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História Walking in the wind - Walking in the wind


Escrita por: Sussurrations

Notas do Autor


Boa leitura...!

Capítulo 1 - Walking in the wind


Fanfic / Fanfiction Walking in the wind - Walking in the wind

Kazemaru, em todos estes anos, esta é a primeira vez que venho visitar-te. Acho que finalmente ganhei coragem. Coragem para aceitar a realidade. A realidade em que já não estás mais aqui, ao meu lado. 

Nestes dez anos, muitas pessoas entraram e saíram da minha vida. Umas tentaram ficar mais que outras, outras desistiram quando se aperceberam que não estava realmente ali, com elas, mas tu, tu foste o único que ficou. Ficou e foi-se. Foi-se embora da minha vida, mas ficou em minhas memórias, foste o pior de todos. Tu me deixaste aqui sozinho e não quiseste libertar-me. Libertar-me do que sinto por ti, daquilo vivemos juntos, de nós...  Fizeste pior do que eu fiz a todas essas pessoas.

No início pensei que a dor de te ter perdido para algo tão tramado como o câncer passaria com o tempo. Não desapareceria, mas diminuiria. Diminuiria o suficiente para que eu pudesse seguir em frente, mas não foi exatamente isso que aconteceu, não de todo. 

A dor ainda continua bem vívida, como se tivesse sido cravejada em mim. Impossível de ser retirada ou aplacada. 

Às vezes parece que o tempo parou, é como se ele estivesse a passar tão devagar que chega ser impossível perceber quando ele realmente passa. Cada dia vai ficando tudo cada vez mais silencioso, como se nenhum som do que vivi contigo tivesse realmente existido. Acho que estou a esquecer-me. Acho que estou a esquecer-me do som da tua voz, Ichirouta.

Às vezes tenho a sensação de que se passou tanto tempo... Será que foi há tanto tempo assim? Será que passou-se tanto tempo ao ponto de que, pouco a pouco, eu tenha começado a esquecer-me de ti? Foram apenas dez anos, certo? Dez longos anos. Dez malditos anos sem ti! 

Como tiveste a coragem de partir tão de repente? Como tiveste a coragem de fazê-lo sem nenhum aviso? Tu estavas a melhorar, não estavas? Tu estavas a voltar a viver, não estavas? Estavas a voltar a ser aquele Ichirouta que conheci quando ainda éramos miúdos a destruírem os castelos de areia um do por pura birra, não estavas? Tu tinhas voltado a rir. A rir com vivacidade, já não te doía fazê-lo então, como de uma hora para outra tu já nem sequer respiravas?  Já não olhavas para mim? 

Responde-me, Kazemaru! Responde-me porque eu preciso saber! Preciso ouvi-lo de ti e não de médicos e mais médicos, eu preciso sabê-lo de ti!

Porquê depois de tanto tempo continuas a não responder a nenhuma das minhas perguntas como se não estivesses a ouvi-las? Porquê ainda te manténs neste teu silêncio ensurdecedor? An? 

O teu médico disse que tinhas desisto do tratamento, que imploraste ao teus pais que eles o parassem, é verdade? É verdade que tinhas desistido de lutar, Kazemaru? É verdade que tinhas desistido de viver? Desistido de todos os nossos sonhos, do nosso futuro juntos, de nós? 

Às vezes me pergunto se desististe da fazê-lo depois de eu te ter dito que às vezes não fazia mal ceder. Que às vezes parar de lutar não era sinónimo de desistência, fraqueza, mas sim que era como admitirmos a nós próprios que já tínhamos feito tudo o que estava ao nosso alcance e que dali em diante já não havia mais nada a ser feito, nada  por que lutar. Que já não havia de onde tirar forças para nos mantermos presos à  vida, à este mundo. 

Se foi por isso, pergunto-me como acreditaste nas minhas palavras. Eu estava apenas a tentar ser altruísta, contingente no momento em que mais precisavas de mim, eu sentia-me culpado. Culpado por te ter obrigado a prometer-me que ficarias ao meu lado para sempre, que nunca me deixarias. Para mim era preferível viver sem ti do que ver-te a sofrer por minha causa. 

Naquela noite, uma grande parte de mim e daquilo que eu conhecia como felicidade, morreu juntamente contigo. Porque achas que não consegui ir ao teu enterro? Porque achas que até hoje não consegui despedir-me? Não te quero dizer adeus, não quero enterrar-te a ti e a tudo o que vivemos juntos, não suportaria. Não suportaria aceitar por completo que estás realmente morto, Kazemaru.

Existe uma grande diferença entre saber e aceitar, eu estou preso no meio dessa diferença em relação a tua morte. Eu sei que estás morto, estou completamente ciente disso, posso vê-lo, posso ouvi-lo, posso senti-lo, mas não consigo aceitá-lo. Acho que se eu o tivesse aceito, certamente já teria seguido em frente  muitos anos atrás. Já te teria transformado em apenas lembranças; lembranças da pessoa que mais amei e amarei em toda a minha vida.  Não passarias de muito mais do que promessas de sonhos quebrados, muitos deles. 

Sabes, voltar a andar por esta colina depois tantos anos traz-me dezenas e dezenas de recordações, todo o tipo delas. Fizemos tantas coisas sobre este relvado, tantas juras, tantas promessas, tantos planos... Nem parecíamos simples adolescentes. Talvez não o fôssemos, não amávamos como tal. Amámos muito além do que podíamos ver e sentir, era a nossa forma de amar. Gosto de pensar nela como a mais pura que alguma vez sentirei. 

Este foi o último lugar que visitaste antes de morrer. Obrigaste-me a tirar-te do hospital e trazer-te p'ra aqui naquela manhã. Estavas tão calmo, tão cheio de paz, que era impossível não ficar do mesmo jeito ao ver-te sorrir. 

Sentei-me e observei-te gargalhar enquanto o vento passava de rompante pelo teu corpo, tinhas os braços abertos e os olhos fechados. 

Em meio a sorrisos, dizias que devias ter sido o vento na tua vida passada, e que quando morresses, voltarias a sê-lo. Que te unirias novamente aos teus amigos e voltarias a ser um contador de histórias. Que voltarias a ser livre e te aventurarias por todos os cantos do mundo outra vez, mas que não devia preocupar-me, porque sempre voltarias e aventurar-te-ias em mim, na melhor das aventuras que já viveste. Que depois da tua morte, sempre que eu fechasse os olhos e sentisse o vento tocar o meu corpo, serias tu a dizer que me amavas, que estavas ali e que nunca me abandonarias. 

Eu queria pedir que te calasses porque ambos sabíamos que não morrerias tão em breve, mas o sorriso que me deste quando te voltaste para mim, fez-me calar e sorrir-te de volta. Algo dizia-me para simplesmente aproveitar aquele momento ao teu lado. 

Quando estendeste a mão e eu segurei-a, levantando logo em seguida, tu beijaste-me. Foi o beijo mais calmo e suave que alguma vez me deste. Quando os teus braços circundaram o meu pescoço e aprofundaste o beijo, senti-me a arrepiar por inteiro com o simples toque dos teus dedos na minha nuca. Tu sorriste antes de separar nossas bocas e fitar-me intensamente. Era possível ver o reflexo dos meus próprios olhos nos teus orbes castanhos brilhantes. O teu sorriso largo cada vez mais deslumbrante a medida que me encaravas com mais intensidade.

" Eu amo-te. " sussurraste depois de mais um dos teus silêncios calorosos.

" Eu também te amo. " falei no mesmo tom sorrindo de volta para ti, tu te riste e fechaste os olhos por alguns segundos, teus olhos marejados me encarando assustados. Limpei a lágrima que desceu pelo teu rosto, beijaste-me uma vez mais, outro sorriso em teus lábios. 

" Nunca te esqueças. " deitaste a cabeça no meu ombro, respiraste fundo, de repente o teu corpo cedeu, todo o teu peso sobre mim. Eu conhecia aquela sensação, era o mesmo que acontecia quando desmaiavas. 

Naquele momento, meu coração falhou uma batida e um pesar preencheu o meu peito antes de eu cair em mim e levar-te às pressas de volta para o hospital. Duas horas depois o médico veio até mim e as pais lamentando e dizendo que o teu corpo havia cedido por completo a doença e que não tinhas mais de meio dia de vida. 

Deixei de ouvi-lo naquele instante e passei a observar o teu corpo coberto pelos lençóis azuis do hospital através do vidro das paredes do quarto. Tu ainda tinhas o mesmo ar calmo e pacífico de horas atrás, não parecia que agora estavas definitivamente a morrer. Na minha cabeça, estavas apenas a dormir, um daqueles sonos longos que tinhas e fazias o máximo para manteres. 

Não consegui entrar no quarto naquele momento, não consegui aproximar-me, não queria acordar-te, queria deixar-te dormir pelo tempo que achasses necessário. Fui-me embora pouco depois. Caminhei pelo jardim do hospital, pelas ruas, subi até a nossa Torre... Fiz tudo aquilo e não consegui deixar de pensar que estavas a dormir e que em breve acordarias a reclamar do porquê de te ter deixado dormir tanto mesmo sabendo que não era saudável. 

Quando voltei, a tua mãe estava aos prantos e quando me viu abraçou-me desesperadamente, dizendo que querias falar comigo, que a última coisa que querias fazer, que o teu último pedido tinha sido falar comigo. Quando olhei através do vidro, todos os aparelhos estavam desligados e tu estavas do mesmo jeito em que eu te tinha deixado. Com aquele ar totalmente calmo. 

Voltei a não entrar naquele quarto, voltei a não conseguir passar pela porta deixada aberta pela tua mãe minutos antes.

Todos começaram a perguntar-me do porquê de eu não me ter ido despedir do meu melhor amigo, e eu sempre dava a mesma resposta: Irei mais tarde.  Foi assim durante o primeiro ano depois da tua morte, foi assim até que deixei a cidade, foi assim pelos nove anos seguintes, foi assim até hoje. 

Eu gostaria de poder dizer que nestes dez anos fui capaz de te sentir no vento, de sentir-te a tocar-me, a dizer-me que me amas, mas não fui. Acho que não serei capaz de fazê-lo até aceitar que morreste, até que as minhas visitas ao teu túmulo se tornem anuais, e as flores que depositar se tornem um sinal de adeus. Será que algum dia serei capaz de fazê-lo?

Ha!  Agora que olho para isso, vejo que em todas as vezes que eu dizia que te amaria pelo resto da vida, tu me pedias para amar-te somente pelo resto da tua. Até parece que sabias que te irias embora antes de mim. 

Bem, desculpa mas, acho que nunca realizarei esse desejo teu, porque nunca deixarei de te amar, Ichirouta. Passe o tempo que passar, os ventos que soprarem, mesmo que as minhas memórias de ti apaguem-se para sempre, eu te amarei eternamente. 



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