História Welcome to Murderville - This is the end

-PAI, AGUENTA FIRME! - gritei vendo que ele ainda se debatia e adentrei correndo.
Abri a gaveta de talheres da cozinha e peguei um facão. Passei feito um furacão pela sala e subi as escadas o mais rápido que podia, fui direto para o quarto dele e corri para a varanda, subi cautelosamente no corrimão e fui cortando a corda com o facão, quando estava quase arrebentando eu desci e puxei meu pai para o chão da varanda.
- Papai? - o chamei, mas ele parecia desacordado. Comecei a sacudi-lo pelo paletó já me desesperando. - Papai, por favor, me responde, acorda, por favor!! - alterei meu tom de voz e sentia as lágrimas já descendo em meu rosto. - Por favor, eu te amo tanto, não me deixa! - comecei a implorar, mas ele já não respondia.
As lágrimas e o desespero tomaram conta de mim, eu afundei meu rosto em seu peito já sem vida e gritei profundamente com todas as forças que tinha então o abracei e tentei fingir para mim mesma que a qualquer momento ele iria acordar e retribuir o abraço. Mas não aconteceu.
[...]
A ambulância já havia chegado e estavam levando o corpo do meu pai, eu estava sentada no sofá enquanto um investigador recém contratado me fazia perguntas de como eu o havia encontrado e se tinha alguma ideia de quem era o assassino.
- Não, eu não faço ideia. - declarei soltando um longo suspiro.
Minha expressão de nada o convenceu de que eu não estava num bom momento então o rapaz resolveu me deixar ali e se juntar aos outros que vasculhavam pistas em minha casa.
Não dava pra acreditar, por que eu sempre precisava perder quem eu amo? Todas as lembranças com meu pai começaram a passar por minha mente, e que antes de tudo acontecer eu havia o ignorado por completo.
A culpa era só um dos vários detalhes que estavam me fazendo sentir a pior e mais solitária pessoa do mundo naquele momento! Olhei para a mesa de centro a minha frente e o DVD "Despertar dos Mortos" aberto em cima dela, deixei um sorriso mórbido aparecer em meu rosto vindo seguido de lágrimas.
Mas ao continuar com o olhar fixo ali notei que havia algo dentro da capa, fiquei curiosa e olhei para os dois lados a fim de ter certeza que nenhum dos policiais me observava e abri o DVD tirando de lá um pedaço da gravata do meu pai. Dentro da gravata havia um bilhete que eu abri já com o ódio tomando conta de mim.

"Está pronta para "matar" a saudade? Em breve nos veremos minha sobrevivente preferida, espero que esteja tão ansiosa quanto eu!"

Senti um nó na garganta e meu sangue ferver, rasguei o papel no maior número de pedaços possíveis e joguei pelo ar como se com aquilo me livrasse de tudo de ruim que estava sentindo naquele momento para me controlar.
Levantei do sofá e fui até a escada subindo os degraus rapidamente, fui até meu quarto pronta para pegar o celular e ligar para Audrey, mas quando cheguei à porta o mesmo já estava tocando. Talvez meu coração deva ter quase parado por alguns segundos ouvindo aquele toque, que eu modifiquei, só havia uma chamada com aquele toque. Era ele!
Olhei para os dois lados do corredor tendo certeza que ninguém se encontrava ali e corri para dentro do meu quarto indo até a penteadeira e pegando o celular que estava ali em cima. Atendi no momento seguinte, e tentei manter o controle e parecer firme com ele.
- Hello my final girl. - aquela voz robótica dessa vez não me deu medo ou calafrios, apenas ódio, muito ódio!
- Por que não acaba com isso logo?! - exigi tentando controlar meu tom de voz para os policiais no andar de baixo não ouvirem.
- Já que está tão ansiosa. - a voz riu e eu revirei os olhos. - Encontre-me no orfanato abandonado, no quarto onde o Kieran prendeu a Audrey, pode trazer os amiguinhos, mas se vier polícia... - ele ameaçou antes de desligar sem dar mais informações.
Fiquei desesperada sem saber o que fazer. Quer dizer, eu sabia o que fazer, mas não como.
Saí do quarto correndo e desci as escadas com a respiração abafada, o medo já estava dando lugar para o ódio novamente, notei que os policiais estavam aglomerados em minha cozinha e saí discretamente pela porta da frente.
Corri em direção ao orfanato e mandei mensagem para os outros contando do meu pai e de onde eu iria encontrar o assassino. Não que fosse o mais aconselhável a fazer, mas seria mais fácil acabar com ele em número maior.
[...]
Nos encontramos na entrada do orfanato, Brooke carregava uma faca consigo, o que me deixou um tanto preocupada.
- Eu sei que não é o melhor momento, mas vi nos noticiários que o Kieran fugiu da prisão algumas horas atrás! - a mesma exclamou com ar de medo.
- Não é ele! - falei convicta.
- Mas tenho certeza que o assassino tem haver com isso. - Audrey afirmou receosa.
- Ok, qual é o plano? - Noah perguntou antes de entrarmos.
- Descobrimos quem é o assassino, damos uma surra nele e o levamos pra cadeia. - Emma sugeriu e Noah deu de ombros.
- É, ótimo plano. - falou sarcasticamente.
Ri fraco e puxei Noah para que entrasse logo. Corremos para a escada e enquanto Noah ia atrás com Emma e Brooke, Audrey veio até mim andando na frente.
- Ei, como você está? - ela perguntou entrelaçando nossas mãos.
Apenas neguei com a cabeça e soltei um longo suspiro, pelo meu estado ela percebeu rapidamente que "nada bem" seria pouco ainda.
Assim que chegamos em frente a entrada do quarto Brooke posicionou sua faca em modo de defesa e nós entramos olhando em volta por todos os cantos procurando por alguém, mas estava vazio.
- Será mesmo que ele vai vir? Pode ser apenas mais um dos joguinhos doentes. - Audrey afirmou bem irritada.
E de repente da porta surgiu o ser com a máscara de Brandon James e a capa preta, segurava uma corrente em uma das mãos e uma faca em outra, assim como Brooke. Chegamos para trás, um ao lado do outro, eu estava bem ansiosa.
- Eu mantenho minhas palavras. - assassino disse e aquela voz, aquela voz real, me estremeceu por completo.
Eu conhecia aquela voz!
- Não vai tirar a máscara? - perguntei receosa.
- Claro meu amor. - ele disse com uma voz amorosa que fez Audrey me encarar com a sobrancelha erguida.
- Amor?! - questionou inciumada.
E ele lentamente pôs a mão sobre a máscara e foi tirando-a por cima. O rosto que se revelou em seguida fez todo o meu corpo arrepiar e o coração quase saltar pela boca, todos soltaram gritos e suspiros de surpresa e incredulidade. Eu estava completamente sem chão. Não podia ser possível, aquilo não era possível. Só podia ser miragem!
- Eli?! - e num segundo todos nós questionamos em uníssono.
- Surpresa! - ele exclamou irônico e riu em seguida.
Foi puxando a corrente lentamente e eu ainda não conseguia associar o que estava vendo a minha frente, quando foi que minha vida havia virado The Walking Dead ou iZombie?!
A corrente trouxe consigo Kieran ainda com o uniforme laranja da prisão e algemas nas mãos que estavam amarradas junto a corrente.
- Kieran! - novamente falamos juntos, menos surpresos dessa vez.
- Ok, ta explicado a "fuga" do Kieran da prisão. Mas como você voltou dos mortos?! - Brooke perguntou pasma.
- Então eu estive certo esse tempo todo, minhas teorias realmente levavam a você! - Noah afirmou incrédulo e Eli lançou um sorriso sarcástico de lado.
- Mas é claro que ninguém nunca suspeitaria de alguém morto. - ele veio andando em nossa direção trazendo Kieran consigo.
- Quer explicar logo como sobreviveu?! - Audrey apressou impaciente.
- E por que... Por que fez tudo isso! - já Emma parecia bem abalada e decepcionada.
- Tenham calma docinhos. - ele fez biquinho do modo mais sacana possível. - Como eu sobrevivi?! Vamos começar pelo fato de eu não ter morrido! Estava tudo dentro do plano, antes de entrarmos aqui neste mesmo lugar da outra vez, quando Emma atirou em mim! - ele apontou a faca para Emma e a mesma soltou um longo suspiro se afastando. - Me encontrei na entrada com Kieran e ali fizemos nosso plano, eu estava usando colete à prova de balas, nada daquilo me matou, era só pra termos o clássico final, mas o idiota do meu primo acabou preso! - Eli puxou a corrente e Kieran murmurou baixo, o encarei incrédula, sentindo meu coração coberto por decepção. - Então eu fui levado ao hospital e me curei com alguns tratamentos, consegui convencer minha mãe de que estava em perigo depois daquilo tudo e ela junto com o xerife Acosta fizeram de tudo para manter minha suposta morte em evidência, depois disso voltei para Phoenix com minha mãe e esperava ter uma vida tranquila lá, mas eu quis ser um bom primo e comecei a fazer visitar para Kieran na cadeia. - enquanto Eli contava eu não conseguia esconder o quanto estava chocada com aquilo tudo.
- Então eu era a única que te visitava, não é mesmo? - encarei Kieran com um olhar acusador e ele abaixou a cabeça sem coragem de me fitar.
- Kieran começou a me contar que outra garota ia visitá-lo. - Eli prosseguiu e sorriu para mim, um sorriso que considerei não amedrontador ou psicopata, mas apaixonado? - Ele me contou tudo sobre você Larissa, e o quanto você sempre foi apaixonada por mim, o quanto sofreu pela minha morte. - agora seu sorriso era de orgulho, eu estava estática o olhando. - Algumas vezes eu via você chegar antes ou depois de mim, e eu me apaixonei perdidamente, queria te conhecer, queria abrir mão de toda a minha nova vida tranquila pra ir até você. Mas antes queria te livrar do que te atormentava. - ele apontou para meus amigos e seu olhar voltou a transbordar ódio e loucura. - Eu iria me livrar deles pra você, mas o inútil do professor de química tinha que te unir justo a eles! - o garoto revirou os olhos e minha respiração voltou a ficar descompassada.
- Matou mr. Edward só por ele ter feito a Lari sentar com a gente?! - Audrey questionou incrédula.
- Exatamente, tudo que eu fiz foi por ela, todos que eu matei foi para o bem dela! Tudo que eu quero é ela! - Eli voltou a me encarar com um sorriso totalmente inocente e apaixonada.
Audrey estava boquiaberta, Emma e Brooke se entreolharam sem palavras e Noah apenas ouvia tudo bem impressionado.
- Neville te dispensou, lembra? E então foi correndo atrás da Emma, a garota com os melhores tiros. - ele riu irônico e ela o fuzilou com o olhar. - Mrs. Lang sempre foi um pé no saco para todos, distorcendo as coisas, e ela estava pronta pra fazer uma visão totalmente louca de você assim como fez de Emma. - Eli voltou a me encarar e eu soltei um longo suspiro, estava começando a entender seu ponto de vista doente.
- Eli, eu... - tentei falar, mas ele colocou seu dedo indicador sobre meus lábios.
- Stavo te deixou sozinha na floresta pra morrer e nem avisou os outros, que grande amigo! Eu já pretendia matar o xerife por saber da minha sobrevivência, então apenas juntei o útil ao agradável. E quanto ao seu pai, ele não te dava atenção nenhuma, não ligava pra você, sempre te deixava sozinha e preferia o emprego! Eu te fiz um favor, ele não te amava assim como todos que eu matei... E vou matar. - o garoto alternou seu olhar sob Noah, Brooke, Emma e Audrey.
- Você está louco! Completamente maluco! - gritei apavorada.
- Maluco por você, com toda certeza. - sorriu fofamente, mas eu já estava totalmente imune aos encantos dele.
- Não, você precisa entender. O Eli por quem eu era apaixonada morreu aqui faz um ano! Ele se foi, você não é ele e eu não te amo! - exclamei num tom ainda mais alto e ele fechou a cara.
- Você não está pensando coerente meu amor, está escolhendo pessoas erradas para se importar. - Eli disse tranquilamente, soltou a corrente que segurava e tirou de dentro da capa, com a mão livre, uma arma. - Um exemplo disso é ele. Kieran nunca ligou pra você, nunca mudou seu modo de ser por você, você não o tornou diferente, ele mentiu pra você esse tempo todo! - ele começou a gritar insanamente e nós fomos nos afastando.
- Como é?! De que lado você está Eli?! - Kieran bradou indignado.
- Não mais do seu. - o primo disse com a expressão séria.
Antes que Kieran conseguisse correr dali Eli disparou a arma e acertou vários tiros nas costas dele que caiu no chão provocando vários gritos, a maioria meus!
- Você enlouqueceu, Eli? Esse não é você, você não é o monstro da história, você é quem tenta salvar! - comecei a dizer com as lágrimas já escorrendo em meu rosto.
Eli me encarou assustado e largou a arma no chão instintivamente, parecia arrasado e triste pelo meu choro, se aproximou de mim lentamente e colocou uma das mãos sobre meu rosto acariciando-o assim como havia feito na floresta.
- Você não entende? Estou fazendo isso por você, Lari. Não dá pra confiar nas pessoas, elas decepcionam. - nessa hora ele olhou para Emma que abaixou o olhar sentindo o remorso vir. - Depois disso tudo acabar poderemos ir pra Phoenix e ficarmos juntos como você sempre quis, eu serei o mesmo Eli de sempre. Eu serei o seu herói! - ele sorriu ternamente.
E em seu momento de distração vi Brooke levantando a faca e indo na direção dele decidida, soltou um grito de raiva antes de empunhar a faca em suas costas, mas ele se virou bruscamente e enfiou a faca que segurava na outra mão na barriga da garota.
Voltamos a gritar apavorados e dessa vez Emma começou a chorar assim como eu, Noah e ela correram até Brooke que estava estirada no chão sangrando e Audrey ameaçou ir pra cima de Eli, mas eu a impedi segurando seu ombro e a lançando um olhar frio.
- O que está fazendo? - Auds questionou confusa.
- Fazendo o que é melhor pra mim... - falei e voltei a encarar Eli. - Você tem razão meu amor. - abri um enorme sorriso e vi a expressão dele se animar.
- Eu sei que tenho. - ele veio em minha direção, mas eu passei reto.
Fui até onde ele havia largado a arma no chão e o mesmo veio jungo pegando a arma antes de mim, mas eu coloquei a mão sobre ela.
- Não quero que você faça tudo sozinho, quero ajudar. - pedi delicadamente e Eli sorriu satisfeito.
- Com prazer, minha doce princesa. - ele liberou para que eu segurasse a arma. - Por quem vai começar? - perguntou ansioso.
- Por você! - exclamei mudando a expressão de boba apaixonada para completa raiva, empunhei a arma rapidamente em sua direção e apertei o gatilho num movimento preciso.
O tiro foi diretamente no peito de Eli e ele caiu desacordado no chão, na mesma hora Audrey correu até a corrente e amarrou-a no pescoço dele.
- Sei lá, vai que ele está usando colete de novo! - ela comentou dando de ombros e eu me permiti rir, sentindo o alívio cair sobre mim.
Ela também riu, assim como Noah, Emma e Brooke que ainda estava acordada mesmo que sangrando.
- Eu jurava que seria a primeira que você iria atirar! - Emma comentou ainda um pouco assustada e voltamos a rir.
Soltei a arma no chão e caí de joelhos, totalmente exausta de tudo aquilo. Audrey amarrou Eli numa pilastra de ferro que havia ali e veio até mim ajoelhando ao meu lado e me abraçando. Noah pegou o celular do bolso e discou alguns números chamando a emergência.
- Nós somos nossos próprios heróis, e não precisamos de mais ninguém. - afirmei tombando a cabeça no ombro de Audrey e todos assentiram com sorrisos me encarando.
[...]
Dessa vez Eli havia morrido de verdade e ganhou um funeral conjunto com seu primo, mas a mãe dele não foi vista por lá, o que resolvi não me preocupar.
Meu pai também ganhou um enterro, o qual me deixou completamente devastada e eu quase tive que ir morar com meus avós em Atlanta se não fosse pelo pai de Audrey deixar eu morar com eles.
Aliás, falando dela nós estávamos finalmente namorando, e eu não poderia estar mais satisfeita com isso. Noah também estava namorando e a garota, Ana, era super legal, nova integrante do nosso "grupo". Emma e Brooke passavam o dia todo concentradas na organização do baile de formatura que ocorreria em um mês e depois do colegial eu não faria ideia do que iria acontecer.
Mas de uma coisa eu tinha certeza, por enquanto estava tudo perfeito novamente, na mais perfeita tranquilidade e eu só queria aproveitar o momento!