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História Vulneráveis (hiatus) - Um minuto de sossego


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.

No capítulo anterior, Ayame, frustrada pelos maus tratos sofridos pelas mãos de Kouga, acaba indo procurar Kagome; a ataca, mas logo se arrepende e expõe suas angústias e medos para ela e Sango, que também conta o que está passando. Nesse ínterim, Inuyasha e Miroku são atacados por Naraku, que, mesmo possuído, ainda resiste a Shiva e termina por ser vencido pelos poderes místicos do monge, que sofre bastante ao combatê-lo.

Sugiro a você, leitor, que leia o trecho de Naraku ouvindo uma OST que me impulsionou a escrevê-la. Mexeu demais com meu coração. O link está nas notas finais.

A imagem do capítulo é aleatória, escolhi esta porque transmite um dedinho de melancolia. Inuyasha e Sesshoumaru, muito bem ilustrados, não me pertencem; créditos ao fanartista.

Boa leitura!

Capítulo 25 - Um minuto de sossego


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Um minuto de sossego

ѼѼѼ

 

Inuyasha abriu os olhos devagar, sentindo-se totalmente desorientado. Levou algum tempo para que ele recobrasse de vez a consciência, depois do desmaio provocado pela violenta dor de ouvido que se lhe acometera ao se encontrarem com o estranho inimigo sem cheiro.

Sentiu um peso sobre as pernas e tentou erguer-se ao ver Miroku inerte sobre si, mas estava tonto. Tombou mais duas vezes até conseguir se levantar, puxando o amigo e procurando acordá-lo.

O hanyou sempre se sentia enregelar por dentro quando via seu onii-san do coração naquele estado mórbido.

— M-Mi... Miroku, Miroku. Idiota! Fale comigo!

Apesar do sangue abundante no rosto, a expressão do rapaz aparentava paz. Ele não acordou e Inuyasha preferiu não insistir.

— Já que é assim, vamos andando, vagabundo.

Então, o hanyou, ainda enfraquecido, acomodou Miroku nas costas e se foi pela estrada irregular. Não lhe passou despercebida a forte impressão de que o monge estava mais leve.

O sol estava quente e Inuyasha se sentia fraco. Não lhe era difícil carregar o corpo magro do amigo, mas, depois daquela batalha, suas pernas pareciam não querer sustentar seu peso. E, amaldiçoando a própria fraqueza, Inuyasha andou lentamente por uns vinte e cinco minutos, parando para tomar fôlego. Ouviu um suspiro e um comentário sussurrado:

— O vento não está colaborando hoje...

— Não está mesmo — resmungou o hanyou, sentindo-se todavia bem mais aliviado ao ver que Miroku voltara a si. — Nem uma brisa! Que clima ruim dos infernos!

O monge percebeu que estava sendo pesado para Inuyasha, mas sabia também que, se lhe pedisse para ser colocado no chão, este se sentiria ofendido — jamais admitira tal coisa. E Miroku tinha a impressão de estar totalmente quebrado. Mas não era justo ser um fardo para alguém que estava debilitado como ele próprio.

— Inuyasha, me coloque no chão... Eu... Estou com dor no peito, e ficar sobre suas costas dessa maneira me machuca — murmurou ele. Não era de todo mentira, mas foi o que lhe veio à mente. Inuyasha prontamente o fez descer; contudo, apesar dos cuidados, Miroku não conseguiu ficar de pé e tombou, gemendo. O hanyou esbravejou, enquanto o erguia e colocava o braço do amigo sobre seus ombros:

— Seu maldito idiota! Podia ter continuado nas minhas costas!

Miroku sorriu de leve, enquanto segurava a cintura do amigo e tentava se equilibrar.

— Não se preocupe, Inuyasha, acho que agora eu não caio mais. Você não vai deixar, não é?

— Keh! Claro que não! O que pensa que sou, um humano qualquer?

Súbito, o olfato do hanyou percebeu um cheiro conhecido e ele se sentiu irritado e aliviado ao mesmo tempo. Segundos depois, do céu uma voz ressoou agoniada:

— Miroku no danna! Miroku no danna! O que houve com ele, Inuyasha?

E Hachiemon, o tanuki, desceu até onde os dois estavam, fitando o seu mestre ensanguentado com lágrimas nos olhos. Inuyasha resmungou:

— Até que você não é tão inútil assim, seu tanuki safado. Miroku e eu estamos indo ver aquele velhote beberrão.

— E, depois que eu estiver melhor, vou te dar uma surra por não ir ao meu casamento — murmurou o monge, feliz por rever o tanuki que chorava abertamente agora. — Ei, não precisa chorar. Minha surra não é para matá-lo.

O bicho se lançou aos pés dele, abraçando-os.

— Me perdoe, Miroku no danna! Me perdoe! Eu... Acabei tendo uns... probleminhas no caminho e... Tem sangue aqui também?! — gritou Hachi, alarmado, olhando para as panturrilhas do rapaz. — O que aconteceu? Me expliquem, pelos deuses!

— Melhor nos levar até Mushin-sama primeiro, Hachi — respondeu o monge, já tonto devido ao sol escaldante.

Instantes depois, o tanuki voava com os dois amigos sobre si que, de exaustos, adormeceram.

 

ѼѼѼ

 

Sesshoumaru observava sua jovem noiva atentamente durante a refeição, feita sob a sombra da varanda da casa grande.

Rin comia deliciada a “comida moderna” que Kagome trouxera para que eles experimentassem — o lamen que Inuyasha adorava. O youkai branco, contudo, não apreciou o macarrão e, no momento, se alimentava de tomates, folhas de rúcula e frango.

Ele pensava em como fazer a mocinha se dobrar às suas táticas sedutoras, quando sua voz o tirou de seus devaneios:

— Sesshoumaru-sama...

— Hmmm — fez ele, interrompendo a mordida que ia dar em uma grande coxa de galinha.

— Kagome-sama me mandou estudar até a página 29 do livro, mas eu já li tudo e tomei notas. Faço mal se ler mais para frente?

— Conte-me o que aprendeu.

Rin então passou a dissertar com veemência sobre uma série de coisas incompreensíveis para o youkai, que acabou por interrompê-la, não escondendo que estava aturdido.

— Ei, vá com calma. Você disse que um rinossono...

Ribossomo, senhor.

— Um ribossomo... Tem trinta e dois nanômetros em uma cédula eucarionte...

Célula, senhor.

— Que seja. Enfim... Vamos terminar o almoço e você vai me mostrar suas notas — afirmou Sesshoumaru. Assim que ambos colocaram os pratos vazios sobre uma bandeja, o youkai se virou para o corredor: — Jaken!

Em segundos, o verdinho se materializou perante seu mestre.

— Sim, Sesshoumaru-sama?

— Avise a Honami que eu quero um queijo para comer com o doce de casca de melancia que ela fez. Vou avaliar os estudos de Rin.

— É para já, senhor! — respondeu Jaken, já recolhendo os objetos do almoço. O casal caminhou de mãos dadas até o quarto de estudos, silenciosamente. Ela, ansiosa, temendo que ele percebesse algumas de suas dúvidas sobre a síntese proteica feita pelo retículo endoplasmático granuloso. Ele, ansioso, temendo que ela descobrisse que, pela primeira vez, ele não entendia nada do que ela estava falando. Seria obrigado a ler aquele conteúdo; Sesshoumaru jamais admitiria que Rin soubesse de algo e ele não.

Rin agora lia suas notas para Sesshoumaru, que procurava acompanhá-las de acordo com o texto da apostila. Longos minutos se passaram. Tão absorvidos ficaram naquela revisão de estudo que mal perceberam Jaken chegando com o queijo e o vasilhame de doce. O verdinho estava totalmente encafifado com o que ouvia:

— A membrana plasmática não é vedada porque precisa fazer constantes trocas com o meio exterior — dizia Rin. — Esses transportes moleculares podem ser passivos ou ativos.

— E o transporte ativo acontece quando se utiliza... a-de-no-si-na... trifosfato... — leu Sesshoumaru.

— Ou ATP, Sesshoumaru-sama — sorriu a jovem. — O passivo pode ocorrer por osmose...

— Ou difusão, que pode ser simples ou facilitada... No caso, a simples não tem o auxílio de...

— Enzimas permeáveis, como na difusão facilitada. Já vou, Jaken-sama!

— Hein? Jaken está aqui? — indagou o youkai, surpreso, quando Rin abriu a porta.

— Estou, Sesshoumaru-sama... Já faz um tempo — murmurou o pequeno youkai, segurando a bandeja com o queijo e o doce e com expressão de tédio. — O senhor estava concentrado falando das molecas antipáticas.

Moléculas anfipáticas, idiota — retrucou Sesshoumaru, altivo. — E dê o fora, estamos ocupados.

— Obrigada por vir, Jaken-sama — disse Rin, gentil, tomando a bandeja de suas mãos. Por dentro, Jaken comemorava por ser ela, e não o youkai branco, a abrir-lhe a porta. E, dessa maneira, ele pôde escapulir sem levar um cascudo.

Ouviu ainda a voz pausada da leitura de Sesshoumaru enquanto andava em direção à cozinha:

— O ribossomo serve para garantir a síntese das fitas... proteicas de ácido... ri-bo-nu-clei-co...

Já bem longe do quarto, o youkai verde confabulou com seus botões:

— Sesshoumaru-sama anda tão estranho depois que decidiu desposar a pirralhinha...

 

ѼѼѼ

 

— Como assim você não se toca, Ayame-chan? — indagou Kagome. As jovens agora estavam atentas e rubras ao ouvir as explanações da sacerdotisa sobre o que era masturbação e suas finalidades.

— B-bem, nunca ouvi falar disso e... Ouvindo agora, não me parece apropriado... — volveu ela, olhando fixamente para a pele felpuda que carregava nos ombros, vexadíssima. Bastante sem jeito, Sango resolveu opinar:

— Miroku me ensinou que isso... Ajuda...

— Mas ele é um safado, pervertido, tarado... Claro que vai lhe dizer algo do tipo.

— Não é para tanto, Ayame-chan. Isso realmente ajuda, se você quer mesmo ter um momento legal com um homem — comentou Kagome. — Mesmo que o homem em questão seja o Kouga.

E, vermelha, arrematou:

— Não me admira Miroku-sama dizer isso a Sango-chan. Mas deve ter sido engraçado... Como foi que ele disse, Sango-chan?

— E-ele não... Não disse m-muita coisa... Foi algo mais prático... — gaguejou a exterminadora, terrivelmente sem jeito.

Kagome, corada, não conseguiu evitar uma risadinha; ao passo que a lobinha olhava de uma para outra, sem entender.

— Miroku-sama parece ter ensinado algumas coisas para Inuyasha também, Sango-chan. Mas o fato é que ele está certo. Ayame-chan, se você não conhece o seu corpo, não pode esperar que Kouga-kun vá entender o que você quer.

— M-mas eu não sei o que quero...

— Então deve descobrir. O corpo é seu, a vagina é sua.

— O que é vagina? — perguntaram as outras duas.

Kagome coçou a cabeça.

— Por que vocês não vêm comigo à casa da vovó Kaede? Acho que tenho uns xerox velhos do meu curso. Vai ser mais fácil para eu explicar...

 

ѼѼѼ

 

Não muito longe dali, Kouga corria velozmente, pensando em inúmeras questões.

Uma delas era o fato de sua esposa ter ficado sozinha na aldeia; seus guerreiros mais fortes saíram para caçar e os dois irmãos que sempre o acompanhavam eram estúpidos demais para garantir a segurança de Ayame, que ultimamente andava cabisbaixa e caseira ao extremo, por motivos que o lobo desconhecia.

Ele havia passado por um vilarejo de humanos onde se deparou com uma situação tensa: um casal de meia idade gritava aos prantos, pois suas duas filhas solteiras haviam sido raptadas por um estranho oni que as levou consigo, tão fugaz quanto um relâmpago. No meio do vozerio e do choro, o príncipe dos youkais lobos ouvira detalhes de mais sequestros semelhantes a este, em vilarejos próximos. E ele, apesar de ter dito a Inuyasha que a lobinha sabia se defender, ficou meio incomodado. Depois, sacudiu a cabeça. Ayame era destemida, forte, mas era uma fêmea. Era um alvo fácil, no fim das contas.

— Bem, posso ir ter com Kagome e voltar rápido — disse a si mesmo, recomeçando a correr.

Não lhe passava pela cabeça que estava agindo errado ao trair a lobinha, pois acreditava que, mesmo ela sendo uma boa companheira, enérgica, leal e prestativa como seus guerreiros de confiança, não lhe era suficiente. Mentira a ela ao lhe dizer que tinha experiências íntimas pregressas; era tão virgem e inseguro quanto a esposa. Entretanto, Kouga optara pelo caminho “óbvio” de não expor isso a ninguém, resultando em uma noite de núpcias traumática para Ayame e confusa para ele. E seu senso distorcido de virilidade o levava a intuir que o problema era totalmente dela.

O corpo da lobinha era magro e esguio, com curvas modestas, diferente das de Kagome, que tinha quadris notáveis, as coxas viçosas e grossas sempre à mostra em seu estranho uniforme. Era bela e atraente aos olhos de um youkai como ele. Kouga sempre desejou ter aquela sacerdotisa para si, fascinado por aquele corpo; depois que percebera o amor latente da humana pelo hanyou, ele resolveu constituir família com uma de suas semelhantes. E Ayame lhe chamou a atenção por sua personalidade decidida e sagaz. Kouga a via como via a Ginka e a Hagaku: companheiros pelos quais devia zelar.

Se ele a amava? Bem, nem ele mesmo sabia. Isso não lhe parecia importante.

Agora, ele seguia por um bosque denso, enquanto sua mente maquinava o que dizer para convencer a jovem humana de que ele era o macho certo para ela. Não seria algo tão difícil; Inuyasha era um bobo tímido. Com certeza não tinha a oferecer a ela o que ele teria, que era... Era... O quê?

— Eu sou um youkai puro, isso deve bastar para convencê-la. Uma miko como ela não deve servir a um hanyou. As energias não combinam e uma gravidez pode matá-la. Se ela soubesse disso, não estaria com o Inukoro.

Porém, todo esse fluxo de pensamentos foi cessado quando ele ouviu um trinado melodioso, que mais parecia um lamento. Um passarinho caíra no chão, bem diante de si. E o lobo ficou atraído pelo som do cantar da avezinha, que era acinzentada e tinha uma plumagem avermelhada no peito — um pisco-do-peito-ruivo.

Kouga abaixou-se para pegar o bicho e o observava, curioso. Era uma ave leve e indefesa, que dava a impressão de olhá-lo profundamente nos olhos. O príncipe dos youkais lobos teve vontade de acarinhar a cabeça do pisco, e se deteve, incomodado.

— Nunca me importei com pássaros... Por que estou me preocupando com este? — e ia colocar o pisco de volta no chão, quando este bateu asas, parecendo saudável e sumiu na copa das altas árvores.

Kouga ainda olhou uma última vez para cima na esperança de rever o pequeno pássaro, mas ele havia sumido. Dando de ombros, o jovem youkai recomeçou sua trajetória.

 

ѼѼѼ

 

Shibetchi, Shibetchi...

Lakshu e os monges do Palácio Celestial entravam em estado de inexistência ao meditarem profundamente. Algo perturbava o coração da jovem.

Handara Bashin Sowaka.

Algo lhe parecia fora do lugar, depois que estivera na Terra e se encontrara com o jovem monge Miroku.

On Handa Mei Shindamani Jinbara Un.

Será que ela errou ao despertar naquele monge o sohma de um Hachibushu? Na hora parecia a coisa certa a ser feita.

Shibetchi, Shibetchi... Handara Bash-

Súbito, a alma de Lakshu ficou perturbada. E seu corpo, paralisado; não conseguia mais falar, nem se mover. Uma força demoníaca e violenta se manifestou no meio do templo; ondas negras, oriundas de algum lugar, nocauteavam seus monges e, um a um, caíram todos no chão. Lakshu foi erguida por algo invisível e atirada brutalmente contra o portão do templo. Na queda, cortou a testa e logo sua pele e cabelos se mancharam de sangue.

Trêmula e assustada, ela gaguejou:

— Não é possível... Sohma negro! Energia maligna! — e, engolindo seco, concluiu: — Será possível que... Shiva retornou?!

 

ѼѼѼ

 

O tanuki Hachiemon estava muito alegre por estar com seu mestre Miroku depois de muitos meses sem vê-lo, mas sentiu que a atual conversa dele com o hanyou de orelhas de cachorro já não lhe cabia; muito envergonhado, deixou-os a sós. Os dois estavam se lavando na cachoeira que ficava atrás do templo de Mushin. A conversa, mesmo que distante, ainda lhe alcançava os ouvidos e Hachi achou melhor se afastar mais depressa:

— Mas como é que eu vou me segurar para não gozar antes de Kagome?

— Sei lá, dê seu jeito, pense em outra coisa — dizia o monge, com naturalidade. — Pense no seu irmão, por exemplo.

— Keh! Quer estragar minha próxima transa, seu maldito?

— Só estou te ajudando, Inuyasha. Mulher nenhuma gosta de homem que mete, goza e dorme, deixando a coitada a ver navios.

— Mas eu não sei me segurar — resmungou o hanyou. — Ainda tem sangue na sua orelha.

De fato, havia ainda bastante sangue seco espalhado pela pele ainda pálida do corpo de Miroku, por mais que ele se esfregasse. Inuyasha tinha arranhões no rosto, pescoço e peito, todos já cicatrizando.

— Sério? Haja paciência — comentou ele, incomodado, tocando a orelha. — Acho que você se cobra demais. Por que não relaxa e curte com ela? Olha só... Bastou a gente tocar nesse assunto e você ficou todo vermelho e tenso.

— Ah... Eu nem sei se ela gostou mesmo de fazer aquilo comigo — comentou ele, triste. — Quando a gente terminou, ela estava chorando. E logo depois a velha Kaede disse aquelas coisas...

Miroku arqueou uma sobrancelha.

— Nem vem, Inuyasha. Você sabe que foi bom para ela, sim. Deixe de ser inseguro. Kagome-sama é sensível e chora quando está feliz, isso não é segredo para ninguém. Quanto a essa... essa notícia ruim... Não desanime, nem tudo está perdido.

— Mas eu quero ser pai, Miroku.

— Eu sei que quer, e acredito que você há de ser um pai muito bom — afirmou Miroku, tentando confortá-lo. — Ei... Por que você não espera até a próxima lua nova para...

— Keh! Como acha que eu vou ficar se só puder transar com ela uma vez por mês? — reclamou Inuyasha. — Se bem que... Pelo bem de Kagome, eu acho que seria capaz... De esperar isso tudo.

Miroku sorriu e piscou para ele.

— Você esmorece muito fácil, Inu. Para que servem essas mãos e esse bocão, hein? Não tenha um pensamento tão limitado. Seja um desbravador dos mistérios femininos, como eu.

— Desbravador dos mistérios femininos? Keh! Você é um pervertido que só pensa com a cabeça de baixo.

— Ora... E você, cachorrão sedutor? Esses quietinhos são os piores... Você é exatamente igual a mim, só não assume.

— N-Não sou igual a você — sibilou o hanyou, irado e constrangido. — Não mesmo.

— Você me supera na safadeza, Inuyasha! — riu o outro. — Acho até que corro perigo ficando pelado na sua frente. Vai que você se transforma em youkai e resolve usar essa... Tessaiga no meu humilde traseiro...

Em instantes Inuyasha se atirava contra ele, tentando derrubá-lo na água e gritando que iria ainda assassiná-lo com requintes de crueldade. Miroku gargalhava enquanto chutava água em seu rosto. Nada como um minuto de descontração.

Dentro do templo, aliviado por não precisar ouvir os assuntos indecentes do mestre, o tanuki andava a esmo por um corredor até que avistou o gordo Mushin sentado dentro de um dos quartos, olhando para o teto.

— Mushin-sama, está tudo bem?

O monge olhou para Hachi e este foi contagiado pelo desalento do outro.

— Sim, sim, eu estou bem. Só preocupado. Será que esse menino nunca terá paz?

— Fala de Miroku no danna? — indagou Hachi, com as orelhas caídas e o coração apreensivo.

— É — respondeu Mushin, coçando a barriga. — Prevejo coisas terríveis para ele e para Inuyasha também.

E, olhando novamente para o teto, o monge murmurou com amargura:

— O destino e suas brincadeiras de mau gosto...

 

ѼѼѼ

 

Ayame abraçava Kagome, após ter se despedido de Sango. Ambas estavam à porta da casa velha de Kaede, ainda do lado de dentro.

— Obrigada e me desculpe por tudo — dizia a lobinha. — Mas continuo não achando que vou ter coragem de... ficar me vendo no espelho...

— Não seja boba, Ayame-chan, ela não vai te morder... — ria a sacerdotisa.

— Se bem que, no caso dela, seria melhor que mordesse — comentou Sango, e Ayame teve que concordar. Então, ouviram ruído de passos e a lobinha arregalou os olhos, ao farejar o cheiro do marido:

— Não acredito... Ele veio mesmo!

— Deixe tudo comigo e aja naturalmente, Ayame-chan! — sussurrou Kagome, enquanto empurrava gentilmente a outra para trás. Uma batida à porta e todas ficaram muito tensas. Entretanto, Kagome abriu a porta com um estranho sorriso no rosto.

Kouga perdeu a expressão galanteadora no mesmo minuto, ao avistar a esposa junto a Sango, ambas com um olhar sanguinário. Mesmo o sorriso da bela sacerdotisa lhe causou um forte desconforto e ele teve vontade de jogar longe os copos-de-leite que tinha nas mãos.

— Kouga-kun...! — exclamou ela. — É um prazer revê-lo.

 

ѼѼѼ

 

Naraku tinha um corpo formidável devido às suas habilidades de auto-regeneração. Contudo, após ser despertado à força por Shiva, descobrira desgostoso que seu organismo se auto-regenerava, sim, mas com dores.

O hanyou foi jogado de uma altura assombrosa e quebrara braços e costelas na queda, que fora amortecida por uma oliveira. Agora, muito ferido e dolorido, ele estava largado sob a sombra da mesma. Respirava com dificuldade.

— Ao menos tenho sombra — murmurou ele. Seria obrigado a ficar parado até que seu corpo se recuperasse da punição da maligna Shiva.

Então, uma bulha infernal de gritos e lamentos começou a ressoar dentro de sua cabeça.

Youkais e humanos que morreram por suas mãos clamavam insatisfeitos e ele gritou junto, desesperado, levando os dedos quebrados às têmporas. Aquilo era mórbido e ensurdecedor.

Uma visão agora se formava em sua mente enferma: ele mesmo, descalço, com um quimono vermelho e orelhas de cachorro, correndo até Kikyou e cravando longas garras em seu pescoço e ombro, ferindo sua jugular e levando-a à morte em menos de uma hora.

Depois ele lhe pisava com brutalidade a mão, roubando-lhe a joia.

Ouvia a sacerdotisa chamar, não por Inuyasha, mas por ele, parecendo decepcionada.

— Eu sei que é você, Onigumo... Mas me matar não vai adiantar, meu amor por Inuyasha será eterno.

As palavras de Kikyou, mais do que os gemidos e arengas dos mortos, foram capazes de estilhaçar a pouca sanidade de Naraku, e ele, enlouquecido, bateu a própria cabeça contra a raiz da árvore, desligando-se do mundo, enquanto sangue lhe descia pelas narinas.

Muitas horas se passaram naquele local deserto e ele desmaiara mais duas vezes, fraco demais. Dado momento, ele conseguiu se sentar, escorando a cabeça dolorida no tronco da oliveira. Então, ouviu um trinado. Ficou alerta.

— Esse som...

Um pisco-do-peito-ruivo se aproximava devagar de Naraku, pulando pela grama rala do solo. Parou a quase um metro de distância do hanyou, olhando-o curioso.

— Que ave diferente, essa... Nunca vi nada igual por esse país — ia dizendo ele, quando um novo trinado do pisco o fez erguer as sobrancelhas.

Era um cantar meio triste, porém, lindo, que fez o hanyou baixar a guarda.

— Sabia que posso absorver você, bichinho? — falou Naraku. — Eu não sou um humano que vai te dar sementes para comer. Vá embora.

Aquele pisco era corajoso; pulou faceiro, de um lado para outro, como se convidasse aquele vilão para brincar com ele.

— Sai daqui, não tenho nada para você.

O hanyou procurou ignorar aquela cena do animalzinho, mas não conseguiu.

Era pueril. Era quase engraçado. E surpreendente também, já que, dada a situação de desgraça em que Naraku se encontrava, era impossível algo lhe fazer se sentir um pouco melhor. Mas o animalzinho era adorável, concluiu o hanyou meio aborrecido.

Cantando e saltitando, o pequeno pisco pousou sobre o joelho de Naraku, que não resistiu e sorriu.

— Você venceu, teimosa. Queria me chamar a atenção, não é? Só que eu não tenho sementes para você.

Ignorando aquelas palavras, o pisco assustou o vilão renascido batendo asas repentinamente e ficando de frente para seu rosto, trinando mais uma vez, como se quisesse lhe dizer algo. E, assim, partiu, voando para a esquerda da oliveira onde ele estava recostado.

Atraído pelo pisco-do-peito-ruivo, lentamente o hanyou se pôs a segui-lo. Levantou-se a duras penas e se foi, claudicante e gemebundo, até que ouviu novamente o trinado do bichinho acima de sua cabeça. Estava pousado sobre uma árvore florida de grande copa e frutos estranhos, verdes.

— Você sabia que eu estava com fome, avezinha?

O braço direito de Naraku já estava bom e este o ergueu, alcançando dois dos frutos diferentes. Levou um deles à boca e o mordeu, sentindo seu gosto ligeiramente azedo, mas agradável ao paladar. Sorriu mais uma vez para o pisco, enquanto se sentava sob a árvore, que ele não sabia ser um umbuzeiro. O bichinho voou até ele, pousando sobre seu joelho e o confortando com seu belo trinado.

— Nada mal — murmurou ele, relaxando pela primeira vez depois de sua ressurreição. Sabia que seu martírio estava longe de acabar; todavia aproveitaria aquele curto instante de paz, promovido pelo inocente pisco-do-peito-ruivo.

— É ridículo alguém como eu, Naraku, dizer isso... Mas... acho que... gosto de você, avezinha.

E, ouvindo o cantar daquela pequena ave que parecia gostar dele também, Naraku dormiu.

 

ѼѼѼ

 


Notas Finais


A música do momento de Naraku: OST Shurato "Shinga Doitsu Tamotsu"
https://youtu.be/2jmMyKPr2Qo

Na boa, deu um nó na garganta aqui pra elaborar a cena e ouvir essa OST ao mesmo tempo.
Sobre o Kouga, reitero que ele NÃO é mau; ele é egoísta e machista, mas será importante na trama. E, cofcofcof, vamos tirar essa grosseria dele com muito amor e carinho, né, pessoal? #SQN <3
Não sei quando vou poder postar de novo, meu tempo anda bem curto.
Muito obrigada a todos vocês que têm me lido até o momento.

~Okaasan


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