História We are young. - (Suspense)

Naquele dia eu não vi mais o Nico, apenas na manhã seguinte que acordei e ele estava em sua cama. Tive que acorda-lo para ir para a aula que ele disse que não iria. Não insisti afinal ele sabia o que fazia da própria vida.

Fui para a aula normalmente e no almoço todos estavam na mesa. Reyna e Leo discutiam algo sobre o quarto do bebe no qual Rachel e Hazel davam opiniões. Frank e Jason falavam de seus cursos quando cheguei e me sentei ao lado deles.

- que essa semana passe logo. – resmunguei e eles riram de mim.

- cara eu estou no ultimo ano, você já pensou em como está sendo para mim? – Frank disse se fazendo de vitima.

Assenti considerando.

Enquanto eles voltaram a conversar e eu comia tranquilo e distraído Nico se sentou ao meu lado, calado e tenso. O analisei com cuidado, estava começando a ficar preocupado.

- ei... você está bem? – perguntei preocupado e ele me olhou como se tivesse acabado de notar que eu estava ali.

- sim. – respondeu simples desviando os olhos novamente.

Fiz uma careta.

- o que aconteceu? Fiquei preocupado. – falei baixo só para ele.

Nico correu os olhos pela mesa e depois abaixou.

- Will teve alguns problemas. – falou quase inaudível e foi ai que percebi que ele não estava por perto.

Não é por maldade, mas eu não notava muito aquele cara. Mesmo assim senti uma onda de preocupação.

- ele está bem? – perguntei insistindo em querer saber.

Nico respirou fundo e baixo.

- ele vai ficar bem eu acho, talvez ele precisasse disso para... ah esquece. – balançou a cabeça e me olhou quase que com tristeza. – mas estou preocupado com outras pessoas no momento.

Fiz uma careta ainda maior.

- você está me confundindo Nico. – falei e ele sorriu sem humor.

- desculpe. Tudo bem, não precisa se preocupar por enquanto. – falou tentando ser indiferente.

- ok... – falei desistindo de entender e voltando a comer.

- Percy... – Nico me chamou baixo depois de um momento longo.

- o que? – perguntei me virando a ele.

Nico estava quase que debruçado para meu lado, seus olhos estavam quentes, mas parecia cauteloso, quando falou sua voz saiu áspera.

- preciso te fazer uma pergunta. – disse e eu assenti tomando meu suco. – você só dormiu comigo e com o Jason certo?

Com essa eu engasguei.

- o que!?

Ele me olhou com um quase sorriso, mas seus olhos ainda pareciam preocupados demais.

- não é nada de mais responder idiota. Sim ou não? – perguntou firme e eu bufei me sentindo corar.

- sim. - Ele assentiu e se virou para o lado. – porque?

Ele não respondeu, neste momento Reyna me chamou e começou a falar sobre ajudar a pintar o quarto do bebe de azul claro independente se for menino ou menina.

Com isso eu fui distraído de Nico que se manteve quieto o tempo todo.

Quando estávamos indo para nossos dormitórios me despedi de Jason a frente do quarto já que voltaria para meus livros. Me surpreendendo Nico parou e olhou para Jason apreensivo.

- posso falar com você? – perguntou ao garoto que o olhou confuso assim como eu. Nico pareceu desconfortável. – é... – ele olhou para mim depois para Jason. – importante.

- ok. Já sei quando tenho que sair. – resmunguei entrando no meu quarto.

Deitei em minha cama com os olhos no teto e suspirei cansado, me preparando para começar a maratona de estudos exaustivos. Porem aquilo estava me incomodando.

O que é que Nico queria falar com Jason? Era sobre o Will? Sobre o que aconteceu com ele?

Varias coisas sem nexo passaram pela minha mente.

Demorou um pouco até eu perceber que estava quase dormindo e Nico entrou no quarto com Jason logo atrás. Olhei para eles com a sobrancelha franzida.

Jason estava pálido, branco, como se estivesse passando mal e fosse desmaiar a qualquer momento. Nico parecia receoso, com medo do que dizer ou fazer e eu diria que até confuso.

- o que aconteceu? – perguntei me sentando na cama e Jason sentou ao meu lado. – você está bem? – perguntei a ele que estava tenso e me olhava de forma estranha assim como Nico. – vocês estão me assustando.

Nico trocou o peso do pé desconfortável, Jason olhou para ele apreensivo e depois para mim.

- Percy nós precisamos contar algo para você, mas você precisa escutar até o final e não surtar. – Jason disse para mim pegando minha mão, mas a sua estava gelada e suada.

- ok... – falei incerto e Jason olhou para Nico me fazendo fazer o mesmo.

- Percy isso tem que morrer aqui entre nós. – falou e eu assenti garantindo. Os olhos dele ficaram duros e sua voz saiu mais firme do que ele parecia estar. – Will descobriu que é soro positivo.

Quando ele disse eu fiquei o olhando por um momento sem entender, meu cérebro lerdo e irritante demorou tempo demais para processar a informação e juntar os pontos.

Will já tinha ficado com metade da faculdade e eu duvidava que ele usasse camisinha. Novamente meu cérebro tentou trabalhar rápido para entender. Se ele continha o Virus HIV e não sabia desde quando talvez...

Encarei Nico com a boca aberta em surpresa. Eles ficaram juntos por anos e então eu lembrei de outra coisa. Meus olhos foram para meu namorado que me olhava apreensivo com os olhos azuis cautelosos.

Jason também tinha dormido com ele. E eu tinha dormido com aqueles dois... então talvez...

Minha cabeça parecia que ia explodir, dar algum tipo de pani a qualquer momento e parar.

- Percy... – Jason me chamou preocupado e eu me lembrei de respirar e dizer algo.

- eu... não sei o que dizer... – falei sincero.

Nico sentou a minha frente em sua cama e respirou fundo.

- basicamente ele passou mal ou algo assim, eu realmente não sei dizer. Então teve que fazer um exame geral e saiu o resultado. Ele ficou arrazado e por isso me ligou ontem como você viu. – ele explicou tristemente. – então la mesmo eu fiz o teste e graças a uma força dos céus deu negativo. Então eu me lembrei de vocês... quero dizer, do Jason. – ele olhou de mim para o Jason com receio.

Meus olhos saíram com dificuldade do moreno a minha frente para o loiro com o olhar distante ao meu lado.

- de qualquer forma vou fazer o exame amanhã. – ele disse tentando ser firme, mas sua voz parecia incerta.

Minha cabeça girava só de pensar nessa possibilidade. Peguei a mão dele.

- eu vou com você. – garanti e ele assentiu tristemente. Torci o lábio me virando para Nico que me olhava curioso ou impressionado. – e como você está com tudo isso? quero dizer... é o Will.

Ele me encarou por um momento depois desviou os olhos.

- na hora eu fiquei bastante assustado, com medo, mas depois que tive o resultado o alivio foi maior. – suspirou. – e enquanto a ele... eu não sei dizer. Ele descobriu cedo eu acho, parece que vai conseguir viver bem se se cuidar. Ele estava bastante abalado, chorava o tempo todo e parecia perdido, mas não pude sentir total pena ou compaixão por ele. Quero dizer, ele procurou isso, sempre foi irresponsável e agora eu vejo que também fui. A diferença é que Will teve mais azar do que eu.

Enquanto ele falava seus olhos ficaram no nada, vagos e distantes. Ele podia ter razão, mas aquilo era muito triste.

- sinto muito Nico. – foi só o que consegui dizer, isso pareceu trazer ele de volta de seu transe já que ele me olhou com um sorriso leve.

- tudo bem. Acho que vocês estão bem também, mas é melhor prevenir. – falou tranquilizador e eu assenti de leve me virando para Jason que olhava para o chão pensativo.

- porque é que você disse a ele primeiro? – perguntei pensando nisso do nada e Nico deu nos ombros.

- achei que você surtaria pelo jeito expressivo que é. Além disso se ele tivesse usado camisinha não teria necessidade de te contar. – falou tranquilamente e eu suspirei irritado pela sua falta de confiança em mim e depois olhei para Jason lhe dando um tapa na nuca.

- Ai! Porque isso!? – perguntou perdido me olhando, ele parecia nem ter ouvido a ultima parte da conversa, estava perdido demais em seus pensamentos.

- porque você é um imbecil! – falei irritado.

Achei que ele ia rebater, dizer algo e brigar, mas ele apenas baixou os olhos culpado.

- eu sei ok? Não precisa disso. – confessou fazendo meu coração apertar culpado.

Empurrei de leve seu ombro forçando um sorriso tranquilizador.

- não fique com essa cara. Vai ficar tudo bem. – falei o melhor possível e ele sorriu de canto para mim, seus olhos ficaram ternos nos meus como se ouvir aquilo de mim o ajudasse a relaxar.

- é... eu acho que sim. – murmurou.

- quanto otimismo Grace. – revirei os olhos.

Eu queria passar todo o meu otimismo e confiança a ele, queria mostrar que tudo ficaria bem, mas por dentro eu estava um caos.

Minha cabeça ainda parecia girar de confusão e medo. Meu coração estava acelerado que era como se eu fosse ter um ataque a qualquer momento, agradeci por minhas mãos não suarem já que estavam nas dele, mas com certeza tremiam o que me fazia apertar sua mão para disfarçar.

- eu vou deixar vocês conversar. – Nico se levantou saindo do quarto.

- Nico. – o chamei e ele parou me olhando. – Will pode ser o que for, mas ele precisa de você agora.

Eu estava sendo sincero, não que eu morresse de amores por Will Solace, muito menos que aceitasse suas atitudes infantis, mas eu sabia como era aprender pela dor e na verdade não era nada fácil.

Nico ficou me olhando por um momento, seu olhar foi de surpreso para carinhoso então ele assentiu de leve e saiu do quarto fechando a porta.

Ficamos em silencio por um momento até Jason colocar as mãos no rosto e grunhir nervoso.

- aah merda! Como posso ser tão burro!? – ele disse áspero para si mesmo e eu apertei seu ombro o puxando para mim.

- nenhuma vez? – perguntei receoso e ele negou com a cabeça.

Eu teria xingado ele, batido nele e gritado, mas ele começou a chorar e aquilo simplesmente partiu meu coração. Eu entendia seu medo e não era só por si mesmo. Jason soluçou baixo em meu peito enquanto eu o apertava contra mim em um abraço mais reconfortante possivel.

- tudo bem Jay, vai dar tudo certo. – tentei tranquiliza-lo, mas seu choro não sessou.

Apenas deixei assim. O permitir chorar e se abrir comigo como sempre fez. Ele sabia que tinha errado, mas dessa vez era diferente, não era um erro qualquer, não era como engravidar uma menina ou algo assim. Desta vez era algo mortal.

Mesmo com todos os recursos modernos era uma doença incurável, controlável, mas não havia de fato uma cura. Eu tinha uma clara noção de como era complicado viver ou sobreviver com AIDS e com certeza não era nada agradável.

Exigia cuidados extremos com a saúde, qualquer coisa mínima poderia se tornar gigante. Pensar em mim assim era assustador, mas pensar em Jason assim era ainda mais.

Altruísta? Pode ser. Mas é porque eu o conhecia. Jason era a pessoa mais relaxada que eu conhecia, não comia direito, não dormia direito, sua única vantagem era o futebol no qual era algum exercício físico. Me perguntei se atingiria isso também, então conclui que deveria parar de pensar.

Eu não seria negativo, eu não me permitiria deixar esses pensamentos ruins me dominar.

A questão era: se Jason não tivesse eu não teria nenhuma chance de ter, mas se ele tivesse havia chances.

Droga! Eu faria essa merda de exame de qualquer forma, mas só de pensar nisso eu já ficava apavorado.

De qualquer forma não havia o que fazer naquele momento. No dia seguinte iriamos descobrir se estávamos ou não condenados a uma vida ainda mais difícil.