assustada ao ver que aquele sangue era seu, e vendo o desconforto do seu mestre, Rin chorou de vez.

— Esse... Esse sangue é meu, Sesshoumaru-sama, mas eu juro que não me machuquei, não fiz nada... — gaguejou ela. — Eu... Será que vou morrer?

— Não diga bobagens. Isso... Isso não é nada demais, Rin — retrucou ele.

— Se não é nada demais, por que o senhor está me olhando com essa cara de assustado? — bradou ela, nervosa.

— Este Sesshoumaru não está assustado!

— As suas bochechas estão rosadas! — acusou ela. — Seus olhos estão enormes, suas orelhas se mexem o tempo todo e o senhor já coçou a cabeça quatro vezes desde que cheguei aqui! Eu... Estou com mais medo agora — soluçou.

Vendo-se perdido, o youkai simplesmente agarrou Rin pela cintura com seu único braço e voou, à procura de água. Planaram pelos ares por uns dez minutos até o youkai branco avistou um rio que corria calmo e despretensioso. Haviam três cerejeiras em determinado ponto da beira do rio; era o local que, mais tarde, Sesshoumaru iria adquirir para si. Desceu com uma Rin mais do que confusa e ordenou a ela para que fosse se lavar. Um banho lhe faria se sentir melhor, explicou ele. O dia estava quente.

— Este lugar me agrada — murmurou ele, olhando a seu redor. — Estas terras, será que têm dono?

— Sesshoumaru-sama, não encontro o lugar do corte... — afirmou Rin, atrás de si.

— Que corte...? RIN! — gritou ele. A menina havia tirado o quimono e estava nua, olhando para as partes íntimas e as coxas. — Não faça isso!

Rin piscou ao olhar para ele, intrigada.

— Isso o que, Sesshoumaru-sama?

— Ainda pergunta? — indagou ele, irritado.

— Tenho que descobrir de onde o sangue está saindo, senhor. E com o quimono não dá.

Por que os humanos são tão complicados?, pensou ele, enquanto passava a mão pela franja. Por fim, afirmou:

— Rin, eu já lhe disse isso uma vez. Não se deve tirar a roupa perto de um homem, entendeu?

— Mas não estou perto de um homem, estou perto do senhor, Sesshoumaru-sama — replicou Rin, já com os pés dentro d'água.

— O que pensa que este Sesshoumaru é, Rin? — inquiriu o youkai, intrigado pela resposta.

— O senhor é meu amigo, ora! — respondeu ela, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Aquilo desarmou Sesshoumaru. Mais uma vez, ele se sentia amarrado àquela criança humana. Não poderia deixá-la em algum vilarejo de humanos. De malditos humanos.

Eles não zelariam pela segurança de Rin. Aquela insensata atitude de tirar as vestes diante de um homem poderia lhe custar muito caro; ela era muito ingênua e acreditava facilmente nos outros, e isso era um perigo. Pela primeira vez, então, o youkai se dera conta de que se sentia totalmente responsável pela vida da pequena Rin que, alheia a todos os seus devaneios, perguntou:

— Ei, Sesshoumaru-sama, por que não tira também o seu quimono e vem tomar banho comigo? Está fazendo muito calor hoje!

— Está louca, menina?!

— Não — volveu ela, antes de se atirar à água, sumir por segundos e retornar à superfície, já mais calma. — Olha... Se eu fosse o senhor, não deixaria de tomar banho não. A água está ótima! Aliás... Por que eu nunca lhe vi tomar banho?

— Rin, entenda de uma vez! Eu sou seu amigo, sim, mas um youkai macho. Você não pode expor seu corpo para um macho — exclamou ele, ignorando a última pergunta da garota.

— Nem se for para o senhor?

— Nem se for para mim! — respondeu. — Entenda, Rin, esse... sangramento... indica que você não é mais uma criança.

— Mas por quê? — inquiriu ela, sem o mínimo pudor de sua nudez infantil.

Sesshoumaru respirou fundo. Aquela conversa estava sendo mais difícil do que ele pensava.

— Depois conversaremos melhor sobre isso — afirmou ele, enfadado. — Agora eu quero que você se lave. Não posso perder mais tempo.

Então, a garota se pôs a se banhar mais depressa. O youkai ali ficou, observando aquela região e pensando consigo mesmo que gostara da calmaria daquela beira de rio, quando ouviu uma pergunta que o fez se engasgar com a própria saliva.

— Não podemos tomar banho juntos é porque eu tenho conchinha e o senhor tem pintinho?

Acesso de tosse.

Sesshoumaru abanou o rosto lívido, enquanto respirava com afobação. Definitivamente, não era assim que ele esperava terminar o dia...

— Q-q-que ideias são essas, Rin?!

— Ora, Sesshoumaru-sama... Meninas têm conchinhas e meninos têm pintinhos, minha mãe quem me ensinou. O senhor é adulto, mas deve ter um pintinho também, ou estou errada? É por isso que não podemos tomar banho juntos, não é? Mas por quê?

— Rin, por favor, por que não toma banho em silêncio?

— Eu queria entender essas suas ordens. Pronto, já terminei.

— Então vamos embora!

— Mas o senhor vai com a roupa suja de sangue?

— Sou um youkai guerreiro, isso não é problema. Vista-se. Depois lhe darei um quimono limpo. E fique calada!

Então, sem mais perguntas, a menina se vestiu e se permitiu ser agarrada pelo youkai, que voltava para o local onde haviam se separado dos outros youkais.

Ali, enquanto terminava de se pentear na água, a agora jovem Rin rememorava o acontecido e coçou a cabeça. Seu senhor agora não era somente seu protetor e amigo de poucas palavras do passado; era seu namorado. Possivelmente ele iria querer tê-la como noiva e esposa, assim como Inuyasha quisera a Kagome e Miroku quisera a Sango.

Porém, Rin tinha inúmeras dúvidas sobre esse assunto e Sesshoumaru, desde o dia do seu primeiro sangramento, parara de respondê-las.

Lembrara de quando lhe perguntara, ainda quando era bem mais nova, sobre como os bebês iam parar na barriga das mamães e recebeu uma resposta não muito esclarecedora de seu mestre.

— Um macho e uma fêmea têm um... encontro especial... e assim geram uma nova vida, Rin.

— Como é esse encontro especial, Sesshoumaru-sama? — questionara ela.

— Você ainda não tem idade adequada para saber sobre essas coisas.

— Por quê?

Sesshoumaru deu um longo suspiro cansado.

— Sabe, Rin, para tudo há um tempo. Inclusive para aprender sobre certos assuntos.

— E quando eu vou poder aprender?

— Daqui a bastante tempo ainda.

— Tudo bem — disse ela. Meio minuto depois, Sesshoumaru revirava os olhos ao ouvir mais uma pergunta:

— Por que o senhor voa, Sesshoumaru-sama?

— Porque sou um youkai, Rin!

— E por que Inuyasha-sama não voa, sendo que ele é seu irmão?

— Aquele maldito é meu MEIO-irmão e não passa de uma mistura de raças. É um hanyou. Não voaria nem se nosso pai fosse um youkai pássaro! Este Sesshoumaru é um youkai puro!

Silêncio. Súbito, Rin franziu o cenho, dizendo:

— Mas Jaken-sama é um youkai puro como o senhor... Por que ele também não voa?

O youkai branco suspirou fundo de novo.

— Rin, você não sabe ficar um instante sem fazer perguntas?

— Não — respondeu ela, com simplicidade. A Sesshoumaru só restou ignorar a pergunta, que foi repetida diversas vezes ao longo do dia até que ele desse uma resposta qualquer e ordenasse a Rin para ficar calada e não incomodá-lo. Então a pequena direcionou suas questões para um já agastado Jaken... Que também não lhe respondia.

Ergueu-se do ofurô, com um meio sorriso no rosto. Realmente, ela fora uma criança perguntadeira, curiosa. Mas, como não o ser, se a vida lhe mostrava a cada dia uma imensidão de dados novos? Enxugou-se devagar, pensando mais uma vez no youkai branco. Será que ele evitava suas perguntas por não saber como respondê-las?

— Não, Sesshoumaru-sama sabe de absolutamente tudo. Ele é a pessoa mais inteligente do mundo — murmurou ela de si para si. — Bom... Acho que agora eu já posso voltar a perguntar mais coisas para ele. Já vou fazer dezesseis anos. Sou quase adulta.

Então, Rin ia saindo do ofurô, quando notou um olho na madeira. Abaixou-se rapidamente para tocar aquela pequena diferença que se destacava na estrutura do objeto.

— Eucarionte ou procarionte? Já esqueci... — indagou ela.

Por fim, a jovem enxugou-se e vestiu-se. Tinha que voltar para os livros.

 

ѼѼѼ

 

Num plano espiritual, onde havia apenas o silêncio, alguém era despertado do sono eterno e abria grandes e confusos olhos castanhos.

Uma silhueta estava ali ao lado, olhando-o intensamente, enquanto ele notava, espantado, que havia recuperado todos os membros do seu corpo. Por fim, Naraku descobriu que não estava só.

— Q-quem é você? — perguntou ele, intrigado.

— Sou Shiva, a deusa da destruição — respondeu a sombra, com um grave timbre de voz.

— Deusa? E deuses existem?

— Existem. Fui eu quem o revivi. E você vai trabalhar para mim, hanyou — respondeu Shiva, autoritária.

— Eu? Que tolice! — replicou Naraku, irritado. — Já estou morto, quero voltar ao meu repouso. Não tenho que trabalhar para você, criatura estranha.

— Quando vivo, você parecia muito sedento de poder — afirmou a maligna Shiva. O moreno arregalou os olhos. — Sim, eu te conheço muito bem. Sei de tudo a seu respeito, Onigumo.

O hanyou franziu o cenho.

— Quis poder, sim, mas o poder não me trouxe o que eu mais queria — volveu ele, pensando em Kikyou e no amor não correspondido que sentira por ela, a verdadeira fonte da sede de vingança que o fizera nascer como ser perverso. — Agora nada mais do mundo me importa, só quero permanecer como estava, morto! Será que você não entende, maldita?

Shiva ergueu um dedo e Naraku sentiu a cabeça explodir de dor. Caiu no chão, gritando desesperadamente.

— E será que você não entende que isto não é um pedido, hanyou insignificante?

Naraku rolava ensandecido pela dor que se originava no centro de sua testa. Súbito, se quedou inconsciente. Um sinal estava em sua testa; a deusa da destruição se aproximou e olhou diretamente para aquilo.

Um terceiro olho se abriu na testa alva e suada do desmaiado Naraku. Fora possuído.

— Humpf. Criatura estúpida. Como se fosse possível resistir ao meu sohma negro — zombou Shiva, enquanto olhava para o corpo nu do outro. — Brahma¹, você escolheu um corpo tão fraco para reencarnar! Aquele humano é tão fácil de ser destruído! Agora eu dominarei os mundos! Nem você, nem aquela estúpida deusa Vishnu me impedirão!

E, naquele plano espiritual, Shiva gargalhou, ao ver que Naraku despertava aos poucos, abrindo os olhos que voltaram a ser vermelhos como sangue.

 

ѼѼѼ

 

¹ - Brahma, deus hindu da criação, que na série Shurato é inimigo de Shiva. Na dublagem brasileira, é chamado de Brafma.

 


Notas Finais


Rin... Ê, Rin!

É, não teve jeito... Olha o Naraku de novo aí, geeeeente! kkkkk

A Shiva, deusa da destruição, é o principal vilão em #Shurato (até hoje não descobri se Shiva é homem ou mulher e quem assistiu o anime sabe que é difícil descobrir)

Até o próximo! Depois venho editar essas notas finais.

Obrigada, pessoal!

~TheOkaasan


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