– Ela está acordando! – Maju pôde ouvir uma voz, mas não soube de quem era.
– Não grite! – A voz era outra.
Abriu os olhos lentamente, e os fechou de novo, assim que viu a forte luz em seu rosto.
Tentou se sentar, piscando os olhos e ainda tentando se acostumar com a luz do ambiente. Apoiou as mãos no que parecia ser uma cama e encarou os três seres na sua frente.
– Maju! Por Aslam! – Sua irmã fora a primeira a abraçá-la.
– O que aconteceu? – Disse rouca. – E onde está Eddie?
– Bem, você foi atingida por uma flecha verde. Quando perguntamos o que significava à Aslam, ele apenas repondeu: "não é a hora de saberem". – Lúcia fez um bico.
– E quanto a Edmundo, ele está se aprontando, junto de Pedro. – Susana complementou.
– Aprontando? Para que? – Ela colocou a mão direita na cabeça.
– Toma isso, vai fazer você se sentir melhor. – Lúcia lhe deu um copo, com um líquido vermelho. – Enfim, para a nossa coroação! – Soltou um sorriso.
– Coroação? Ah, sim! Como pude me esquecer?
– Como nós pudemos nos esquecer?! Faltam trinta minutos! – Susana exclamou.
– Calma, Susie! Vai dar tempo! – Malu ajudou a irmã a ficar em pé.
– Mas tem a maquiagem, o cabelo...
– Susana! Deixe disso e vamos logo! – A mais nova a repreendeu e as gêmeas riram da cena.
– Tudo bem. – Respondeu bufando.
E, com a ajuda da senhora Castor, elas se arrumaram no quarto de Susana, que fez questão. As Pevensie usavam vestidos bem mais "comportados" e capas. As gêmeas usavam vestidos, praticamente, idênticos. O de Maju era um azul, assim como seu colar e olhos. Já o de Malu, era dourado. Alguns outros detalhes dos vestidos que os diferenciavam, mas era somente isso.
– Pronto! – Malu disse ao prender o cabelo de Lúcia. – Estamos prontas!
– E a tempo, Susie. – Maju respondeu com um sorriso. – Agora, vamos, eu tenho que ver o Eddie!
– Ta bom, apaixonada. – Susana cantarolou e sorriu.
Maju deu a língua e elas desceram as escadas.
O som das trombetas soou pelo local e todos se levantaram. Centauros levantaram suas espadas e os quatro reis, junto de Aslam, passaram por baixo destas.
Ao ver Edmundo, Maju sorriu para ele, acenando. O garoto sorriu de volta.
Como era a Guardiã, Maju pôde ficar ao lado dos tronos, junto de sua irmã – que acenava para Pedro –.
O sorriso no rosto de todos era inevitável. Finalmente sairiam do inferno que era ter a Feiticeira governando, isso era motivo o suficiente para "soltar rojões", digamos.
Eles ficaram de frente aos tronos, e todos esbanjavam felicidade. Aslam estava no meio dos tronos de Susana e Pedro. Ao lado de Susana, estava Lúcia. Ao lado de Pedro, estava Edmundo.
– Quem é nomeado rei ou rainha de Nárnia, sempre será rei ou rainha. Neste dia, honrem sua realeza, Filhos de Adão e Eva! – Aslam disse.
Podia-se ver, do lado de fora, os tritões e sereias, que cantavam em louvor.
– Em nome dos brilhantes Mares Ocidentais, rainha Lúcia, a Destemida!
Os castores, juntamente de Sr. Tumnus, estavam encarregados das coroas. Tumnus pegou uma prata, que retratava folhas entrelaçadas, e colocou na cabeça da rainha mais nova, que sorriu.
– Em nome dos Bosques do Ocidente, rei Edmundo, o Justo!
O sorriso dele se alargou, assim como o de sua namorada, que já tinha lágrimas de emoção. Sua coroa também era de prata, mas era mais diferente da irmã. Alguns desenhos a decoravam.
– Em nome do radiante Sol do Sul, rainha Susana, a Gentil!
Sua coroa era de ouro, e retratava as flores. Gentis e delicadas, assim como Susana.
– E, em nome do limpo Céu do Norte, rei Pedro, o Magnífico!
Sua coroa era maior, por ele ser "o grande". E era de ouro. E os quatro se sentaram nos tronos, com um sorriso que mal cabia no rosto.
– Viva a Rainha Lúcia! Viva o Rei Edmundo! Viva a Rainha Susana! Viva o Rei Pedro! – A multidão gritou e todos aplaudiram.
E tocaram as trombetas, anunciando o fim da coroação e o início da festa. Todos foram cumprimentar os novos reis.
– Meu Deus! Vocês estão perfeitos! – Maju exclamou abraçando um por um.
– Eu sempre estou. – Edmundo zombou.
– Pior que é mesmo, convencido. – Ela o abraçou e o beijou.
– E agora? – Malu interrogou, enquanto Pedro a abraçava pela cintura.
– Como assim? – Lúcia perguntou.
– Quero dizer, se vocês realmente não são daqui e têm outra vida, em outra dimensão, não teriam de voltar? – Quando ela terminou a frase, nem todos viram, mas seus olhos verdes pareceram faiscar.
– Acho que não faz mal ficar por aqui. – Pedro respondeu.
– Depois da coroação, não tem mais volta! Mas, afinal, vocês continuarão sendo reis de Nárnia. Foi o que Aslam disse. – Maju disse como se fosse óbvio.
– Maria Júlia? Alguém quer falar com você. – A senhora Castor a cutucou.
– Sério? Quem? – Perguntou.
– Venha cá. Eu te mostro.
Ela guiou a garota castelo adentro, o que fez Edmundo ficar desconfiado. Se fosse algum garoto, seu primeiro ato como rei seria expulsá-lo, sem sombra de dúvida!
– Aqui. Boa sorte. – A castora disse e saiu.
Na verdade, não era nenhum garoto. Era Aslam.
– Aslam? Você me chamou? – Ela o chamou.
– Sim, Maria. Eu te chamei pois quero conversar sobre algo muito importante. – Ela se espantou.
– Pode falar.
– Você pode estar se perguntando o que era aquela flecha verde, e o por quê de você ser sua vítima.
– Bom, eu até tento ignorar esses pensamentos... Mas, sim. Eu fico pensando nisso.
– O que eu vou te contar é algo muito secreto, e não deve ser comentado com ninguém.
– Aslam, o assunto é tão grave assim?
– Sim. A verdade, é que Jadis não foi a única pessoa a querer Nárnia. Existe uma outra feiticeira, que tenta dominar Nárnia há anos, há mais tempo que a Feiticeira Branca. E ela é o mal mais poderoso que há.
– Deus... – Ela estava pasma.
– E ela tentará de tudo para derrubar você e os quatro Reis, Maria. Isso é uma coisa importantissíma. E só há uma maneira de derrotá-la.
– Qual?
Edmundo bufava impaciente. Onde estaria sua namorada? Por que demorava tanto?
Cruzou os braços e, no mesmo momento, sentiu alguém cutucá-lo. Se virou e o que encontrou foi uma garota, talvez um ano mais nova, e muito bonita. Loira com os olhos verdes.
– Olá, posso ajudá-la? – Ele perguntou.
– Não é necessário, Rei Edmundo. – Ela começou a enrolar uma mecha de seu cabelo. – Eu vim te dar os parabéns.
– Ah, sim, obrigado. – Sorriu sem jeito.
– Meu nome é Glendha.
– Prazer, Glendha.
– Outra coisa que eu notei: você é bem bonito. E minha mãe disse que formaríamos um belo casal, e eu estava pensando essas coisas e, realmente, nós dois somos bonitos. Seríamos um casal perfeito!
No mesmo momento, o moreno arregalou os olhos. Que diabos aquela garota acabara de falar?
– Olhe, Glendha, eu tenho...
– Já posso até ver, nós dois, casados, com dois filhos... A família perfeita! – Ela o interrompeu.
– Eu tenho...
– Uma menina e um menino... John e Mary! É bem clichê, mas eu gosto dos dois nomes!
Edmundo coçou a nuca, claramente nervoso e desconfortável com a situação, e a garota continuava a tagarelar sobre os dois juntos. Ele não poderia dispensá-la ou sair andando, pois seria grosseiro da sua parte e ele acabara de ser coroado. Ele não sabia o que fazer.
Nesse mesmo momento, Maju descia as escadas, procurando por um dos Pevensie. Ela estava meio tensa, mas aliviada ao mesmo tempo. E viu a cena de uma garota conversando com Edmundo, e ele apavorado, olhando para todos os lados.
Seu sangue ferveu e ela caminhou até onde eles estavam – o meio do salão, para ser mais exata – com passos pesados.
Colocou uma feição mais amigável no rosto e andou mais levemente, com um sorriso – falso – no rosto. Tocou o ombro de Edmundo, o abraçando. O mesmo soltou um "graças à Deus" e sorriu.
– Eddie! Te procurei pelo salão inteiro!
– Ah, eu estava aqui, sabe... – Apontou para a garota, que olhava os dois com a sobrancelha arqueada.
– Como eu sou mal educada! Prazer, sou Maria Júlia, a Guardiã dos Reis e de Nárnia, irmã gêmea da Portadora do Coração de Ouro, Maria Lúcia! – Estendeu a mão, ainda abraçada a Edmundo e sorrindo falsamente.
– Sou Glendha. – Respondeu seca, sem apertar a mão da outra.
– A primata não têm modos. – Sussurrou para Edmundo, que riu. – Então, posso saber sobre o que conversavam?
– Ah, eu e o Eddie – Ela deu ênfase no "Eddie". – estávamos pensando na possibilidade de sermos um casal. Ele que deu a maioria das ideias. – Sorriu vitoriosa.
– Sério? Acho que o meu Eddie não faria isso. – Ela segurava o sorriso de deboche.
– Seu Eddie?
– Somos namorados, e Edmundo é bem leal a quem ele ama. Não me trocaria por nenhuma lambisgoia que chegasse se oferecendo, sabe? – Falou sorrindo. Puxou a mão de Edmundo, que segurava a risada, saindo dali.
– Wow. Qualquer lambisgoia? Que chegasse se oferecendo? O que foi isso? – Perguntou aos risos.
– Eu estava protegendo o que é meu. Essa garota perdeu a noção do perigo? Se essa não fosse a coroação, essa garota estaria fo...
– Ciúmes? – Ele a interrompeu.
– Não, eu só estava protegendo o que é meu!
– Boba! Você está com ciúmes sim!
– To mesmo! Problema?
– Não. É... Fofo.
Os dois riram.
– Aliás, quem te chamou para conversar?
– Foi Aslam.
– E o que ele queria?
– Ciúmes?
– De Aslam? Olha o que você está falando, Maju!
– Ele disse que é segredo, uma coisa que só eu devo saber, por enquanto.
– Você, de segredinho com Aslam?
– Você também não contou o seu!
– Qual?
– Esquece.
Os dois sorriram e se beijaram de novo. Ah, aquele dia estava sendo perfeito.
Lúcia estava na grande varanda do castelo, observando a praia. E viu, lá embaixo, Aslam. Caminhava já para longe de Cair Paravel. E ela ficou triste. Era só isso? Ele estaria com eles por um simples momento, uma aventura, e iria embora?
– Ele é assim, não há como domá-lo. – O Castor apareceu do seu lado. – Temos de deixá-lo ir.
– Por quê? Por que ele não fica?
– Ninguém sabe.
– É uma pena. – Maju comentou.
– O que? – Edmundo perguntou, a olhando.
– Eu sinto que vamos ter de voltar, sabe?
– Voltar. – Edmundo repetiu, bufando. – Eu não faço nenhuma questão.
– Acha que eu também faço? – Respondeu, tristonha. – Mas o que podemos fazer? Não podemos simplesmente abandonar a vida que tínhamos e ficar aqui para sempre. Aslam me contou.
– Eu não quero voltar para uma vida sem você.
Aquilo fez o coração de Maju disparar, tanto que ela pensou que Edmundo poderia ouvi-lo. Seu rosto ficou corado e ela sorriu envergonhada.
– Vamos esquecer tudo aquilo por um momento, certo? – Edmundo perguntou.
– Certo. A verdade é que aqui me sinto muito mais em casa do que em qualquer outro lugar no mundo.
– Concordo!
Os dois se encararam profundamente, mais uma vez. Verdade seja dita, o que eles mais temiam na vida eram ter de se separar. Maju não suportaria ficar sem o abraço de Edmundo, e ele não aguentaria ficar um segundo sem olhar os belos e hipnotizantes olhos dela.
– Você nunca vai me perder. – Edmundo afirmou, olhando em seus olhos.
– Como você já disse, nem se eu quisesse! – Sorriu.
E, então, se beijaram. As mãos de Edmundo estavam em sua cintura, e a puxavam cada vez mais. As mãos de Maju puxavam delicadamente o cabelo de Edmundo.
A dúvida que havia na cabeça dos dois sumiu num passe de mágica. Não havia “e se” algum. Ela era dele e ele era dela. Parece que sempre foi assim, e que sempre será. Não havia nada no mundo inteiro que poderia separá-los, nem a distância, nem a magia que Maju foi alertada, nada. Nem mesmo a morte poderia acabar com um amor tão puro e inocente. “Até as nossas próximas vidas”, Maju pensou e sorriu.
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