Quando sai do banho Nico estava sentado a sua cama como de costume lendo um livro que nem prestei atenção sobre o que era.
Ele levantou os olhos para mim que desviei pegando uma garrafa de água no frigobar e a bebendo.
- vai me contar? – perguntou ele se aproximando de mim com o olhar cauteloso, não fiquei o encarando apenas neguei levemente com a cabeça e ele torceu o lábio parando a minha frente. – isso não pode ser bom. Ele? – perguntou já concluindo. Abaixei meus olhos para a garrafa a minha mão e assenti devagar. – ah meu deus Percy... sinto muito... – ele disse carregado de compaixão e me abraçou.
Pela primeira vez na vida Nico me abraçou, digo um abraço sincero e vindo dele. Meu coração foi incapaz de não se aquecer de ternura com aquilo, retribui seu abraço encostando minha testa em seu ombro e deixando algumas lagrimas rolar.
Eu estava tão sensível e emotivo com tudo aquilo, que aquele simples gesto dele já me desarmou totalmente.
- vai ficar tudo bem. Ele pode se tratar e controlar. Tem tanta gente que vive normalmente com isso e se o do Will está no começo o dele também está. Não deve ser perigoso se ele cuidar. – Nico disse me consolando, mas assim que ele disse o nome do Will sua voz começou a ficar distante.
Will... agora eu não conseguia nutrir nenhuma raiva por ele o que era estranho dado o fato de que a maioria das coisas ruins e confusas que aconteceu comigo naquela faculdade foi gerada por ele.
- Percy? – Nico me chamou me trazendo de volta a realidade, ele se afastou me analisando. – você está bem?
Assenti enxugando o rosto e tentando me recuperar.
- sim, vou ficar. Não conte a ninguém, por favor. – pedi já me distanciando dele e sentando a cama exaustivo atrás do meu celular.
- tudo bem, eu não iria contar de qualquer jeito. – falou quase que ofendido.
Peguei meu celular que encontrei jogado em baixo do travesseiro e digitei uma mensagem para Jason.
Percy: Oi... tudo bem ai? Quer dar uma volta?
Ele não demorou a responder.
Jay: não muito, mas eu realmente quero sair daqui com você.
Sorri de leve, eu sabia que ele precisava se afastar de todas aquelas pessoas.
Percy: aonde vamos?
Jay: pegar meu carro na minha casa e depois para qualquer lugar.
Percy: ok, eu dirijo.
Jay: nunca.
Percy: veremos.
Me levantei e peguei minhas coisas, Nico ficou me olhando.
- Percy... – ele me chamou e eu parei o olhando. – tudo bem ama-lo e querer cuidar dele, mas não se esqueça de você.
Sorri de leve para ele, grato pela sua preocupação.
- eu sei. Até mais Nico. – falei antes de sair e dar de cara com meu loiro dos olhos inchados prestes a bater na porta. – vamos? – falei casualmente e ele assentiu.
Então saímos da faculdade evitando tudo e todos. Pegamos um taxi até a casa de Jason na qual novamente evitamos todos. Ele pegou a chave do carro e logo estávamos na estrada e eu dirigindo depois de uma longa discussão.
- você está muito quieto, está me dando nos nervos. – observei tentando puxar assunto já que ele apenas olhava para a janela do dia frio e cinzento.
- aonde vai me levar? – perguntou casualmente curioso.
- você vai ver. – sorri de canto para ele que ficou me olhando por um momento.
- você está diferente. – observou me fazendo franzir o cenho.
- como assim? – perguntei sem ter uma responta, Jason deu nos ombros e se calou novamente.
Chegamos ao meu destino, era um parque antigo e escondido da cidade no qual nós íamos quando eramos crianças. Estava frio com o fim do ano, mas não chovia ou nevava o que foi um alivio. Parei o carro a frente da entrada do parque deserto e o olhei em expectativa.
Jason tinha os olhos confusos no lugar e um pouco triste também.
- porque me trouxe aqui? – perguntou e eu suspirei.
- porque você não quer ver ninguém e porque eu gostava de quando vinhamos aqui. – expliquei simplesmente.
Ele não pareceu convencido, mas também não reclamou.
Saímos do carro e fomos para o parque vazio, era extenso mas eu o conhecia bem, estava quase escuro pelo fim da tarde e os postes já estavam acessos indicando o caminho.
Andamos um pouco em silencio até eu pegar a mão dele e vê-lo me olhar ainda confuso.
- estou ficando ofendido com tanta atenção e carinho. – falou e eu senti uma onda dolorida de ofensa me percorrer, mas ignorei.
- geralmente as pessoas gostam disso. – falei pensativo olhando para nossas mãos entrelaçadas.
- não estou reclamando, só estou dizendo que estou ofendido por ter que descobrir estar doente para receber esse tipo de atenção. – falou me fazendo novamente resistir a onda dolorida.
Tudo bem, ele está desestabilizado.
Forcei um sorriso que saiu sem humor.
- isso soa claramente como uma reclamação Grace. – falei esclarecendo e ele parou me fazendo parar também e me puxando para ele.
- eu sei, desculpe. – pediu com seus olhos cinzentos em mim. – não fique chateado.
- não estou. – menti e ele sorriu de canto.
- mentiroso. – sorriu de leve antes de me beijar com carinho.
Seus lábios frios ficaram quentes com os meus.
- obrigado pelo que esta tentando fazer Per, mas realmente está frio e eu prefiro ficar no carro. – falou me fazendo rir.
- ok, vamos voltar. – indiquei e voltamos ao carro.
No caminho me lembrei o quanto estupido aquilo foi. Aquele vírus deixava a imunidade dele baixa e se ele pegasse uma gripe poderia...
Droga Perseu, pense antes de agir sua mula!
Compramos um café por perto e ficamos dentro do carro conversando um pouco.
- você já quer ir? – perguntei a ele quando já estava razoavelmente tarde.
Jason torceu o lábio tristemente.
- não sei se quero voltar para la. Não quero ouvir mil perguntas e muito menos correr o risco de esbarrar com o Will. – disse ficando nervoso.
Peguei sua mão o tranquilizando.
- você tem aula Jay, precisa ir. Pense que daqui a pouco teremos férias. E sobre o Will... tente não arrumar uma briga, vai ser pior e pode espalhar a noticia. – alertei e ele apenas assentiu em concordância. – dormitório então?
- sim. Deixe o carro na faculdade amanhã eu levo. – disse e eu suspirei aceitando aquilo sem questionar.
Voltamos para os dormitórios e todos já estavam dormindo. Me despedi dele no corredor.
- boa noite. Tente dormir semana que vem tem prova. – alertei chato e ele sorriu carinhoso.
- tudo bem. Boa noite Per. – respondeu tranquilamente me beijando com paixão, depois falou em meu ouvido. – eu te amo.
Sorri involuntário com aquilo.
- eu também te amo. – lhe dei outro beijo e depois entrei no meu quarto.
Algumas semanas se passaram. As provas estavam no fim, Jason havia ficado muito neutro e tranquilo sobre tudo o que me preocupou um pouco, mas aceitei melhor.
Ninguém perguntou sobre nada até porque acho que ninguém soube. Apenas nós quatro sabíamos e acredito que Will não sabia sobre Jason. O Garoto loiro desapareceu, quero dizer, eu sabia que ele estava por ali, mas ele mal saia agora. Nico disse que estava com medo dele entrar em depressão e eu compartilhei isso com ele.
A mente humana é tão fácil de se desestruturar.
Mas também era o ultimo ano dele, preferi pensar que ele estaria estudando para seus trabalhos de conclusão e até disse isso a Nico que pareceu considerar.
Era ultimo dia das aulas agora. Terminei minha ultima prova e sai andando entre os corredores da faculdade quando vejo uma muvuca.
- parem com isso! – ouvi a voz de Reyna e logo me aproximei empurrando todos a minha frente.
Parei fitando assustado a cena: Jason estava em cima do Will batendo nele incansavelmente.
Will já tinha o rosto ensanguentado e roxo, enquanto Jason parecia fora de si, seus dentes estavam trincados e seus olhos pareciam mais escuros com a fúria.
Corri para cima dele o puxando no mesmo momento em que Leo e Frank chegaram. Frank me ajudou a segurar Jason que era mais forte enquanto Leo socorria Will, o garoto estava bem pior do que eu podia imaginar, mais magro, pálido e agora com vários hematomas.
Por um momento raro eu senti Pena de Will Solace.
- Jason, mais que merda é essa!? Você enlouqueceu!? – falei para ele que se debatia em nossos braços.
Will gemia dolorido e tentava se levantar com a ajuda de Leo que o guiou para a enfermaria enquanto Jason ainda tentava se soltar e ataca-lo.
- Jason, para. Para!! – gritei o fazendo parar e me olhar como se saísse de um transe e acabasse de perceber que eu estava ali.
Seu olhar era duro e frio o que me fez arrepiar.
- o que você está fazendo? – perguntei com decepção para ele que se soltou de nossos braços já que o largamos quando Will estava fora de alcance. – vamos... – empurrei ele por entre a multidão que nos olhava horrorizados entre eles estava Nico.
O levei até seu quarto e fechei a porta o olhando confuso.
- Jason... o que foi isso? – perguntei tentando ser calmo o que obviamente ele não estava.
Jason andava de um lado para o outro nervoso e apertava os punhos sujos de sangue.
- ele mereceu Percy, você sabe disso. – resmungou para mim ansioso.
Meu sangue correu mais rápido pela irritação repentina de suas palavras.
- porque exatamente ele mereceu Jason? Por ter transado com você? – atirei nele irritado o fazendo parar e me olhar surpreso, mas ainda mais nervoso.
- é por causa dele Percy! Você não vê? É por culpa dele que estou assim! – ele quase gritou e eu abri a boca incrédulo, meus olhos arderam.
- Não Jay. Will pode ter passado esse vírus para você, mas a culpa não foi dele. – falei baixo mantendo meu tom de decepção. Ele se sentou na cama quando cansou de andar, mas ainda estava irritado.
- você está protegendo ele? – perguntou incrédulo para mim.
- você sabe que essa é a ultima coisa que eu faria. Não estou protegendo ele, mas você está errado em querer bater nele por causa disso. – me aproximei dele sentando ao seu lado. – tenho certeza que ele não queria isso tanto quanto você.
Ele revirou os olhos irritado.
- você já parou para pensar em quantas pessoas ele pode ter infectado? – me olhou esperando e eu suspirei assentindo. – isso é muito absurdo. Eu queria poder...
- nada. Você não queria nada. Pare com isso Jason, está agindo como uma criança mimada. – falei já sem conseguir me controlar.
- você está novamente a favor dele e contra mim. – atirou se levantando se afastando de mim como se isso explicasse tudo. – porque você não namora ele então Percy? Acho que agora ele tem uma boa parte das minhas características.
Abri a boca em indignação.
- o que!? Mais do que diabos você está falando? Jason eu não estou contra você, só estou pedindo para não sair batendo nas pessoas.
- nele! Você não quer que eu bata nele. – corrigiu.
Me levantei para ficar frente a frente com ele.
- certo, que seja nele. Apenas pare de agir assim... – minha voz morreu mais baixa e eu o encarei tristemente. – é assustador. – confessei tristemente.
Jason ficou me olhando por um momento depois suspirou.
- você não tem ideia do quanto é assustador. – murmurou se dirigindo até a porta para sair.
Segurei seu braço o fazendo parar e me olhar.
- jay converse comigo... eu disse que aguentaríamos isso juntos. – falei tristemente e ele me olhou frio por um momento.
- eu preciso ficar um pouco sozinho Percy. – disse seco me fazendo sentir uma facada no peito.
Soltei seu braço e assenti sem olha-lo. Jason apenas se virou e saiu me deixando sozinho.
Eu queria poder ajuda-lo, mas não sabia como. Não tinha noção de que ele agiria daquela forma. Eu sabia que aquilo tudo estava mexendo com a cabeça dele, mas eu apenas esperava que ele não perdesse o controle de si mesmo.
Por favor Jay, não faça nenhuma besteira. – pedi em pensamento.
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