A chuva forte que surgiu naquele fim de tarde a pegou de surpresa, tornando-se mais uma forte razão para que odiasse aquele dia.
Juvia detestava a chuva. Ela sempre aparecia nas situações mais deprimentes de sua vida e adicionava uma melancolia desnecessária à ocasião já dolorosa, como se concretizasse uma ominosa maldição. No entanto, mesmo que a abominasse, não poderia negar que era durante aquelas horas que a chuva se tornava sua melhor amiga; constantemente silenciosa enquanto solidária à sua angústia corrosiva.
E daquela vez não poderia ser diferente.
Lockser sentia-se péssima. Ouvir seu atual ex-namorado dizer em voz alta, na cafeteria onde teriam se encontrado há uma hora, que era insuportável permanecer ao lado de alguém tão paranoica e que não a aguentava mais, antes de anunciar o fim do romance de um ano e meio, caracterizou o momento mais infeliz e humilhante da sua existência.
Ele era um imbecil, tinha certeza disso. Todavia, Juvia se sentia uma imbecil maior ainda.
Provavelmente, a culpa de tudo era sua, afinal, havia confiado cegamente no sentimento puro que a possuiu e relacionou-se com o homem que, após o instante altamente rude e constrangedor, a fez se retirar chorando do local em meio aos pingos iniciais da velha conhecida que a obrigou a se abrigar embaixo do toldo de um pequeno ponto de ônibus vazio assim que se intensificou.
A jovem cruzou os braços e se retraiu, desejando defender-se do súbito vento frio que revolveu seus cabelos azulados e a tornou o alvo de inúmeras gotas, fazendo com que a proteção do humilde teto fosse considerada inútil por breves segundos. Passou os dedos sob os olhos ao se recompor da rápida ventania, enxugando as lágrimas de raiva e tristeza que teimaram a voltar a escorrer por seu rosto e respirou fundo, procurando se acalmar.
Estava decidida a mudar.
Ela não aturaria mais se enquadrar em tal circunstância.
Aquela seria a última vez que choraria por alguém que destruiu seu frágil coração.
Aquela seria, principalmente, a última vez que seus sentimentos teriam um dono.
Juvia Lockser nunca mais tornaria a se apaixonar.
— Oe — de repente, um rapaz chamou sua atenção.
A mulher entristecida voltou-se na direção dele, preservando o semblante irritado que gritava para todos ao seu redor manterem-se afastados. No entanto, assim que o observou, os traços de sua face relaxaram e um rubor sutil carminou suas bochechas pálidas.
— Parece que você está congelando... — o homem pouco molhado pela chuva e parado próximo a si reparou, mirando-a nos olhos e fazendo seu peito ser incomodado pela dor inesperada de uma flechada impiedosa.
Lockser voltou o rosto para frente e inclinou o olhar para baixo, esfregando os braços compulsivamente conforme sentia seu coração acelerar, sua garganta ressecar e as maçãs de seu rosto começarem a queimar. Ele retirou o casaco masculino longo que trajava, conservando uma expressão séria, porém, encantadoramente calma.
— Use isso — falou estendendo o traje cinza e levemente úmido para ela —, você está precisando mais do que eu.
Juvia o segurou receosa e o vestiu devagar, apaziguando-se com o calor reconfortante proporcionado indiretamente pelo corpo daquele rapaz.
— Obrigada... — agradeceu-o baixo, deixando um tímido sorriso brotar em seus lábios.
O som repentino de uma buzina aguda ressoou, e depois viu-se um carro parar poucos metros à frente do lugar onde se abrigavam antes de escutar um tal de “Gray” ser chamado com insistência pelas pessoas que o ocupavam. O homem ao seu lado não demorou andar com pressa rumo ao veículo e adentrá-lo, deixando-a novamente sozinha.
Seu sorriso subitamente aumentou, dando um leve destaque às suas bochechas rosadas após observar o caminho pelo qual o carro rapidamente continuou a seguir.
— Gray, não é?... — questionou-se ao abraçar-se outra vez para aproveitar a adorável sensação morna que a aquecia e a protegia dos ventos quase gélidos que tornaram a acompanhar o temporal.
Talvez aquele ainda não fosse o momento para Juvia desistir do amor.
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