Cinco dias haviam se passado desde que Newt acordara no hospital. Anastácia tinha aparecido por lá e finalmente pediu perdão ao filho por tudo que havia feito desde que partira, largando a família. Com isso, Newt conseguiu se livrar temporariamente do pai, já que a mãe alugou um pequeno flat perto da escola para que ao menos o garoto pudesse terminar o colegial em paz, até ele decidir se queria ou não se mudar e morar com ela em São Francisco, com sua nova família. Não via Thomas há dias e já estava cansado de apenas trocar mensagens com o namorado. A recomendação médica era de total repouso por no mínimo 1 semana e faltava apenas alguns míseros dias para sair da clausura que sua mãe o mantinha, regado em Coca Cola, guloseimas, filmes, séries e muitas histórias da sua infância em Londres.
Newt e Tommy combinaram que era melhor ficarem afastados, para não estressar Anastácia, que ainda andava confusa após ver Thomas beijar o filho no hospital. Não trocaram uma palavra sobre aquilo enquanto Tasha, apelido carinho que Newt chamava a mãe quando pequeno, contava como tinha sido sua vida após partir de casa.
Newt descobriu que tinha um meio irmão, que em breve conheceria. Fora isso, ignorou a maioria das coisas que a mãe contava, pelo simples fato de estar exausto e farto de ficar longe do seu amor.
Ansioso que só, sabia que mal conseguiria dormir na véspera de voltar para a escola e finalmente sentir os beijos e carinhos de Tommy. Porém, precisava fazer outra coisa mais urgente antes: voltar para a casa do pai e buscar seu material escolar que infelizmente havia ficado por lá. Antes de sair de casa, levou um susto quando a campainha do flat tocou. Anastácia atendeu a porta, chamando pelo filho.
- Newtie, tem visita aqui pra você! – disse apontando para a porta.
Curioso, o loiro correu até a sala com uma pontada de esperança no peito. Ele desejava que fosse seu namorado, mas quando chegou na sala, brecou o corpo com tudo ao notar que era Teresa em pessoa, plantada no meio do cômodo.
- O que você faz aqui, sua traidora? – perguntou grosso, pouco se importando em parecer rude na frente da mãe.
- Precisamos conversar, Newt, por favor! – ela pediu, meio envergonhada.
- Não tenho nada pra falar com você! – cruzou os braços bem impaciente e fazendo uma careta de poucos amigos.
Teresa deu alguns passos na direção dele e vendo a tensão da cena, Tasha pediu licença e retirou-se do local, dando mais privacidade aos dois.
- Newt, desculpe – a morena caiu num pranto sofrido, ficando literalmente de joelhos no chão – Eu fui uma idiota.
- Ah, sim. Você foi sim. A começar pelo Ben – disse zombeteiro – Como fez algo assim com ele? O cara gostava de você, Tess! – protestou.
- Eu... eu não sei – falou chorosa – Eu estava entediada. Meus pais não dão a mínima pra mim. Zart passou a dar em cima, mas não falai nada para o Ben com medo que ele arrebentasse a cara do garoto. E no final eu caguei tudo...
- Cagou mesmo, Teresa. Basta olhar pra mim – mostrou seus machucados ainda aparentes sobre a cútis. A garota suspirou de tristeza.
- Eu juro que não sabia de nada, Newt. Juro que não sabia que Zart queria machucar você. Se soubesse eu nunca teria permitido isso... NUNCA! – gritou a última palavra.
- Mas você ficou com ele! Minho viu tudo! Você beijou o babaca que muito provavelmente fez isso comigo e quase matou a Sonya do coração!
- Eu não fiquei com ele! – resmungou emburrada – Ele tentou me beijar quando Minho viu tudo. Eu nunca beijaria Zart estando com Ben! Mas quem agora vai acreditar na vadia aqui?
- Ainda bem que sabe que é uma! – Newt debochou.
- Me perdoe, Newt. Já está foda demais ter Ben longe de mim. Thomas não olha na minha cara, Brenda me ignora todos os dias e Minho só falta cuspir em mim quando passo por ele nos corredores da escola. Pleaseeeeee! – ela sorriu fraco.
Newt torceu o nariz, mas no fundo ele acreditava em Tess. Não sabia se ele era bonzinho demais ou trouxa demais. Ficou com a primeira opção e lançando um sorriso puro a garota aflita, levantou-a do chão de deu um abraço longo e apertado, que era o que Teresa mais precisava naquela hora.
- Você é tão fodida quanto eu... – o loiro sibilou ao apertar ainda mais seu corpo contra o dela.
- Fodida em partes, né! Continuo virgem, porra! – lamentou.
- Continua assim porque quer! Benjamin daria tudo para ter você, acredite – afastou seu corpo do dela, segurando seu rosto avermelhado com ambas as mãos – Tess, ele largou as drogas por você. Quer prova maior de que o cara te ama?
- Mas ele nunca me disse... – sussurrou abaixando a cabeça.
- Acredite Tessie, ele te ama! Ele só não disse isso ainda. Mas você foi lá e estragou tudo, sua cabeçuda! – deu um tapa fraquinho na cabeça dela.
Teresa riu, mas se animou – Você me ajuda a reconquista-lo?
- Com todo prazer! Mas... – ele disse levantando o dedo em riste, fazendo-a gelar.
- Sempre tem a porra de um "mas" vindo de você!
- Essa é minha marca registrada. Te ajudo se você for comigo até em casa buscar algumas coisas para a aula amanhã. Não quero ir sozinho. Topa?
- Se eu topo? Mas é claro que sim, Newt – e impulsiva, saltou novamente no colo do loiro, desembestando – Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! – disse beijando o rosto do loiro.
Meio relutante, ele afastou ela com gentileza – Tá! Tá! Tá! Me solta. Se meu namorado ver isso ele vai estrangular nós dois – falou sorridente, esperando um ataque da morena.
E o ataque veio. Veio em forma de gritos histéricos e um sambinha engraçado, fazendo Tess remexer o corpo alucinada com a novidade – Você e Tom namorando! Que lindooooo! Quero ser a madrinha!!!!
Bem mais animado, Newt então desencanou de ir de taxi e aceitou a carona com o motorista de Teresa e seguiu rumo a sua antiga casa, com o coração na mão. Era a primeira vez que saia sozinho desde o sequestro e estava inseguro, checando a todo minuto ambos os lados da rua, com medo que alguém ou alguma coisa o machucasse novamente.
Uma leve paranoia. Era assim que definia aquele sentimento.
Desceu do carro desconfiado, mas precisava realmente fazer aquilo e rezava para não ter que encontrar com ninguém em casa, especialmente Gally, que estava na sua lista negra desde o sequestro. Tess deu as mãos para ele, incentivando o amigo a entrar mais confiante no local.
Ao pisar os pés na sala, foi tomado por um sentimento de impotência, repleto de tristeza e melancolia. Inevitável mesmo era recordar dos abusos vividos ali e lógico, deixou seus olhos transbordarem de dor e lágrimas. Tessie abraçou o amigo, beijando sua cabeça – Você consegue! Vamos! – puxou ele pelas mãos.
Newt foi direto para a sala de jantar e pegou a única foto que lhe interessava: ele e a mãe em Londres, visitando o palácio de Buckinham. Depois, partiu direto para seu quarto, dando graças a Deus por não ter uma viva alma por lá para encher seu saco ou machucá-lo.
Pegou alguns livros, cadernos da escola, seus bonecos de filmes e fez questão de desprender da parede a bandeira da Inglaterra que ficava na cabeceira da sua cama. Dobrou ela com cuidado e enfiou na mochila já abarrotada de itens que julgava necessários para enfrentar a vida no flat, até que tudo que era seu fosse empacotado e enviado para lá.
Uma última vez, decidiu entrar no quarto de Gally antes de partir. Ele quase nunca ia lá, mas sentiu necessidade em dar uma averiguada no lugar, como se suspeitasse que o irmão escondia algo importante. Era seu sexto sentido maldito gritando dentro do peito.
- Eu já volto! – disse a garota, que permaneceu em seu quarto, enfiando algumas roupas em duas malas pequenas.
No quarto do irmão, Newt abriu algumas gavetas e encontrou roupas caras, provavelmente compradas com dinheiro dos seus roubos constante pelos bairros mais nobres de Nova Iorque. Achou também maconha e outras drogas que não fazia ideia do que eram, já que ele mesmo nunca havia experimentado nada na vida.
Ao revirar a última gaveta da comoda, algo brilhante e pesado lhe chamou a atenção.
Ao pegar aquilo na mão, teve um Déjà vu. Pensou já ter visto aquilo antes, mas nunca no pulso de Gally e sim no de seu namorado Tommy. Sentiu a barrida doer e queimar, deixando-o com vontade de vomitar, mas sua curiosidade falou mais alto naquele momento, fazendo-o ignorar seu corpo fraquejando.
Ao revirar as roupas, encontrou um relógio idêntico ao que Thomas usava, escondido debaixo de suas malhas de frio. Fitou a peça pensativo, apenas mordendo a parte interna da boca.
Foi instintivo.
Ele sabia, mas não queria admitir aquilo.
E doía. Doía muito mais do que a incessante surra que levara a quase 2 semanas atrás.
Era um relógio de pulso, prata, bem caro. Coisa que Galileu nunca teria dinheiro para comprar.
Newt virou o relógio ao contrário e para sua "surpresa"- porque na verdade, no fundo do seu coração calejado ele já sabia - lá estava gravado tudo que ele nunca desejava ler:
TOB – Eu te amo
Era óbvio demais.
Era dolorido demais.
E TUDO fazia um sentido do caralho.
T - Thomas.
O - O'.
B -Brien.
Thomas O'Brien = TOB.
Thomas Fucking O'Brien!
Como nunca suspeitara daquilo? Thomas e seu irmão, juntos? Era um pesadelo. Por que Tommy nunca lhe contou aquilo? Por que escondeu tudo? Era muito mais fácil dizer a verdade, sempre! Newt nunca iria dispensar o namorado se ele tivesse sido honesto desde o princípio. Então Gally era o maldito cara que fez Thomas sofrer no passado. Era isso? Galileu? Seu irmão? A porra do seu irmão mais velho, escroto elevado a décima potência?
Uma lágrima escorreu de seu rosto, sem pedir licençaa.
Mas agora a coisa era diferente e ele não confiava mais em Thomas. Sentiu o peito queimar, mas prosseguiu.
Enfiou o relógio no bolso, fechou com raiva a gaveta e saiu de casa com a mesma rapidez que excluiu seu pai e seu irmão da sua vida. DE.FI.NI.TI.VA.MEN.TE.
Agora, Thomas?
Thomas era outra história e era exatamente para a casa dele que o motorista de Teresa estava levando Newt aos prantos no banco traseiro, enquanto a morena tentava acalmar o amigo a todo custo.
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