Pov Jennifer
A chuva havia dado uma trégua, dando espaço para o sol brilhar com intensidade naquela tarde em Miami. Laura bufou, abrindo a porta do táxi e ajudando-me com as bagagens, juntamente ao taxista.
— Foi um prazer revê-lo, Stevie. Muito obrigada! – agradeceu minha irmã, ao senhor grisalho.
— Não há de que, garotas. É sempre bom ajudá-las. Chame à mim quando quiserem e sejam muito bem vindas novamente!
Nos despedimos de nosso antigo conhecido e nos encaramos. Estávamos em casa. Em nossa casa.
— Estamos de volta, maninha – ajeitei meus óculos escuros acima da cabeça e a abracei de lado, enquanto estávamos à frente de nossa casa. Miami havia feito falta. O calor intenso, os quiosques da praia, as festas, nossa família, amigos...tudo nos fez falta durante esses anos.
— A casa continua a mesma. – murmurou, com um sorriso de canto. Concordei, retirando as chaves de minha bolsa.
— Vamos descansar e depois comemos algo – sugeri, após um longo bocejo.
— Que horas são? – questionou ela.
— A última vez que vi, eram quatro e... – mirei o horário em meu celular e observei a rua pouco deserta. Arregalei meus olhos, incrédula — e...ROSS!
— ONDE? – indagou, afobada.
— Entra, entra! Rápido! – agarrei seu braço e a puxei.
Corremos como podíamos até nossa residência e batemos a porta, escorregando pela mesma até cairmos ao chão.
— Tem certeza que era ele?
— Se não era ele, alguém muito parecido comprou a casa ao lado. – respirei fundo, fechando meus olhos com força.
— Ok, calma, Laura. Acalme-se. – repetiu para si mesma — E por que me empurrou para dentro?
— Vai dizer que queria falar com ele? – arqueei minha sobrancelha, a encarando.
— Eu... – tentou explicar-se. Ri, balançando minha cabeça.
— Você foi uma covarde! – apontei em sua face, fazendo-a irritar-se.
— O quê?! – exclamou, retirando meu dedo — Que eu sabia, não fui eu quem transou com o primo dele e depois que fui pedida em namoro, fugi!
— Eu não fugi! Você que fugiu do seu próprio namoro! – a acusei. Tudo bem, o que ela disse não era mentira. Eu havia fugido.
— Você não precisava ir para Nova Iorque comigo! Eu tinha que fazer faculdade – mais explicações.
— Muito estranho você ter ido sem se despedir do seu namorado... – a provoquei. Recebi um tapa. Ela havia me batido?!
— Você é ridícula!
— Eu me despedi do Colin! – defendi-me.
— Você disse que voltaria em algumas semanas! Se passaram quatro anos e durante esse tempo, ele te mandou inúmeros e-mails e te ligou mais de um bilhão de vezes! Não poderá se esconder para sempre dele.
Calei-me por uns segundos. Aquilo era verdade. Cedo ou tarde, eu trombaria com Colin. Poderia ser na praia, numa festa ou até enquanto eu levasse o lixo. Somos vizinhos!
— Quer parar de tomar conta da minha vida? Eu sou mais velha.
— Que desculpinha, mana. Você pode até ser a mais velha, mas é a que menos aproveita as oportunidades da vida.
Mais verdades. Como ela pode me deixar sem respostas tão fácil?
— Aham. – foi tudo o que respondi.
— Quer saber? Irei falar com Ross. – decidiu, levantando-se.
— Duvido! – ri, cruzando meus braços, enquanto levantava meu olhar para encará-la.
— Saia da porta e você verá. – tentou empurrar-me com o pé.
— À vontade! – afastei-me da superfície gélida feita de madeira e dei passagem.
— Ótimo!
E ela saiu. Não pude contar nem até dez e ela estava de volta. Sem ao menos encará-la, ri e murmurei:
— Sabia que não falaria com ele...
Ela não disse nada, porém ouvi um pequeno soluço.
Laura estava chorando.
Levantei-me rapidamente, segurando em seus ombros.
— Ei, – toquei seu queixo, levantando seu olhar ao meu – o que houve, tampinha?
— Courtney... – sussurrou, cobrindo o rosto.
— A vadia?! – exclamei. Ela assentiu — Eles...? – confirmou novamente — Oh, Deus! Venha cá, acalme-se.
Retirei rapidamente os protetores acima do sofá e assim que o fiz, deitei-me cuidadosamente com ela abraçando-me.
— Eles estão juntos...eu...
— Acalme-se, Lau. Em breve vocês irão se encontrar e tenho certeza que tudo isso irá mudar.
Em poucos minutos de silêncio, onde apenas seus soluços reinavam, minha irmã adormeceu.
Encarei o teto, enquanto afagava os cabelos ondulados dela, parei e pensei:
E se Colin estivesse com alguém, também?
Haviam passado-se pouco mais de quatro anos. Laura e eu partimos rumo à Nova Iorque e não demos notícias para ninguém, além de Rose e Vanessa, nossas melhores amigas.
Minha irmã estava certa, eu fugi. O medo de envolver-me com Colin e machucar-me como já fui uma vez, sempre vem à tona.
Mas eu sabia, ele era diferente. Era alguém que valia à pena e era confiável. Eu fui uma tola.
O sono não dava sinais, então decidi subir e arrumar as coisas. Após isso, tomei um banho relaxante e prendi meus cabelos, já secos pelo secador.
Escolhi um vestido branco, juntamente à uma jaqueta preta e calcei minhas botinhas curtas. Soltei meus cabelos, que caíram em fios longos e ondulados e apliquei uma maquiagem simples.
Desci as escadas e observei Laura, que ainda dormia tranquilamente.
Deixei um bilhete, explicando meu sumiço e alertei que compraria um bolo para comemorarmos juntas nosso retorno.
Eu precisava caminhar por Miami, ligar para Rose e dar um pulo na casa de meus pais.
Estava quase adentrando a confeitaria, quando meu celular vibrou.
— Saiu? – Laura.
— Por que nunca vê meu bilhetes? – reclamei, adentrando o local e pegando uma senha.
— Se sua letra fosse legível, eu até poderia pensar no caso. – bufei, enquanto observava o local. Havia nudado, e muito. — Onde está?!
Meu olhar fixou-se em um homem que buscava uma senha. Cabelos negros, calças e camisa preta e óculos escuros.
O mesmo estilo de anos atrás.
— Estou numa confeitaria e...e...
As palavras não saíam. Por que agora? Justo agora?
— E...
— Colin acabou de...droga. Ele está aqui! Me ajude! – sussurrei.
— Ah, claro. Em um segundo estarei aí e a trarei para casa – murmurou.
— Droga! Espero que ele não me veja – tentei esconder meu rosto com uma mecha de cabelo. Muito óbvio.
— Até porque você é invisível – ironizou.
— Irei dar um jeito. Em breve estou em casa, tchau.
Poucos segundos depois, pude agradecer aos deuses pelo número da minha senha ser chamado. Meu pedido estava pronto.
Suspirei e segurei o bolo com muito cuidado. Após pagar, abaixei minha cabeça e passei pelas pessoas no estabelecimento. Nada de Colin me ver.
Caminhei mais algumas quadras, quando sinto um puxão em meu braço.
Preparei-me para gritar, mas meu primeiro impulso foi jogar o bolo contra a pessoa e cair acima da mesma.
O chantilly estava por todo seu rosto, sem deixar-me observá-lo. Avaliei suas mãos para estar ciente de se estava armado ou não. Mas ao perceber que meu celular estava lá, repreendi-me mentalmente. Eu tinha esquecido meu aparelho em cima do balcão da confeitaria.
Eu havia acertado uma pessoa inocente. E nesse tempo pensando, não percebi que ele pedia para que eu saísse de cima de seu corpo.
O bolo em sua boca dificultava que sua voz soasse normal. Eu queria rir, mas o ajudei a levantar e comecei a desculpar-me, enquanto retirava a massa e a cobertura de sua face.
— Eu realmente sinto mui...Deus amado.
Terminei de retirar o chantilly de seus olhos e por fim, não restavam mais dúvidas. Era ele.
— Quem é vivo, sempre aparece. Olá, Jen.
Merda.
— Colin, quanto tempo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.