História Welcome To My Life - Eclipse Solar

Skylar P.O.V

Eu não sabia se o plano de Travis funcionaria, mas quando a pedra brilhou em sua mão e começou a esquentar, senti meus pés saindo do chão. Era uma sensação estranha, como flutuar. Eu tentava abrir os olhos, mas não conseguia, como se algo pesado me impedisse. Tentei relaxar, não sabia como funciona essa coisa de pedra do Destino, mas só a tínhamos como opção nesse momento.

Quando pisamos no chão, senti o baque nos pés e pude finalmente abrir os olhos. Nós estávamos no topo da colina, á nossa frente eu podia ver uma gaiola enorme, a mesma do meu sonho de alguns dias atrás, as faíscas de eletricidade estouravam prateadas e douradas pelas barras, Ártemis e Apolo permaneciam lá dentro quase não visíveis pelo brilho da eletricidade. Hélio e Selene estavam parados na beirada do monte, olhando para o sol, onde o eclipse já tinha se iniciado. Eles provavelmente estavam esperando o momento do eclipse total.

Tudo que eu tinha entendido dessa missão até agora é que Hélio e Selene eram os antigos “Sol e Lua”, e agora queriam seu poder de volta, toma-los de Ártemis e Apolo. Eu não sei onde estiveram, ou que aconteceu com eles. Mas eles tinham ódio e rancor, e não poderiam ter esse poder.

- O que faremos agora? – Hailey perguntou.

- Nós temos que tira-los dali. Não vamos derrotar dois deuses antigos sozinhos. – Leo disse, parecendo pensativo.

- Eu tenho um plano, mas temos que agir extremamente rápido e não pode haver falhas. – Maya disse, e nós a encaramos, esperando que ela explicasse a situação.

- Eu provavelmente posso me arrepender disso depois, mas... – Ela começou a explicar o plano. Eu estava um pouco surpresa, mas poderia dar certo. O único problema seria como iriamos abrir a gaiola com toda aquela energia ao redor. Seria perigoso e arriscado, e poderia não dar certo, mas nós tentaríamos de todos os modos.

- Todos prontos? – Maya perguntou baixinho, nós ainda estávamos escondidos no canto, olhando para onde Hélio e Selene esperavam o eclipse estar em seu ponto forte. A lua já tinha atingido um terço do sol, e quantos mais demorassem a por o plano em prática, maiores seriam os riscos.

- Leo, Stolls é com vocês. – Maya deu a largada e o Leo começou a correr por entra a mata, tocando fogo em tudo que via pela frente. Selene e Hélio se assustaram, procurando a causa do fogo.

- É isso maninho, nunca achei que fossemos usar papel higiênico para isso. – Travis sorriu para Connor e os dois começaram a correr com toda velocidade, pareciam quase vultos correndo na direção de Hélio e jogando papéis higiênicos neles, os deuses pareciam enfurecidos.

- Tyler, Sky. Agora. – Maya ordenou quando Hélio e Selene mandaram os gêmeos voando por cima de algumas árvores e eu e Tyler corremos também para nos aproximar dos dois deuses cobertos de papel higiênico. Quando chegamos, agachamos no chão e enterramos as mãos na grama, enquanto criávamos raízes que subiam pelos pés dos deuses. Leo fez um circulo de fogo ao redor dos dois, que pareciam confusos e irritados, cobertos de papel higiênico, com raízes subindo pelas pernas e fogo ao seu redor. Eu não sabia quanto tempo duraria essa distração, mas esperava que fosse o suficiente. Tyler e eu lutávamos bravamente para manter as raízes que Hélio e Selene tentavam se livrar.

Enquanto isso, Hailey, Maya e Nico corriam para onde a gaiola estava.

- Mantenham distancia! – Ouvi Maya exclamar. Ela sacou seu arco e flecha, Hailey tocou o fogo grego nas flechas e a Maya atirou com uma rapidez impressionante. A flecha voava na direção do fecho da gaiola quase em câmera lenta aos meus olhos, e quando atingiu, o previsto aconteceu. Uma explosão de faíscas e fogo que nos atingiu com força, uma onde de calor ainda maior passou por nós e vi vários pedacinhos de ferro quente voando pelos ares.

Como Maya suspeitava, era fácil de explodir por fora e impenetrável por dentro para evitar a fuga.

Ártemis e Apolo estavam livres agora, precariamente livres, fracos e acabados. Mal pareciam deuses.

A distração tinha acabado, Hélio e Selene estavam livres. Selene atacou Ártemis antes que a deusa pudesse sequer se levantar, mas ela era ágil, antes que Selene baixasse sua espada prateada e brilhante, Ártemis já se defendia com suas facas de caça que eram mais longas e fortes que o normal. O barulho de ferro colidindo foi alto, e as duas deusas começaram uma luta dura e feroz.

Apolo atirava flechas e mais flechas contra a armadura de Hélio, elas o espetavam como churrasco no peito, mas o deus continuava marchando com suas lança enorme e dourada na direção de Apolo, a ponta brilhava como o sol, quente e perigosa.

Quando os dois deuses se encontraram, a claridade foi demais para os meus olhos e seus movimentos eram tão rápidos quanto borrões, ambos pareciam estar pegando fogo.

Tyler e eu ainda estávamos abaixados no chão, a destruição varria o monte ao nosso redor, fogo crepitando pela vegetação, pedaços de ferro no chão e brasa por todos os cantos.

As chances eram muito incalculáveis. Hélio e Selene tinham poderes adormecidos, o controle de seus elementos nas mãos de Ártemis e Apolo, porém os dois deuses estavam fracos de seu tempo em cativeiro.

Avaliando as lutas, achei que dessa vez ficaríamos de fora e só dependeria dos deuses. Porém mais uma vez, a vida não é fácil para os semideuses. Quando me dei conta, alguma coisa estava brilhando no canto oposto ao da luta, e quando a luz diminui, percebi que eram as Helíades e que elas provavelmente vinham ajudar Hélio e Selene.

- Tyler, olhe. – Cutuquei e apontei para Egialeia, Etéria e Egle que erguiam suas armas e começavam o caminho para a luta. – Elas vão atrapalhar tudo e vai ser vantagem para Hélio e Selene.

- Temos que para-las, então. – Ele completou e eu assenti. Eu estava bem cansada, mas me obriguei a levantar do chão e sacar Ásteri.

- Ei raios de sol, bom ver vocês de novo, me lembro de que a última vez não foi muito agradável. – Ouvi Travis gritar e ele apareceu por entre os arbustos passando devagar por entre o fogo, seu rosto coberto de fuligem e folhas nos cabelos e roupas. Mas nada apagava o brilho travesso de                                  seu sorriso e dos olhos azuis. As Helíades desviaram á atenção para Travis, com brilho assassino no olhar.

- Como foi o tempo no Tártaro? – Leo entrou na onda de Travis, se levantando de algum lugar. Olhei ao redor, á procura de nossos outros amigos e todos pareciam fora de perigo maior. Hailey e Maya estavam á pouca distancia de onde a gaiola tinha explodido e elas ainda estavam no chão, mas com certeza não tinham sofrido grandes danos.

- Semideuses malditos, como ainda estão vivos? – Egle se irritou, suas mãos começando a fumegar. Pelo visto o tempo no Tártaro não foi nada bom.

- Nós somos duros de matar, mas que tal vocês tentarem. – Me pronunciei, levantando minha espada que brilhou um pouco. O eclipse já estava quase completo e nós não poderíamos deixar que Ártemis e Apolo fossem presos de novo. Eles não cairiam tão cedo em luta se não houvesse empecilhos. As helíades seriam grandes empecilhos.

- Criança insolente. – Percebi Etéria armar seu arco e flecha, a apontar para minha direção, suas flechas fatais me trouxeram lembranças de quando enchi seu coração de espinhos. Eu já não me sentia mais arrependida por ter feito sem hesitar.

- Vai precisar de mais que isso. – Falei quando me desviei da flecha. Meus reflexos definitivamente estavam melhores.

- Isso foi só o começo. – Seus olhos brilharam em um tom de verde assustador e ela começou a lançar uma saraivada de flechas em minha direção. Fui cortando o que pude com minha espada, Tyler tomando minha retaguarda. Percebi Travis e Nico avançarem para atacar Egialeia e seu cajado dourado. Leo e Connor atacaram Egle e suas mãos em chamas.

- Sky! – Tyler gritou e eu estava distraída, só senti uma dor enorme abaixo das costelas. Pensei em não olhar, mas era tarde demais, então vi a flecha enterrada em minha pele e a carne começando a queimar. A dor era insuportável. Agora eu sabia como Connor havia se sentido. Tyler entrou em minha frente, interceptando as flechas que vinham em mais saraivadas. Tive que analisar a situação.

Tyler era rápido, mas não o suficiente, além de ter pouca prática com a espada. Etéreia não partia sempre para o corpo a corpo, e agora parecia querer atacar de longe, como suas armas eram flechas achei inteligente. A minha carne estava queimando cada vez mais, então tive que agir. Transformei Ásteri em canivete, e preparei a ponta afiada, e lancei. Não fiz muito calculo como tinham me ensinado, era preciso uma grande precisão para acertar alguém em movimento nessa distancia. Mas não sei como, o fiz. Acertei o canivete bem no meio da testa de Etéria e a Helíade se sobressaltou, parando as flechas enquanto o icor dourado escorria de sua testa, não parecia ser um grande estrago, mas ela estava tentando tirar.

- Jogue-a no chão e eu faço o resto! – Falei para Tyler, enquanto tentava tirar a flecha do meu abdômen. Não saia e só queimava cada vez mais. Comecei a sentir um forte gosto de sangue subindo pela garganta, o cheiro metálico chegando ao meu nariz.

Tyler correu e aproveitou a confusão de Etéreia, saltou e a chutou com força. A helíade caiu no chão e Tyler empurrou a pras trás com a espada, até que estivesse deitada no chão queimado, aproveitei enquanto ele a forçava no chão e ergui as mãos, mexendo os dedos na direção dela. As raízes saltaram mais depressa do que das outras vezes, se enrolando ao redor dos pulsos e tornozelos de Etéreia e depois no pescoço.

Finalmente arranquei a flecha, preferi não levantar mais a blusa para ver como estava, pois o buraco queimado já era o suficiente. Cuspi sangue no chão, estava quente e era nojento. Apesar da dor, corri com a flecha na mão até onde Etéreia estava presa a finquei a flecha em sua barriga. Em outros tempos eu me sentiria péssima por qualquer ato de violência do tipo, mas ela não era um ser humano comum, e tinha me causado mal. Não era hora de ter culpa. E então, tentei ficar impassível enquanto ela gritava e explodia em pó dourado diante da violência e força de meus atos.

Ajoelhei-me no chão, respirando fundo e cuspindo mais um pouco de sangue. A dor ainda estava presente, e não iria embora tão cedo, mas eu não poderia ceder agora.

- Sky, você precisa curar isso. – Tyler se preocupou e eu neguei.

- Não podemos parar agora, eu vou ficar bem. Vá ajudar os outros. – Pedi e ele foi, enquanto eu sentava meio zonza no chão. Minhas mãos estavam sujas de fuligem, assim como meu cabelo e eu estava respirando devagar para conter a dor.

Observei de longe as lutas. Ártemis e Apolo estavam em uma luta que parecia que não teria fim, apesar de já estarem feridos não pareciam cansados. Vantagens da imortalidade. Só as Parcas sabem por quanto tempo eles poderiam continuar lutando sem cair. Talvez dias, semanas, meses.

Já meus amigos, não tinham a mesma sorte. Egialeia e Egle estavam lhe dando grande canseira, as helíades eram rápidas e seus poderes estavam queimando quase tudo que sobrava naquele monte, não faço ideia de como os bombeiros não foram chamados, talvez a névoa esteja cobrindo o fogo e quantidade enorme de fumaça que está sendo expelida. É difícil respirar fundo assim.

Vi um movimento com o canto dos olhos e percebi Maya procurando algo no chão, Hailey ainda estava deitada inconsciente no chão, deve ter ficado muito perto da explosão. Maya encontrou o que estava procurando, era nossa bolsa com suas poções de cura e o kit de curativos. Se eu conseguisse chegar até lá, poderia me ajudar e muito. Comecei a me movimentar e um raio de luz passou por mim, a quentura quase queimando meus pelos do braço. Percebi que as Helíades estavam quase em desespero, e os sons das lutas dos deuses do Sol e da Lua estavam mais alto, eles estavam destruindo tudo pela frente e eu não sabia por que de repente Hélio e Selene pareciam tensos e desesperados.

E então eu percebi. O Eclipse estava em seu final. Devia ser isso, eles deviam ter só esse tempo para recuperar os poderes ou voltar do buraco onde saíram.

- Não desistam, falta pouco pra acabar! – Gritei para os meus amigos. E olhei para a lua, a claridade do dia voltando aos poucos, enquanto o último pedaço da lua saia vagarosamente da frente do sol.