História Welcome to life - Novo dilema!

Quarta-feira 22:00 pm

Já estava em casa ansiosa para que Delphine, minha mãe e Felix chegassem para que eu pudesse contar a novidade. Cheguei por volta das 19hrs em casa e aproveitei para conversar com minha irmã gêmea Beth sobre nossas vidas. Embora fôssemos irmãs gêmeas, não éramos tão conectadas assim, ela sempre fora diferente, em tudo, apesar disso nunca tivemos grandes conflitos. 

Na época do colegial, Beth era una espécie de “It Girl” sempre bem arrumada, cercada de amigas e de paqueras. Eu era mais o patinho feio, a gêmea de óculos, nerd e cabelos bagunçados, sem falar que sofri muito bullying por ser quem eu sou e pela minha opinião sexual. 

Conversávamos sobre esses momentos enquanto esperávamos todos chegar. A conversa era super harmônica, então aproveitei para fazer uma pergunta que sempre pairava sobre meus pensamentos.

Perguntei à Beth se ela me aceitava como eu era, se havia algum tipo de preconceito dá parte dela sobre minha sexualidade.

- Sinceramente? É a sua vida e você tem que viver como bem entender, acho que se você está feliz consigo mesma a opinião dos outros pouco deve lhe importar.- falou sem responder totalmente minha pergunta.

-  Mas a sua opinião me importa muito, Beth! – realmente gostaria de saber se ela tinha algum tipo de preconceito.

- Preconceito não, longe disso! Mas é estranho, eu não sei como conversar com você à respeito, por exemplo se eu for falar sobre minha relação com o Arthur e você falar sobre Delphine, tipo, eu não sei como poderíamos fazer funcionar! – disse meio confusa.

- Isso significa que você não sabe como conversar comigo por eu ser lésbica? – questionei.

- Eu não saberia lidar bem, eu acho! – respondeu apreensiva.
Nesse momento só pensei em dizer minha opinião, embora Beth fosse minha irmã ela é exatamente como maioria que diz não ter preconceito mas não sabe lidar com pessoas LGBT, nos tratando de maneira indiferente, como se nossa vida, nossas relações fosse completamente diferente dos héteros.

- Beth, assim... Um casal gay é exatamente igual um casal hétero! Nós também discutimos, brigamos por ciúmes, por coisas bobas, nós nos amamos assim como todos os outros casais “normais”. O que nos diferencia dos demais são os rótulos conservadores da sociedade!

Ela me ouviu atenciosamente, não piscou, parecia informação demais apesar de ser algo simples de entender, antes que ela pudesse responder a porta se abriu com a chegada dos demais. 

Delphine veio em minha direção me da um beijo, assim como minha mãe e Felix. Dava para notar a ansiedade deles pelo olhar, a expectativa deles eram enormes e eu queria fazer um suspense, queria uma forma de dizer que agora eu sou uma das chefes do Buffet Di Marino. Delphine, minha mãe e Felix se juntaram à Beth no sofá e então resolvi começar.

- Então, fui fazer a entrevista e... – disse séria, gesticulando para mostrar que minha notícia era o oposto do que realmente aconteceu. – E, vocês sabem, não é fácil, é muita concorrência e enfim... – pausei e esperei a reação deles, minha mãe foi a primeira à se pronunciar, levantando-se em minha direção.

- Tudo bem meu anjo, seu momento vai chegar! – e me abraçou! 

Eu deixei que me abraçasse antes que pudesse prosseguir, quando nos soltamos continuei a falar à respeito.

- Eu sei, o meu momento vai chegar, principalmente agora que sou uma das chefes do Buffet Di Marino, quem sabe eu possa ser uma das 5 melhores chefes do país, não é mesmo? – disse sorrindo notando a expressão assustada de todos!

- Cosima, seja clara, não estamos entendendo! – disse Delphine confusa fazendo Felix concordar. 

- É isso, eu sou a nova funcionária do Buffet Di Marino!!! – falei em tom animador quase pulando!

Mal tive tempo de terminar e todos pularam em cima de mim, pensei que fosse morrer ali, mas de felicidade mesmo, o abraço de todos, ver que minhas conquistas também alegram minha família e minha namorada. Foi um susto bom, mas fui repreendida por minha mãe, ela disse que fui muito levada. Delphine e Felix gostaram do meu mini show, Beth parecia feliz com a novidade. 

E contei absolutamente tudo, de quando vou começar, dos benefícios, das viagens, de tudo mesmo, não esqueci nenhum detalhe. Fiz toda uma descrição do meu chefe, do hotel em que fiz a entrevista, todos estavam realmente animados. 

- Nossa, sem dúvidas esse é o seu melhor ano irmãzinha, uma namorada, um emprego, estava passando da hora!!! Já pode gritar aos quatros ventos “e houve boatos de que eu estava na pior!” – Felix disse rindo. Estávamos na cozinha lavando as louças, enquanto minha mãe, Beth e Delphine e já estavam nos quartos.

- É verdade, minha maré de azar acabou, demorou demais... E olha que não lembro de ter passado por de baixo de uma escada e ter quebrado um espelho. – caímos na gargalhada!

- Então você vai viajar para outras cidades, Estados e países? – perguntou curioso.

- Sim, mas ele disseque devo ser escalada primeiro para eventos aqui no Canadá, mas provavelmente eu tenha que ir para outros países porque estamos nos aproximando do final do ano, ou seja, muitas confraternizações, casamentos, aniversários, natal, réveillon... – Realmente não me cabia em felicidade.

- Cosima, você já parou para pensar que estamos no final de Setembro e que vão faltar 3 meses pro ano acabar? – mostrou-se intrigado.

- Sim, falta pouco mesmo! – afirmei.

- O ano letivo também vai acabar, Cosima! – O que ele queria, afinal?

- Aonde você quer chegar? – Odeio rodeios, vamos logo ao que interessa!

- Eu estou falando em relação a universidade, você, Delphine terminando o estágio, voltando para casa, já parou para pensar nisso? Você já conversou com ela à respeito? – Ele me olhava preocupado e me deixou preocupada.

- Não, não conversamos sobre isso ainda... – meu semblante mudou completamente, parecia um choque de realidade, o que eu não queria que acontecesse, não queria que o dia em que o estágio de Delphine acabasse e ela tivesse que voltar para casa. 

- Cosima, eu sei que você ama ela e que ela ama você, não tenho dúvidas disso! Mas talvez você devesse procurar conversar com ela à respeito, não deve esperar... – suspirou! – Semana que vem você começa à trabalhar, vai começar a viajar e o tempo de namoro de vocês vai ser curto, logo 3 meses vão se passar rápido, cuide disso! – opinou.

Fiquei um pouco alterada com a quantidade de informação que Felix jogou em cima de mim, não queria pensar nisso, não agora, isso não me deixou desconfortável e eu só queria estar feliz por iniciar uma nova etapa profissional em minha vida, ao invés disso, eu tive que pensar no que não havia pensando antes. Trabalhar no buffet era sim, sem dúvidas uma grande oportunidade em minha carreira, eu teria grandes oportunidades, meu nome iria ser reconhecido e se um dia eu saísse do Di Marino não me faltaria trabalho, mas essa não era a questão! Realmente é que, semana que vem eu já poderia ter uma viagem, meu horário de trabalho podia ser pela manhã, tarde ou noite, iria depender da escala, quando for eventos fora de Toronto irei passar uma semana fora, uma semana longe de Delphine.

Fui para o quarto muito atormentada com meus pensamentos, olhei para ela deitada na minha cama praticamente adormecida e pensei na dor que teria que enfrentar ao ter que ficar longe. Me deitei ao seu lado e a abracei bem forte, beijei seu ombro e colei meu rosto no dela. Em meus pensamentos só haviam dúvidas! 

Deixei que algumas lágrimas escapassem molhando o rosto macio de Delphine, eu não queria acordá-la, não queria ter que ter uma conversa do tipo “você vai ou fica?” Como não ser egoísta? Eu sei que ela tem uma vida no Quebec, sei que ela ama a fazenda dela mas no fim das contas e nós? O que será de nós? Como posso pedir para ela ficar? Porque tudo tem que ser tão complicado? 

Fui bombardeada por perguntas sem respostas, eu não tinha consolo, depois que as lágrimas se foram, o aperto no peito sumiu, acabei que por fim já exausta, adormeci.