História War Hero - Promessa

Ela estava  em minhas mãos e eu a deixei cair...Culpa não é só o que sinto agora,eu perdi uma amiga,alguém que mesmo conhecendo a poucos meses significou muito para mim.Mais uma vez me sinto vazia,é como uma figurinha repetida,mais uma vez me sinto culpada por meus atos,por perder alguém que eu amo.Faz uma semana que a Gal  faleceu e hoje será o seu enterro.Eu não vou,pois nenhuma mãe merece ver a assassina de sua filha em seu enterro,mas a Yuri vai e com ela os meus pêsames também.Talvez seja apenas covardia minha de não querer ver a família dela,mas também nunca fui boa com enterros,então...

-Taeyeon.-Yuri me chama.A olho pelo espelho,faço um som nasal para que a mesma continue.-Tem certeza que não vai ir?-Yuri pergunta ajeitando a própria gravata.

-Não,minha presença lá só vai piorar a situação...-Digo com um sorriso fraco e vestindo o meu casaco.

-Taeyeon,não foi sua culpa,você sabe disso.-A morena cabisbaixa diz depois de soltar um suspiro pesado.Apenas sorrio fraco.-Aish...Eu sei que você não quer falar sobre isso,eu te entendo,mas fugir não vai te ajudar a superar.-Ela passa as mãos em meus ombros logo depois repousando o queixo sobre o mesmo me abraçando.

-Não estou fugindo,só não quero ir,nunca gostei de velórios,não quero que minha ultima lembrança dela seja em uma caixa apertada.-Ajeito o colarinho da minha blusa,passo meu indicador por minha sobrancelha onde tem um pequeno corte causado provavelmente pela cabeçada que dei no Frank.

-Tudo bem,já que é assim,vai pra onde tão bonita desse jeito?-Ela brinca sorrindo singelo.Eu sei que ela está mal tanto quanto eu,mas pelo menos ela tenta alegrar o clima.

-Dar uma volta,sei lá,pensar um pouco...

-Humm...Volte antes das dez,voltaremos para Benning amanhã pela madrugada.-Ela diz e passa a andar para uma das camas,a sigo com o olhar.-Eu acho que foi pouco...-Ela comenta se jogando em uma das camas.

-O quê?-Pergunto me virando em direção a ela.

-Martins deveria ficar pelo menos trinta anos na cadeia.-Ela diz com certa rispidez na voz decerto revoltada.

-Bom,o que o dinheiro não faz...-Digo entre um suspiro pesado,logo me sento ao lado dela na cama.-Mas pelo menos ele nunca mais vai servir na vida.

-Não é o suficiente,ele tirou uma vida!-A morena se levanta um pouco mais irritada.-Sabe o que é isso Taeyeon?!

-Sei,pois foi eu que a deixei cair,ele só não me ajudou.-Digo me levantando.

-Para com isso Taeyeon!-Ela também se levanta falando alto me assustando.-Se dependesse do Martins vocês duas iriam morrer,foi ele que empurrou a Gal,se você não tivesse a agarrado,nem a chance de ter sobrevivido ela teria.-Yuri segura firme em meus braços me balançando com certa força.

-Eu não vou discutir sobre isso.-Digo me desvencilhando dos braços dela.-Eu vou sair,espero que tudo corra bem lá no velório.-Me dirijo para a porta.

-Tome cuidado...-Ela diz assim que eu abro a porta.

-Certo.

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Depois de sair do quarto que estávamos, tratei de avisar a minha saída para o sargento instrutor Baker,ele assim como muitos ali,tinha um olhar diferente sobre mim,algo parecido com pena,mas um era completamente diferente dos outros...Nessa semana foram poucas as vezes que vi a Tiffany,mas sempre que a via me sentia reconfortada,um dos sentimentos que sinto quando a vejo,engraçado,as vezes parece que conheço-a faz tempo,mesmo que não troquemos muitas palavras e que ela as vezes me dê um certo medo...Enfim,mas não é dela que estou falando e sim do Jonatas,ele,talvez seja o único que vê o que vejo,que vê que eu sou uma assassina.Ele não proferiu uma palavra se quer a mim desde o dia que a Gal morreu,sempre fui ciente que ele e a Gal eram muito ligados,muito mais do que mostravam quando estavam entre nós...Talvez ele nunca vá me perdoar.

Caminho em uma região não muito longe do hotel onde estamos hospedados.Não tenho rumo,eu realmente só quero um tempo para pensar,algo que não consigo em Fort Benning.Parece drama,mas eu realmente me sinto culpada,porque eu sei o que é perder alguém importante e que do dia em diante que a gente a perde nunca mais será a mesma coisa,eu já vivi isso e estou vivendo mais uma vez.Disseram para mim que coisas assim iriam acontecer, que provavelmente perderia muitos companheiros,mas isso não muda a dor da perda,pois nunca é igual e não tem como se acostumar.Laços serão rompidos,vidas serão tomadas,famílias estarão incompletas e nada que fizermos irá mudar esse trágico caminho.Não tive culpa?É o que dizem para mim,porém, eu tive a chance de salvá-la,ela estava em minhas mãos e não consegui segurá-la a tempo,e sei que nada vai mudar isso,nada vai fazer com que eu esqueça as lembranças de seu olhar desesperado, de sua dependência de mim naquele momento e que eu falhei em ajudá-la.Ninguém entende até que simplesmente acontece,até que sentimos na pele,quando não tem como mudar o seu caminho...

Paro em uma praça familiar,sigo pelo caminho de pedra observando o casal que namora sentado na grama,as crianças que brincam com o seu pequeno cachorro,os pais que os observam atentos,até que chego no chafariz inativo encontrado no meio da praça,me escoro no encosto do mesmo.Observo  a água esverdeada mas limpa o suficiente para que eu ainda possa ver minha imagem refletida.Parece que eu acabei de levar um soco,mas acredite,estava bem pior a dois dias atrás.Solto mais um suspiro pesado passando a brincar com a água dedilhando meus dedos por cima dela,deformando o meu reflexo.Olho em volta e resolvo continuar a andar ainda sem rumo.Caminho por alguns minutos até que vejo uma placa de um bar.Parar e beber não seria uma má idéia...

Entro no estabelecimento,o mesmo é organizado,sua cor predominante é azul,metade das paredes é de madeira talhada,dando um ar mais aconchegante no local.A vários quadros com o conteúdo da cultura pop americana pendurados na parede,as atendentes são lindas e convidativas,em outra ocasião, seria talvez uma daquelas paixões que duram apenas uma noite para mim.Me sento em uma cadeira próxima à borda do balcão,uma das atendentes vem ao meu encontro.Ela pergunta o que quero e sendo objetiva peço uma cerveja.Observo as pessoas que entram e saem,são pessoas normais que em um dia frio como hoje só querem esquentar o corpo enquanto tomam uma boa bebida juntos aos seus amigos.Não demora e a moça me da um copo de cerveja,com a mesma rapidez que a moça me entregou a bebida,eu lhe peço outra.

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Um certo tempo se passou e ainda estou no mesmo bar me limitando a tomar apenas cerveja e com os pensamentos tão lerdos que provavelmente já passou mais tempo do que penso.Minha visão ainda pode ser considerada normal,meu corpo também, mas acho que se eu tentar dar alguns pulos vou acabar dando de cara no chão.Não falei muita coisa nesse tempo,porém,confesso que me embolei varias vezes ao tentar pedir alguma coisa para a barman.

-Dia difícil,né?-Levanto minha cabeça procurando com certa lentidão a pessoa que acabara de falar comigo.-Aqui.-Sua risada é rouca e logo percebo quem é a dona da mesma.

-Digamos que sim...-Sorrio fraco para a barman.

-Você não parece ser daqui.-Ela comenta se apoiando em uma das mãos em cima da bancada.

-Não?Eu jurava que as pessoas daqui se vestiam assim.-Brinco olhando para a minha própria roupa.Sorrio um pouco mais largo ao que vejo ela revirar os olhos.

-De onde você é?-Ela pergunta.

-Nova Jersey.

-Nossa,o que faz aqui tão longe de casa?-Ela pergunta surpresa.

-Perdi uma amiga.-Digo um pouco arrastado.Uma coisa que faço muito quando estou bêbeda é desabafar com os estranhos.

-Ooh,meus pêsames...-Ela diz com um sorriso fraco,retribuo do mesmo jeito.

-Tudo bem...Eu deveria estar no enterro dela,mas eu sou tão idiota que não fui!-Digo irritada comigo mesma.Começou...

-Por quê?

-Falta de coragem...-Dou o meu ultimo gole acabando com a cerveja de meu copo.-Mais uma por  favor.-Peço a ela.

-Ela era muito importante para você?-Ela pergunta enchendo o meu copo.

-Acabou sendo.-Digo fazendo um desenho invisível na bancada de madeira do bar.-Sabe,o pior é que eu podia ter salvado ela!Eu só precisava segurá-la por mais alguns segundos!E eu não consegui fazer isso!Ela morreu porque eu a deixei cair!-Bato forte na bancada assustando alguns alheios a conversa.

-Taeyeon.-Uma voz, que poucas vezes escutei em minha vida mas que já está marcada em minha mente,se faz presente no bar.Lentamente viro meu rosto a ela,de duas uma ou eu to fodida,ou eu to fodida.

-T-t-tiffany?-Pergunto embolado.-Você por aqui?-Sorrio de nervoso.Ela é tão linda,até com essa carranca no rosto é maravilhosa...Eu não deveria ter bebido.A morena não diz nada e apenas se aproxima de mim me fitando como sempre faz.

-Vamos embora.-Ela diz autoritária.

-Por quê?Não ta vendo que estou conversando com a barman?-Pergunto apontando para a moça que parece mais confusa que cego em tiroteio.

-Vamos embora Taeyeon.-Sua expressão se torna impaciente.

-Não,tenho até dez da noite para voltar,palavras da Yuri.-Digo convicta.Espero que ela releve minhas palavras porque eu estou visivelmente bêbada.

-A conta por favor.-Tiffany me ignora e pede a conta para a barman.Bunfo de raiva.

-Acha que só porque é minha superiora pode ficar me ignorando quando bem quer...-Resmungo bebendo minha cerveja que logo é tomada de minhas mãos pela a sargento pouca bosta.-Oia,que ousada essa menina!-Digo debochada mesmo com a voz embolada.Que deus tenha piedade de mim.Tiffany me olha incrédula,já eu a ignoro como ela fez comigo.

-Obrigada.-Ela diz assim que recebe a conta.-Jesus...-Tiffany fala ao que olha o valor.Eu ainda não sei o total da conta,mas que bebi eu bebi bastante.Logo em seguida ela tira do bolso sua carteira,tirando da mesma um cartão.

-Pera aí!-Digo me levantando da cadeira.Tiro do meu bolso minha carteira,olho o valor da conta e acabo por engolir em seco.-Eu pedi cerveja ou ouro liquido?-Pergunto incrédula.Lá vai o dinheiro que meu tio me mandou...-Olha moça,só vou pagar esse absurdo porque gostei da sua companhia.-Pisco para ela com um sorriso de canto,ela cora contendo um sorriso e abaixa a cabeça ao que olha para a Tiffany,também a encaro,ela não parece nada feliz.Jogo um beijinho pra ela no ar,a morena arqueia uma das sobrancelhas.Dou o dinheiro para a barman e com um aceno me despeço da mesma.Saio do estabelecimento sem esperar as ordem da senhorita autoridade.

-A onde vai?-Tiffany pergunta segurando em meu pulso.

-Pro hotel.-Digo confusa.Por que diabos ela está agindo assim?!

-Você vem comigo.-Ela diz me arrastando pra não sei a onde.

-Isso é abuso de autoridade!Não ta vendo que eu to de luto?!Vocês poderiam parar de pegar no meu pé por um segundo?!-Ela para de andar e me encara séria.-Tira foto,vai durar mais.-Digo atrevida,ela revira os olhos voltando a andar me fazendo rir soprado.-Seu nome é tão bonito Tiffany que merece um apelido...-Digo pensativa rindo do vento que bate em minha cara.-Que tal Tiff?Humm...Não,muito comum....Fany?Gostei,parece um bom apelido,eu podia chamar meu cachorro assim,mas ele é macho...Então seria Fanyo?Ou Fony?Eu perdi meu fone de ouvido...Você é linda sabia?Aliais,seu nome também,merece um apelido...Que tal Tiff?Ou Fan-

-Da pra ficar quieta?!-Ela pergunta exaltada.

-Sim senhora!-Bato continência com a cara séria mas acabo por rir.-Você é tão engraçada Tiffany.-Bato de leve no ombro dela recebendo uma encarada foda em troca.-Foi mal.-Digo com um sorriso nervoso limpando o ombro de minha superiora.Mal percebo e já estamos ao lado de um carro,um Altima pra ser mais exata.Ela destrava o carro e abre a porta.

-Entra.-Ela diz tão autoritária que não passa nem um momento se quer na minha cabeça a hipótese de eu recusar.Entro no carro e logo em seguida ela faz o mesmo.

-É teu?-Pergunto por perguntar.

-Alugado.-Ela diz dando partida no carro,faço um som nasal em concordância.

-Então,como me encontrou?-Pergunto quando percebo que se dependesse dela não trocaríamos uma palavra se quer.-Melhor,por que veio atrás de mim?-Troco de pergunta,ela nada diz.-Já que tu não quer falar nada,eu posso colocar alguma musica?-Pergunto entediada.

-Que seja.-Ela da de ombros.Ligo a radio do carro,mas parece que não tem nada de interessante passando,então o silencio esmagador acaba voltando.-Por que não foi ao enterro?

-Ham?Aah,não sou boa com velórios...-Digo passando a bater meu dedo no vidro da janela do carro.-Sabe...Eu ainda não consigo acreditar...Quando você pensa que nunca mais vai passar por isso de novo,aí vem o mundo e te da um tapa na cara mostrando que você estava errada.-Digo frustrada.Olho de canto para a Tiffany,ela parece incomodada.

-Hamham-Por que diz isso?-Ela pergunta um pouco rápido demais ou é eu que to muito bêbada pra raciocinar direito.

-É coisa minha,sabe,muito pessoal pra ficar falando para qualquer uma...-Digo voltando a olhar para a janela.Ta,talvez eu tenha falado um pouco grossa demais.Sinto a mão dela repousar em minha coxa,encaro a mesma um pouco assustada.

-Taeyeon...-Ela aperta minha coxa,a encaro com medo.-Eu já perdi muita gente nessa vida,amigos,companheiros,soldados fieis a mim...É sempre doloroso,mas se eu me sentisse culpada a cada pessoa que perdi,hoje eu não estaria aqui na posição que ocupo...-Ela diz enquanto lentamente tira a sua mão da minha coxa voltando-a para o volante.

-Quem disse que me sinto culpada?-Pergunto arqueando uma das sobrancelhas.

-Não precisa mentir,eu sei como é,eu já vivi isso também,mas siga em frente,se não for por você,faça pela sua mãe.-Ela diz com o olhar fixado na estrada.Pera...

-Como sabe da minha mãe?-Pergunto desconfiada e com muito medo.

-S-sua ficha,o estado da sua mãe está constatado lá.-Não me parece verdadeiro.

-Por que tanto interesse em mim?-Pergunto engolindo em seco.O que mais ela sabe sobre mim?

-Você tem futuro Taeyeon,não deixe que uma perda acabe com tudo!-Ela diz tão séria que até me arrepio.Não sei não,não parece ser só isso...Cadê que a gente não chega logo nesse hotel?!

-Yuri também tem,mas você não demonstra tanto interesse nela assim.-Digo me remexendo no assento.

-Sim ela tem,mas no momento estou falando de você,prometa para mim que não vai desistir por causa disso,ok?-Ela me encara por alguns segundos e volta a prestar atenção na estrada.

-Falando assim parece que vai morrer.-Digo debochada fazendo-a rir soprado.

-Eu vou voltar para o meu esquadrão daqui a três dias,quero que você passe por esse treinamento,mas não estarei aqui para observá-la, então prometa pra mim que você irá conseguir.-Ela vai embora?Por que me sinto tão mal por isso?Eu não quero que ela vá...Sua mão mais uma vez repousa em minha coxa.-Prometa.-Ela pede assim que para o carro,observo um pouco mais atenta o local e percebo que chegamos ao hotel.A encaro por longos segundos tentando entender o motivo de tanta preocupação comigo.Seu olhar tem um brilho a mais do que das outras vezes,realmente parece que ela quer isso de corpo e alma,mas também parece ter algo muito além do que apenas o meu futuro promissor.Coloco minha mão sobre a dela,Tiffany fita o contato com certa vibração,segundos depois volta a me encarar.

-Eu prometo.