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História Vulneráveis (hiatus) - Os reencontros, o confronto e a inesperada resistência


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.

No capítulo anterior, durante os momentos íntimos, Sango vê a vulnerabilidade de Miroku: o medo do possível retorno do buraco do vento. Enquanto isso, Naraku é torturado pela deusa da destruição, Shiva, que pretende usá-lo como instrumento maligno.

Perdoem eventuais erros de formatação, estou postando pelo celular.

Boa leitura! ♥‿♥

Capítulo 24 - Os reencontros, o confronto e a inesperada resistência


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Os reencontros, o confronto e a inesperada resistência

ѼѼѼ

 

Kagome estava com uma pequena faca na mão, abaixada sobre uma moita de artemísia, cortando ramos e acomodando-os num cesto velho.

Estava triste, apesar de Kaede haver lhe prometido que não descansaria enquanto não encontrasse solução para o seu caso. Estava amargurada ao ver que Inuyasha havia sumido assim que a velha sacerdotisa dissera que uma gravidez poderia ser fatal à moça, por causa do sangue híbrido que ele carregava. Cheia de pensamentos, Kagome então se levantou bem cedo e foi colher ervas para se distrair.

Levou um susto quando ouviu um rosnado atrás de si — um rosnado animalesco.

Olhou para trás imediatamente e vislumbrou uma loba acinzentada¹, com os dentes à mostra, agressiva, que saltou em cima dela.

— Ei, Ayame-chan, o que deu em voc- — ia dizendo a sacerdotisa, interrompida por aquele ataque. Despreparada, Kagome acabou caindo, mas antes que fosse mordida, concentrou seu houriki na palma da mão e empurrou o animal, que rolou de lado, ganindo. Em segundos, a aparência lupina se foi e deu lugar à silhueta de uma garota ruiva, que a olhava com fúria e dor, enquanto se erguia meio entontecida.

— Eu te odeio, Kagome! — cuspiu ela. — Odeio, odeio... Odeio você!

E avançou novamente com suas garras contra a outra, que, assustada, apenas tentava se esquivar.

— É por sua culpa! Ele me despreza por sua culpa!

— Ayame-chan? Céus! O que deu em você? Por que está me atacando?

— Eu quero você morta! — berrou a lobinha, enquanto finalmente cravava as garras no pescoço alvo de Kagome. Gotas de sangue desceram ligeiras; a sacerdotisa ficou apavorada e, vendo-se sem saída, agarrou-se a Ayame num de seus “abraços de urso”, como dizia Souta, e começou a purificá-la.

Gritando de dor, a ruiva soltou Kagome, que tossia e tentava restabelecer sua respiração que fora impedida durante aqueles segundos insanos. Caída sobre a grama, Ayame desatou a chorar desconsoladamente; ainda trêmula, a jovem se aproximou dela, devagar.

— Ayame-chan, o que aconteceu? Por que fez isso? — o choro aumentou. Então, Kagome teve uma ideia arriscada e acomodou a cabeça da lobinha em seu colo.

Surpreendentemente, Ayame se deixou ficar no colo macio da moça, enquanto soluçava sem parar. Lembranças de palavras terríveis inundavam sua mente atormentada e a dor era corrosiva ao seu coração jovem:

“Você é complicada e estranha demais, Ayame. Você reclama de tudo, mas esquece de que eu sou um príncipe, um youkai cobiçado. Se eu estalar os dedos, vai chover de fêmea querendo me servir, sabia? Tenho outras opções a não ser você.”

Se Kouga queria quebrar-lhe o espírito, havia conseguido com sucesso - a lobinha se sentia tão inútil quanto um galho seco de uma árvore qualquer.

Depois de longos minutos, ela se ergueu e, corada, balbuciou:

— K-Kagome-chan... Que droga, o-olhe o que eu fiz! E-eu não queria t-ter machucado você, me desculpe... — disse ela, vendo a túnica sacerdotal de Kagome ensanguentada. A jovem, entretanto, pôs a própria mão sobre o pescoço ferido e purificou-o; a dor diminuíra e ela, então, pôde se acalmar para conversar com a youkai loba, que trazia olheiras e um abatimento notável no rosto adolescente.

— Kouga não me ama...

— Que bobagem é essa, Ayame-chan? É claro que ele te ama, vocês estão casados!

— Casamento é uma coisa, amor é outra — respondeu ela, com raiva. — Os últimos quatro meses foram os piores da minha vida.

— Mas como?! Kouga não parece ser capaz de maltratar você...

— Não em público... Mas, quando estamos a sós e ele quer me usar...

A sacerdotisa torceu o nariz àquela palavra. Tinha asco absoluto de ouvir alguém se referindo a uma mulher como objeto sexual; sequer lhe passava pela cabeça que Kouga, o príncipe dos youkais lobos, que tantas vezes lhe tratara com doçura e carinho, pudesse ser truculento.

— M-mas ele te machuca...? É grosseiro?!

— Olha... Até que, no dia a dia não, Kagome-chan... Ele não é estúpido comigo como é com o Ginka e o Hagaku — suspirou ela, triste, enquanto pegava as folhas de artemísia que caíram no chão e as recolocava no cesto. — O problema é que, quando ele vai me usar...

— Credo, não fale assim! — interrompeu-a a moça. — Isso não existe, Ayame, você não é um objeto! Você... Você é uma pessoa que merece ser bem cuidada na hora do amor!

Ayame olhou para a sacerdotisa como quem olha para um bicho exótico.

— Você tem umas ideias estranhas — afirmou a lobinha. — Os machos se servem das fêmeas, não tem nada de amor nisso. Essa é a realidade.

— Não, não pode! Nós não somos coisas!

— Deve ser porque você veio de outras terras — comentou Ayame, irredutível. — Aqui não é assim não. Você vai ver quando se casar...

Kagome corou.

— Eu... Eu não preciso ver, Ayame-chan. Inuyasha... Ele não me trata como objeto.

— Ué, mas vocês não esperaram o casamento?! — fez a outra, impressionada.

A sacerdotisa contou-lhe a situação em breves e resumidas palavras. Ayame parecia impressionada quando perguntou:

— Fêmeas podem sentir prazer quando estão servindo ao macho?!

Podem e devem — afirmou a outra. — E, por favor, Ayame, não fale dessa forma horrível. É tão especial a gente se unir ao homem que a gente ama... Não diga que está servindo a ele, é feio demais.

— Pode ser feio, como você diz, mas é isso que nós dessa era vivemos todos os dias — replicou a lobinha, amarga.

— Eu jamais vou concordar com uma coisa dessas. E você ainda não me disse o porquê de chegar aqui brava comigo...

Ayame baixou o olhar.

— Como eu estava dizendo... Quando... Quando Kouga me procura, querendo... sabe... Ele reclama de mim o tempo inteiro, diz que sou fria... Me machuca e dorme depois que tudo termina. E diz que, com certeza, você deve ser uma fêmea à altura dele... — Kagome arregalou os olhos, chocada. A lobinha prosseguiu: — Ele... Compara o meu corpo com o seu... É obcecado... Pelas curvas do seu corpo... E não liga para o meu!

Nova crise de choro. A sacerdotisa, afável como sempre, abraçou a lobinha, sentindo-se tremer por dentro de ira. Se topasse com o youkai lobo em sua frente, seria capaz de lhe arrancar os testículos para usá-los como bolas de tênis e os longos cabelos como rede.

— Ele não tem o direito — disse ela, furiosa. — E... Pelos deuses... Ele sabe que eu o vejo apenas como um amigo, caramba. Já tenho um homem para amar, e é Inuyasha, somente ele. E eu... Não aceito que ele lhe faça isso...

— Mas não tem jeito — soluçou a menor. — Nós somos casados, eu sou a fêmea dele. Não há o que você possa fazer, Kagome... E... — suspirou. — Eu não consigo odiá-lo o suficiente para chutar tudo e ir embora... Eu o amo! Ah... Tem mais uma coisa... O que me fez vir até aqui e atacá-la...

— O que, Ayame? — indagou ela, apreensiva.

— Kouga sabe que você não se casou ainda e... Eu o ouvi dizer a Ginka e Hagaku esta madrugada que iria vir até aqui... Tentar... Seduzir você... Convencer você a... Servi-lo. Ele quer me trair... Com você.

 

ѼѼѼ

 

Inuyasha parecia bem mais leve de espírito enquanto se refestelava com uma jaca inteira. Miroku, sentado ao seu lado debaixo de um jatobá, ria um pouco da gula do amigo, enquanto devorava também outra jaca, ambas roubadas de algum quintal. O sol estava quente.

Ambos já haviam desabafado suas muitas questões, angústias e preocupações. Miroku, então, convenceu Inuyasha de que seu mestre deveria ter respostas para o assunto futura gravidez de Kagome.

Então, ambos iam resolutos à viagem em busca de Mushin.

— No fim das contas, você é bem mais tarado do que eu, Inuyasha.

— Keh! Isso não é verdade, seu idiota. Nunca! — protestou o hanyou, morto de vergonha.

— É sim, seu cachorrão safado. Eu jamais iria encostar nada na boca de Sango sem pedir primeiro.

— E-e-eu já d-disse que foi o meu lado youkai...! — gaguejou o outro, agastado. — E-eu juro que não quis... não quis que acontecesse dessa maneira! Mas... Perdi o controle, seu maldito!

O monge ergueu as mãos, pacificador. Ambos recomeçaram a caminhada.

— Ei, tudo bem, eu sei. Estou apenas te enchendo, seu besta — sorriu ele. — Enfim... Parece que não preciso mais te ensinar nada, não é? O seu lado youkai é que tem coisas diferentes para me dizer, creio eu.

— Vá à merda, seu tarado — resmungou Inuyasha. Súbito, seu nariz farejou algo e ele pareceu se irritar de verdade. — Não acredito...

Ágil e veloz como o vento, o antigo rival do hanyou vinha correndo à esquerda dos dois amigos e, logo, parava à frente deles, altivo.

— E aí, houshi? — disse Kouga, parecendo bem mais forte e sadio.

— Kouga... — cumprimentou Miroku, discretamente e não muito entusiasmado.

Yase ookami... O que está fazendo por aqui? — resmungou Inuyasha. Nunca conseguiu se sentir totalmente à vontade com o lobo, mesmo depois do casamento deste com a ruiva Ayame.

— Bom dia para você também, Inukoro — replicou ele. — Cadê Kagome? Você a deixa sozinha demais para o meu gosto, sabe?

O hanyou rilhou os longos dentes, enquanto Miroku revirava os olhos.

Lá vinha outra briga.

— E você, por que não está com a sua esposa? — berrou Inuyasha, possesso. Kouga riu, ao vê-lo tão facilmente irado.

— Ela é uma youkai e não precisa de mim para se defender... Mas, por outro lado, Kagome é frágil, delicada e humana... Precisa de um macho de verdade para cuidar de sua segurança.

— Ela tem um macho de verdade! — sibilou o hanyou, arrepiado de ciúmes. — Ela tem a mim, que sou o noivo dela.

— Inuyasha, não leve a sério, ele está apenas te provocando... — aparteou o monge. Kouga riu mais uma vez.
 — Estou falando a mais pura verdade, Miroku. E você, anda se divertindo muito com sua taijiya?

Desconforto total dos dois amigos, que estavam incomodados com a arrogância do youkai lobo. Miroku olhou diretamente nos olhos de Kouga ao responder, com firmeza:

Eu é quem divirto a minha taijiya, a satisfação dela é a minha satisfação. Jamais magoaria minha Sango.

— Mas quem liga para o que uma fêmea pensa? — fez ele. Miroku e Inuyasha o encararam, mortificados com aquelas palavras.

— O que quer dizer com isso, Kouga? — inquiriu o hanyou, com os punhos cerrados. O outro, sem entender o porquê dos olhares revoltados que recebia, disse:

— Ué, a verdade... Ninguém liga para o que uma fêmea sente ou deixa de sentir.

— Você não liga para o que Ayame sente?! — gritou Inuyasha.

— Bem, eu não vejo necessidade nenhuma disso... Mas, ainda assim, procuro ver se Ayame está se alimentando ou se precisa de peles novas para se vestir; quando ela torceu o pé, fui eu quem tratou dela. Ela gosta de flores, então eu lhe dou flores, nenhum outro youkai lobo faz isso. E, sim, ela está muito bem assim, obrigado.

Os dois amigos pareciam sem palavras. E Kouga parecia incapaz de compreender o motivo do estado de choque deles.

— Por que essas caras? Ninguém fica dando tanta hora para frescuras de fêmeas, sejam elas humanas ou youkais. E vocês sabem muito bem disso. Ayame, por exemplo, é uma privilegiada, pois eu a escolhi para ser minha consorte. Aposto como ela deve ter orgulho disso.

— Ela disse a você que tem algum orgulho disso?! — perguntou Miroku, trêmulo de indignação.

— Ora, é claro que não, Miroku. Mas é evidente. Ela sabe que eu poderia ter escolhido qualquer outra youkai lobo para usar e...

— USAR?! — berrou o hanyou, furibundo. — Não se usa uma fêmea, seu... seu maldito!

— É claro que sim — retrucou ele, já incomodado por causa das caras furiosas de Inuyasha e Miroku. Para ele, nada do que estava dizendo era grave. — Posso meter nela sempre que eu quiser. Ela é minha esposa, me pertence.

— Como você pode falar e agir dessa forma?! Não lhe passa pela cabeça que está magoando sua mulher, seu louco?! — fez o monge.

Kouga franziu o cenho.

— Ah, não é possível. Então vocês são desses que engolem essas besteiras de mulheres? Francamente... — olhou para eles como se estivesse penalizado. — Vocês são uns iludidos. Se qualquer outro ouvir essa conversa, vai rir de vocês até o anoitecer. Nunca vi dois caras tão frouxos quanto v-

— Kouga, adeus — interrompeu-o o monge, puxando Inuyasha consigo e lhe dando as costas, agastado. — Temos uma viagem a fazer.

E, assim, ambos se afastaram rapidamente do youkai lobo que, intrigado com as reações, disse a si mesmo:

— O que eu disse de errado? Desde que o mundo é mundo, é assim que as coisas funcionam... Enfim, já que o cachorro saiu do vilarejo, Kagome vai estar lá sozinha... E eu tenho certeza de que Inukoro é ingênuo demais para seduzi-la como um macho de verdade. Ayame é boa esposa, mas fria demais para mim.

 

ѼѼѼ

 

Bulha na casa de Miroku.

Depois de muitas conversas, confissões e crises de choro, Sango serviu um chá com bolinhos para Ayame e Kagome, assim que terminou de colocar um unguento de ervas sobre as feridas do pescoço da sacerdotisa. As três se acomodaram sobre um tapete.

— Eu sei porque não doeu em você, Kagome-chan — comentou a lobinha. — É porque você é humana.

— Não, Ayame-chan — aparteou Sango. — Não doeu porque ela tem poderes.

— Gente, não é nada disso... — suspirou Kagome. Aquela conversa a estava deixando nervosa; não imaginava que duas de suas amigas estavam passando por tais dificuldades. — Eu já disse que o corpo da gente não funciona como vocês estão pensando.

— Então por que dói? — inquiriu a exterminadora. — O meu caso passa longe do dela, Kagome-chan.

— Eu não sei o que acontece com você, Sango-chan — respondeu a sacerdotisa. O caso de sua amiga parecia muito misterioso. Já o da lobinha era fruto da pura ignorância e egoísmo de Kouga.

— E eu não consigo acreditar que houshi-sama não te obriga a nada, Sango-chan — comentou Ayame, olhando intrigada para ela.

— Ele não me obriga — disse ela, corando. — Nem quando eu... exigi que ele me usasse de qualquer jeito...

Kagome fechou a cara.

— Ah, não, Sango, você também com essa conversa? Eu não posso entender uma coisa dessas. Você queria ser violada, sua maluca?

— Eu tinha medo de ele ir atrás de outra... — volveu ela, sem graça, dando de ombros.

— E ele não foi? — indagou a lobinha.
— Não. Na verdade... Miroku está sempre tentando me... agradar... Entendem?

— Sim — respondeu Kagome, vermelha.

— Não — respondeu Ayame. A dona da casa se sentiu queimar de vergonha, ao lembrar dos momentos de tórrido romance que tivera até então com seu querido. Contudo, a sacerdotisa retomou a palavra.

— Se Kouga-kun não fosse tão arrogante, bem que Miroku poderia dar umas dicas para ele... Como as que ele andou ensinando a Inuyasha... Se bem que o problema aí não é apenas de intimidade.

— Por que não? — perguntou a lobinha.

— Bem... Enquanto Kouga não entender que uma mulher não é inferior a um homem, nada vai adiantar. Ele precisa saber que, assim como o sol e a chuva, uma mulher e um homem se complementam. E é triste ver que, aqui na era feudal, esse pensamento é minoria.

— Infelizmente — concordou Sango, olhando a tristeza estampada no rosto de Ayame. Contudo, Kagome pegou a mão da lobinha, dizendo:

— Mas não se preocupe, Ayame-chan, nem tudo está perdido. O que Kouga-kun precisa é ouvir umas boas verdades... Ele vai ter que aprender a valorizar você, nem que tenha que te perder para isso.

 

ѼѼѼ

 

Uma dor ininterrupta percorria o corpo de Naraku, que acordava de mais um desmaio. Sentia-se como se tivesse sido surrado.

— Shiva... Desgraçada — murmurou ele, desgostoso. — Não pense que vou me entregar... Eu não quero saber de ir atrás de Inuyasha nunca mais... Tudo o que ele me inspira é dor... Kikyou o amava... Nada do que fiz contra ele aplacou minha dor... Nunca mais quero vê-lo...

E, envolto em seu manto negro, que lhe deixava apenas os olhos descobertos, o hanyou andava com dificuldade por uma estrada de pedregulhos. Não fazia ideia de onde estava; só sabia que queria sombra. De repente, ouviu passos ao longe; sua audição parecia aguçada como sempre. Escondeu-se no meio do matagal denso e arregalou os olhos ao reconhecer as vozes masculinas que se aproximavam de onde ele estava.

Inuyasha dizia algo estranho para o monge.

— Você é um safado pervertido, mas é honrado...

— Como assim, Inu? — fez o outro, surpreso. Afinal, eram as primeiras palavras que o hanyou dizia após o estranho reencontro com o youkai lobo.

— Você não é como aquele filho da p*** do Kouga. Você honra Sango.

Miroku deu um sorriso cansado, porém feliz.

— Eu amo aquela mulher, Inuyasha. Quando se ama alguém, o respeito é natural, é automático. Veja você com Kagome-sama.

— Não tem como eu não respeitar Kagome, Miroku. Eu simplesmente não consigo. Por isso me deu ódio daquela conversa do lobo fedido...

— O problema é que ele só mostrou o pensamento dos demais homens da nossa era, não é nenhuma novidade. Mas que é revoltante, é... — comentou ele, pensando como seria sua vida com Sango se ele fosse como um camponês qualquer que não respeitasse o tempo do corpo dela. Piscou, enojado.

De repente, os dois pararam no meio do chão de pedregulhos; Inuyasha sentiu o corpo arrepiado e o monge enfiava a mão nas vestes, tirando um pergaminho. Uma presença extremamente má e perversa estava por ali, mas eles não conseguiam identificar o que era, nem de onde vinha. O hanyou encostou as costas às do amigo, segurando a Tessaiga transformada.

Então, do alto, uma silhueta negra apareceu, atacando-os com uma forma de energia elíptica e cósmica nas mãos. Quase foram atingidos. A pouca vegetação fora queimada.

A figura de negro, que não tinha cheiro algum, se aproximava mais uma vez, pronta a atacar de novo. Então, Inuyasha caiu no chão, gritando com as mãos sobre as orelhas e deixando a espada cair. O monge entendeu que algum ruído que ele não ouvia estava sendo emitido por aquele estranho e poderoso inimigo.

Para Miroku, não havia outro jeito, senão atacar usando seus poderes. O hanyou chegava a arrancar alguns fios de cabelo em sua agonia, rolando sobre as pedras, berrando a plenos pulmões. Aparentava estar enlouquecido de dor de ouvido.

Miroku colocou um ofuda entre os dedos indicador e médio e os ergueu à frente do rosto, enquanto pronunciava um mantra que aprendera com Gai. A pequena fita de seus cabelos se soltou; suas vestes voavam e o sohma sagrado se fez presente, ao passo que os olhos azuis do monge reluziam como o sol.

Om Bazara Tamakkukan Hakisha Han! — gritou ele, já sentindo dores excruciantes nos órgãos internos. Mas era preciso atacar antes que Inuyasha sucumbisse. — Yash-

— Ora, ora... — interrompeu-o uma voz não de todo estranha em sua mente. — Rei Yasha... É um prazer revê-lo. Vai me atacar, sabendo que pode perder sangue até a morte?

— Não importa! — gritou Miroku, tossindo e sentindo o gosto metálico do sangue que enchia sua boca e logo lhe descia pelo queixo abaixo. — Você não vai matar Inuyasha, criatura satânica!

Entretanto, assim que Miroku erguia o braço esquerdo para atacar o inimigo de negro, o corpo convulso de Inuyasha levitou e foi parar à sua frente, flutuando à altura de seu rosto. O estranho ser ergueu uma mão muito branca e a fechou devagar; os berros do hanyou recrudesceram e ele começou a se arranhar com as garras, suspenso no ar. O monge ficou apavorado. Como se não bastasse tudo aquilo, o esforço que ele estava fazendo para manter seu sohma em atividade estava lhe causando mais hemorragias; sentia o sangue quente lhe descendo pelos olhos e ânus. Se demorasse um pouco mais, ambos morreriam.

Contudo, a figura de manto negro pareceu vacilar por um instante e deixou o corpo de Inuyasha cair. Miroku aproveitou a pequena distração do inimigo para voar contra ele, enquanto seu ofuda se alongou e tomou a forma de uma espada montante.

Yasha Kingōshō²! — gritou ele, disparando uma violenta descarga de poder místico contra o oponente, que escapara por pouco. Parte de seu manto fora cortado e caiu no chão.

Tão subitamente quanto aparecera, o desconhecido desapareceu no céu acima do monge que, tossindo e se engasgando com sangue, deu alguns passos trôpegos em direção ao amigo desmaiado sobre os pedregulhos. Miroku caiu de joelhos, tentando ainda chamar a atenção do hanyou. Aliviado, sorriu de leve ao ver que ele respirava normalmente.

Havia conseguido defender seu melhor amigo.

— I-Inuy... Inuyasha... Acorda... Ac-

E o monge finalmente tombou sobre os joelhos de Inuyasha, inconsciente e ensanguentado.

 

ѼѼѼ

 

Bem longe dali, Shiva erguia o corpo agora manipulável de Naraku nas alturas, furiosa.

Sua oportunidade de matar o Rei Yasha e a alma não-desperta do deus Brahma, oculta na vida humana do híbrido inuyoukai, se perdera por causa daquele teimoso Naraku que se recusava a se deixar possuir de vez, mesmo com o terceiro olho implantado na testa.

— Vai aprender a não me desobedecer, maldito — disse ela, baixinho, enquanto atirava Naraku, ainda consciente e cheio de dores, de um penhasco.

Antes de se chocar contra as pedras, o hanyou ainda pensou uma última vez no sorriso delicado de Kikyou, quando ela lhe dava caldo de legumes a comer, dentro da gruta.

Lembrar do sorriso da jovem sacerdotisa o fazia ficar mais em paz, mais leve. E menos vulnerável ao comando da deusa da destruição. Mesmo morta, Kikyou conseguia purificá-lo e, desta vez, Naraku não achou ruim perceber isso.

Então, tudo ficou escuro.

 

ѼѼѼ

 

¹ — Na série, Ayame não vira um lobo. Tive a ideia por causa do avô dela, o lobo falante. Alguém se lembra do nome dele? Eu esqueci...

² — Ventos Iluminados de Yasha: um dos golpes de Gai Kuroki, o Rei Yasha de Shurato.

 


Notas Finais


Assim que puder, edito direito estas notas.

Gente, não odeiem o Kouga. Ele só está reproduzindo o que aprendeu, o pensamento machista da época. E, sim, ele vai mudar depois de umas boas reviravoltas... Digamos que a vida (ou melhor, eu, autora da fic) há de dar umas surras nele.

Obrigada, pessoal.

~Okaasan ♥‿♥


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