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História Vulneráveis (hiatus) - A punição do infeliz hanyou


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal...

Mais um capítulo. O próximo, por ora, não tem previsão certa, mas garanto que não passará de um mês para ser publicado.

ALERTA: ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA E ABUSO SEXUAL (tentei amenizar e descrever o mínimo possível, mas ainda assim não ficou fácil de ler, desculpem). Apesar disso, peço atenção ao ler, pois há detalhes importantes aqui no texto de hoje para compreensão da trama.

Perdoem eventuais erros...

Boa leitura.

Capítulo 47 - A punição do infeliz hanyou


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - A punição do infeliz hanyou

ѼѼѼ

 

— Miroku, responde, seu maldito — pediu Inuyasha, estranhando o silêncio do monge. — Ficou surdo? Mir-

— Om Bazara Tamaku Hakani Yasha Han.

— Quê?

Miroku enfim se virou para o amigo, enquanto suas vestes e seus cabelos eram circundados por uma energia visível e notória. Inuyasha, mais confuso do que nunca, percebeu um símbolo reluzente em sua testa.

O monge estava seriíssimo; empunhava a espada de sohma e, subitamente, levitou.

— Miroku, o que você está...

Shippuu Marouken! — exclamou Miroku e tudo o que o hanyou viu antes de ser engolfado por uma violenta força oriunda da mão direita do amigo foi o espectro de um lobo imenso por trás deste.

Não houve tempo para se esquivar. Inuyasha cobriu a cabeça com as mãos e sentiu que o golpe de Miroku o atingira em cheio. Seu corpo foi jogado por vários metros bosque adentro, destruindo algumas árvores no processo. Por fim, parou sobre a relva e se levantou, bastante atordoado.

Então, o hanyou se deu conta de que sofrera apenas escoriações leves, apesar da magnitude do ataque sofrido. Ouviu os passos apressados de Miroku, que vinha correndo até ele, preocupado.

— Meu Buda! Eu não sabia que esse negócio do Lobo Diabólico¹ era tão perigoso... — afirmava o monge, se aproximando às pressas. — Inu! Inuyasha! Você está bem? Que merda foi essa que eu fiz! Inuy-

— IDIOTA! — gritou o hanyou, de pé, com os cabelos negros e o quimono sujos de terra. Miroku avistou o sohma do amigo, enfim, desperto; Inuyasha, entretanto, ainda não percebera o que estava lhe acontecendo. — QUE IDEIA RETARDADA FOI ESSA DE TENTAR ME MATAR, DESGRAÇADO?!

Os olhos do hanyou, muito abertos, reluziram uma única vez e o monge foi atirado do bosque para a charneca de novo, violentamente. Foi sua vez de rolar de qualquer jeito pelo chão.

Zonzo, Miroku se sentou no chão da charneca, sorrindo. Inuyasha, que vinha do bosque, inquiriu:

— Ficou doido, maldito? Do que está rindo?!

— Estou feliz! — respondeu ele, já se colocando de pé mais uma vez e tirando de dentro das vestes sacerdotais um ofuda, que se transformou em outra espada em sua mão. — Você não sabe o quanto esperei por poder lutar com você, cachorrão. Agora pare de resmungar! Não temos muito tempo para treinar.

Treinar?! Do que está falando?!

— Você e eu somos guardiões divinos da deusa Vishnu mesmo, não é um sonho. Existe uma outra deusa chamada Shiva que quer destruir o mundo. E apenas nós dois podemos impedi-la nesta era.

— Mas eu não estou entendendo nad-

— Se concentre! — interrompeu-o o outro. — Deixe vir à tona o poder divino que habita em você. É para isso que estou te atacando, seu lesado!

E, antes, que Inuyasha pudesse articular algo mais, Miroku o atacou novamente com sua espada montante. O hanyou mal tinha tempo de se defender; não se lembrava de ter presenciado tal demonstração de agilidade no amigo antes. Contudo, por não haver entendido direito a história de ser um um guardião divino, se sentiu irritado.

— DÁ UM TEMPO COM ESSA MERDA, MALDITO! ESTÁ ME TORRANDO A PACIÊNCIA! — berrou Inuyasha, criando inconscientemente um campo de energia ao seu redor, repelindo Miroku, que caiu com brusquidão. O hanyou agora olhou confuso para o amigo e para si mesmo, estranhando o sohma que lhe envolvia como uma brisa. — Caramba! O que é isso?! O que eu fiz?!

O monge se levantou mais uma vez, satisfeito. Estava adorando praticar suas novas habilidades com seu companheiro.

 

ѼѼѼ

 

Ainda oculto pela barreira, Naraku tomava sua forma humana, já bem enfraquecido. O pisco-do-peito-ruivo cochilava em seu ombro, confortavelmente. O hanyou estava um tanto temeroso.

— Por que você não me larga, Radha? — murmurou ele, agoniado. Sua cabeça doía horrivelmente. — Aqui é perigoso para voc-

Então, ele sentiu.

Estava totalmente paralisado. Mesmo o ato de respirar agora lhe parecia enormemente complicado.

— NNNGGG!

Os olhos castanhos de Naraku se arregalaram em franco pavor ao ver que a avezinha era arrancada de sobre seu ombro por uma força misteriosa. Ela mal teve tempo de trinar; fora atirada bruscamente contra uma das várias árvores, caindo em seguida como um mero objeto, imóvel.

— GAAAAAAAAAAAAH!

— Ora, ora, ora.

A voz masculina e sem emoção soou atrás do hanyou paralisado. Um bolo indigesto se fez em sua garganta e, mesmo respirando com dificuldade, ele emitiu um murmúrio:

— R-R-Rad...

— Que interessante. Um híbrido triste pelo animalzinho de estimação — comentou Shiva, se aproximando por trás de Naraku, cujas lágrimas desciam em cascata pelo rosto lívido.

Ele não podia acreditar que a vida do seu pequeno companheiro lhe fora tão brutalmente roubada. Mais do que nunca, Naraku se sentiu num verdadeiro inferno.

RADHA! Não! Meu Radha! Ele não merecia morrer assim!

A mão de Shiva pousou sobre a cabeça do moreno, a princípio com sutileza, depois com força desmedida. Seus dedos compridos pareciam de metal, tal a sua dureza; a dor foi insuportável e Naraku se esforçava por não gritar para poupar o próprio fôlego.

— Um pássaro, depois uma criança humana. Para quem mais você bancaria o salvador, hanyou? — indagou a deusa, os olhos escuros brilhando de ira. — Para o Rei Shura, quando eu o tiver decapitado com minhas unhas?

Um chute nas costelas e Naraku foi arremessado para longe. Caiu imóvel, porém muito consciente e tresloucado de dor.

— Ah, mas isto não ficará assim, hanyou. Não foi para isso que eu lhe trouxe do mundo dos mortos. E, de uma vez por todas, farei com que me obedeça, entendeu bem?

— NNNGGGG...

O ar se tornava, a cada instante, mais e mais denso. O hanyou, ainda sem controle sobre o próprio corpo, tremia convulsivamente, prostrado sobre a grama como um trapo. Ouviu que Shiva murmurava um mantra em um idioma que ele não conhecia. Percebeu ainda que, de onde a deusa perversa estava, um resplandecente clarão se fez existir.

— Você é um de meus Doze Imperadores. É o Imperador da Luz². Faz ideia do quanto me deixou irritada quando purificou o próprio sohma?

O corpo do hanyou fora erguido e colocado de pé.

— Enfim — afirmou Shiva, em tom despreocupado e, ao que parecia, alegre. — Basta que eu destrua sua alma e não terei mais problemas. Oh, esqueci de lhe avisar que temos companhia.

O sohma negro que paralisava Naraku, subitamente, se esvaiu; ele se virou para encarar a deusa, num átimo, e não pôde conter um grito de horror. Aos pés do manto negro de Shiva, havia um corpo nu, ferido e ensanguentado, caído de bruços em uma posição estranha. Um corpo de mulher. Um corpo com ferimentos profundos no pescoço e na clavícula, com a jugular rasgada.

Fazendo um esforço sobrehumano, o hanyou conteve as lágrimas e olhou para a deusa com ódio.

— Maldita... Não me engana mais. Isso é uma ilusão e... Não sou tolo aponto de cair duas vezes no mesmo truque.

— Truque, hanyou? A que se refere?

— Não brinque comigo — cuspiu ele, rilhando os dentes. — Esta pessoa aos seus pés não é Kikyou. Eu sei disso. Kikyou está morta e... — engoliu seco, atordoado. — Fui eu, Naraku, quem a matou.

Mesmo dizendo tais coisas, o hanyou sentiu uma agonia infinita ao vislumbrar Shiva virando o corpo muito alvo com um dos pés. Os cabelos negros e lisos deslizaram para os lados e ali se revelou o rosto de Kikyou.

— Você é um rematado tolo, hanyou Naraku. Parece que se esqueceu de que, para uma deusa como eu, trazer um humano de volta à vida é tão simples.

Uma olhadela de Shiva para o corpo e logo Kikyou deu um estremeção, se embolando em meio à terra, tossindo. A cabeça dolorida de Naraku parecia prestes a explodir — ele já não sabia se estava mesmo diante de uma ilusão. Shiva, sondando seus pensamentos, sorriu. Era exatamente aquela incerteza que ela desejava para seu escravo. A deusa, então, se afastou ligeiramente para trás; a sacerdotisa, fragilizada e tonta, ergueu os olhos e avistou Naraku. Sua voz enfraquecida o chamou, em tom de dúvida:

— Naraku...? Eu... Você... Você não tinha me matado...?!

— Kikyou... — gemeu ele, imóvel não pela força de Shiva, mas sim pela intensa agonia de ver a mulher que ele amava daquele estado mórbido. O hanyou rompeu em pranto. — Eu só queria seu amor...

Amor? — balbuciou ela, mágoa evidente nos olhos castanhos. — Eu... Eu lhe entreguei meu corpo na caverna e... V-você corrompeu a Joia — lágrimas vieram aos olhos da sacerdotisa também. — Se queria tanto me m-matar, por que mentiu para mim?

Com extrema dificuldade, a moça tentou se sentar, ocultando as mamas com as mãos sujas. A ferida ainda sangrava e ela não percebia Shiva a poucos metros atrás de si.

— V-você queria se satisfazer com meu corpo? Poderia t-ter ido atrás de outra mulher...

— Kikyou, não... Eu juro, eu não quis...

— Eu falava sério q-quando disse que queria tentar ser feliz com você... — o corpo dela tombou mais uma vez. — Seu maldito, maldito... É só isso q-que sabe fazer, Onigumo? D-destruir a vida... Os sentimentos... De quem s-se aproxima...?

Antes que ele, lívido, pudesse articular qualquer palavra, sentiu a dor no centro da testa e se desesperou ao ouvir a voz cavernosa de Shiva, que estivera ali o tempo inteiro.

— Como pude me esquecer? Você desejou esta garota humana por muito tempo. Agora, veja só que interessante, eu a trouxe a seus pés. Sou uma deusa que faço concessões e agrados aos meus servos.

ISSO É MENTIRA! É UMA ILUSÃO! KIKYOU NÃO PODE ESTAR DIANTE DE MIM, VIVA E...

O corpo do hanyou mais uma vez era privado de controle. Naraku notou, com horror, que suas pernas o direcionavam a Kikyou, caída e encolhida no solo, olhando para ele com óbvia apreensão.

— N-Naraku, o que v-você está fazendo...? — indagou ela, assustada e tentando se arrastar para longe dele.

— Vamos lá, hanyou — ordenou Shiva. — Satisfaça seus desejos impuros. É isso que você quer.

NÃO! NÃO! EU NÃO QUERO, NÃO QUERO! NÃO QUERO MACHUCÁ-LA AINDA MAIS!

— Naraku, por que me olha desse jeit...

Um chute acertou a jovem na região do estômago, com tal força que a atirou a uma boa distância. Naraku, totalmente possuído, avançava em direção a ela. Sua alma, porém, gritava e lutava por se libertar; principalmente agora que Kikyou, com o rosto contraído de dor e os lábios ensanguentados, o olhava cheia de medo.

POR TUDO O QUE HÁ DE MAIS SAGRADO, KIKYOU, TENTE ME LIBERTAR DE SHIVA! EU NÃO CONSIGO SOZINHO...

Os lábios dele se moveram, mas o pedido de socorro que deveria ter se sido pronunciado foi substituído por cruéis palavras:

— Kikyou... Huhuhuhu... Vadiazinha. Ainda perde tempo acreditando que eu queria mesmo algo com você? — e a gargalhada escarnecedora soou aos ouvidos de um desesperado Naraku como uma blasfêmia. — Eu queria f**** você, mas, pensando bem... Não foi interessante como eu esperava.

— S-s-seu desgraçado... — gemeu ela, cheia de dores por todo o corpo, chorando.

KIKYOU, ME SALVE! SOCORRO! EU JAMAIS DIRIA UM ABSURDO DESSES PARA VOCÊ!

— Cale a boca, sua p*** — cortou-a ele, ríspido. — Vejamos... — encarou-a com lascívia diabólica. — Sangue. Ah, o doce cheiro de sangue. Você está toda imunda, banhada de sangue. Que visão instigante esta que você me proporciona, Kikyou.

Ele a ergueu com brusquidão pelos cabelos, arrancando-lhe um grito.

— Sabia que fiquei de pau duro só de te olhar lambuzada de sangue? — e o hanyou a atirou de volta ao chão. — Eu estava equivocado. Você é interessante, sim. E esse rabo empinado, o que me diz dele? Vai me dar um pouco de diversão? Quer me deixar com tesão exalando esse cheiro de sangue humano, sua vadia?

A essas alturas, a alma aprisionada de Naraku clamava loucamente por socorro, a cada vez mais atemorizado ao ver seu corpo forçando sua amada a ficar de bruços e se deitando sobre ela. A voz de Kikyou, que desatara a lhe pedir por clemência, perfurava o coração do hanyou como ferro em brasa. Em seguida, a moça berrou em franco desespero, enquanto era seviciada com um estupro brutal.

KIKYOU, NÃO! NÃO! NÃO! EU NÃO QUERO FAZER ISSO, EU NÃO...

— NÃO!!! — gritou a sacerdotisa, entorpecida pela dor excruciante. — NARAKU... ONIGUMO! PELOS DEUSES, PARE!!!

NÃO SOU EU, KIKYOU! EU JAMAIS FARIA TAMANHA CRUELDADE COM A MULHER QUE SEMPRE AMEI! SOCORRO! SOCORRO!

A alma do hanyou prosseguiu sendo dilacerada, rasgada, e ele bradava por ajuda. Contudo, ajuda alguma veio.

Naraku estava sozinho. À mercê da entidade perversa que lhe estuprava a alma.

Não havia mais ninguém na floresta próxima à lagoa Onuma — eram somente a deusa e seu escravo.

Naquela triste noite de lua nova, mesmo os insetos se calaram, ao sentir a virulência da energia de Shiva, que engolfou aquela localidade.

O terceiro olho na testa de Naraku estava aberto, enquanto Shiva projetava todas aquelas ilusões em sua mente. Chutes contra o corpo ferido, mechas de cabelo empapadas com sangue. Sangue e mais sangue que lhe escapava das narinas, do ânus, da boca e do corte horrendo em sua jugular. A sacerdotisa Kikyou agora não passava de um trapo humano que, estranhamente, não morria apesar das diversas hemorragias presentes. Era uma agonia que o atormentado mártir da deusa da destruição não sabia dizer se durou minutos, horas ou dias.

Não havia noção de tempo ou espaço — era somente Naraku sendo forçado a destruir o corpo de Kikyou.

Caído no chão, o hanyou estava envolto por ondas de sohma negro, seus olhos vítreos lacrimosos, sua face convulsionada. Ele se contorcia. Saliva lhe descia pela boca. Gritava, chorava, suplicava a Shiva que fizesse parar aquilo.

Porque Naraku amava Kikyou.

A deusa sabia que o estava massacrando com aquela mortificação cruel. Em sua ilusão, Shiva fez com que Kikyou gritasse em meio à covardia:

— EU TENTEI AMAR VOCÊ, NARAKU!

A frase soou como navalhada no espírito do moreno, que via tudo aquilo como um pequeno animal indefeso, capturado e devorado pelo predador... Como...

Radharani!

A lembrança do pisco sendo morto diante de seus olhos recrudesceu sua dor e ele voltou a gritar.

Shiva, então, afirmou placidamente:

— O Rei Shura precisa saber que estou por perto.

A mão de dedos longos se ergueu no ar enquanto a deusa entoava outro mantra. As ondas de sohma negro cresceram exponencialmente, até que tudo se transformasse em uma enorme nuvem opaca que explodia.

 

ѼѼѼ

 

Subitamente, um laivo de desespero atravessou o corpo de Inuyasha, que mal teve tempo de se esquivar do ataque do monge. O hanyou caiu, exclamando em lamento.

Miroku, apreensivo, correu até ele, ajudando-o a se sentar. Ficou surpreso ao ver lágrimas descendo pelo rosto suado do amigo.

— Inuyasha, o que foi isso?

— Eu ouço... EU SINTO! M-mas não sei...

— Sente o quê?

— Estão... Rasgando uma alma... E eu... AAAH!

O hanyou, levando as mãos às orelhas humanas, rolou pelo chão da charneca, uivando. Concentrando-se, Miroku percebeu que ele e Inuyasha estavam sendo cercados por estranhas energias diabólicas, que o faziam se arrepiar. Contudo, o ataque parecia direcionado apenas a Inuyasha, que gritava como da outra vez em que ambos foram atacados por Shiva.

Shiva... Só pode ser ela!

 

ѼѼѼ

 

O monge, então, levou os dedos indicador e médio à frente do rosto, recitando um mantra dos que havia aprendido com Gai Kuroki. As luzes tépidas de sohma emanaram de seus olhos, rodeando o seu corpo e o do hanyou, que parara de se debater, mas ainda tremia incontrolavelmente com as mãos nos ouvidos. Súbito, um torvelinho de vento negro apareceu à esquerda de ambos; Miroku ficou alerta, afinal Inuyasha parecia ter entrado em estado de choque, pálido e semi-inconsciente. Ele se perguntava sobre que tipo de encantamento Shiva teria feito quando, do meio do torvelinho, surgiram as silhuetas de dois seres de vestes negras longas. A silhueta menor estava de pé, mas com a cabeça pendida para a frente.

— Yasha-Ō Miroku — saudou-o Shiva, de uma maneira falsamente gentil. — Adquiriu um bom domínio do sohma. Devo felicitá-lo. E sua percepção espiritual deve estar boa para se colocar em posição defensiva diante de mim, sendo que nunca havia me visto.

— Você é Shiva. Eu sei — afirmou o monge, se colocando à frente do amigo caído. A deusa riu.

— Oh, que companheiro dedicado... Está tentando proteger sua alma irmã? Que interessante. Mas, que eu saiba, Shura-Ō deveria ter poder suficiente para se proteger sozinho...

— O que você fez com ele, sua maldita? — gritou Miroku, furioso. Esforçava-se ao máximo para que sua energia aumentasse, mas sabia que estava correndo sério risco. Ele não dominava totalmente a própria energia e não podia descuidar de seu amigo.

E havia aquela pessoa estranha imóvel ali ao lado... Quem seria?

— Soube que você tem um ponto fraco, Yasha-Ō Miroku. Energia youkai faz com que seu sohma ataque seu próprio corpo, levando você a sangrar intensamente. No entanto, vejo que você não abriu mão de andar com um youkai, que, curiosamente, está em forma humana agora.

— O que quer aqui?

— Huh, como é intrépido, jovenzinho. Pensa que pode me intimidar? Seu sohma não é lá tão bem desenvolvido.

No chão, Inuyasha recomeçou a gritar e a se debater. Em seus olhos, havia um pavor intenso; suas mãos crispadas se enrolaram e o hanyou se convulsionou. Miroku procurou não transparecer, mas temeu — não sabia como agir. Seu poder estava manifesto ao máximo, e, ainda assim, não estava sendo o bastante para livrar Inuyasha daquele ataque.

Om Bazara Tamakukkan Yasha Han! — exclamou o monge, sentindo as ondas de sohma se concentrando em seu braço direito; sua espada cintilou e vibrou, recebendo as vibrações da energia divina. — Liberte Inuyasha, Shiva! Shippuu Marouk-

Um súbito acesso de tosse, seguido de uma dor aguda no ventre, interrompeu o mantra de Miroku que, aterrorizado, viu que sangue lhe descia pelos olhos e narinas.

— AAAAAAAAAAAAAARGH!

— Esqueci de lhe dizer — afirmou Shiva, malevolamente — Há um youkai aqui comigo. O youki dele é suficiente para fazer você sangrar até a morte, Yasha-Ō. Quanto a Shura-Ō, não sabia que ele era tão frágil. Bastou ver o inferno dentro da alma do meu Imperador da Luz para ele se desmontar dessa forma tão patética...

Tão cortante quanto uma lâmina de katana, a dor atingia todos os órgãos internos do monge, que caiu no chão de joelhos, enquanto golfadas de sangue lhe escapavam pela boca. Atrás de si, Inuyasha não conseguia escapar da convulsão a que era acometido. Shiva o fizera sentir parte da agonia do espírito de Naraku, parado ao lado dela como um boneco sem vida.

Miroku começou a perder a consciência, apavorado.

Vishnu... Estamos morrendo!

 

ѼѼѼ

 

— Inuyasha.

— Q-quem...

— Inuyasha, você pode me ouvir?

O hanyou, em um plano espiritual paralelo, olhou para todos os lados para ver quem estava lhe chamando. Estava totalmente despido. Seus pés tocavam o nada; estava planando no ar. A atmosfera ao seu redor tinha cheiro de morte e ele se abalou, sentindo o coração pesar, sem saber o motivo.

— Inuyasha, não adianta procurar... — soou de novo a voz grave que Inuyasha não acreditou estar ouvindo. — Você não vai conseguir me ver. Estou preso.

— Essa voz... Naraku?!

— Sim, sou eu.

— Maldito! O que quer comigo?!

— Quero que se liberte desta armadilha de Shiva.

— Como?!

— Quero que se liberte de Shiva, Inuyasha — pediu a voz de Naraku, mais uma vez. — Este pesar no seu espírito é porque ela lhe fez sentir a minha dor. Por isso o seu corpo humano está enlouquecendo. E, se você não tomar uma atitude, morrerá com Miroku. É isso que quer?!

— E por que eu deveria ouvir você?! Pensa que esqueci do que fez, maldito?

— Não temos tempo para discutir — volveu a voz, impaciente. — Liberte-se de Shiva o quanto antes. Vamos!

— Por que você está me pedindo isso?!

— Inuyasha, estou lhe pedindo porque você é um deus. Você é o único que pode me fazer voltar para o descanso eterno. Shiva está planejando destruir o mundo. Somente você pode impedi-la. Acabe com Shiva e eu poderei descansar em paz.

— ... — os dois se ouviam intensamente, dividindo os mais diversos sentimentos.

Por favor, Inuyasha. Entendo que não o queira fazer por mim, mas faça então por sua família, seus companheiros... Seu mundo — suplicou ele, humildemente. Inuyasha estava aturdido; contudo, não tinha muito tempo para pensar, já que a sensação de morte se intensificava ao seu redor.

— Fala como se fosse fácil, maldito, mas eu... Eu não sei o que fazer!

— Ignore essa dor que está presente no seu coração. Ela não te pertence. É apenas minha.

— Não dá... — Inuyasha tocou o peito, respirando com dificuldade. — É horrível. Está me sufocando... De onde veio essa tristeza tão grande? Veio de você?!

— Sim, de mim. Não sei o motivo, mas quando Shiva abriu sua alma para contemplar a minha, me permitiu ficar livre da dor por alguns instantes. De outra forma, eu jamais conseguiria falar com você.

— Você estava morto — comentou Inuyasha, confuso. — E agora vem me dizer que Shiva me forçou a olhar o que tinha em sua alma... Só tem dor aí. Por que você carrega tanta dor?

— Isto não vem ao caso, Inuyasha. Apenas se concentre em seu poder e a ignore; minha dor é minha, não sua. Você é capaz.

O guerreiro sacudiu a cabeça, nervoso.

— Eu não sei fazer isso, Naraku!

— Deixe fluir o sohma de seu espírito...

Sohma...?

— Sim, o seu poder de Hachibushu. Você é um Guardião Divino de Vishnu.

Inuyasha, um tanto confuso, fechou os olhos. Concentrou-se e, subitamente, notou a ausência de sons. A quietude absoluta o incomodou, mas a sensação de que algo novo se movimentava no seu íntimo atraía irresistivelmente sua atenção.

Então, ele ouviu. Preces, mantras, orações, que pareciam rodeá-lo e elevar sua alma – eram as súplicas constantes dos monges do Palácio Celestial no Tenkuukai. A grande divindade loira estava ali, dentro de sua visão, sobre o altar, e Inuyasha soube irracionalmente que era aquela a deusa de sua devoção – Vishnu.

Desta maneira, ele pôde avistar a alguns metros de si, envolto em fios de luz vermelha que lembravam uma teia enorme de aranha, Naraku, também em forma humana, morimbundo. Um único fio daqueles estava atando o pé direito de Inuyasha; ele não pôde evitar o seguinte pensamento:

Se esse único fio está me deixando agoniado de tristeza, como será que está o coração de Naraku agora, sendo que está todo enrolado nessa coisa? O que fez ele sofrer tanto?

Foi impossível repelir o sentimento de compaixão por seu antigo arquiiinimigo — e Inuyasha fez menção de se aproximar, mas a voz do outro hanyou o impediu.

— Não perca tempo comigo! Deixe fluir o sohma.

Inuyasha ainda atônito voltou a se concentrar. Havia algo a ser dito; havia um mantra que lhe pertencia. Ele precisava entoar aquilo, mas não se recordava das palavras.

Naumaku sanmanda bodanan abilah unken sowaka.

— O que, Naraku?

— Repita este mantra comigo e o sohma do Rei Shura será totalmente desperto em você.

Inuyasha arqueou uma sobrancelha, cético:

— Mas como é que você sabe disso?!

— Eu sei de MUITA coisa... Apenas repita o que eu disse! – volveu o outro, enfraquecido.

Era só repetir aquilo... Aquelas palavras desconhecidas sendo pronunciadas pela voz de Naraku e uma voz feminina... Mas não havia mais ninguém ali.

Naumaku sanmanda bodanan...

Abilah unken...

— Naraku, espere. Quem é essa mulher repetindo o mantra com você?

— Não há mulher alguma.

— Mas eu ouço a voz de uma mulher junto à sua voz...

O outro hanyou meneou a cabeça, sem entender.

— Esqueça, não temos tempo a perder. Diga o mantra... Quantas vezes forem necessárias. Seu sohma será suficiente para que você se solte dessa maldição.

E assim Inuyasha fez. Sentiu uma onda espiritual a lhe circundar, cálida e envolvente, dissipando aos poucos a teia que o prendia e a sensação mórbida em seu ser.

— Naumaku sanmanda bodanan abilah unken sowaka.

Os fios agora se reuniram todos em volta do corpo de Naraku, que arfou, gemeu e agora gritava, se debatendo contra os fios que o amarravam. Inuyasha, preocupadíssimo, foi em direção a ele, mas era tarde. A teia era enlaçada ao redor da cabeça do outro hanyou, que respirava em estertores.

— V-vá logo! — exclamou ele, os olhos revirando, a pele muito pálida.

— Não posso, eu... Tenho que tirar você daí!

— D-derrote Shiva! O m-mundo terá p-paz e eu s-serei livre...

Os olhos de ambos se encontraram e Inuyasha sentiu, pela primeira vez, que tinha a responsabilidade de batalhar por aquele hanyou também. A energia pura que emanava de seu corpo o fez se livrar, de vez, da dor de Naraku, que agora já não via mais nada, imerso em sua agonia.

Um símbolo místico cintilou na testa de Inuyasha e tudo explodiu. Estava de novo na charneca ao lado do bosque em seu vilarejo; percebeu que estava de pé, com Miroku caído diante de si. Ao lado da perversa Shiva, o corpo de Naraku tombado. A deusa parecia surpresa e seu ombro estava parcialmente destruído.

— MIROKU! — gritou ele, se abaixando para amparar o amigo. — Você... Você está bem?! Me responda, desgraçado! Voc-

— Shura-Ō — afirmou a deusa, sarcástica. — Foi muito bom vê-lo. Devo me retirar. Mas me aguarde... Em breve nos encontraremos... — ela sorriu, erguendo Naraku no ar com um gesto de cabeça. Só então Inuyasha viu o quanto o outro hanyou estava ferido, até mais do que ele mesmo. — Esteja preparado.

Os dois desapareceram. Inuyasha se abaixou para socorrer Miroku, mas estava num estado lastimável. Horrivelmente fragilizado, perdeu os sentidos, tombando sobre o amigo.

 

ѼѼѼ

 

Bem longe dali, horas mais tarde, o hanyou Naraku continuava inerte; não mais se debatia, não chorava, não gritava. As lágrimas constantes que lhe desciam dos olhos avermelhados de dor, aos poucos, secaram.

A deusa Shiva o olhou com um pequeno sorriso de aprovação. Seu ombro ferido estava intacto mais uma vez.

— Até que enfim. Naraku, devo admitir que você me deu um pouco de trabalho para ser dominado.

Suas íris estavam vermelhas e suas pupilas estavam brancas; contudo, sua fisionomia era de total indiferença e apatia. Em contrapartida, ele emanava um sohma trevoso e mau.

— Naraku, Imperador da Luz! — anunciou a perversa deusa. — Pronto para executar minhas ordens?

— Sim — respondeu ele, neutro.

Toda dor havia se esvaído, bem como toda lembrança do passado e consciência do presente.

Atada com fios satânicos em um plano espiritual distante, a alma de Naraku estava selada, semimorta.

 

ѼѼѼ

 

¹ — “Shippuu Marouken”, o golpe do Rei Yasha que Miroku aprendeu a usar, significa “Vento Cortante (ou Furacão) do Lobo Diabólico”.

² — No anime Shurato, o Imperador da Luz é o Mestre Indrah, o vilão que traiu a deusa Vishnu e a transformou em pedra.

 


Notas Finais


Sério. Eu fiquei tendo pesadelos com esse capítulo... Naraku sendo forçado a machucar Kikyou, credo </3

Essa infeliz dessa deusa-travesti matou o passarinho que não tinha nada a ver com o peixe T.T #MorreDiabo
Coitado do hanyou aranhudo... Sofrendo e ajudando justamente o Inuyasha. :'(
Mas será que é o fim para Naraku? Será que Inuyasha, que agora se compadece dele, conseguirá libertá-lo de Shiva?

Obrigada a você, leitor, que não desistiu da fic...

Beijos da Mamãe
~Okaasan


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