História Watching You - Bônus: O Hábito Que Nos Uniu (Parte 2)

 

 

Sério, agora? Bem quando tomo coragem de verdade, Deus me manda essa peste pra me impedir? Ótimo. 

Não, perfeito. 

Mesmo. 

Aonde está o Yoongi? 

— Nada, eu... Eu já vou, eu só preciso, hm... — tá, eu tenho que parar de reclamar do Hoseok, porque improvisar desculpas é difícil pra caralho. 

— Você só precisa...? — ele me olhou, esperando uma continuação com a sobrancelha erguida. 

Abri a boca e fechei no mesmo instante. É tão errado ele estar aqui, tão desconfortável. Eu só quero fazer isso sem que ninguém veja, sabe. Eu sinto que isso é algo pelo qual eu tenho que passar sozinho, não com espectadores, especialmente ele, que sente algo por mim. 

— Jungkook. — disse, não acreditando no tom sério que saiu da minha boca. — Vai pra casa. 

Ele riu forçadamente. 

— Você vai falar com ele, não vai? — minha cara de surpresa deve ter evidenciado tudo. — Eu sabia. Jimin, você tem que desistir desse cara, você sabe que não tem chance. 

Não era para doer tanto, mas doeu. E eu sei muito bem disso, sei das minhas chances, mas ouvir em alto e bom som parece destruir praticamente tudo, e torna mais real. 

— O que você pode dizer sobre isso? — murmurei, bravo. — E o que eu tenho a perder se tentar? Eu não tenho como saber, se não falar com ele. 

Olhei para o alto da escada, esperando a qualquer momento Yoongi aparecer ali. Deus, por que ele demora tanto? 

Jungkook se aproximou com passos pequenos.

— O que eu posso dizer? Eu vejo. Todo mundo vê, Jimin. Min Yoongi não pertence a ninguém aqui, e você sabe disso. — mordi os lábios. — Sabe quem tem chances com ele? Jongin, porque eles são amigos. Você já conversou com ele alguma vez, Jimin? Por que ele aceitaria a sua confissão, sendo que vocês só trocaram duas palavras a vida toda? — eu olhava para o chão, porque não conseguia encará-lo. Jungkook simplesmente jogava as verdades na minha cara. E como eu posso revidar, se dentro de mim estou concordando com ele?

Olho de novo para a escada, mas ninguém está ali. 

Só mais um pouco, só espera mais um pouco. 

— Por favor, Jungkook... Não estraga, sério. — pedi, mas pelo olhar dele, eu sei que ele não vai parar até que eu desista. Pior é que ele está quase conseguindo. 

— Nós, antes de tudo, somos amigos Jimin. — desviei o olhar dele do meu, quando sua mão acariciou minha bochecha. Engoli à seco. Perto demais. — Não quero ver você machucado, é por isso que estou fazendo isso. — suspirou. 

— Não, eu não... Eu tenho que tentar, pelo menos uma vez. — o olhei desesperado. — Me deixa fazer isso sozinho, por favor. Se não der certo — soltei uma risada seca, é claro que não vai dar certo. — Bom, então acabou. Eu não irei continuar com isso e vou tocar a minha vida. Eu prometo. Mas não me impeça de falar com ele. 

— Você não entende, não é? — Jungkook me pegou de leve pelos braços, e disse baixo e assustador: — Não vai dar certo. 

Empurrei ele, mas Jungkook não me largou. 

A escada ainda está vazia, tirando nós dois. Yoongi, cadê você? 

— Agora você é vidente pra saber do futuro? — ri seco. — Eu tô falando sério Jungkook, vai embora. 

— E deixar você aqui? — ele chegou mais perto. Ok, isso já está passando do limites. Suas mãos ainda estão nos meus braços. — Sem chance. Jimin, me escuta, só dessa vez. Eu juro, por tudo o que você quiser, que se você me escolher... Eu vou fazer você esquecê-lo, eu prometo que ter farei feliz todos os dias, é só você me dar uma chance. Uma única chance e você não vai se arrepender. 

Olhei pra ele chocado. 

Ele está falando sério. 

Deus, ele está totalmente sério. 

Não consigo abrir minha boca pra dizer alguma coisa, não consigo nem mexer a cabeça em uma afirmação ou negação. Eu estou confuso. Minha cabeça está dando voltas e mais voltas. Eu tinha certeza do que iria fazer, mas agora... Estou no escuro, totalmente perdido. 

Jungkook aproxima a cabeça dele da minha, e sei que vai me beijar. Olho para escada, e ele não está lá. Yoongi não está lá em cima. E quero chorar, porque dentro de mim, eu sentia que ele iria aparecer ali a qualquer instante. 

Quer dizer, era para ser assim, não era? 

Mas é Jungkook que está aqui. Na verdade, ele sempre esteve. E quando ele me beija, eu... Fecho os olhos. 

Eu não sei. Não sei por que estou fazendo isso. Não sei por que não estou o afastando, como eu deveria fazer. Não sei por que ponho minhas mãos em seu ombro e deixo ele me abraçar pela cintura. 

Tento esquecer tudo. Está tudo bem ser Jungkook quem está aqui comigo. É assim que deve ser. Isso é bom. Ele não está me forçando a nada, eu estou beijando-o porque quero. 

Eu quero? 

Tap. 

Sim Jimin, você quer. É o certo. Passo minhas mãos pelo seu pescoço, o aproximando. Jungkook aprofunda o beijo, e o contato é um pouco desesperado, como se ele esperasse por isso há anos. E eu? Eu só retribuo do jeito que posso. Beijar ele é bom. Isso. É sim. É o certo. Eu deveria ter feito isso há tempos, quer dizer, Jungkook é perfeito. 

Tap. 

É carismático, inteligente, bonito. Além disso, somos amigos e ele nunca me magoaria. Talvez no fundo, é isso que eu quero. Alguém para me abraçar e me entender, assim como ele está fazendo agora. Do jeito que ele está fazendo, me consolando, sendo o meu apoio. Não tem problema eu já conhecê-lo dos pés à cabeça. Se eu o namorasse, seria algo totalmente diferente. 

Tap. 

Não é como Yoongi, que eu nunca conversei. Que eu não sei do que ele gosta e desgosta. Que parece ser uma coisa totalmente diferente do que aparenta. Que é tão bonito, que consigo olhar pra ele o dia inteiro sem me cansar. Que é uma fortaleza que me atrai. Que não é meu amigo, mas que se tivéssemos alguma coisa, poderíamos ser. Que parece  ser o cara perfeito. Que aparenta beijar tão bem. 

Suspiro. 

Eu- 

Tap. 

Abro os olhos com o som irritante borbulhando nos meus ouvidos e vejo uma pessoa dando as costas pra mim e Jungkook. E eu poderia reconhecer aquela figura até mesmo no escuro. 

Yoongi, que desceu as escadas. 

Ele desceu as escadas. 

Ele nos viu. 

Ele se distancia cada vez mais de nós. De mim. O que eu... ? 

Arregalo os olhos. 

Empurro Jungkook tão forte que ele cai no chão com um som estridente. 

Ele me olha chocado e ao mesmo tempo irritado, mas ignoro. Ignoro completamente, porque que merda eu estava fazendo? 

Yoongi... Yoongi nos viu, agora ele acha... Ah meu Deus, ele acha que eu e Jungkook... Não consigo nem completar o meu pensamento. 

Não, não, não. Errado. Isso é errado. Beijar meu amigo, sabendo que não sinto nada por ele é errado. Tentar me enganar, achando que isso é o certo, que é o ideal. É muito errado. 

Parece que uma pessoa bateu na minha cabeça e me trouxe à vida novamente. A culpa me invade violentamente quando saio da escola correndo, deixando Jungkook no chão sem nenhuma explicação. 

Assim que chego na rua olhos para todos os lados, mas ele não está lá. Merda, ele não está em lugar nenhum! 

Puxo os meus cabelos, quase sentindo minha cabeça se partir em dois. O que foi que eu fiz? Não acredito. 

Eu sou tão estúpido. Idiota, mil vezes idiota. 

Antes que Jungkook viesse até mim, fui pra casa. Especificamente, meu corpo foi. Minha cabeça estava avoada demais para prestar atenção nas coisas, e eu nem sei como cheguei inteiro. 

Ah, me odeio. 

Não era pra ser assim. Não era. 

~*~

 

 

Uma semana. Ele não veio por uma semana. 

Quero sair distribuindo folhetos de desaparecido pela escola, porque até Hoseok, que é o seu amigo, não sabe nada dele há dias. Quero ir até a casa dele. Quero pegar o seu número com um de seus amigos e ligar pra ele até a bateria do meu celular acabar. Mas sei que não posso. Sei que o máximo que está ao meu alcance é perguntar sobre ele para o Hobi, e mesmo isso parece insuficiente. 

Hoje é segunda, e ele finalmente está aqui. No entanto, ninguém sabe o que aconteceu com Yoongi. Hoseok diz que tem um palpite, mas ele não quis me contar, mesmo eu quase implorando. 

Estou no intervalo, falando com várias pessoas junto com Hoseok, mas minha mente só consegue pensar em Yoongi e Jongin sentados ali do lado, se abraçando e falando coisas que nem consigo imaginar o que seja. Jongin com certeza deve saber do problema dele. É claro, são melhores amigos. 

Yoongi está muito pra baixo. Quer dizer, é a primeira vez que o vejo desse jeito, como se algo grande estivesse o atormentando. Quero tanto conforta-lo como Kai está fazendo. Quero muito perguntar "o que houve? Você sabe que pode me contar tudo. É algum problema na sua casa? Com seus pais? Você está se sentindo mal?", ou talvez só oferecer meu ombro amigo e lhe dizer que tudo ficará bem, independente do problema que esteja o sobrecarregando. 

Vejo Jongin se levantar pelos cantos dos olhos, e vejo também ele arrastar Yoongi consigo. Onde eles estão indo? Será que é muito idiota da minha parte seguir eles? Não sei o que é, mas sinto que devo ir atrás deles. Minha nuca está coçando muito, e meus pés estão formigando para ir atrás deles. Mas o que eu posso fazer? Minhas chances de me aproximar já foram detonadas quando Yoongi viu o beijo entre eu e Jungkook. Aliás, Jungkook está agindo como se nada tivesse acontecido, mas acho que parte dele se sente culpada e foi por isso que ele não anda tanto atrás de mim como antes. 

— Você viu? — Hoseok sussurrou pra mim. — Acho que deveríamos ver pra onde eles foram. 

— Será? — sussurro de volta, rindo por dentro e agradecendo por Hobi ter pensado a mesma coisa que eu. Mas ao contrário dele, sou muito tímido para expor essas ideias. 

Acenamos a cabeça e nos despedimos das pessoas com quem estávamos falando. Depois, saímos correndo atrás dos dois. Agradeço muito Hoseok por sempre estar enfiado nessas merdas junto comigo, porque pior que fazer idiotices com um amigo, é fazer isso sozinho. Pelo menos com um amigo, você pode dividir a experiência e rir junto com ele depois.

Seguimos Jongin e Yoongi discretamente e vimos eles entrando na enfermaria. Pensei que Yoongi estava tendo outra crise, mas lembrei que a enfermeira estava de folga e que o lugar estava vazio. Os dois estão sozinhos. Então, quer dizer que ou eles querem ficar à sós para conversar, ou talvez quem sabe... Para se pegar. Olhei questionador para Hoseok, mas ele só deu de ombros, não sabendo de nada também. Nos aproximamos devagar e sem fazer barulho, encostando suavemente na porta fechada, tentando de alguma forma escutar a conversa que eles vão ter. Estou me sentindo meio idiota, quer dizer, eu to mesmo fazendo isso?

Parte minha quer ir embora e esquecer Yoongi. Infelizmente, essa é uma pequena parte, já que a outra, mais forte e que me faz ficar ali agachado, com o ouvido contra a madeira, me impede de fazer o que seria sensato. Olho para Hoseok, mas meu amigo está ocupado fazendo caretas e tentando ouvir algo. No entanto, eles não falavam nada. E esse silêncio está me matando. Quer dizer, eles não falam absolutamente nada, e nenhum som é ouvido. Mesmo que eles tivessem, sei lá, se beijando ainda teria o som de uns estalos de boca. Mas nem isso, nada mesmo.

Não sei quanto tempo eu e Hoseok ficamos ali esperando alguma coisa acontecer, vários sinais tocaram, talvez até mesmo o de saída, mas eu fiquei ali esperando algo que não sei o que é, e por incrível que pareça, Hoseok ficou ao meu lado sem reclamar nenhuma vez. Sorri em agradecimento, e Hobi apenas piscou um olho e balançou a cabeça, como se estivesse dizendo que não é nada. 

De repente, Jongin e Yoongi começaram a falar, e o melhor é que dava pra escutar. Arregalei os olhos, e Hoseok se aproximou ainda mais da porta, e eu claro que o segui. 

—... Yoongi. — era Jongin. 

— Hm. — Yoongi respondeu sonolento. Será que eles estavam dormindo? 

— Sabe o Kyungsoo? 

Olhei questionador para Hoseok. Kyungsoo? O que ele tem a ver com os dois? Uma vez Hobi me disse que achava que Jongin estava com esse garoto, mas eu nunca considerei essa possibilidade, porque sempre que eu via Kai, ele estava junto de Yoongi. E eu não consigo raciocinar direito quando olho para o Min. 

— Hm. 

— Só vai falar "hm"? 

— Hm. 

Yoongi riu e um som parecendo um tapa foi ouvido. É a primeira vez que ouço esse som, e ele parece tão tranquilizador. A risada dele parece música para os meus ouvidos, e eu realmente quero esse som pra mim. 

Yoongi parece calmo. 

Eu quero muito isso. 

— É sério! 

— Então fala logo. 

— Bom, semana passada... A gente meio que... 

— Que...? 

— É... Nós meio que começamos algo sério... 

— Algo sério? 

Espera. Jongin está mesmo com Kyungsoo? Perdi o equilíbrio por alguns segundos. Então quer dizer que... Ele e Yoongi nunca.... Eu posso... Ai. Meu. Deus. 

Todo esse tempo eu pensando que... Não acredito que foi tão burro. Estou me batendo muito forte por dentro. Não consigo nem esconder o sorriso que se formou no meu rosto, e sei que Hoseok está me olhando como se dissesse "eu te disse". Mas tudo bem. Estou me sentindo tão feliz agora que posso arrombar essa porta e gritar o quanto amo Yoongi. 

Mentira. 

Eu sei que nunca faria isso de verdade. 

Voltei a minha atenção à conversa. 

— É, algo sério. — Jongin afirmou. 

— Tem certeza? 

— Sim. 

— E está feliz? 

É egoísta e invejoso da minha parte, mas quero isso. Quero uma pessoa que me pergunte essa mesma pergunta, quero uma pessoa que fale do mesmo jeito que ele falou.  

— Estou. 

— Então tá. Traga Kyungsoo para que eu possa dar a minha bênção. 

Jongin riu estridente. O som ecoando pelo meu ouvido e do Hoseok. 

— Como se eu precisasse da sua permissão. 

— E não precisa? 

— Na verdade, não. 

— Você só tem dedo podre Jongin, eu tenho que cuidar de você. 

Outro som de tapa. 

— Para de falar isso, rabugento. 

Deus, eu quero tanto beijar Yoongi. Não me importo com o fato de nunca ter falado com ele, não me importo se não somos amigos e mal nos conhecemos. Eu quero ele agora como nunca quis antes. Quero alguém que fique assim comigo, do jeito que ele está fazendo com Jongin, que me proteja do mesmo jeito. Que diga palavras duras quando é preciso, mas que sempre esteja ao meu lado. Hoseok e Taehyung, e eu os amo como irmãos, mas não é isso. Eu não quero outro irmão. Eu quero... Alguém pra amar intensamente. E Yoongi, ele é o que eu procuro. Quero apertar sua mão, abraça-lo, beijar sua cabeça e dizer que estou ao seu lado sempre que precisar. 

— De qualquer forma, Kyungsoo parece uma pessoa legal, um pouco esquentado, mas legal. 

— É, ele é. Igualzinho a você. Mas Yoongi... 

— Ih, lá vem. 

— Para de ser chato e me deixa falar. 

— Hm. 

— Para com esse "hm" o tempo todo! 

Até a gargalhada de Yoongi é maravilhosa. Deus. 

— Diz logo, caralho. 

— Como vai ser de agora em diante, vendo os dois juntos? 

Tremi. Como assim "vendo os dois juntos"? Sei que minha respiração está mais pesada, porque meu peito está subindo e descendo rápido demais. E aqui estamos. Ele realmente tem alguém. Jungkook tinha razão, Yoongi não pertence a ninguém, principalmente eu. Quero que ele negue, que diga que não sabe do que Jongin está falando. 

Mas Yoongi responde: 

— Não sei. 

Então desmorono no chão. Hoseok me abraça de repente, porque até tinha esquecido que ele também estava ali. Eu vou chorar, eu sei que vou. Estou sentindo minha garganta trancada e o peito doendo.

Quero sair daqui.

— Você vai ficar bem mesmo? 

— Eu tenho que ficar bem, não posso chorar pra sempre né? 

— Gosto da sua confiança, Yoongi. 

— Não é confiança, é só a vida jogando algo que já estava na minha cara. 

Não, não quero ouvir mais. Quero ir pra casa. Quero esquecer tudo o que ouve aqui. As lágrimas vão vir a qualquer momento e não desejo ser pego chorando e espionando os dois. Agarro os ombros de Hoseok e ele me ajuda a levantar devagar. 

— Nunca pensei que Jimin iria dar uma chance de verdade pra ele. 

Congelo no lugar. 

— Muito menos eu. 

Hã? 

Um minuto mundo, eu preciso respirar. Ele acabou de dizer Jimin? Esse é meu nome, não é? Espera, espera, espera. 

De novo. 

Hã? 

Yoongi estava falando de não conseguir ver os dois juntos. Que dois? 

Lembro de Jungkook. Lembro que nos beijamos e Yoongi viu. Deus, ele viu. 

Não pode ser o que eu estou pensando. 

Minha cabeça está rodando muito rápido. 

— Quando... Quando você soube? 

— Soube o que? 

— Que você gostava do Jimin. 

Meu coração para com isso. Me apoio na porta, porque minhas pernas estão tremendo. Meu suporte deve ter sido a maçaneta, e foi por isso que quando vejo já estou no chão. A porta se moveu com violência, porque eu acabei abrindo-a sem querer e levando Hoseok junto comigo. 

Eu. 

Sou. 

Muito. 

Estúpido. 

Sabe o tomate? Pensa em alguém com a mesma coloração. Sou totalmente eu. Estou com muita vergonha e quero sair correndo. 

— É, hm, e-eu... — tento me explicar, mas é um pouco difícil quando você sabe que o que estava fazendo era errado. Eu sei que além de vergonha, estou com medo. Assustado com a possibilidade de Yoongi me odiar por ter ouvido sua conversa. 

Hoseok começa a gargalhar alto. Quero matar ele. Estou quase me desintegrando aqui e ele rindo das desgraças dos outros. 

— Eu disse Jimin! Eu disse! — Hobi apontou acusatório pra mim. Arregalo os olhos. — Eu disse que o Jongin estava com o Kyungsoo, mas você não me ouvia, eu sempre te disse "Jimin, o Yoongi gosta de você, não esquenta", mas nããããão, você ficava o tempo todo "Ele nunca iria olhar pra mim, Hoseok, o que eu tenho de especial? Ele nega todo mundo, por que comigo vai ser diferente?" — por Deus, ele está imitando a minha voz, e o pior é que a encenação está perfeita. Eu já fiz muito drama com isso, até parece que Hoseok tá se vingando. — Viu agora? Eu sempre estive certo, seu trouxa. Não acredito que você me encheu tanto o saco por causa disso. 

Quero morrer. Achar um buraco, me enterrar e só sair quando os Beatles retornarem com todos os integrantes. É, ou seja, nunca mais sair desse buraco. Mas estou tão pasmo de Hobi ter me exposto desse jeito que nem percebo que Jongin levou meu amigo para fora e nos prendeu — eu e Yoongi — aqui dentro. Nós dois tentamos gritar e pedir ajuda, mas aparentemente ninguém vai aparecer. 

Ótimo. 

Pego uma cadeira, respiro, e volto a sentir meu rosto em brasa. Estamos juntos, aqui dentro. Não era pra eu achar isso bom, mas... Sabe como é, né? Olho para Yoongi e ele parece meio tonto. 

Levanto do lugar onde estou com o cenho franzido e vou até a cama, onde Yoongi estava encolhido e respirando pesado. 

— Você está bem? Ei, Yoongi? — pergunto preocupado. Yoongi já é meio branco demais, mas ele estava completamente pálido. 

Ele agarrou meu braço e pediu: 

— Remédio... Preciso do comprimido... 

Corri pra porta como se minha vida dependesse disso, e indiretamente, depende. 

— Hoseok, abre a porta, não é brincadeira! — gritei com raiva. — Kai, você tá aí? O seu amigo tá passando mal! Tem alguém aí? Abram a porta, porra! 

Não é possível que ele apronte uma dessas sabendo do problema de Yoongi. Incrível. 

— Ok, ok, vamos achar nós mesmos. — voltei para o seu lado. — Preciso de sua ajuda Yoongi, conhece o nome. 

— A enfermeira coloca em um lugar separado... Porque só eu... Só eu uso... — corri até as prateleiras, desesperado. Praticamente invadi as gavetas atrás da porcaria do remédio, e quando Yoongi reconheceu o medicamente fui até ele quase voando e só fiquei aliviado quando o mesmo ficou mais relaxado. 

Yoongi deitou na cama de novo. 

Olhei pra ele, me perguntando se devia ou não fazer o que estava planejando. Mas eu já cheguei até aqui, não é? Que se foda tudo então. Fui até ele e deitei ao seu lado. 

Yoongi não se mexeu um centímetro. Ele está tão perto que consigo ver os poros de sua pele. Até assim, ele é lindo. Mais lindo do que qualquer um que eu tenha visto, e sem consciência me abraço ao seu braço solto ao meu lado da cama. Prendo a respiração quando vejo o que fiz, mas agora já é tarde demais pra voltar atrás. 

E ainda mais, não acredito no que digo baixo: 

— Eu gosto de você. — nenhuma reação, e isso me assusta mais do que uma rejeição fria por parte dele. O pior que uma pessoa pode dar a outra é o seu silêncio. — Eu e Hoseok... Nós ouvimos a conversa de vocês dois. Eu nunca dei uma chance para o Jungkook. — ele continua sem dizer nada e sem nenhuma reação. E essa agonia é o que está me matando. Continuo falando, porque tudo é melhor que o silêncio. — Naquele dia, em que você viu nós dois... — hesito. — Bom, naquele dia eu estava um pouco mal porque pensei que você e Jongin... Que vocês... Vocês dois estavam, hm, estavam... 

Não consigo formular direito a frase, e isso me deixa mais nervoso do que já estou. 

— Jongin e eu somos amigos. — ele diz calmamente. 

— Eu sei disso agora, mas... É que naquela hora, sabe, eu pensei que vocês tinham alguma coisa, então Jungkook veio dizendo que era melhor eu desistir... E eu não sei quando aconteceu... Mas numa hora estávamos conversando e no outro ele avançou em mim e aí você- 

— Aí eu passei e interrompi vocês dois, entendi. 

Ele está pensando errado. Não é isso. Eu estava frágil ali, Jungkook se aproveitou. Por favor Yoongi, acredite em mim. Eu amo você, na verdade, eu não sei se é amor de verdade. Ninguém sabe o que é o amor, mas por você eu descobriria. Yoongi, por você eu seria e faria qualquer coisa, então acredite em mim. Porque o que eu tenho por você é um sentimento tão grande que não cabe em mim. E se esse sentimento sufocante for o que os poetas chamam de amor, então é Yoongi, eu amo você.

Mais do que a mim mesmo, e é por isso que ele machuca tanto.

— Não, não, não. — digo rápido. As palavras saiam da minha cabeça, mas não conseguia organiza-las na minha boca. Apertei sua blusa entre os meus dedos. — Isso foi bom. Eu te vi passar por nós, e foi como um despertador, eu estava cometendo um erro muito grande, porque eu não gostava do Jungkook, não é por ele que eu vinha contente pra escola. — preciso que Yoongi olhe para mim, então ele saberá que estou dizendo a verdade, por isso pego sua cabeça e o faço me encarar. Ele me olha surpreso, mas continuo falando, inalando ao mesmo tempo sua respiração. — Não é por ele que eu sinto arrepios, não é por ele que eu fico nervoso e me sinto um idiota, falando coisas idiotas. Caramba, eu pensei que fosse morrer na primeira vez que percebi você me olhando, porque tipo, você é conhecido por toda escola por não ficar com ninguém, e eu, hm, pensava o tempo todo "por que ele iria se importar com alguém como eu? Por que eu teria uma chance?", sabe, e então vinha aquele sentimento de que eu não tinha nenhuma chance. — mordo meus lábios mas Yoongi continua em silêncio. Minha mão desce e sobe por seu braço, com tal liberdade que não tenho. Eu não aguento mais, preciso de alguma resposta, portanto acabo dizendo: — Olha, eu sei que é exagero de alguém que você praticamente nunca falou, mas Yoongi, eu só preciso saber se você, sabe, não quer me d-dar uma chance... T-Talvez?

Espero vários minutos. Yoongi é tão difícil de ler, e me deixa mais pilhado assim. 

Ele olha pra mim profundamente. 

— Jimin. — diz, calmo. Nem parece que está me matando com isso, imagina. 

— S-Sim... — respondo apreensivo. 

— Eu gosto de você também. 

Sorrio como nunca. Nem me importo de ficar bravo pelo fato dele não ter ouvido uma palavra do que eu disse, ou de como eu abri meu coração pra ele. Está tudo bem, porque ele compensou com essas palavras simples, que de uma forma estranha e assustadora encheram meu peito de felicidade. Aperto sua mão na minha, e é como eu pensei, perfeito. Olhamos o nada ao mesmo tempo. Não consigo colocar meus lábios pra baixo, não tem nem como. O sorriso está ali, grudado.

Viro minha cabeça para olha-lo, mas aparentemente Yoongi teve a mesma ideia, então acontece.

Nossas bocas se encostam. 

Me assusto com o toque repentino e pulo na cama. Yoongi teve a mesma reação e acabamos rindo disso. Mas apesar de rápido, foi bom.

Quero mais. 

Com uma coragem que tirei de lugar nenhum me aproximo dele, com o intuito de beija-lo de novo, mas agora com intenção. Yoongi não se afasta e isso me dá mais incentivo. 

Toco em seus lábios suavemente, sem pressão, mas também não tão afastado. Yoongi coloca a sua mão em minha nuca e nos apertamos um pouco. 

Pressiono um pouco mais forte minha boca na sua e Yoongi suspira ao abrir os lábios. Minhas mãos vão parar em seu ombro e minha língua vai de encontro com a dele. O contato é quente e eu fico extasiado, porque porra, eu nunca esperei tanto por um beijo como esperei por esse. E a língua de Yoongi acariciando a minha faz a espera valer totalmente a pena, e se duvidar, faz valer a pena toda a angústia dessas 5 meses. Não sei quando aconteceu, mas o ósculo começou a ficar rápido, quente. Sôfrego. Puxei o Min e agarrei suas costas, enquanto Yoongi pegou em minha cintura com uma força que me fez morder seu lábio inferior. Soltei sua boca um minuto só para então abocanha-la novamente.

Movíamos as cabeças pra lá e pra cá, nossos dentes se chocaram vez ou outra e acabavamos rindo feito idiotas, só para um segundo depois voltarmos aos estalidos quentes e aos toques apertados. Depois de algum tempo o ar faz falta e terminamos o beijo, mas nossas mãos continuam entrelaçadas. Olho isso sorrindo e o abraço meio desengonçado. 

É, eu estava certo. Yoongi não só aparenta beijar bem, ele é o melhor de todos. 

Ele é quase um mar desconhecido e nunca desbravado, mas eu com certeza vou me aventurar nessas águas. E olhando pra ele agora é mais do que um tesouro que eu ganhei. É simplesmente o melhor prêmio de todos.

Finalmente, meu.