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História Vulneráveis (hiatus) - Medo de perdê-la


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.

No capítulo anterior, Sango conseguiu vencer sua disfunção e se entregou a Miroku pela primeira vez.
A propósito, esqueci de postar a música do capítulo anterior, então o link vai ser colocado aqui nas notas finais. Espero que gostem. Eu gosto muito das músicas do meu conterrâneo, o carioca Elymar Santos, MPB.

A imagem incrível de Inuyasha e Kagome não me pertence, créditos ao fanartista.

Boa leitura!

Capítulo 29 - Medo de perdê-la


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Medo de perdê-la

ѼѼѼ

 

Se a noite de Miroku e Sango havia sido eivada de sensações inesquecíveis e emoções positivas, não se pode dizer o mesmo da noite do hanyou e da sacerdotisa. O casal tivera uma violenta discussão, já que Kagome marcara o casamento sem imaginar que Inuyasha estava prestes a desistir de se unir a ela, tamanho o seu medo de perdê-la, mesmo ela explicando que existia uma coisa em seu mundo chamada contraceptivo — Inuyasha estava perturbado e assustado demais para raciocinar. Ela se indignou ao ver que o hanyou parecia não querer lutar por si; por sua vez, ele afirmava para a jovem que casar-se com ele seria um suicídio a curto prazo. Gritos e palavras duras foram trocados e, por fim, o casal parecia não ter mais nada a dizer um ao outro.

Uma aura de agonia se apossou de suas almas e ambos temiam uma possível separação.

Agora os dois seguiam tristes para a fazenda de Sesshoumaru — era dia de lecionar para Rin e Inuyasha, apesar de arrasado, respeitava o compromisso feito pela sua humana, a quem ele continuava amando perdidamente, e naquela madrugada tenebrosa ele saiu saltando, levando-a consigo nas costas.

O sol ainda brando tocava as faces juvenis como uma carícia, porém o coração dos dois permaneceu duro de gelo. O hanyou, ao chegar à cancela com a noiva e entregar a ela as bolsas com mais alguns livros, ia lhe dando as costas sem dizer palavra. Mas Kagome o puxou pelo braço com força, olhando-o de forma penetrante, com seus olhos avermelhados e inchados. As sobrancelhas dele se ergueram.

— Você... Vai me esperar? — murmurou ela.

— É óbvio que vou — resmungou Inuyasha, seco.

— Então... Já estou indo.

— Hn.

E a moça se virou para a casa grande, andando apressadamente para que ele não a visse chorar mais uma vez. Dor, mágoa, raiva e angústia se misturavam dentro de sua mente e Kagome seguia como um robô pela pequena estrada de terra. Inuyasha, junto à copaíba, sentia como se centenas de katanas o perfurassem a cada passo que Kagome dava para longe de si.

Inuyasha amava Kagome e iria perdê-la. Não era possível. Não era aceitável.

Não era justo ela ter que renunciar à própria integridade física, e até mesmo à sua própria vida, em prol do amor que sentia por ele.

E seus olhos pouco a pouco foram ficando cada vez mais turvos, suas mãos mais trêmulas. Inuyasha ficou aliviado ao ver que a sacerdotisa acabava de entrar na casa grande; ela não o veria daquele estado deplorável, há mais de vinte horas sem comer e ainda atordoado pelo ataque sofrido no dia anterior. Ele sentiu sua cabeça pesada e o chão de pedrinhas parecia puxá-lo.

Antes que, contudo, ele tombasse inconsciente, um braço forte o amparou. Segundos depois, Sesshoumaru alçava o céu de anil carregando seu irmão frio e suado sobre o ombro.

— Imbecil... — sussurrou o youkai branco, procurando não pensar no sentimento inédito de preocupação que lhe assomara, assim que vira o estado de Kagome chegando sozinha à sua propriedade e deduzira, com acerto, que seu irmão caçula estaria quase pior do que ela.

 

ѼѼѼ

 

Sango acordou e viu que estava abraçada a um Miroku serenamente adormecido. Desvencilhou-se dele com cautela e foi se lavar, sentindo ardência nas partes íntimas ao toque da água em seu corpo. Tinha um sorriso meio bobo nos lábios, enquanto tomava um banho frio demorado e, logo após, se vestia, comemorando internamente o sucesso da noite anterior. Sango, finalmente, se sentia mulher.

Entretanto, ao voltar para o quarto, perdeu o sorriso ao chegar perto da cama e reparar bem o monge, que tinha a cintura coberta por um lençol. Seu amado tinha olheiras, seu rosto parecia mais delgado e Sango ficou impressionada ao ver as costelas muito notáveis sob a pele morena. Miroku estava emagrecendo a olhos vistos e a exterminadora se culpou por não ter notado isso antes. Sentou-se na cama, tocando a face dele com doçura.

Instantes depois, ele despertou, olhando para ela com uma expressão de paixão incontestável que Sango jamais havia visto nele antes.

— Bom dia, minha tennyo... — sussurrou ele, com voz sonolenta, acordando.

— Bom dia, amor... — sorriu Sango. — Acho que não dá mais para você me chamar de tennyo.

— Por que não?

— Bem, você sabe... Não sou mais uma... virgem. — respondeu ela, enrubescendo.

— Você será a minha tennyo para sempre, Sango. Mesmo depois que tivermos nossos netos e estivermos bem velhinhos.

Ela sorriu e beijou-lhe a mão, recebendo outro sorriso de volta. O monge tratou de se levantar da cama e quase não conseguira disfarçar que estava cheio de dores pelo corpo todo e mal estar generalizado. Felizmente, a exterminadora não o percebeu, pois também se erguera e fora para a cozinha, dizendo que iria preparar algo para o desjejum dele. Antes de chegar à mesa de sucupira, porém, Sango foi agarrada por trás pelo rapaz despido, ganhando um rápido beijo no pescoço e, fingindo-se brava, ameaçou batê-lo. Desvencilharam-se às gargalhadas.

Dentro do ofurô, Miroku se sentia quebrado e continha os gemidos durante o banho; doía erguer os braços, doía esticar as pernas, doía movimentar o pescoço. Lavou-se e tratou de colocar de novo o sorriso no rosto ao se vestir e voltar para sua querida, que o esperava para o café da manhã com frutas-do-conde, bananas, pães ázimos e chá, devorados em poucos minutos. Miroku estava faminto.

O casal então conversava sobre o casamento de Kagome e Inuyasha, que estava muito próximo e sem nada preparado. Sango deixou escapar uma de suas preocupações:

— Não sei se vamos conseguir dançar, amor. Você parece que está adoecendo.

— E estou doente mesmo — objetou Miroku com um sorriso safado, indo se sentar ao lado dela e aspirando o cheiro suave dos longos cabelos da jovem. — Muito doente, Sango. Ainda bem que você é a cura para os meus males — sua voz agora estava baixa e pausada, e sua mão procurou o seio da esposa. — Por que não me dá aquele remédio gostoso que me deu ontem à noite?

— Não seja bobo! — riu ela, mas ainda temerosa. — Estou falando sério, amor. Você anda abatido e magro.

— Não precisa se preocupar tanto, eu estou ótimo — mentiu, enquanto a abraçava. — Vai tudo bem comigo, minha princesa. Quer ensaiar sevilhana mais tarde?

— Ah, quero! — sorriu a exterminadora, beijando-lhe o rosto e o segurando em seguida com ambas as mãos, ao encarar sem pressa os olhos azuis de Miroku. — Meu amor... Eu me preocupo tanto com o seu bem estar... Eu gosto de você, gosto de ficar com você...¹!

O rapaz a beijou apaixonadamente antes de cantarolar com sua voz grave de barítono:

— “Meo-riso-é-tam-feriz-contigo...” — Sango deu uma risadinha.

— Desde quando você aprendeu a língua latina²?

— Não aprendi... É só fazer igual ao Inuyasha, ele canta em qualquer idioma do mundo.

— Mas canta certo?

— Não, mas o importante é que ele se diverte — riu o monge, puxando-a de leve e rodopiando com a jovem, enquanto cantava mais uma vez:

— “Morena-toropicana, eo-quero-teo-saboro...”

— “Oi, oi, oi, oi” — completou Sango, rindo mais uma vez, sem notar que os pequenos rodopios do rapaz a conduziam de volta para o quarto. A expressão de Miroku pareceu se iluminar:

— E essa, amor? “Você-ruz, é-raio-esteira-iruar...”

— “Manã-di-sol, mô iaiá, mô ioiô...” — completou a jovem, gargalhando já com aquela brincadeira pueril.

Então, como já estavam próximos à cama, Miroku rodopiou uma última vez com Sango em seus braços, puxando-a consigo para o leito e a beijando com desejo.

Foi bem difícil para Sango resistir aos encantos do seu monge fogoso e cuidar dos afazeres de casa. Por fim, ela conseguiu despachá-lo para a casa da velha sacerdotisa, a ver se não tinha algo que ele pudesse ajudar a fazer para o casamento dos amigos.

 

 

ѼѼѼ

 

O tormento de Naraku estava apenas começando.

Após ter sido consolado pela presença do pequeno pisco-do-peito-ruivo e dormido por breves instantes, o hanyou fora despertado pela deusa Shiva, ouvindo novamente os gritos de suas vítimas. Naraku, de pé, andava a esmo enquanto apertava os ouvidos, as têmporas doloridas, agoniado. A experiência era infernal e ele se sentia cada vez mais fraco. Seu terceiro olho começara a se abrir. Então, a voz da deusa da destruição ressoou alta e clara dentro de sua alma:

— A sua barreira. Crie-a.

— E-eu não q-quero... — arfou ele.

— Não é um pedido, hanyou — retrucou Shiva, fazendo o corpo de Naraku levitar e soltando-o de uma altura consideravelmente perigosa.

A queda anterior fora extremamente excruciante para o hanyou e ele, então, temeu sentir mais uma vez o esforço descomunal de seus ossos e nervos sendo regenerados dolorosamente. Então, com a mente e o corpo frágeis, Naraku se concentrou e criou uma barreira, atenuando sua queda no solo.

De onde estava, a deusa deu um estranho e sinistro sorriso.

— Então você tem medo de sua própria capacidade de se autorregenerar, hanyou?

O outro fechou os olhos, irado consigo mesmo por ter sido descoberto. Shiva não parou de falar:

— Se preza tanto pela integridade do seu corpo, já que sua alma já está corrompida pelo meu sohma negro, obedeça às minhas ordens, Naraku.

A ele, emocionalmente fragilizado, só restou baixar a cabeça, subserviente. Vendo-o daquela forma, Shiva ergueu uma das mãos. O manto negro de Naraku desapareceu e logo ele recuperava sua forma original, com seus tentáculos e sua armadura. Pouco a pouco, seus olhos castanhos ficaram embotados, ao passo que o terceiro olho que lhe fora implantado à força se abria totalmente. Sua mente fora limpa de todo e qualquer pensamento. Shiva, satisfeita ao ver que a possessão agora era total, exclamou:

— Vê aquela montanha, Naraku? — ele concordou com um gesto de cabeça, laconicamente. — Quero que crie uma esfera de sohma negro e a atire contra ela.

Naraku imediatamente ergueu a mão e, ao passo que seus olhos ganhavam um brilho vermelho diabólico, a dita esfera de energia se originou sobre sua palma. Um movimento quase sutil da mão do hanyou e o sohma negro fora atirado contra a montanha, que explodiu em diversos pedaços, causando um estrondo ensurdecedor.

— Termine de destruir a montanha, Naraku!

E mais uma vez ele obedeceu prontamente a Shiva, atirando as esferas de sohma contra a montanha até reduzi-la a cacos de pedra e pó.

A deusa da destruição riu, enquanto o hanyou a tudo observava com o rosto inexpressivo de alguém que já não conseguia mais pensar por si mesmo.

E, a uma distância segura, o pequeno pisco-do-peito-ruivo observava e estranhava as atitudes de seu estranho e novo amigo.

 

ѼѼѼ

 

Quando Shurato despertou, os Hachibushu estavam em uma acalorada discussão com sua esposa.

— Por que não podemos ir para a Terra, Lakshu? — inquiriu Dan, o guardião mais impulsivo do Mundo Celestial.

— É porque, como Shiva está lá, deverá ser combatida por possíveis Hachibushu nascidos lá — respondeu Kuuya, que já andara pesquisando sobre o problema deles. — No caso, o único que poderia ir lutar contra esse novo avatar de Shiva é o Shurato.

— E nem sei se isso seria viável... — considerou a deusa.

— Eu, sozinho? — questionou o rapaz, sentado no chão, segurando a mão de Lakshu.

— Infelizmente, sim.

— Possíveis Hachibushu de lá... — murmurou Hyuuga. — Bem, pelo que entendi, só há um, não é? Um monge humano, de quem Gai reencarnou.

— Na verdade... São dois, Hyuuga — afirmou Shurato, atraindo a atenção de todos os demais.

— Dois guardiões celestiais na Terra?! — estranhou Renge.

— Sim, tem o monge Miroku e tem um youkai chamado Inuyasha... Gai me fez ir até lá e conhecer as almas de ambos. Ele disse que esse youkai foi meu antecessor.

— Gai é um cara muito inteligente. Se ele fala, eu acredito, mesmo sem entender... E o que é um youkai, Shurato? — perguntou Reiga.

O rapaz suspirou antes de responder:

— É um demônio cão.

— Ficou maluco, Shurato? O Rei Shura, encarnado em um demônio?

— Ele é meio humano, meio demônio — respondeu o rapaz, coçando a cabeça, ele mesmo confuso com aquela história. — A vida do Rei Shura, e também a de Brahma, habitam na alma humana dele.

— Me perdoe, mas eu não entendi bulhufas — afirmou Ryouma.

— Meio humano e meio demônio? E, ainda por cima, guardião das forças de Deva? — perguntou Renge, também sem compreender.

— Gente, eu não sei explicar! Se tivesse uma forma de trazer o Gai aqui... — disse Shurato, um tanto nervoso já. Lakshu ergueu a mão, meio duvidosa:

— Talvez tenha, por alguns minutos.

— Sério?!

— Bem... Não seria uma tarefa segura, nem fácil, sabe, amor? Mas poderíamos tentar. Kuuya, cadê a sua esfera de cristal?

O Rei Dappa materializou o objeto místico nas mãos, gerando um pequeno murmúrio de admiração por parte dos outros guerreiros. Como ele era reservado e calado, não gostava de expor suas habilidades místicas. A jovem deusa convidou os guardiões a se juntarem a ela, sentados em círculo no chão, enquanto solicitou aos seus monges que se posicionassem ao redor dos oito. Um dos monges perguntou se poderiam começar a recitar o mantra.

— Espera só um minutinho — respondeu ela, andando de joelhos até Shurato, que estava sentado na posição de lótus e olhou curioso para a sua querida. Ela pegou em seu rosto com ambas as mãos e se aproximou, como se quisesse lhe dar um beijo. Mas o Rei Shura foi surpreendido pela energia poderosa de Lakshu, cujos olhos reluziram e ele tombou desmaiado e amparado por Dan.

— Me perdoa, amor, é que você não iria conseguir dormir tão rápido, e nós estamos com pressa — murmurou ela, retomando o seu lugar. — Ei, não me olhem com essa cara. Podemos começar?

— Podemos — responderam os guardiões, se concentrando e recitando o mantra sagrado. Em instantes, o salão do templo se encheu de energia pura e divina. Cada um dos Hashibushu levantou a mão para direcionar sohma à esfera de Kuuya, colocada estrategicamente no meio do círculo. Lakshu, cuja energia era mais forte, começou a sentir um pouco de mal estar, mas ignorou e se pôs a dedicar toda a sua atenção ao que estavam fazendo.

Então, a imagem de um surpreso Gai apareceu dentro da esfera.

 

ѼѼѼ

 

Apesar de toda a tempestuosidade do início do dia, o clima era razoavelmente pacífico na fazenda do daiyoukai Sesshoumaru.

Kagome, ao se apresentar aos donos da casa com o rosto morbidamente pálido e os olhos azuis doridos de mágoa, recebeu a compaixão da jovem Rin, que a conduziu para seu quarto e fê-la deitar sobre seu futon, após tomar um copo de chá de flores de melissa. A sacerdotisa tivera uma forte crise de choro, enquanto era amparada pela outra mocinha, e acabou dormindo devido à exaustão. Rin colocou sua cabeça sobre seu colo e se pôs a ler uma revista científica que a mais velha lhe trouxera.

E, sob a sombra das três cerejeiras, o local preferido do proprietário daquelas terras, os dois irmãos inuyoukais comiam um grande cacho de bananas-da-terra. Inuyasha ainda estava fraco e tonto, mastigava devagar e tinha dificuldade até para retrucar as ofensas de Sesshoumaru, que não parou de chamá-lo de idiota e estúpido. Por fim, o mais novo franziu o cenho, irritado:

— Não sou idiota e nem estúpido, maldito...

— Sim, você é — objetou o youkai branco, descontraído. — E burro também. Deveria ter procurado a este Sesshoumaru para ver o que poderia ser feito pela sua mulher humana. Evitaria tamanho imbróglio.

— Keh! Eu, procurar você? E por qual motivo, seu imbecil? Não somos amigos!

— Evidentemente, não somos amigos, estúpido. Para consternação minha, somos IRMÃOS. E eu, somente eu, tenho como saber o resultado de uma união entre um híbrido que tem nas veias o MEU sangue e uma miko. Ninguém mais sabe. Você, como é incrivelmente burro, perdeu seu tempo indo atrás de humanos tacanhos.

A despeito de todas os insultos, Inuyasha se sentiu subitamente mais feliz por ver que Sesshoumaru não se referira a ele como seu “meio-irmão”. Contudo, disfarçou seu contentamento e continuou a reclamar.

— Ponha-se no meu lugar, idiota! O que você faria se soubesse que se casar com Rin poderia fazê-la perder a vida, hein?

— Eu usaria a lógica para resolver o impasse e pensaria um pouco antes de perder a cabeça. Só isso. Perdi Rin duas vezes, Inuyasha. E a recuperei. Sei muito bem o que está sentindo.

— E... Como foi perdê-la?

— Foi a pior dor que já senti — admitiu o outro, sem olhar para o caçula. O rio corria devagar e serenamente.

Os dois se calaram, entretidos com as bananas.

— Sesshoumaru... — começou o hanyou, timidamente. O outro não esboçou reação. Respirando profundamente, Inuyasha prosseguiu: — Você... Você acha que Kagome pode morrer se continuar convivendo comigo?

Sem dizer palavra, o youkai altivo se ergueu do chão, enquanto o outro o olhava apreensivo.

— Você come requeijão? — indagou ele.

— S-sim, mas...

— Vamos voltar para a casa grande — interrompeu-o Sesshoumaru, já voando, não antes de observar atentamente o caçula e constatar que ele agora estava recuperado da fraqueza de outrora. Inuyasha seguiu-o e, alguns minutos depois, logo ambos estavam adentrando a cozinha. Honami e Reina fizeram uma pequena reverência aos dois irmãos e logo voltaram a atenção para suas panelas e caldeirões.

Sesshoumaru olhou para suas funcionárias e encarou o irmão em seguida. Inuyasha estava com as orelhas baixas, tímido e curioso, as mãos para trás como uma criança.

— Reina.

— Pois não, Sesshoumaru-sama? — respondeu a velha youkai, voltando-se para ele.

— Café para nós dois.

— Sim, senhor.

— E você, Honami, largue essas cenouras e vá atrás de Tokumaru. Quero aveia e ovos que deem para dois bolos... Não, três bolos — corrigiu ele, vendo o irmão ficar alerta. — E, para agora, quero salada de moyashi, além das costelinhas de porco.

— Quer que dobre a quantidade de arroz?

— Quero. Agora, me traga o requeijão de Jaken.

A humilde youkai trouxe um alto e grande requeijão, colocando-o sobre a mesa e saindo em busca do youkai Tokumaru. O hanyou salivou; o café estava sendo coado e o aroma conseguiu melhorar consideravelmente o seu humor.

— Sente-se e coma comigo — disse o youkai branco, sentando-se à mesa e sendo seguido pelo irmão. — Quer o café puro ou com leite?

— Puro.

— Puro para os dois — comentou a velha Reina, servindo-os, e se dirigindo a Inuyasha. — Fique à vontade e coma o quanto quiser, menino. Sesshoumaru-sama não convida ninguém para tomar café aqui, nem mesmo a Rin-sama. Você é um convidado especial.

— Você é muito ousada, velha — resmungou Sesshoumaru, meio incomodado. Reina deu de ombros.

— Quem não te conhece, que te compre, meu senhor — replicou ela, meio divertida. Inuyasha considerou que Sesshoumaru deveria gostar demais daquela youkai velha para não a agredir pela breve petulância. Se pôs a bebericar seu café, olhando para o irmão, que comia uma fatia de requeijão sem reservas e de forma descontraída.

— Kagome não irá morrer, Inuyasha, se você conseguir marcá-la como sua fêmea. Isso, porém, não garante que vocês poderão gerar descendentes. O que acha?

O hanyou quase se engasgou com o café.

— Sério?! Então... Existe um jeito de poupar a vida da Kah...?

— Foi o que eu acabei de dizer, lesado.

— Mas, como assim, marcá-la?

— Você deve deixar seu sangue youkai vir à tona e lhe morder o pescoço, inoculando o veneno de suas presas no corpo dela. Agora, como você vai conseguir tal feito sem matá-la, não sei.

Inuyasha ficou vermelho, olhando para o pedaço de requeijão em sua mão.

— E-existe outro jeito de meu sangue youkai aflorar sem que eu perca a cabeça.

— Desse outro jeito eu sei, seu burro. O caso é que isso também pode ser perigoso. Afinal, Kagome é uma humana. Ela precisaria ser bem forte para resistir tanto ao veneno dos inuyoukais quanto à violação.

À menção da violação, o hanyou protestou:

— Ei, não vou violar Kagome! Isso não aconteceu da... da primeira vez em que nós...

— É cedo demais para afirmar qualquer coisa — cortou-o o mais velho, encarando-o com olhar nebuloso. — Enfim, de qualquer modo, Kagome poderá viver por mais anos e ficar menos suscetível a doenças, caso sobreviva a esse processo de marcação. Quanto ao gerar filhos, não sei. Vocês só descobrirão tentando.

Inuyasha parecia confuso, aliviado e irritado ao mesmo tempo.

— Sesshoumaru, se você sabia disso tudo, por que não me falou antes?

— Você não me perguntou — redarguiu ele, indiferente. — E, além do mais...

— Além do mais o quê? — perguntou ele, intrigado.

— Eu jamais aceitaria dividir a MINHA cerimônia de casamento com um casal cuja fêmea é uma humanazinha mequetrefe, morredoura e alarve.

Ambos os copos de café vazios foram pousados sobre a mesa. Inuyasha dirigiu um olhar extremamente penetrante para o irmão, que não desviou os olhos dos dele.

— Sesshoumaru, você é um néscio mentecapto.

— Oh, você aprendeu injúrias mais decentes, agora? — volveu Sesshoumaru, irônico.

— Aprendi, pois chamar você de arrombado, cuzão e filho da p*** não tem graça — respondeu Inuyasha no mesmo tom.

O hanyou foi atirado para fora da cozinha com um soco.

 

ѼѼѼ

 

— Jaken, prepare Ah-Un. Rin e eu iremos resolver alguns assuntos — disse Sesshoumaru ao verdinho, no alpendre.

— Sim, senhor.

— Você vem conosco.

— Sim, senhor — repetiu ele, olhinhos brilhantes. Adorava viajar com seu mestre, a despeito de apanhar muito durante o trajeto. — Mas... e Inuyasha, Sesshoumaru-sama?

— Está com Tokumaru na plantação de soja. Deixemo-lo aí. Ele é um inútil, precisa trabalhar. Kagome não está sadia, então ficará aí também, em repouso.

— Certo, senhor.

— Rin? — chamou o youkai. — Fez o bilhete que mandei?

— Fiz, senhor — respondeu ela, que aparecera à porta da casa grande. — Kagome-chan ficará bem?

— Sim.

A jovem ficara intrigada com aquela súbita decisão do noivo de sair deixando o irmão com a cunhada sozinhos na casa. Mas preferiu deixar para questioná-lo mais tarde. E, sem mais delongas, os quatro voaram.

Inuyasha, sem saber de nada, trabalhou arduamente junto ao youkai velho no campo, sentindo a mente agradecer pela paz que aquela atividade braçal lhe trazia. O dia se passou tranquilamente; o hanyou anunciou a Tokumaru que iria voltar para ver Kagome.

— Pode ir, garoto. Você já me ajudou bastante.

— Keh! Eu sei! — respondeu ele, com o orgulho de sempre.

Rapidamente, Inuyasha chegou à casa grande, gritando pelo irmão. Só a velha Reina estava na sala, esperando-o com sua porção de almoço.

— Cadê o povo dessa casa, velha?

— Todo mundo saiu, menino. Só ficou a sacerdotisa, que está dormindo no quarto de Rin-sama.

— Como assim dormindo?

— Ela não estava passando bem e Rin-sama a ajudou a dormir.

O coração do hanyou bateu descompassado e apreensivo.

— Me mostre onde fica o quarto, velha.

— Você não vai almoçar antes?

— Não antes de ver como Kagome está! — exclamou ele.

— Claro, menino, é o terceiro cômodo do corredor... — respondeu ela, saindo do cômodo. Inuyasha correu até o quarto de Rin, abrindo a porta e chamando-a escandalosamente.

— Kagome! Kagome! Você... — e ele se calou ao vê-la dormindo. Realmente, seu aspecto estava abatido; a moça estava meio pálida e havia olheiras marcando o rosto juvenil.

O hanyou se acocorou ao lado do leito para contemplar Kagome, preocupado com ela, apaixonado por ela. Como que recebendo a intensidade daquele olhar âmbar que exalava o mais puro afeto, a sacerdotisa abriu os olhos, entorpecida. E confusa ficou, quando Inuyasha se atirou contra ela, abraçando-a e enchendo seu rosto de beijos, enquanto dizia de forma um tanto emotiva:

— Como eu te amo, Kah! Te amo tanto, tanto! Nunca vou te deixar... Você nasceu para ser minha, eu nasci para ser seu... Minha adorada!

— I-Inu... O que...

E seus lábios foram tomados de assalto por um beijo voluptuoso, interrompido apenas para que ambos pudessem respirar.

— Poderemos ter filhos se eu te marcar com o veneno das minhas presas, Kah — murmurou ele, carinhoso, acariciando as maçãs do rosto de Kagome. — Mas eu estou com medo disso. Sesshoumaru me disse que pode ser perigoso e...

— Posso morrer? — cortou-o ela, no mesmo tom de voz.

— T-talvez...

— Caramba. Posso morrer ao fazer amor com você, posso morrer se gerar um filho seu e posso morrer até mesmo tentando evitar esses riscos... Que vida perigosa a minha.

Inuyasha arregalou os olhos, lívido, ao ouvir essas palavras, mas Kagome o puxou para si.

— Mas eu gosto de viver perigosamente.

— Merda, que susto você me deu, sua maldita! — exclamou ele. Ambos riram levemente.

— Como funciona esse negócio de me marcar, amor?

— Preciso virar youkai e você precisa deixar que eu te morda e te envenene — ele baixou o olhar, envergonhado. — Sem nada para conter minha transformação.

Kagome se sentou no futon, pensativa. Então, estendeu sua mão e pegou na mão grande do noivo temeroso.

— Se você pegar pesado comigo, eu vou purificá-lo. Isso diminui seu medo, amor?

— Você promete?

— Prometo.

Os dedos de Inuyasha foram rumo à gola da túnica sacerdotal de Kagome, abrindo-a e expondo o colo delicado.

— Vou fazer o impossível para que isso não seja ruim para você, meu amor — murmurou ele, antes de lamber a pele e arrancar um suspiro da jovem. — Prometo que, se eu recobrar a consciência e você estiver ferida... Eu cometo harakiri³. Sem dúvidas.

E, impedindo uma tréplica, Inuyasha voltou a beijar os lábios de Kagome, enquanto começava a tocar seu corpo de forma sensual.

 

ѼѼѼ

 

¹ — Trecho da letra de “Velha Infância”, dos Tribalistas. Fiz a brincadeira de colocar Miroku e Sango trocando o “L” pelo “R” apenas por diversão. Afinal, alguns japoneses fazem isso ao tentar falar em português, né? XD

² — Sango não sabe diferenciar o espanhol do português, então para ela tudo é língua latina. rs

³ — Harakiri é um suicídio ritual feito com uma espada, que consiste em abrir o próprio abdome e retirar (ou tentar) as próprias vísceras.

 

 

 


Notas Finais


Músicas cantaroladas por Miroku e Sango:

* "Velha Infância", de Tribalistas.
* "Morena Tropicana", de Alceu Valença.
* "Fogo e Paixão", de Wando.

A música que é a cara do Miroku e que era para ser postada no capítulo anterior:
"Amor sem Censura", de Elymar Santos: https://www.youtube.com/watch?v=IcXr59NCsMs
Recomendo ouvir acompanhado(a) do seu love, é uó do borogodó!

Este capítulo de hoje foi postado às pressas, perdoem eventuais erros.

Muito obrigada, leitores. Os comentários de vocês a esta fanfic têm me feito feliz. <3

~Okaasan


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