História Wait, What!? - Wait, No.

Uma vez Jean-Jacques Rousseau disse que "De todos os animais, o homem é aquele a quem mais custa viver em rebanho". E ele não podia estar mais certo sobre isso. Eu mesmo sou um exemplo dessa afirmação, simplesmente não gosto de socializar. Gosto do meu mundo, onde vivem apenas as pessoas que eu julgo necessárias viverem comigo. Toda essa palhaçada de popularidade, não serve de nada quando as pessoas ao seu redor não são verdadeiras com você, e acho que foi por conta disso que eu comecei a criar uma antipatia por pessoas sociáveis demais.

Pessoas que gostam de manter a aparência apenas para chamarem a atenção de outras, que precisam de uma plateia para viverem felizes.Tudo isso não passa de uma farsa alimentada pelo ego dos humanos, que imploram para serem superiores. E isso é patético, ao mesmo tempo que é intrigante.

Eu sempre fui uma pessoa reservada e isso me trouxe alguns problemas. Quando era criança, sofria constantes provocações dos meus colegas de classe, e depois de certo tempo desenvolvi um mecanismo de defesa contra eles, que é a observação. Aprendi os observando, qual era a verdadeira personalidade deles, assim descobria seus pontos fortes e fracos e comecei a usar isso ao meu favor para poder levar uma vida tranquila, o que deu certo por um lado, mas que me levou a ser visto pelos outros como alguém frio.

Você deve estar pensando: "nossa, que garoto idiota, antissocial e nerd", e é aí que você se engana. Primeiro que eu não sou idiota; segundo que eu tenho meus amigos - tudo bem que não são muitos -... Tá na verdade são só dois, mas são meus amigos; E nerd... Bom talvez eu seja um pouco sim.

Na verdade a história do nerd é meio que recente. Eu nunca fui de estudar muito, nunca gostei na verdade, até porque na escola só tinha matéria chata que eu odiava. Mas isso mudou drasticamente quando eu entrei para a faculdade para estudar meu tão amado curso de Design Gráfico. Desenhar sempre foi a minha paixão, e digamos que eu virei nerd pelas minhas matérias preferidas - assim fica fácil, não é? -

Não que eu me importe com o que as pessoas pensam sobre mim, mas às vezes me sentia realmente sozinho, tendo na minha bagagem, como eu disse antes, somente duas amizades ao longo da minha vida.

Uma delas eu fiz no ensino médio, o nome dele era Oh Sehun, e ele foi meu amigo e um pouco mais que isso durante três anos. Foi com ele que descobri que gostava de garotos, e foi com ele que dei meu primeiro de poucos beijos e perdi minha virgindade. Também foi com ele que eu cometi as poucas loucuras que eu fiz na vida, uma delas sendo o piercing que até hoje tenho na língua - eu pensei que iria morrer nesse dia, então não recomendo essa dor a ninguém -, e a minha tatuagem abaixo da orelha que é um desenho de um gatinho. Acontece que eu gostei desse jeito meio errado do Sehun, ele não ligava para a opinião de ninguém e fazia sempre o que queria, e eu queria de alguma forma ser que nem ele. Porém, meu histórico de loucuras acabou assim que ele se mudou para os Estados Unidos por causa do trabalho dos pais.

Eu nunca vou esquecer quando ele disse que ia se mudar. Eu praticamente surtei, sugeri que ele morasse comigo, e quando ele negou fiquei sem falar com ele por quase uma semana. Quando eu vi que não tinha o que fazer, voltei atrás e tentei aproveitar a companhia dele o máximo que eu conseguia. Não podia imaginar o que seria de mim sem ele, Sehun sempre foi minha dependência e ficar sem ele era torturante. Nós ainda nos falamos, mas não é mais a mesma coisa, queria ele de volta para receber seus mimos, sua atenção e para escutar sua voz rouca cantando qualquer coisa para mim naquele violão velho. Eu sempre fui muito apegado ao Sehun, confiava nele cegamente e sua companhia me faz muita falta.

O meu segundo amigo é Do Kyungsoo, 23 anos, cursa o quarto período de Letras e ele é meu companheiro de pensamentos. Apesar dele ser agressivo e mau humorado às vezes, somos muito parecidos quando o conceito é estilo de vida, e no fim das contas me apeguei naquela coruja cruel que tem um instinto materno além do normal. Nos conhecemos no primeiro dia de aula na faculdade, eu não ligava de andar sozinho por aí e foi assim que o encontrei, lendo seu livro de literatura sozinho no jardim do campus. A cena foi daquelas estilo filmes de romance mesmo, e eu até já tentei gostar dele, mas ele era tão parecido comigo que simplesmente não dava. Enfim, foi amizade à primeira vista, e mesmo que eu não gostasse de socializar, abri uma exceção àquele garoto, e no final não me arrependi nem um pouco. Pois é, eu tenho um ótimo olhar clínico.

E depois de um ano cursando Design Gráfico naquela faculdade, na mais perfeita ordem, com o melhor amigo que eu podia ter, as coisas começaram a desandar quando os novos calouros entraram, causando grandes dores de cabeça em mim e no Kyungsoo. Sim, todo esse meu mal humor humanista tem nome e sobrenome.

Park Chanyeol, ou Happy Virus como ele é chamado por aí. Infelizmente essa peste é meu calouro no curso de Design Gráfico - meu grande e amado curso. Ele entrou no começo desse ano e eu sabia que não nos daríamos bem no momento que ele aceitou participar do trote, e na segunda semana já era amigo de todos os veteranos, menos eu, é claro. Ele apenas era um garoto chato, sorridente de mais para meu gosto e que era popular pela sua simpatia e seu lado fofo que ganhava o coração de todos, ainda mais com os cachos bagunçados no topo da cabeça. E tudo estaria perfeito se ele ficasse no canto dele, com os "amigos" deles - sintam a ironia -, e não ultrapassasse a linha imaginária que nos separa.

Mas ele não respeitava isso, nunca entendi porque ele insistia tanto em falar com a gente, sendo que tinha qualquer outra pessoa disponível para conversar e passar o tempo, porém era nós que ele mais gostava de perturbar, com suas risadas extravagantes e seu jeito irritante de tentar socializar com a gente, nos seguindo pelos cantos -principalmente na hora do almoço-, tentando puxar conversa com a minha corujinha, que muitas vezes já partia para a violência, depositando tapas pelo braço dele por irritá-lo na hora de alguma leitura. E eu? É isso mesmo, apenas assistia, ignorava e torcia para que aqueles tapas doessem a ponto dele parar de rir, e se tocar que era inconveniente.

Mas isso nunca acontecia, e nos levava a atual situação, onde eu estou ignorando completamente o Park, desenhando no meu caderno, enquanto ele tagarelava alguma coisa sobre suas "férias". Kyungsoo estava começando a perder a paciência, e eu percebia isso pela quantidade de vezes que ele parava de ler seu livro para beber seu café.

"Mas eu tenho certeza que vocês iam gostar, afinal quem não gosta de praia?" Desviei meu olhar para ele, esperando o grande momento que Kyungsoo iria lhe bater, pois estava perto. "Você prefere mar ou rio, Kyungsoo?"

Silêncio.

"Eu acho que prefiro mar, a água salgada é realmente boa", continuou e eu tive que me segurar para não dar um fora nele.

Ele apenas continuou tagarelando e eu vi, quase em câmera lenta, o exato momento que o Soo fechou seu livro irritado e o olhou com aquele olhar assassino que antecede a morte. Eu já estava me preparando para o espetáculo - era nessas horas que eu realmente queria ter uma pipoca ali comigo -, e quando o corujinha levantou, pronto para dar o primeiro tapa naquele poste orelhudo que apenas o olhava com um semblante curioso, foi que ele foi salvo. Sim, uma garota aleatória o chamou nesse exato momento, o fazendo se desculpar e ir até ela.

"Finalmente! Eu estava prestes a bater nele.” Voltou a sentar no banco, suspirando e me fazendo sorrir.

"Você deveria ignorar mais ele", dei de ombros, apagando um traço que tinha saído torto. "Ele acaba implicando mais com você, já que dá corda."

"A culpa não é minha, Baekhyun", estalou a língua irritado. "Não consigo ler meu livro em paz com ele falando no meu ouvido, então perco a paciência."

"Que inconveniente", virei o desenho para Kyungsoo, esperando a aprovação dele.

"Está perfeito como sempre", sorriu terno, bebendo seu café logo em seguida, me fazendo sorrir também, dando uma última olhada no desenho.

"É melhor nós irmos." Fechei meu caderno e guardei minha lapiseira 0,3 e minha borracha no estojo, colocando ambos na mochila enquanto me levantava. "Você não tem Literatura Coreana Moderna agora?"

"Sim, você tem razão", fechou seu livro, o colocando embaixo do braço e imitou meus movimentos.

Saímos do refeitório e eu pude sentir o olhar daquele orelhudo nos acompanhar. Ele realmente era um garoto estranho.

Andamos e conversamos um pouco até chegarmos no prédio 2, e quando estávamos entrando nele, nossa segunda dor de cabeça apareceu, e eu até fiz questão de puxar Kyungsoo mais para o canto, mas o desgraçado foi atrás de nós mesmo assim e esbarrou com tudo no Kyung, fazendo o livro dele cair no chão e indo embora sem ao menos olhar para trás.

Lembra que eu falei que a entrada dos calouros no começo do ano tinha sido a minha dor de cabeça? Então, eu não estava brincando. Esse mau educado que esbarrou em nós é Kim Jongin, calouro de Publicidade que entrou no começo do ano junto com o poste. Ele é bastante popular por possuir uma beleza rara e uma simpatia singular, mas ao contrario do Park que era bastante transparente, o Kim era um total mistério para mim. Ele sempre era simpático com todos naquele campus, mas se transformava quando via eu e meu amigo pelos corredores. Eu não sei qual era o problema dele, mas era só colocar os olhos em nós que seu rosto fechava, e sempre dava um jeito de esbarrar em Kyungsoo para derrubar seus livros, ou apenas para ser um idiota.

Eu não aguentava mais aquilo, então apenas virei muito irritado vendo o garoto continuar a andar sem ao menos pedir desculpas, mas quando eu estava prestes a ir atrás dele -para lhe ensinar uma lição-, a mão pequena do Kyung segurou meu pulso, me impedindo de continuar, me olhando com aqueles olhar cansado.

"Você não pode aceitar isso para sempre, Kyungsoo. Deixa eu pelo menos dizer umas poucas e boas para ele", o olhei, indignado pela sua atitude.

"Não vale a pena, Baek. Apenas esqueça ele."

Pois é, era sempre assim, ele nem ao menos usava alguma palavra ruim para descrever o moreno mau educado. Apenas fechava a cara por alguns minutos, ficando perdido nos próprios pensamentos. Sempre achei aquilo muito estranho, mas Kyungsoo sempre desconversava quando eu perguntava sobre o assunto.

Apenas suspirei fundo tentando manter a calma, e me abaixei para pegar seu livro no chão, enquanto ele seguia com o olhar o moreno. "Toma", atraí a atenção dele para mim, o fazendo pegar o livro e agradecer. "Qual é o problema dele, hein?"

"Não se preocupe com isso", continuou andando, me fazendo ir atrás dele. "Vou ficar por aqui. Essa será a sua última aula também?"

"Não, eu tenho mais duas", lamentei.

"Então eu te vejo amanhã." Sorriu, colocando a mão no meu ombro para me encorajar.

"Sim, até amanhã", acenei vendo-o entrar na sala e sair da minha vista. Suspirei cansado, continuando a andar pelo corredor. Pelo visto o dia seria longo para mim.

Segurava aquele papel em minhas mãos com mais forçado que o necessário, aquilo só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Olhei ao redor tentando entender como aquele bilhete poderia ter ido parar nas minhas coisas, mas as únicas coisas que meus olhos captavam eram alunos arrumando seus materiais e saindo da sala. Eu só tinha ido ao banheiro por alguns minutos, e quando volto me deparo com aquilo.

Olhei mais uma vez para o pedaço de papel, só para ter certeza, e realmente não havia dúvidas. Aquilo não era invenção da minha mente, era real.

"Não saia da sala enquanto eu não chegar, preciso falar com você. - Park Chanyeol" .Aquele garoto só podia estar brincando.

Comecei a arrumar meu material o mais rápido possível, era óbvio que eu não iria obedecer ele, onde já se viu?! Ele achava mesmo que tínhamos aquele nível de intimidade? Eu sempre deixei muito claro toda antipatia que eu sentia por ele, sempre deixei claro que não queria ser seu amigo, nem nada perto daquilo. As aulas do meu quarto período mal começaram e aquele ser já estava me tirando do sério.

Coloquei meu último caderno na mochila, a ajeitando nas costas em seguida e enfim pude andar apressado por entre as fileiras de cadeiras vazias para sair dali o mas rápido possível. Mas como eu nunca fui uma pessoa de sorte, assim que comecei a comemorar por ter chegado até a porta, Park Chanyeol magicamente surge no meu campo de visão, usando todos aqueles dois metros de altura, mal divididos, me impedindo de sair pela porta.

"Você viu meu bilhete, certo?" Perguntou, se escorando no batente da porta.

"Infelizmente", respondi seco, dando alguns passos para trás. "O que você quer comigo?"

"Por que você me odeia tanto,hein?" Perguntou, massageando as têmporas, se desencostando do batente e indo até uma mesa vazia, se sentando ali.

"Porque você insiste em querer falar comigo e com o Kyungsoo?" Rebati acompanhando seus movimentos com os olhos. "Não percebe que estamos bem sozinhos?"

"Esse é o problema", suspirou. "Quero fazer um acordo com você, Baekhyun, e para isso preciso que antes você me prometa que não contará o que vou te contar agora para ninguém."

"E por qual motivo você acha que vou aceitar isso?"

"Porque eu te conheço há meio ano, e eu sei que você é muito curioso para saber que eu tenho uma proposta, mas não ouvi-la.”

Droga, ele tinha razão, mordi meu lábio inferior tentando descontar minha frustração ali. Como ele podia saber desse meu defeito me observando por apenas meio ano? Por trás dos sorrisos exagerados e das covinhas fofas, temos um bom observador e um chantagista, quem diria. Sabia que a personalidade original dele ia aparecer uma hora ou outra.

"Droga, Chanyeol", ele riu do meu estado.

"Vamos Baekhyun, eu sei que você tem curiosidade sobre as pessoas, como elas são de verdade. Não quer saber o meu segredo?"

"Tudo bem", aceitei aquela loucura tentado por suas especulações. Talvez esse garoto seja mais interessante do que eu pensava.

"Jura que não vai contar para ninguém e que vai pensar com carinho na minha proposta?" Fez um bico com os lábios, mostrando seu lado que eu já estava acostumado -o suposto fofo-, e estendeu o dedinho, me mostrando que todo seu lado infantil também estava ali.

"Juro." Cheguei mais perto e entrelacei meu dedo ao dele, me praguejando no minuto seguinte por fazer um pacto tão sério com um garoto chato que eu não gostava.

"Vamos lá então." Passou as mãos grandes em seus cabelos castanhos claros, bagunçando seus cachinhos, me mostrando seu nervosismo. "Eu quero a sua ajuda em uma coisa…"

"Que coisa?"

"Então… o lance é que eu gosto do Kyungsoo", disse de uma vez, deixando aquela sala totalmente em silêncio.

Eu devo ter demorado pelo menos uns três minutos para assimilar o que ele estava dizendo, e depois desse tempo todo a única coisa que eu consegui fazer foi rir, mas rir muito. Eu não era aquele tipo de pessoa que ria de tudo que nem o Chanyeol, mas aquilo era tão engraçado, mas tão engraçado que eu simplesmente não podia acreditar que ele estava falando sério.

"Eu não estou brincando, Baekhyun", desceu de cima da mesa, chegando mais perto de mim, e tentando me amedrontar com toda aquela altura digna de jogador de basquete, o que claramente não deu certo. Bom, no final das contas ele realmente era fofo.

"Não sei se você percebeu, Chanyeol, mas o que você acabou de dizer é algo impossível."

"É aí que você entra, eu quero a sua ajuda para conquistá-lo", mostrou seus dentes brancos para mim como se aquilo fosse a ideia mais brilhante do mundo.

"Você quer que eu traia meu melhor amigo para ajudar VOCÊ em uma causa impossível?" Ri mais uma vez. "Só pode ser brincadeira."

"Não pense nisso como traição, é só uma maneira de ele encontrar a felicidade, ao meu lado, é claro. E outra, eu disse que era um acordo, então você também sairá beneficiado por isso."

"Como assim?" Perguntei curioso, querendo saber aonde esse garoto queria chegar.

"Então, o meu segundo semestre começou agora, e eu tentei pegar as mesmas matérias que você. No caso eu só consegui pegar três, mas já é de grande ajuda... Enfim, eu sei que você é tímido e odeia apresentar trabalhos. É aí que eu entro, todos os trabalhos em dupla que tiver eu vou fazer com você, e não precisa se preocupar com as apresentações, pois eu vou fazê-las."

E eu só queria chorar, sabe quando bate aquela depressão? Era isso que eu estava sentindo no momento. Além de aguentar o orelhudo me perturbando nos intervalos, vou ter que aturar ele nas aulas também, e o pior de tudo é que ele quer me arrastar para esse plano, que com certeza não vai dar certo, e provavelmente vai me perturbar ainda mais se eu disser não. Ou seja, se eu aceitar vou ter que conviver com ele, e se eu recusar também vou ter que conviver com ele. Como diz o ditado, estou entre a cruz e a espada.

"Não sei", lamentei, já conseguindo ver o Baekhyun no futuro reclamar por eu ter que tomar essa decisão.

"Vamos, Baekhyun, nós dois vamos sair ganhando."

Então comecei a pensar no lado positivo da coisa. Pois é, já que não tinha escolha, o melhor a se fazer é isso mesmo. Se ele cumprisse sua promessa, que eu acho bem provável, ele apresentaria alguns de meus trabalhos, o que eu via como uma vantagem, já que eu nunca gostei muito dessa parte. Em troca, daria algumas informações sobre o Kyungsoo, e no máximo daria um jeito de arrumar um encontro, que faria o Kyung dar um fora nele.

"Mesmo que você se declare e ele te dê um fora, você vai ter que apresentar meus trabalhos no final do semestre."

"Não seja tão pessimista assim", reclamou. "Mas não se preocupe, irei apresentar os trabalhos de qualquer jeito", sorriu animado, sabendo que eu ia ceder.

"Tudo bem, então... eu te ajudo, mas não garanto nada."

"Obrigado, Baekhyun", disse animando, vindo em minha direção para me abraçar.

"Nem se atreva", dei um passo para trás, impedindo seu contato.

"Sim, senhor", fez pose de general, rindo logo em seguida.

Era tarde demais para eu me arrepender? Se Kyungsoo sequer desconfiar disso eu estou mais do que ferrado. O legal de toda essa história é que vou ter que aguentar tudo isso sozinho, não vou ter com quem falar mal das loucuras do Chanyeol, e isso é uma droga. Provavelmente vai sobrar pro Bunny, meu gatinho de estimação, mas conhecido como meu psicólogo particular.

"Vamos indo, então?" Olhei assustado para o gigante que me acordou dos meus devaneios. "Essa foi sua última aula, certo?"

"Ah, sim."

Caminhamos até os portões da faculdade, e eu queria muito dizer que foi em silêncio, mas infelizmente não foi. Chanyeol  não calava a boca um minuto sequer, estava falando algo relacionado ao seu plano maluco, e é claro que eu não escutei nada do que ele disse.

Minha mente estava muito ocupada pensando em tudo o que ele havia me dito, e bem, consegui chegar a algumas conclusões depois disso tudo: 1) ele continuava sendo um inconveniente chato; 2) ele é um bom observador; 3) ele só perseguia a gente por causa de Kyungsoo - nota mental de matar o corujinha depois que tudo isso passar-; 4) eu não fazia ideia de como poderia o ajudar;  5) eu sou muito burro por ter aceitado isso.

Desde quando eu virei cupido? Talvez nada disso teria acontecido se eu tivesse prestado mais atenção no orelhudo. É claro, pensando agora, ele deu todos os sinais de que estava gostando do Kyungsoo - sabia que ninguém em santa consciência ria da cara de demônio dele -. Devia ter reparado antes, assim já contaria para ele e ele daria um fora no Chanyeol, e nada disso aconteceria. Mas não, eu tive que ser burro e ignorar aquele duende feliz.

Droga, pare de pensar nisso, Baekhyun, vamos pensar na Wacom Cintiq 24HD, aquela belezinha que te espera em casa, com todas aquelas funções mágicas e todo seu design incrível.

"Hey Baekhyun", senti uma mão quente no meu ombro me fazendo me afastar pelo susto, mas adivinhem, era apenas o Chanyeol. "Você está em que mundo?" Riu, como se me assustar fosse engraçado, tsc. "Nós nos separamos aqui;”

"Ótimo." Olhei em volta, percebendo que já estávamos fora da faculdade, ia voltar a andar, mas é claro que ele não iria me deixar em paz tão fácil assim.

"Espera, me passe o número do seu celular."

"Para que?"

"Para a gente falar do plano, ué."

E eu tive que contar até três para não dar na cara daquele garoto.

"Me dá o seu celular." estendi a mão, esperando ele tirar o aparelho do bolso da calça.

Anotei meu número em seu celular e salvei como "Apenas ligações urgentes". Eu sei que foi meio infantil, mas foi o único modo que pensei para que ele me perturbasse menos.

"Toma", lhe devolvi o celular, e vi a cara confusa dele enquanto mexia no aparelho, provavelmente tentando achar meu nome na agenda e não conseguindo, e eu certamente não iria ficar ali até ele achar.

Apenas virei de costas e voltei ao meu caminho, finalmente teria a minha merecida paz, ou talvez eu pensasse assim antes de meu celular vibrar no meu bolso. Peguei ele e franzi as sobrancelhas ao ver uma ligação de "número desconhecido". Aceitei a chamada na inocência que eu não deveria ter ao se tratar das maluquices do Park.

"Alô", disse receoso.

"Oi, é o Apenas ligações urgentes que fala?" A voz grossa disse, acompanhada de uma risada escandalosa.

É óbvio, só podia ser Chanyeol.

Olhei para trás com raiva, vendo aquele poste parado no mesmo lugar de antes com o celular na orelha, enquanto ria e acenava para mim, fazendo com que seus malditos cachinhos balançasse com o movimento.

"Acho que você não entendeu o recado", disse entre dentes.

Quem visse aquela cena estranha de dois garotos a uma certa distância um do outro, ambos com o celular na orelha se encarando, acharia que somos loucos. Isso é a consequência de começar a falar com Chanyeol.

"Claro que entendi. Eu queria muito ver essa sua carinha irritada, uma coisa extremamente urgente", sorriu largo quando eu fechei mais ainda a minha cara.

Era exatamente aquele tipo de intimidade que eu queria evitar quando o ignorava todas as vezes que ele vinha falar com a gente, e pelo visto aquela atitude vinha de graça no pacote que era ajudar ele a ficar mais próximo de Kyungsoo. Não costumava a ser uma pessoa infantil, mas aqueles malditos cachinhos me tiravam do serio, ainda mais quando vinham com aquele monte de dentes para fora num sorriso escandaloso, e quando eu vi já estava mostrando minha língua para aquele ser irritante, tentando mostrar para ele toda a minha inconformidade. Desliguei a chamada voltando a virar para frente, mas antes de eu começar a andar ouvi aquela voz novamente.

"AMO SEU PIERCING BAEKHYUN", gritou, atraindo não só minha atenção, como a de todos que andavam naquela rua, e droga, todos estavam olhando para mim agora.

Me encolhi dentro do casaco, sentindo minhas bochechas esquentarem com todos aqueles olhares sobre mim, e apressei meus passos tentando a todo custo sair daquela rua. Maldito seja aquele elfo com orelhas gigantes e cachinhos.

Eu já disse que me arrependi?