Acabei esperando do lado de fora do ônibus, enquanto outras entravam no automóvel em fila indiana. Sentia-me culpada de certa forma por ter deixado o Tsukasan para trás, então não poderia simplesmente sentar naquela droga de banco e quem sabe dormir. Decidi sentar no chão arenoso apoiando as costas na lataria do ônibus. O móvel balançava e era possível escutar risadas e brincadeiras. Que nojo dessas pessoas... Nem se importam com um colega de classe que sumiu na mata e pode nem voltar mais. Nojo! Nojo! Senti alguma coisa mexer em meus cabelos no topo da cabeça. Rapidamente fui para frente e olhei para trás e para cima. Vi Kai debruçado na janela do ônibus com um dos braços para fora da mesma.
— Por que você não entra? A galera está brincando de vôlei com uma bolinha de papel.
Eu o fitei, séria.
— O Tsukasan está preso naquela floresta e vocês todos estão brincando de vôlei com uma bolinha de papel? Vocês me enojam — fiz uma careta de desgosto.
— Ora, ora, Tamiko-chan... Você me prometeu que iria se enturmar mais, lembra? — ele lançou um sorriso para mim com olhos carinhosos.
Hesitei.
— Prometi. Porém agora não é hora de brincadeiras.
Antes que Kai dissesse ou fizesse algo, após uns quinze a vinte minutos, quando o sol já estava se ponto no horizonte daquele lugar, vejo barulho de passos e logo em seguida a equipe de resgate sai do meio da floresta densa levando pelo ombro o Mamoru. Levantei-me por completo batendo com as mãos na minha calça para tirar a terra arenosa e corri até ele.
— Tsukasan!... — eu admito: queria chorar. Mas segurei firme. — Você está bem?...
— O garoto aqui está em ótimas condições — disse um dos guardas, cuja aparência era jovial e bem bonita.
— Onde você estava?!
— A-ah... — comentou Mamoru. — Acabei fugindo do local onde você é o Ryoutaro-san mandou que eu ficasse porque comecei a escutar passos e gritaria como “O que você está fazendo aqui?!”. Fiquei com medo... — o vi abaixar os olhos e suas bochechas ruborizarem levemente naquela pele branca e delicada.
— Já enviamos os guardas florestais das quatro regiões mais próximas investigarem o local. Para ver se está tudo O.K.
— Dentro da mata há uma casa... e dentro dela — eu acabei interrompendo-me. Como se algo dentro de mim estivesse a me impedir de continuar a falar. Fiquei calada.
O homem olhou para mim confuso e, com um suspiro rápido, continuou:
— Quem realmente nos ajudou a encontrar fora aquela garotinha ali que estava voltando da trilha. Creio eu que é da sala de vocês.
Ele apontou em direção à garota. Era a Nanami. Nanami Youkatsu. Uma garota magra com estatura baixa. Vestia um short, sandálias em seus pés com unhas pintadas de rosa e blusa regata com uma jaqueta leve por cima. Seus cabelos levemente louros estavam soltos, deixando os cachos caírem aos ombros. Parecia uma boneca... Mas eu ainda não conseguia lembrar de que turma ou ano era.
Ela conversava com o professor e despedia-se da equipe. Ela nos notou olhando para ela e, com um grande sorriso largo e radiante, acenou para nós fechando os belos olhos azuis quase lilás com aqueles enormes cílios com maquiagem. Não a conhecia direito, mas por fora, parecia ser uma garota riquinha metidinha à besta que pensa apenas em garotos e maquiagem. Aproximou de nós e logo senti um cheiro muito bom e doce de perfume de gardênia.
— Nanami-chan! Agradecemos muito por ter ajudado na busca — disse o guarda.
— Não foi nada. Só estava passando por lá e o encontrei vagando sozinho. — Sua voz era calma, baixa e doce. Tinha uma pureza encantadora em seu timbre. Ela olhou para o Mamo-chan e sorriu.
— Ah, ainda agradeço por ter me encontrado — disse Tsukasan um tanto tímido.
— Pronto! — Gritou o professor já ao lado da porta do ônibus. — Vamos voltar para a escola!
— Certo. Vemo-nos no colégio, então. Até mais, Mamo-kun — ela sorriu e correu para o segundo ônibus. Analisei e notei que era o ônibus do segundo ano. Hmm... uma kouhai, então.
Despedimo-nos do guarda e caminhamos de volta para o ônibus. No caminho eu cutuquei Mamoru e comentei:
— Você me deu um grande susto, rapaz.
Ele olhou para mim, corado e com uma expressão de surpresa.
— D-Desculpe-me! — Ele fitou o chão.
— Ah, mas ainda bem que não aconteceu nada... Ah! Verdade! — disse já trocando de assunto. — Por acaso você viu algum estranho aproximando da casa em que entramos?
— Ah, não... eu acabei fugindo ao escutar passos e a voz gritando.
— Mas você acha que algum louco realmente mora lá?
— Talvez... Eu que não fico para ver — eu ri, fazendo-o rir meio sem jeito também.
Subimos no ônibus e notei que Kai estava na fileira do meio sentado com a perna esquerda em cima de um banco. Ao ele ter me visto, tirou a perna e fez sinal para eu sentar ao seu lado. Ao lembrar que ele estava brincando enquanto Tsukasa estava perdido, fez-me ficar com raiva. Passei por ele empinando o nariz e decidi sentar com o Mamoru, que passou a viajem toda de cabeça baixa e muito quieto. Notava às vezes Kai olhando para trás, fitando-me. Depois voltava a olhar para a janela à sua direita. Acabei caindo no sono.
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