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História Vulneráveis (hiatus) - Ocaso


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Depois de meses, mais um capítulo desta saga incrível! \o/

Perdoem eventuais erros. Postando às pressas. Preparem-se para muitas emoções...

NOVIDADE
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Boa leitura! :D

Capítulo 49 - Ocaso


Fanfic / Fanfiction Vulneráveis (hiatus) - Ocaso

ѼѼѼ

 

A voz cavernosa do mais perigoso inimigo de Inuyasha ressoava sem cessar em seus pensamentos e sua alma.

Inuyasha, você é um deus.

O hanyou recobrou a consciência e tinha a impressão nítida que tinha sido espancado, tal a dor em seus membros.

— Que... Que cheiro de sangue...

Inuyasha abriu os olhos pesados quando percebeu seu corpo se arrepiar ao recuperar sua forma híbrida. O sol havia começado a nascer; o hanyou olhou para seu amigo Miroku. Só então notou que estivera desmaiado sobre a barriga do monge, morbidamente pálido e ensanguentado. As recordações da madrugada anterior eram confusas e mesmo assustadoras. Ele, porém, tinha muito vívidos consigo os sentimentos experimentados enquanto estivera diante de Naraku.

Mas não era hora de pensar naquilo, naquele instante. Miroku precisava de ajuda urgente.

Agora que estava parcialmente refeito, apesar de sentir uma dor de cabeça insistente, o hanyou tomou o amigo nos braços e se foi em direção à pequena colina, as pernas protestando a cada passo dado pelo solo árido da charneca. Procurou se preparar psicologicamente para a saraivada de perguntas e recriminações que Sango dispararia contra si. E, de fato, ela teria toda a razão.

Contudo, o que Inuyasha poderia fazer? Pois, apesar de confuso, ele sabia que Miroku chegara àquele estado por tentar protegê-lo. Os olhos âmbares passearam pelo rosto macilento do outro, tristes.

— Maldito — murmurou ele, observando o monge com um pungente sentimento de gratidão e afeto. Miroku era a mais valiosa amizade que Inuyasha possuía. — Isso não vai mais acontecer. Eu que vou proteger você de agora em diante, seu idiota.

O cérebro do hanyou pululava com aquele monte de informações. Inuyasha descartou a possibilidade de ter sido vítima de uma ilusão de Naraku — afinal, durante todo o tempo em que eles pelejaram um contra o outro, o outro hanyou adorava pavonear sua força e altivez, jamais se mostrando fragilizado. E as muitas palavras que ouvira em ocasiões diferentes ressoavam em sua memória, formando um intrincado quebra-cabeças.

Sesshoumaru o agredindo com os torvelinhos de água, antes do casamento, relatando sobre um estranho ataque que sofrera na fazenda: “Até agora, Rin acredita que os intrusos são deuses que pensam que sou um guardião divino e mais um monte de absurdos nem nexo...”

Seu amigo Miroku, atacando-o com a espada oriunda de um pergaminho de papel na noite anterior: “Você e eu somos guardiões divinos da deusa Vishnu. Existe uma outra deusa chamada Shiva que quer destruir o mundo...”

— Droga... Eu... Não consigo mais andar...! Maldição... — resmungou ele, o cansaço lutando contra sua vontade de levar o monge para casa. As pernas não resistiram: cederam e ele tombou com Miroku, que não recobrava a consciência. Ao menos, ele ainda tinha a agilidade de um youkai e impediu que o amigo batesse a cabeça no solo.

Todos os membros do corpo do hanyou gritavam de fadiga e dor, como se ele tivesse sido espancado por horas. A cabeça latejava e, por vezes, sua visão se turvava.

Mas ele não podia parar ali. Logo o sol sairia de vez, e o calor poderia fazer ainda mais mal ao seu companheiro. O coração de Inuyasha batia pesadamente e seu diafragma não colaborava. Contudo, ele olhou a face do monge, cujo sangue seco se espalhara por várias direções em sua pele. Seu corpo parecia ainda mais leve, mesmo que o hanyou não o estivesse suportando.

Inuyasha mordeu os lábios, decidido. Iria levar Miroku para casa mesmo que isso lhe custasse a vida.

— Eu... E-eu ainda sou um hanyou, sou forte... Não vai ser essa colina que... Vai me impedir de te levar para casa, s-seu pervertido idiota...

Tremendo, ele envolveu o amigo como podia nos braços e exclamou um palavrão ao se colocar de pé de novo. Miroku merecia aquilo. Tinha se sacrificado por ele.

E Inuyasha recomeçou a caminhar, gemebundo e ofegante, com seu valioso onii-san do coração.

 

ѼѼѼ

 

Horas mais tarde, Kagome acordava. Pelos cálculos dela, deveriam ser umas nove horas da manhã. Seu corpo cansado não colaborava consigo para que se levantasse do futon. Sentia-se ligeiramente nauseada também; ao se sentar, o mundo girou diante de si, o que a levou a se deitar de novo o mais rápido possível. Entretanto, apesar do mal estar, ela estava feliz. Havia tido uma noite de amor maravilhosa com seu amado e foi possível ver o quanto aqueles momentos foram bons para ele. Talvez, agora, Inuyasha ‘desencanasse’ e perdesse o receio de fazer amor consigo.

A jovem sacerdotisa suspirou profundamente. Que ela amava o hanyou de qualquer maneira, não era segredo para ninguém, mas o Inuyasha humano era uma companhia maravilhosa e um parceiro sexual fascinante. Senhor de seus sentimentos e ações, Inuyasha era mais sensível e benévolo; Kagome, enfim, conseguia vê-lo como um ‘igual’, o que a deixava ainda mais à vontade com ele.

Onde será que ele está agora?, pensou a jovem. Como que respondendo à sua indagação mental, o hanyou abria a porta da oficina, andando vagarosamente para dentro.

— Inu, onde você est- KAMI-SAMA!

Os olhos de Kagome quase saltaram das órbitas ao avistar seu marido com sangue no quimono e na pele das mãos, além de uma fisionomia pesarosa e abatida. Ainda meio tonta, ela tentou se sentar, mas não pôde evitar a tontura e fechou os olhos rapidamente com a mão, exclamando em desagrado. De imediato, Inuyasha se ajoelhou ao seu lado, preocupado.

— Amor, o que você tem?

— Eu... Eu me levantei de uma vez, Inu, e fiquei tonta. Mas, pelos deuses, o que houve?! Veja o seu estado!

O hanyou a apoiou para que ela se sentasse.

— Keh! Esse sangue não é meu e isso não importa agora. Você deve estar com fome, sua idiota. Acabou de acordar, não é?

— Sim, mas... Inu, você se machuc-

— Ah, viu só? Eu sabia — cortou-a Inuyasha, se levantando de um salto e indo até o outro cômodo, onde havia um cesto com pacotes de bolachinhas integrais. Logo ele retornava com um, trazendo também um copo de água. — Vai, come.

— Mas, amor...

Come — reforçou ele, autoritário, olhando emburrado para ela, que ainda estava meio atordoada. — Você não pode ficar sem comer nada por tanto tempo! Acordou tão tarde e...

— Claro que eu tinha que acordar tarde... — replicou ela, com um ar divertido no rosto pálido. — Alguém acabou comigo ontem à noite, sabe?

— ... — Inuyasha se calou ao ouvir aquilo e ficou vermelhíssimo. Kagome deu um sorriso maior, mordendo uma bolacha. — Keh! Isso n-não vem ao caso. Eu não quero que você fique doente.

— E eu continuo querendo saber o que significa esse sangue nas suas roupas... — volveu ela, com gravidade. — Ultimamente meu sono anda meio pesado, nem vi que você tinha se levantado. Amor, me conta. Foi algum youkai que ia nos atacar durante a madrugada?

Inuyasha respirou profundamente, acuado. Toda aquela conversa misteriosa, a batalha, a visão de Naraku sendo supliciado e as informações de que ele, o hanyou que passara a vida inteira sendo desprezado por youkais e humanos e que, agora, só queria ser feliz com sua esposa, era um deus... Tudo deixava Inuyasha desorientado e com medo. Mais do que nunca, ele temia pela vida de Kagome.

— Kah... — começou ele, pensando em como dizer tudo aquilo. Mas o que Inuyasha se viu dizendo foi: — Foi um youkai. Miroku e eu ouvimos seus passos e saímos para ver o que era. Ele nos atacou, mas conseguimos matá-lo.

Eu não vou conseguir dizer a verdade...

 

ѼѼѼ

 

I go crazy, crazy... Baby, I go crazy...You turn it on then you’re gone, yeah, you drive me crazy, crazy…

Entardecer na fazenda de Sesshoumaru.

Sentado sobre o galho mais alto da maior das cerejeiras, o daiyoukai cantarolava, baixinho, acompanhando a letra da canção de Aerosmith, reproduzida pelo mp4 num volume moderado. Ele queria esvaziar a mente de seus muitos pensamentos e preocupações; ao mesmo tempo, não gostaria de incomodar sua doce Rin. Então, após o almoço, o youkai branco a estimulou a pegar nos livros e estudar, já que Kagome e Inuyasha não tardariam a aparecer por aquelas paragens. Haviam combinado de o outro casal ir para lá ainda naquela semana.

As cores do sol poente incidiam no céu, criando um verdadeiro espetáculo de matizes. Sesshoumaru contemplava com sua face inexpressiva as poucas nuvens, no entanto seu coração estava pesaroso, e ele ignorava o porquê daquele estranho mau presságio. O youkai branco sacou Bakusaiga da bainha, fitando-a intensamente. Aquela espada, de fato, era super importante para ele — fazia parte de sua vida. Era sua companheira de batalhas.

— Creio que a usarei muito num futuro próximo — murmurou ele, analisando o fio altamente cortante, a leveza, a bela empunhadura. Bakusaiga era uma arma mortífera e linda. O aparelhinho tocava outra música e as orelhas do proprietário da bela fazenda tremelicaram em aprovação.

Ele sentiu que deveria retornar à casa grande. Rin a essas alturas já estaria sentindo falta dele. Então, Sesshoumaru se pôs de pé e voou para lá, não tão rapidamente, pois queria curtir Dezesseis, de Legião Urbana.

— Fabulosa... Mas me deixa meio triste — murmurou ele consigo mesmo, olhando o telhado de seu lar e ouvindo a voz de sua amada. Então, resolveu acompanhar a canção, quase que perfeitamente: — Sabia tudo da Janis, do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling Stones...

A jovem Rin, que estava ocupada às voltas com uma massa de pão que Reina estava lhe ensinando a fazer, ouviu o distante toque da música e comentou:

— Sesshoumaru está voltando.

— É estranho esse novo hábito dele — afirmou a velha youkai, inspecionando a morena sovar a massa. Rin sorriu.

— Ele mudou muito depois que passamos a conviver mais com Inuyasha e Kagome.

— Eles dois estão vindo para cá, não é, Rin?

— Sim, eles passarão uns dias com a gente. Jaken-sama vai preparar requeijão — comentou ela, sonhadora. A velha Reina deu uma risadinha.

— Pressinto que Jaken vai apanhar um bocado nesses dias, já que ele não sabe ficar de boca fechada e não ofender o irmão de Sesshoumaru-sama.

Foi quando a porta da cozinha foi subitamente ocupada pela silhueta grande do dono da fazenda. Reina, de imediato, pediu licença e se afastou, meio receosa. Apesar de conhecer Sesshoumaru desde que ainda servia a mãe dele, a princesa das terras do Oeste, Satori, a velha não conseguia se acostumar com os eventuais sorrisos de seu mestre.

Muito menos com ele cantando, o que ocorria naquele instante. Lépida, a youkai se foi às pressas dali pela outra porta da cozinha espaçosa, deixando Rin aos cuidados do marido, que estava bem envolvido naquela música:

O aluno João Roberto não está mais entre nós, ele só tinha dezesseis... — entoou o youkai branco, já com o aparelho desligado. Seu rosto estava iluminado ao ver sua querida, mesmo que ela estivesse meio suja de farinha e com seus longos cabelos presos em um coque. Ela lhe sorria docemente de volta; a visão do outrora muito austero Sesshoumaru cantarolando uma canção em idioma estranho era, para ela, algo bem divertido. — Que isso sirva de aviso pra vocês...

— Oh, você gostou mesmo dessa música — disse Rin, tendo seu corpo envolvido num abraço meigo e afetuoso. Sesshoumaru agora lhe beijava a face.

— Eu a apelidei de “Bye-bye, Johnny”. Na verdade, sinto-me estranho ao ouvi-la, mas a aprecio muito.

— Estranho por que, meu bem?

— Porque... — o daiyoukai calou-se, compenetrado. Ele não sabia. Não compreendia aquela canção e não tinha como dizer à sua Rin o que, exatamente, o incomodava nela. Temia parecer piegas, melodramático. — Oh, deixe para lá... Quero saber o que minha querida esposa está preparando.

— Ah — fez Rin, olhando para a massa sobre a mesa diante deles. — Tia Reina estava me ensinando a fazer massa de pão. Mas ainda não decidi qual recheio colocar... Carne de porco ou queijo de cabra?

— Nem um, nem outro. Recheie com galinha.

— Mas é preciso pegar uma lá fora...

— Eu mesmo pego uma. Mato, depeno, corto os pedaços, tempero com kombu¹ e pimenta-do-reino, cozinho e desfio para você.

O queixo de Rin caiu e ela começou a rir do marido que permaneceu sério.

— Sesshoumaru, isso tudo só para comer galinha?!

— Claro, minha Rin — volveu ele, como se fosse óbvio. — Comer galinha é o segundo dos meus prazeres prediletos.

— É? E qual é o primeiro?

O daiyoukai sorriu minimamente, malicioso. A mocinha enrubesceu.

— Não preciso lhe responder qual é, querida. Pode continuar a sovar a massa. Já venho com a nossa galinha.

 

ѼѼѼ

 

Certa manhã, longe dali, Kouga corria por um matagal denso com algumas perdizes presas pelas pernas em suas mãos. Mesmo sem os fragmentos da Joia, o príncipe dos youkais lobos tinha uma agilidade nata e conseguia percorrer grandes distâncias em velocidade sobrehumana.

Ultimamente, ele vinha procedendo de forma mais cordial com sua esposa. Ainda que rude no falar com ela, nos momentos íntimos Kouga se mostrava agora mais aberto ao que ela tinha para oferecer, tanto pelas carícias proibidas que Ayame lhe concedia quanto pela descoberta de que ela era, sim, positivamente criativa para o sexo, nunca lhe pedindo coisas desagradáveis.

Mas... Ele continuava se sentindo estranho. Receava perder sua virilidade se admitisse que valorizava uma ou outra opinião da loba do Norte. Na era feudal, o macho era o ser superior e inabalável da relação, e ele queria ser assim — contudo, não dava para garantir sua potência varonil quando seu principal passatempo erótico do momento era ficar de quatro para a esposa e uivar de prazer com os três dedos pequenos dela o invadindo, levando-o a atingir o clímax sem mesmo precisar se estimular. Ayame agora sabia que dentro do canal retal do marido havia um lugar especial que o fazia derreter de luxúria quando tocado; era essa a sua principal arma para conseguir dele coisas que, até então, não lhe eram permitidas. Como, por exemplo, sair sozinha para caçar ou pescar.

A passos milimétricos, a ruiva se tornava independente do youkai, que não gostava nada de ver que perdia seu poder sobre ela. Mas o estrago já estava feito. Se Ayame um dia resolvesse espalhar para o clã dos lobos do Leste o que ambos faziam em seu leito conjugal, o nome de Kouga estaria arruinado. E isso ele não queria, de maneira alguma...

O vento estava mais forte e, do nada, o youkai se arrepiou com um calafrio típico de quem se assusta com a chegada de outra pessoa. Entretanto, o sol estava a pino no céu; Kouga estacou em uma estradinha pedregosa, olhando a seu redor. Notou que não estava sozinho, mas não avistou ninguém.

Foi quando um pequenino pisco-do-peito-ruivo pipilou ali por perto, pousado sobre um ninho de joão-de-barro esquecido num galho de uma pereira. Sobressaltando-se, o youkai suspirou ao ver que era apenas um pássaro exótico. Deu alguns passos para frente para ver melhor a avezinha, que tinha um cantar melodioso e agradável. Kouga franziu o sobrolho, atento.

— Não é um youkai, é um pássaro comum... Mas eu acho que já te vi em algum lugar...

A resposta do pisco foi dar pequenos pulinhos sobre o galho. Por fim, o príncipe dos youkais lobos deu de ombros. Aquelas perdizes eram para o almoço, não deveria tardar a voltar.

— Ora, já te vi! Você é idêntico ao passarinho de peito vermelho que caiu na minha frente um dia. Que coincidência... Por que será que você me chama tanto a atenção?

Assim, olhando fixamente para a ave, Kouga enfim lhe deu as costas, se afastando velozmente, não sem antes sorrir involuntariamente. Era um bichinho bem bonito, aquele.

E o pisco voltou a voar graciosamente pelos céus, seus olhinhos miúdos percorrendo a vegetação em busca de alguém que lhe era muito caro.

Meu Krishna...

Era tão bom viver, tão bom desfrutar da natureza e seus encantos, tão bom saber que, em alguma parte do mundo, havia alguém que lhe esperava. O coração minúsculo se aqueceu. Naraku amou aquela pequena ave sem ao menos sonhar que era ela a sua consorte eterna.

E, naquele corpo de pisco-do-peito-ruivo, Kikyou voou por várias horas, em busca de seu amado.

 

ѼѼѼ

 

Os dias se passaram relativamente tranquilos. Menos para Miroku e Sango.

A exterminadora ficara realmente chocada ao saber que o marido havia sido atacado por um “youkai” e que se ferira gravemente no afã de se defender. Ela agora tentava evitar que ele saísse sozinho, com medo de que ele usasse seu poder espiritual e sangrasse daquela forma mórbida e horripilante.

O problema era que Miroku não queria abrir mão de praticar as habilidades de seu sohma. Ele passou a inventar as mais diversificadas mentiras para encobrir suas escapadelas durante o dia, já que à noite não havia jeito de despistar Sango.

Que Vishnu-sama e Buda me perdoem. Não fui ensinado a mentir, mas...

O monge não gostava daquilo, mas acreditava que era melhor assim — não sobrecarregaria sua amada, que, com certeza, ficaria devastada ao saber da gravidade dos problemas que eles enfrentariam.

Dessa forma, Miroku começou a ficar sério e calado demais. Sango, por sua vez, tentava compreendê-lo, mas era mais difícil do que parecia. O casal passou a ter discussões com certa frequência.

 

ѼѼѼ

 

Era uma quinta-feira de manhã quando Kagome saltou para dentro do Poço Come-Ossos, sozinha. Inuyasha tinha muito trabalho a fazer na oficina. Recebera quatro encomendas de móveis grandes só naquela semana.

A jovem aprendiz de sacerdotisa vinha se sentindo muito mal. Suas mãos e pés inchavam com frequência; seus olhos estavam amarelados quando ela acordava. E, inclemente, uma fraqueza que não cessava, não a abandonava, de forma que Kagome passara o dia anterior acamada, sem conseguir comer nem sair de casa; isso sem contar as ínguas recorrentes nas axilas e um corrimento vaginal desagradável decorrente de candidíase. Como ela mesma dizia, estava um trapo humano.

Ela se pegava pensando em uma possível gravidez, mas logo descartou a ideia, pois seu ciclo menstrual continuava normal — ou quase normal, pois estava sangrando mais do que de costume. Se engravidasse agora, Inuyasha ficaria louco. Ele ainda não se conformava com a ideia de que ela corria risco de vida ao gerar um filho seu.

A jovem entrava em casa, vendo-a deserta. Apenas um bilhete sobre a mesa da cozinha, onde sua mãe dizia a ela que estavam todos no clube de xadrez, já que Souta estava inscrito em um campeonato.

— Bem... Eu acho que posso ir para o hospital sem avisar a ninguém. Afinal, não vou demorar. É só para uma consulta, onde o médico deverá me pedir uns exames de rotina.

Foi quando Kagome se lembrou do jovem e agradável Shun lhe oferecendo os serviços do hospital da Fundação Graad. Ainda tinha consigo o número de lá, poderia talvez conseguir uma consulta rápida lá... Então ela se foi, lentamente, até o telefone fixo da casa, na sala de estar, e sentou-se com o aparelho no colo. Tenho que lembrar de colocar o celular na mochila, sempre o esqueço com Inuyasha...

— Fundação Graad — disse uma voz masculina e cordata do outro lado, logo após Kagome ter discado o número. — Bom dia.

— Bom dia. Desejo falar com Amamiya-san...

— Somos dois Amamiya — respondeu seu interlocutor, e Kagome soube que ele estava sorrindo. Tinha quase certeza de que era Shun. — Com quem gostaria de falar, comigo ou com meu irmão Ikki?

— Com você, Shun.

— Pois não, às ordens...

— Aqui fala Kagome Higurashi... Taishō — afirmou, quase se esquecendo de seu nome de casada.

— Eu sei. A esposa do Inuyasha! Conheci sua voz — riu o jovem. A aprendiz de sacerdotisa sorriu também, satisfeita. — Então, minha cara, em que posso ser útil?

A jovem fez uma breve pausa antes de dizer:

— Acha que consigo uma consulta com um clínico geral no hospital da Fundação Graad?

— Opa... Pode deixar comigo!

 

ѼѼѼ

 

Quarenta e cinco minutos mais tarde, Kagome estava se dirigindo com o jovem Amamiya por um corredor comprido e totalmente limpo. Para sua surpresa, o Hospital Kido tinha uma decoração agradável e colorida, que não lembrava muito um ambiente naturalmente sisudo de um hospital. Paredes com pinturas de deuses olimpianos, outras com desenhos notoriamente infantis... Parecia uma escola, de alguma maneira. A jovem esposa de Inuyasha se sentia à vontade.

— Aqui, Taishō-san. Você conhecerá um grande médico, o doutor Shaka Malik — afirmou Shun, lhe abrindo uma porta; um consultório de tamanho médio, com decoração totalmente diferente das demais áreas do hospital que ela tinha visto. A mesa do consultório tinha inúmeras réplicas de Buda, ao passo que as paredes possuíam motivos indianos e uma pintura a óleo enorme de duas árvores grandiosas e idênticas. Colocando a cabeça para dentro da sala, o rapazinho exclamou: — Mestre Shaka, a sua paciente!

— Peça a ela para entrar e se sentar enquanto termino de lavar as mãos — respondeu uma voz anasalada lá de dentro.

Mestre? Ele dá aulas? — indagou Kagome, curiosa. Shun a acomodou gentilmente em uma cadeira.

— Digamos que eu seja um aluno particular... Ele também é um cavaleiro de Athena. Nossas constelações protetoras são regidas pelo mesmo signo, Virgem — sorriu o jovem. — Mas é uma longa história, depois vou explicar tudo. Não se surpreenda muito, ele é realmente um médico, só que não se prende ao ceticismo da medicina moderna. Oh, aí vem ele.

De um banheiro, o indiano chamado Shaka Malik aparecia e vinha, andando despreocupadamente, em direção aos dois. Kagome ficou impressionada, pois estava esperando por um indivíduo idoso e quem estava perante si era um rapaz loiríssimo de olhos azuis profundos, que deveria ter no máximo trinta anos. Shun então os deixou a sós, fazendo uma pequena reverência e fechando a porta atrás de si.

— Desculpe pela demora. Então, Taishō-san, gosta de Buda? — perguntou o jovem médico, vendo o interesse dela pela imagem das árvores.

— Um grande amigo meu é budista. Difícil não olhar para seu consultório e não me lembrar dele, mestre... Digo, doutor Shaka.

— Pode me chamar como quiser — volveu Shaka, com um sorriso minúsculo. — Não precisa ser formal, tenho apenas onze anos de idade a mais do que você.

— Então quero chamá-lo de mestre. É que... O seu olhar... — tentou se explicar a aprendiz de sacerdotisa. — O seu olhar é muito... Ah... Não sei dizer, é como se eu estivesse diante do próprio Buda — afirmou, enrubescendo em seguida. — Desculpe, acho que não fiz muito sentido ao dizer uma bobagem dessas.

— Não é uma bobagem, minha jovem. E não fique se afligindo com o que eu penso a seu respeito. Seja você mesma, busque o equilíbrio. Não se deixe levar pela armadilha do politicamente correto. Não há nada de errado em se dizer o que pensa, desde que saiba dosar suas palavras e que esteja preparada para arcar com as consequências do que diz.

— ... — o queixo da jovem caiu. De fato aquele médico era uma pessoa totalmente diferente de todas que ela já havia conhecido. Teria ele alcançado a iluminação que Miroku vivia buscando? — O-obrigada...

— Pelo que, Taishō-san?

— Pelo conselho. Caiu bem para mim agora — respondeu ela, ainda meio abobada. Shaka a olhou com mansidão e sorriu de novo.

— Então, vamos lá. O que tem acontecido com você?

Longos minutos se passaram enquanto Kagome dizia a Shaka os seus sintomas incômodos, enquanto ele a ouvia pacientemente. Por fim, ele se pronunciou:

— Vamos fazer um hemograma. Você pode estar com anemia e imunidade baixa, e esses sintomas que descreveu são de alguma infecção. Devemos confirmar isso. Não demora a ficar pronto. Pode me acompanhar?

— Sim, claro.

Shaka levou Kagome para uma saleta contígua, onde outro funcionário coletou-lhe o sangue e o levou para análise. O médico indagou se ela queria assistir a televisão que ficava na sala de espera, mas ela recusou, preferindo ouvir dele a história daquelas árvores retratadas no quadro de seu consultório. Com muita satisfação, ele não se fez de rogado e discursou sobre as Árvores Sala-Gêmeas, onde o Siddartha Gautama, o Iluminado, morreu. A aprendiz de sacerdotisa nem percebeu os noventa minutos no aguardo para que os resultados do exame ficassem prontos e fosse entregues ao jovem médico budista.

Kagome observou os olhos azuis percorrendo o papel A4 impresso; Shaka estava com uma expressão indecifrável quando os ergueu da folha para encará-la.

A jovem sentiu que algo não ia bem.

— Err... Mestre Shaka, o que foi?

— Taishō-san, quero que primeiramente contenha sua ansiedade. O que vou lhe dizer agora não é uma notícia boa, mas garanto que faremos de tudo em prol da sua saúde.

O coração da jovem palpitou de nervosismo.

— Por favor, seja direto, Mestre Shaka. Eu... — Kagome sorriu fracamente. — Eu sou forte. Já passei por situações difíceis antes...

— Bem, fico feliz ao saber disso. Você precisa ser forte mesmo, por você e por seu bebê.

O estômago de Kagome pareceu afundar dentro do próprio corpo e ela mal pôde sufocar um gritinho. Shaka adiantou-se e puxou outra cadeira para que se sentasse diante dela, enquanto lhe tomava as mãos frias entre as suas e prosseguia falando com voz suave e ponderada.

— Calma, calma. Você não sabia que estava grávida?

— N-não, não... — soluçou ela, em lamento. Como dizer aquilo para Inuyasha?

Shhh... Calma. Vai ficar tudo bem — afirmou o loiro, vendo Kagome chorar desconsolada. — Sei que é difícil, mas... Veja como um presente dos deuses, você pode gerar uma vida. É um milagre genuíno.

— E-eu estou doente, não é? O que eu t-tenho?

— Uma alteração notável e perigosa em seus leucócitos. Tenho motivos para crer que você está com leucemia. Tenho que pedir uma biópsia de sua medula óssea.

Leucemia...?!

A voz embargada de dor inquiriu:

— M-mas por que eu?! P-por que comigo, M-Mestre Shaka?

— Filha, a vida não é uma pergunta a ser respondida, é um mistério a ser vivido. Adoraria poder ter uma resposta para isso, mas não há o que dizer... E tenha fé. Leucemia é uma palavra que assusta, mas tem tratamento e cura. Poderemos debelar as células cancerígenas de seu organismo, temos ótimos profissionais aqui no Hospital Kido e temos a mais avançada tecnologia no tratamento do câncer.

— Mas o meu... M-meu bebê p-pode resistir ao tratamento... Não pode?!

O loiro respirou fundo antes de responder:

— Infelizmente não posso garantir que seu bebê sobreviva à quimioterapia.

Kagome abraçou o próprio corpo, arrasada, o pranto contínuo inundando seu rosto pálido.

 

ѼѼѼ

 

1 — Kombu é uma alga japonesa usada na culinária, que contém o sabor umami. O sabor umami é quinto sabor básico descoberto em 1908. O umami complementa os outros quatro gostos básicos do paladar humano: amargo, doce, azedo, salgado.

 


Notas Finais


O passarinho do Naraku voltoooou \o/
Só acho que essas mentiras do Miroku e do Inuyasha vão causar problemas... #SoAcho ¬¬'
Infelizmente, é isso mesmo! A Kah está mesmo com câncer e esperando um bebê. :'( #TodasChora T_T Mas haverá esperança? Visto que temos pessoas cheias de novos poderes por todo lado... O que acham?

Link para o grupo "Fics da Okaasan": https://www.facebook.com/groups/254208075030050/

Como estou MESMO com pouco tempo, volto mais tarde para editar estas notas finais. Obrigada a todos vocês leitores, por não desistirem desta fic. *-*

Beijos, lindinhos da Mamãe.
@Okaasan


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