“ — Pai, acorda! Por favor! – disse sacudindo os ombros do meu pai, que estava caído do chão. – Alguém, por favor, chama uma ambulância! – comecei a chorar. Pessoas que estavam em nossa volta tentavam me consolar, mas nada daquilo adiantava. Quando você vê seu pai, no chão, sangrando, nem uma palavra terá o poder de te fazer se sentir melhor.”
Acordei assustada, sentando na minha cama imediatamente. Fechei os olhos e passei aos mãos no cabelo, apoiando minha cabeça nos meus braços, que estavam apoiados em minhas pernas. Depois de um tempo assim, virei para o lado e peguei meu porta retrato, em que havia uma foto minha e do meu pai, quando eu era bem pequena.
— Sinto sua falta. – passei meus dedos pelo retrato e coloquei de volta no criado mudo. Voltei a deitar e cai no sono novamente.
Acordei novamente com batidas na porta da minha varanda. Olhei para o relógio na mesinha: 5:30 da manhã. Levantei assustada e caminhei lentamente até a porta. Abri uma cortininha e pude ver Miller, meu melhor amigo desde que eu cheguei aqui na Califórnia. Ele estava encostado nas grades da varanda, de braços cruzados. (Imaginem o Miller como o Ezra Miller de cabelo curto, meninas!). Quando ele me viu abrindo a cortina, arqueou as sobrancelhas e deu aquele maldito sorriso de lado sem mostrar os dentes que eu tanto amava. Abri a porta e cruzei os braços.
— Que merda você tá fazendo aqui, Miller? – perguntei e cocei os olhos.
— Bom dia pra você também, Hailee! – ele entrou e fechou a porta. – Vim saber como você tá, já que você mora de frente pra mim e não consegue andar até a varanda pra mandar um sinal de vida. – disse e tirou os sapatos, se jogando na minha cama.
— Eu tô bem! Eu tenho celular, sabia? – disse e deitei na cama de novo.
— Achei que você tivesse engolido, já que você não atende.
— Eu só sumi por dois dias, Miller.
— Hailee, você não pode ficar assim todo ano, nessa data.. – ele disse sentado, olhando pra mim. – Eu sei que hoje faz dois anos desde que seu pai se foi, mas você não pode se isolar do mundo. – não disse nada. Apenas olhei pra ele, que tinha os olhos grudados em mim. – Se tivesse atendido o seu celular, teria ido na festa do Kevin comigo. – ele tirou sua jaqueta e deitou do meu lado. Acho que ele tinha acabado de chegar dessa tal festa.
— Não sou chegada aos seus amigos do time. – dei os ombros.
— Não é chegada agora, né? – ele disse baixo, mas eu escutei.
— O quê? – levantei minha cabeça e olhei pra ele.
— Ah, nada, nada! – ele sorriu e nos cobriu. – Boa noite, Hailee.
— Você não tem casa não? – ri baixo.
— Tenho, mas a sua parecia mais aconchegante no momento. – disse e me abraçou, respirando fundo.
— Aposto que levou um pé na bunda de alguma menina, pra estar com essa carência toda...
— Na verdade, não. Eu estou fazendo um favor pra você. Todos sabem que você me ama e estou realizando o seu maior sonho aqui, abraçado contigo.
— Cala essa boca, Eric Miller. – ri e abracei ele de volta. Era bom ter Eric comigo. Não somos namorados. Já sentimos atração um pelo outro e já ficamos algumas vezes há uns anos atrás, mas hoje não mais. Somos apenas grandes melhores amigos. Eu vivo dormindo na casa dele e ele na minha. Toda minha família já o conhece! É bom ter alguém assim! Miller joga no time de futebol da escola e eu achei que ele era um babaca quando cheguei na escola. Ele tinha cara! Mas eu me enganei feio! Miller foi meu primeiro amigo naquela escola, me ajudou a me entrosar e todas essas coisas! Sempre me ajudou muito, com tudo.
Segunda-feira, 6:30 da manhã.
Acordei, de novo. Dessa vez foi com o meu despertador. Olhei pro lado e Eric já não estava mais lá. Deve ter ido pra casa! Levantei e fui direto pro banheiro. Fiz tudo que tinha que fazer, tomei meu banho e me vesti pra mais um dia na escola. Calça jeans, um casaco porque estava frio e meu tênis. Penteei meu cabelo e desci, pegando minha mochila perto da porta.
— Bom dia, mãe. – disse e me sentei na cozinha.
— Bom dia, filha. – ela sorriu pra mim. – Está melhor? – serviu café em uma xícara pra nós duas.
— Estou indo. – dei os ombros e tomei meu café. Fiquei conversando mais um pouco com minha mãe e olhei no relógio: 7:10. – Preciso ir, mãe! – dei um beijo em sua bochecha e sai de casa. Atravessei a rua e bati na porta do Miller.
“Já estou descendo!“ escutei ele gritando. Sentei no meio fio e fiquei esperando, respondendo umas mensagens no WhatsApp.
— Vamos, donzela? – escutei uma voz grossa atrás de mim.
— Vamos, querido! – estiquei minhas mãos e ele me ajudou a levantar. – Nem me avisou quando fugiu da minha casa hoje.
— Você estava tão bonitinha dormindo, não quis te acordar. E outra: se eu te acordasse de novo, quem não iria mais acordar seria eu. – ele disse e eu gargalhei.
— Então foi mais pela segunda opção?
— Talvez. – disse e riu pelo nariz, recebendo um "idiota" meu logo em seguida. – Ficou sabendo que hoje vão chegar uns alunos novos?
— Não! Sério isso?
— Sim. Se tivesse ido a festa do Kevin comigo, saberia disso... – disse sacudindo a cabeça. Revirei os olhos e ele riu. – Vão vir da Austrália! Legal né? Espero que não sejam uns idiotas.
— "Idiotas" que nem você? – perguntei e ele riu.
— Eu sou um idiota diferente! – concordei e fomos andando até a escola.
Chegamos e a escola estava um alvoroço pelos alunos novos. Passamos por algumas meninas e eu quase chamei os bombeiros, porque estava quase ocorrendo um incêndio. Não disse onde. Algumas meninas ainda me olhavam torto por eu estar sempre com Miller. Ele era bonito e várias meninas eram afim dele.
Entramos na escola e eu fui direto pro meu armário. Eric foi com os amigos dele do time pra algum lugar. Enquanto eu guardava minhas coisas, algumas pessoas passavam e falavam comigo. Peguei meu material e fui pra primeira aula: história. Quer mais chato que isso? Matemática depois. Mais chato que isso? Química.
Entrei na sala e sentei no mesmo lugar de sempre: no fundo. Enquanto a professora explicava alguma coisa, senti alguém me olhando. Olhei para o outro lado e vi um menino moreno, que parece um asiático, me olhando. Assim que ele me viu olhando pra ele, arqueou a sobrancelha e sorriu. Mas não era um sorriso comum, era um sorriso com malícia. Ignorei e voltei minha atenção a professora. Meus olhos estavam nela, mas minha mente estava naquele garoto.
As aulas torturantes acabaram e eu fui direto para as arquibancadas nos fundos do colégio com uma das minhas amigas, Nicole. Nos sentamos e ela começou a tagarelar.
— Você viu quanta gente linda veio lá da Austrália, menina? – ela disse impressionada. – Se eu soubesse que lá tinha tanta gente linda, já teria ido morar lá há tempos. – rimos.
— Sossega esse rabo, Nicole!
— Eu já tô de olho em um... – ela colocou a mão na testa por conta do sol, tentando achar alguém. Sacudi a cabeça e revirei os olhos. – ALI! – ela praticamente gritou e depois sacudiu meu braço.
— Ai, maluca! – me soltei das mãos dela. – Onde? Quem?
— Na sua frente! Aquele loirinho! – ela disse tentando apontar de uma forma discreta, o que era engraçado.
Olhei pra frente e vi aquele menino que estava me encarando na aula. Ele estava distraído, rindo, com mais 3 meninos. Comecei a encarar ele e pensar o por que dele ficar me encarando nas aulas. Um menino de cabelo platinado percebeu que eu estava olhando, cutucou o tal menino e ele olhou pra mim, com o mesmo sorriso. Arqueei minha sobrancelha pra ele e ele fez o mesmo, juntando as mãos e apoiando os braços nas pernas, chegando mais pra frente. Ficamos naquele estado por um tempo, até Nicole me sacudir e gritar no meu ouvido.
— Ai, Nicole! Isso machuca sabia? – disse passando a mão no braço.
— Ah, desculpa! Eu tô te chamando aí e você parece que tá fora desse corpo! Viu o menino que eu falei?
— Tem dois loiros, Nic. – disse e cruzei os braços, encostando no banco de trás.
— O que tem piercing no lábio, Hailee. – ela sorriu animada.
— Você conseguiu enxergar um piercing daqui? – disse e cerrei os olhos, tentando enxergar.
— Não né, louca?! Eu já passei perto dele hoje e acidentalmente derrubei meus livros perto dele. Ele me ajudou a juntar tudo e provavelmente está muito encantado com meu charme. – ela disse jogando o cabelo e eu ri.
— Seu charme? É porque ele ainda não te escutou arrotando. – disse e ela me olhou assustada.
— Hailee!! – ela me repreendeu. – Isso é coisa que se fale de mim?
— É apenas a verdade, Nicole! – ri mais ainda.
O tempo foi passando e às vezes eu sentia aquele menino me olhar, às vezes eu olhava pra ele. Não podia negar que ele é lindo. O sinal do intervalo tocou e precisamos voltar paras as aulas. O resto do dia na escola foi bem chato. As aulas acabaram e, como eu sempre ia embora com Miller, precisava esperar ele. Ele sempre saía meia hora depois, porque é um ano superior. Sentei no corrimão da escada da entrada da escola e fiquei ali esperando. Estava tudo muito tranquilo, até eu escutar uma voz atrás de mim.
— Ficou aqui esperando pra me ver?
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