História Welcome to life - Estações

FM 104.7 - 07:23 a.m. O locutor dizia o horário e eu me remexia na cama.

Entre lençóis me encontro, perdida em um mundo só meu. O rádio ligado e as canções mais românticas embalam essa manhã de inverno. Toronto está mais do que fria, não mais do que eu, posso afirmar.

Meu coração se tornou um poço de gelo, minha alma foi engessada e minha vida se tornou uma verdadeira monotonia.

Eu mesma, nunca fui de ter novidades e se passara s muito tempo desde que Delphine se foi. Eu não sabia nada dela, nem como estava, o que fazia. Talvez já tivesse se casado com algum fazendeiro rico. Afinal de contas, como uma mulher tão linda ficaria sozinha? 

Eu sentia sua falta, a dor era tamanha que eu não a sentia mais latejar em meu peito, mas se tornará um vazio imenso em minha alma. Aquela sensação de me falta algo, uma perna ou um braço. No meu caso, me faltava seus beijos, seus abraços e até as nossas brigas.

Minha vida profissional desde que Delphine se foi deu uma alavancada, parece até ironia, sorte no dinheiro e azar no amor, quando foi que as coisas mudaram? E porquê mudaram? 

Nessa manhã em especial, me peguei perdida em lembranças, lembranças vivas de uma história de amor que não deveria ter acabado. Porque insistimos tanto em errar com as pessoas que amamos? 

Pudera eu mudar minha situação, queria eu voltar no tempo, em que o sol amanhecia radiante iluminando as brechas de minha janela e ao lado minha Delphine estava. 

E quanto mais me pego perguntando os motivos de um fim que até hoje não acredito menos tenho respostas com justificativas suficientes para seguir em frente. 

Trabalhar viajando tem suas vantagens, na minha área, por exemplo, é algo fascinante. Poder conhecer diversos países e aprender ás iguarias de sua culinária é algo esplêndido. 

O lugar mais encantador que eu conheci foi com certeza a Índia. Um lugar magnífico, dono de uma cultura rica e de uma culinária muito peculiar. 

Dubai é realmente uma cidade de perdição. As pessoas não vão lá para admirar somente a paisagem magnífica, vão pra se divertir, para gastar dinheiro, é claro, saborear as inúmeras mulheres de diversas nacionalidades. 

Ganhei muito dinheiro, claro, passei exatos três meses sendo chef de uma festa em Dubai, precisamente um casamento indiano. O casamento foi coisa de outro mundo, aquelas danças me  fascinada, até me arrisquei com alguns passos, embora tenha sido um total fracasso.

08:07 a.m

Cosima, meu anjo, acorde ou irá se atrasar! - minha mãe batia na porta.

Ok, mais alguns minutos e eu estarei pronta! - balbuciei tendo consciência de que ela não escutara e que entraria no quarto. Assim foi feito! 

Cosima Niehaus, quando foi que você se tornou tão preguiçosa? - Abri os olhos lentamente e lá estava minha mãe de braços cruzados.

Cansativo, eu mal voltei de viagem e já preciso levantar cedo? Isso é muito injusto! - reclamei. 

Bom dia, irmãzinha! - Felix entrou no quarto se jogando na cama. - Acho que deve descansar muito, mas antes, vamos para o batizado dos nossos sobrinhos! - disse enquanto apalpava minha bunda. 

Anda, vamos logo, levantando ou vamos nos atrasar e Beth ficará furiosa! - minha mãe saiu nos deixando as sós.

Ela tem razão irmãzinha, precisamos ir, let's go my sister! 

10 minutos e você vem me chamar, só mais 10! - ele voltou a apalpar minha bunda.

Ok, mas por favor, me diga, qual o segredo de ter uma bunda tão durinha? Céus que vontade de apertar, odeio você! - não me contive em gargalhadas!

Felix sempre faz esse jogo comigo, o lado bom de ter um irmão gay é poder desfrutar do seu humor e essência. 

10 minutos depois ele estava me chamando novamente e eu não tive mais desculpas. Fui prática como sempre, e claro, minha mãe poupou minha preguiça e escolheu minhas roupas. 

Eu estava um caco, não havia maquiagem ou delineador que resolvesse minha cara de morta viva. 

E céus, eu precisava mesmo encontrar animação para encarar uma missa, fazia séculos que não pisava em uma igreja. 

10:02 a.m.

O Padre George terminou a missa batizando todas as crianças, jogando água benta em todos. Beth não foi muito criativa, acabou escolhendo os dois irmãos para padrinhos. Carly e Jake, estavam crescendo a cada dia, era incrível, a cada vez que eu voltava de viagem eles estavam diferentes. 

Minha relação com minha irmã gêmea mudou muito, principalmente depois que ela teve os meus sobrinhos. Se tornara mais sensível, até conversávamos sobre coisas e dávamos risadas como nunca havíamos feito antes. 

A nossa família vivia em harmonia. Embora eu, que sempre fui um comersal da morte, fazia parte daquele ciclo. 

Depois de almoçar, resolvi subir para o quarto, era estranho ver como ele havia sido reformado, com o dinheiro que ganho deu para reformar quase a casa toda, aos poucos, claro, o lucro da lanchonete também colaborou muito nessa pequena reforma.

Apesar disso, aquele ambiente me lembrava a Delphine, as nossas brigas, ao nosso amor. Eu ainda tinha suas roupas em meu guarda-roupas. Eu ainda sentia o cheiro do seu perfume no ar e o sabor dos seus beijos quentes em meus lábios. 

Eu sentia a sua falta, como eu sentia, todos os dias, toda hora, a cada segundo desde que ela se foi, desde que voltou para a sua Terra. 

Suspirei cansada.

Rigtone soud IPhone.

Heyyy, Donnie!!! - tentei me demonstrar animada!

Hey, Cos!!! Tudo bem? - perguntou...

Heahhh, tudo bem sim e você? O que manda? - tentei ir direito ao assunto.

Eita que bom, mas vai melhorar!!!! Tenho ótimas notícias, fomos escalados para uma mega festa em Montreal!!! E o cachê???? Uau!! - ele ria no telefone e eu tentava assimilar a informação.

Montreal? Festa? O que é? De quem vai ser? - estava zonza, meu coração acelerou e minha mãos soaram.